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Nutrição

Como você pode dizer que não gosta de uma coisa que nunca provou? 

A teoria

A professora pergunta ao Pedrinho:

– Diga 3 coisas que comprovem que legumes e verduras são importantes para a saúde.

O menino responde:

– Minha mãe diz que são. A senhora e o livro também dizem a mesma coisa, professora!

A prática

Nem sempre a gente tem ideia do que servir para as crianças, não é verdade?

Quem tem filho “difícil para comer” entende bem.

As mães se desdobram, capricham e as crianças nem mexem no prato.

As criança escutam: “sua batata está assando”.  Quem sabe dá certo levar a receita ao pé da letra?

Receita prática, simples e rápida de batata assada.

Em quinze minutos as batatas ficam prontas.

O queijo gorgonzola utilizado no recheio pode ser substituído por qualquer outro que você preferir.

Vale a pena experimentar.

Ingredientes:
1 batata (média ou grande)
50 gramas de queijo gorgonzola
1 dente de alho amassado
1 fio de azeite.

Veja como a cozinheira fez:
“Lavei muito bem a batata. Fiz alguns furinhos na casca com a ponta de uma faca. É importante furar a casca para evitar que esta se rompa dentro do micro-ondas, provocando uma “explosão” da batata.

Levei ao micro-ondas em potência máxima por 4 minutos.

Usei uma batata média. Se você usar uma batata grande, pode ser que o tempo de cozimento seja um pouco maior: experimente deixar 5 minutos.

Retirei a batata do micro-ondas e cortei-a ao meio

Raspei a batata, retirando todo o “purê”, deixando mais ou menos meio centímetro de batata na casca (muito cuidado para não romper a casca).

Esfreguei o dente de alho nas batatas e reguei com um pouquinho de azeite. Reservei.
Amassei muito bem o queijo gorgonzola com a batata que retirei das cascas.

Coloquei novamente este purê dentro das cascas. Reguei com um pouquinho de azeite e levei ao forno convencional (utilizei o grill) para gratinar.

Se você não tiver o grill, não tem problema.

É só levar ao forno para dourar um pouquinho.

E servi.”

Bom-apetite!

Dica: Esta receita pode ser preparada com qualquer queijo, além do gorgonzola. Porém, como este queijo já é bem salgado, não precisa acrescentar mais sal. Se você for utilizar um queijo com pouco sal ou de sabor mais neutro, experimente aromatizar com algum tempero, como ervas frescas, manjericão, orégano, cebola, alho, etc. e corrija o sal, se necessário.

Esta e outras sugestões interessantes de pratos infantis estão disponíveis no endereço:  http://www.cozinhadamonica.com/

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Gorduras trans: banidas dos Estados Unidos até 2018

Gorduras trans: banidas dos Estados Unidos até 2018

Indústria de alimentos tem dois anos para se adequar. Substâncias são nocivas à saúde

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Homenagem à Ana Lúcia Aylmer, nutricionista que há 30 anos se dedica à saúde pública, com sabedoria e inteligência. A maior defensora da nutrição saudável sem gorduras trans que conheço.

A indústria de alimentos norte-americana tem até 2018 para retirar a gordura trans dos alimentos industrializados, como margarinas, biscoitos, sorvetes etc.

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A decisão foi anunciada em junho de 2015 pela FDA (agência que regula alimentos e medicamentos nos EUA), que não considera a substância segura para o consumo humano.

MAIOR RISCO DE INFARTO, DIABETES E ESTEATOSE HEPÁTICA​

De acordo com o cardiologista do Einstein Dr. Antonio Gabriele Laurinavicius, os efeitos nocivos à saúde provocados pela gordura trans são bem conhecidos: aumentam os níveis de colesterol ruim (LDL) e diminuem o colesterol bom (HDL).

Além de aumentar os níveis de substâncias inflamatórias no sangue e promover o aparecimento de diabetes e de esteatose hepática (depósito de gordura no fígado).

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“Por isso tudo, as gorduras trans aumentam o risco de infarto agudo do miocárdio, de acidente vascular cerebral (AVC) e representam um verdadeiro problema de saúde pública”, afirma o médico do Einstein.

FDA x gorduras trans: polêmica antiga

Desde 2006 o FDA toma medidas para frear o consumo da substância. À época, o órgão obrigou que os fabricantes divulgassem na embalagem a quantidade de gorduras trans presentes nos produtos.

“A partir desse momento muitas empresas diminuíram espontaneamente a quantidade dessas gorduras, enquanto outras começaram a buscar gorduras alternativas”, explica o dr. Laurinavicius.

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Anos depois, em 2013, o FDA entrou novamente em ação e, por meio de uma “determinação preliminar”, passou a categorizar formalmente as gorduras trans como “não seguras”.

“O passo decisivo foi a determinação conclusiva, divulgada recentemente, banindo definitivamente o uso dessas gorduras. ”

Gordura trans no mundo

Seis países europeus já trabalham para banir as gorduras trans: Dinamarca, Áustria, Hungria, Islândia, Noruega e Suíça.

Na Dinamarca, o primeiro país a estabelecer restrições contra a substância, em 2003, há o limite de 2% de gorduras trans do total de gorduras dos alimentos industrializados.

E no Brasil?

No País, a gordura trans ainda não é proibida. Porém acordos firmados pelo Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação têm reduzido os teores de sódio e de gorduras trans na comida industrializada.

med_trans_07Uma meta estabelecida em 2007 limitou a gordura trans a 5% do total de gorduras em alimentos industrializados e a 2% do total de gorduras em óleos e margarinas.

Origem das gorduras trans

Em 1950 as gorduras trans começaram a ser usadas para substituir a gordura saturada de origem animal na produção de alimentos industrializados.

Já que os óleos vegetais em seu estado natural não conseguem reproduzir a textura característica das gorduras saturadas, recorreu-se à hidrogenação industrial desses óleos, que, em função desse processamento, adquirem consistência sólida e passam a ser denominados “óleos parcialmente hidrogenados” (OPH), sendo comumente conhecidos como gorduras trans.

“De fato, as gorduras trans conferem textura e palatabilidade aos alimentos, além de prolongar sua durabilidade. Estas qualidades fizeram com que se tornassem muito atrativas para a indústria de alimentos processados.003-071

As gorduras trans são extremamente escassas na natureza e por isso nosso organismo não está preparado para sua assimilação. Em função disso, esse tipo de gordura provoca em nosso organismo alterações metabólicas e efeitos cardiovasculares marcadamente negativos ”

ALIMENTO CREMOSO E CROCANTE: ATENÇÃO

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“É fácil reconhecer quando um alimento é rico em gorduras trans: geralmente são os mais crocantes (biscoitos, batatas fritas) ou os mais cremosos (sorvetes, maionese, cremes industrializados)”, afirma o cardiologista do Einstein. “Os mais gostosos, diriam alguns.” Ao que tudo indica, esse “prazer” está com os dias contados. Resta saber se as novas opções adotadas pela indústria de alimentos serão de fato mais saudáveis. ​​​​

http://www.einstein.br/noticias/noticia/estados-unidos-irao-banir-gorduras-trans-ate-2018gordura-trans (1)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deveria obrigar todos os fabricantes de alimentos industrializados a indicar no rótulo do produto a quantidade de gordura trans presente.

A legislação, criada em 2006, possui uma brecha que permite que a quantidade de gordura trans seja omitida se for inferior a 0,2 gramas por porção.gorduras-que-fazem-bem-a-saude-1

Com a informação camuflada, os consumidores não conseguem controlar a quantidade de gordura ingerida e o total diário pode passar do recomendado pela Anvisa, que é de 2 gramas por pessoa.

A gordura trans é usada pela indústria alimentícia para aumentar o sabor e o tempo de conservação dos produtos. Ela é prejudicial à saúde por elevar os níveis de colesterol ruim, a Lipoproteína de Baixa Densidade (em inglês LDL) e diminuir o colesterol bom, a Lipoproteína de Alta Densidade (em inglês HDL). Essas alterações nas taxas aumentam o risco de doenças como infarto e acidente vascular cerebral.

RÓTULOS DUVIDOSOS

O consumidor precisa estar atento mesmo com o rótulo indicando zero de gordura trans no alimento. Uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que outros 23 ingredientes podem conter a gordura. Metade dos rótulos analisados na pesquisa citava gordura na lista dos ingredientes, mas só 18% informava que a quantidade era maior que zero por porção.gordura_trans3

De acordo com a Anvisa, as regras sobre gordura trans nos rótulos estão sendo revisadas, mas não há prazo para que as mudanças sejam feitas. A proposta é que seja reduzido o valor não significativo que hoje é de 0,2 gramas por porção.

Confira a lista de alguns ingredientes que possuem gordura trans:
– Gordura
– Gordura vegetal
– Gordura de vegetal de girassol
– Gordura vegetal de soja
– Gordura de soja parcialmente hidrogenada
– Gordura hidrogenada
– Gordura hidrogenada de soja
– Gordura parcialmente hidrogenada
– Gordura parcialmente hidrogenada e/ou interesterificada
– Gordura vegetal hidrogenada
– Gordura vegetal parcialmente hidrogenada
– Hidrogenada
– Margarina vegetal hidrogenada
– Óleo de milho hidrogenado
– Óleo vegetal de algodão
– Soja e palma hidrogenado
– Óleo vegetal hidrogenado
– Óleo vegetal líquido e hidrogenado
– Óleo vegetal parcialmente hidrogenado
– Creme vegetal
– Composto lácteo com gordura vegetal
– Margarina
– Margarina vegetal
– Mistura láctea para bebidas

http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2012/07/anvisa-alerta-para-gordura-trans-camuflada-em-rotulos-de-alimentos.html

http://www.proteste.org.br/alimentacao/nc/noticia/as-23-identidades-da-gordura-trans-n828935

Saiba mais:

GORDURAS SATURADAS, MONO E POLINSATURADAS, GORDURA TRANS.

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Nutrientes de nomes estranhos, mas conhecidos e que merecem atenção desde a infância, devido aos riscos para a saúde quando consumidos de forma equivocada.

Você sabe para que elas servem?

Os lipídios (gorduras) são compostos com estrutura molecular variada, apresentando diversas funções orgânicas: reserva energética (fonte de energia), isolante térmico (mamíferos), além de colaborar na composição da membrana plasmática das células (os fosfolipídios).

São nutrientes essenciais para o organismo. Fornecem energia para o organismo e são fundamentais para a absorção das vitaminas A, D, E e K; fazem parte da estrutura das células, protegem os órgãos e participam da formação de importantes hormônios.

Gorduras: todas são importantes?

As gorduras saturadas estão presentes principalmente em alimentos de origem animal, como carnes de porco, boi, cordeiro, bacon, banha de porco, frango com pele, leite integral e seus derivados como manteiga, queijos e requeijão.

Há também alimentos de origem vegetal ricos em gordura saturada: o coco, o óleo de palma ou dendê.

DOENÇAS CARDIOVASCULARESFat stomach surrounded with measuring tape with burger

Se consumida em excesso desde a infância, a gordura saturada irá colaborar para o aumento do mau colesterol (LDL colesterol) aumentando os riscos de doenças cardiovasculares (infartos etc.).

Já as gorduras “trans” podem ser encontradas em alimentos como: margarinas, cremes vegetais, tortas congeladas, salgadinhos de pacote e qualquer alimento que utilize em sua preparação gorduras vegetais hidrogenadas.

Além de aumentarem o mau colesterol também reduzem o bom (HDL colesterol), tornando-se ainda mais prejudiciais para o coração.

Qualquer quantidade consumida da gordura trans não é bem-vinda para o organismo em qualquer fase da vida.alimentos-com-aditivos-artificiais

GORDURAS INSATURADAS

As gorduras que podem ajudar a reduzir o mau colesterol são as chamadas gorduras insaturadas.

Há dois tipos principais: monoinsaturadas e poli-insaturadas.

As monoinsaturadas estão presentes no azeite de oliva, no óleo de canola, no abacate e em algumas sementes e oleaginosas como o gergelim, o amendoim e as nozes.med_trans_05a

As poli-insaturadas são encontradas nos óleos de soja, milho, girassol, na linhaça e nos peixes.

A linhaça e os peixes de água salgada e profunda, como o salmão selvagem (não de cativeiro), atum, arenque, cavala e sardinha são ricos em ômega 3, um tipo de gordura poli-insaturada essencial para a o desenvolvimento do sistema nervoso central e formação da retina do bebê durante a gestação e com potente ação no controle dos triglicérides sanguíneos e prevenção de diabetes.gorduras-saturadas-trans

Quantidades recomendadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria

Grupo alimentar 6 a 11 meses 1 a 3 anos Pré-escolar e escolar Adolescentes e Adultos
Óleos e gorduras 2 porções 2 porções 1 porção 1 a 2 porções

1 porção = 1 colher das de sobremesa de azeite de oliva (4g) ou óleo de soja, ou canola ou milho ou girassol

1 porção = 1 colher das de sobremesa de manteiga ou margarina (5g)

E por que se preocupar com o tipo de gordura consumida desde a infância?

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Os primeiros 1.000 dias de vida (da concepção aos 2 anos de idade) correspondem ao período conhecido como “janela de oportunidades”.

O cuidado com os nutrientes ingeridos e o crescimento/desenvolvimento adequados asseguram um futuro mais saudável.

Consumir boas gorduras, estar atento à quantidade de gordura saturada de qualquer alimento e restringir alimentos com gorduras trans na infância são medidas que podem ajudar a manter sobre gordura-trans-graficocontrole os níveis do colesterol e triglicérides, além de prevenir o aparecimento de doenças cardiovasculares no futuro.

O estímulo ao consumo de alimentos que contenham quantidades adequadas de gorduras nos primeiros anos de vida forma bons hábitos alimentares e favorece um futuro muito mais saudável.

Ainda sobre os lipídeos (biologia)

São substâncias cuja característica principal é a insolubilidade em solventes polares e a solubilidade em solventes orgânicos (apolares), apresentando natureza hidrofóbica, ou seja, aversão à molécula de água.

Essa característica é de fundamental importância, mesmo o organismo possuindo considerável concentração hídrica. Isso porque a insolubilidade permite uma interface mantida entre o meio intra e extracelular.

Os lipídios podem ser classificados em óleos (substâncias insaturadas) e gorduras (substâncias saturadas), encontrados nos alimentos, tanto de origem vegetal quanto animal, por exemplo: nas frutas (abacate e coco), na soja, na carne, no leite e seus derivados e também na gema de ovo.

Em geral, todos os seres vivos são capazes de sintetizar lipídios, no entanto algumas classes só podem ser sintetizadas por vegetais, como é o caso das vitaminas lipossolúveis e dos ácidos graxos essenciais.

A formação molecular mais comum dos lipídeos, constituindo os alimentos, é estabelecida através do arranjo pela união de um glicerol (álcool) ligado a três cadeias carbônicas longas de ácido graxo.

AINDA SOBRE GORDURAS (LIPÍDIOS MAIS CONHECIDOS)

Dentre os lipídeos, recebem destaque os fosfolipídios, os glicerídeos, os esteroides e os cerídeos.

Cerídeos → classificados como lipídios simples, são encontrados na cera produzida pelas abelhas (construção da colmeia), na superfície das folhas (cera de carnaúba) e dos frutos (a manga). Exerce função de impermeabilização e proteção.

Fosfolipídios → moléculas anfipáticas, isto é, possui uma região polar (cabeça hidrofílica), tendo afinidade por água, e outra região apolar (calda hidrofóbica), que repele a água.

Glicerídeos → podem ser sólidos (gorduras) ou líquidos (óleos) à temperatura ambiente.

Esteroides → formados por longas cadeias carbônicas dispostas em quatro anéis ligados entre si. São amplamente distribuídos nos organismos vivos constituindo os hormônios sexuais, a vitamina D e os esteróis (colesterol).

Fonte: http://www.brasilescola.com/biologia/lipidios.htm

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Manhan LK, Escott-Stump S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 9º ed. São Paulo: Roca, 1998.

Victora CG, Adair L, Fall C, et al: Maternal and child undernutrition: consequences for adult health and human capital. Lancet ;371:340-357, 2008.

Adair LS Long-Term Consequences of Nutrition and Growth in Early Childhood and Possible Preventive Interventions. Nestlé Nutrition Institute Workshop Series, Vol. 78, 2014.

Niinikoski H, Lagström H, Jokinen E, Siltala M, Rönnemaa T, Viikari J, Raitakari OT, Jula A, Marniemi J, Näntö-Salonen K, Simell O. Impact of repeated dietary counseling between infancy and 14 years of age on dietary intakes and serum lipids and lipoproteins: the STRIP study. Circulation; 116(9): 1032-1040, 2007.

Dieta sem glúten para todos?

Dieta livre de glúten. Bom para todos?

Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Nutrição e Alimentação

A Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição levando em consideração dados da literatura científica pertinente e o documento a seguir, posiciona-se no sentido de que:

  • a dieta sem glúten deve ser instituída na vigência de doença celíaca, alergia ao trigo e de sensibilidade não celíaca ao glúten, desde que devidamente diagnosticadas;
  • a dieta sem glúten per se não pode ser considerada benéfica para indivíduos aparentemente saudáveis e que a falta de planejamento na sua instituição pode, ainda, potencialmente afetar a saúde do trato digestório.

DOENÇAS CRÔNICAS E ESTÉTICA

É provável que as maiores prevalências de obesidade, o estabelecimento de doenças crônicas não transmissíveis e a crescente preocupação com padrões estéticos rígidos sejam os principais responsáveis por esse novo boom e levem pessoas antes desinteressadas por assuntos relacionados à sua alimentação a se tornarem “especialistas” em estratégias que contribuam para a melhora da saúde e da aparência.

RISCOS DAS “DIETAS DA MODA”

Reconhece-se como muito salutar a busca por mais informações nessa área, uma vez que a promoção da saúde e a educação nutricional dependem da conscientização popular para serem eficazes.

No entanto, através da veiculação pela mídia não especializada, observa-se a propagação do que hoje se conhece por “dietas da moda”, as quais surgem com a premissa de promoverem a perda do peso e de melhorarem a saúde de forma generalista, sendo, todavia, pautadas em constatações empíricas ou em estudos recentes que por muitas vezes se mostram incompletos ou inconclusivos.

DOS CELÍACOS E ALÉRGICOS PARA TODOS
Nessa “onda” de dietas restritivas ou monótonas, observa-se a popularização de um padrão alimentar anteriormente adotado apenas por indivíduos portadores de doença celíaca (DC) ou de alergia ao trigo, caracterizado pela exclusão de alimentos contendo glúten da dieta (gluten free diet).

GENÉTICA
Pacientes celíacos apresentam uma alteração genética que resulta na inflamação intestinal quando do contato com peptídeos oriundos da digestão do glúten presente no trigo e em outros vegetais do mesmo gênero, como a cevada e o centeio.3e

GLIADINA

De forma simplificada, a gliadina resultante do metabolismo do glúten na luz intestinal é transportada até a lâmina própria do intestino delgado onde, após metabolização, poderá induzir resposta imunológica adaptativa e inata e posterior produção de moléculas que promoverão o estabelecimento da inflamação, responsável pela atrofia dos vilos e hiperplasia nas criptas intestinais.

A alteração morfológica da borda em escova leva à redução na capacidade absortiva e é comumente observada em doentes celíacos.

NCGS: O QUE É ISSO?

Além da DC, diversas evidências recentes sumarizadas em um artigo de revisão publicado na revista Clinical Nutrition comprovam a existência de uma alteração cunhada por especialistas na área como “sensibilidade não-celíaca ao glúten” (non-celiac gluten sensitivity – NCGS).

Diferentemente do que ocorre na doença celíaca, na NCGS o trato gastrointestinal e a permeabilidade da barreira intestinal são preservadas, as alterações histológicas dos vilos e das criptas não são intensas, havendo, todavia, o estabelecimento de inúmeros distúrbios para o paciente que mantém uma alimentação convencional, rica em glúten.

Ainda, observa-se infiltração de linfócitos mais branda e inflamação de menor grau no trato intestinal quando comparadas com o observado em indivíduos com DC.

A prevalência de NCGS é maior do que a de DC e a de alergia ao trigo, sendo frequentemente observada em pacientes com síndrome do intestino irritável e entre indivíduos acometidos por alterações alergênicas diversas.

DIAGNÓSTICO

Para o diagnóstico clínico, sintomas comuns a essa alteração – tais como cansaço, dores de cabeça, desconforto gastrointestinal, flatos e diarreia – devem ser abolidos quando o paciente suspende a ingestão de alimentos contendo glúten. Todavia, não há nenhum exame bioquímico eficaz para o diagnóstico preciso da condição.

TRATAMENTO: EXCLUSÃO DE ALIMENTOS

Independente da condição clínica apresentada, a terapia básica para indivíduos intolerantes ao glúten conta com a exclusão de alimentos que contenham cevada, centeio e farinha de trigo.vida_sem_gluten

Curiosamente, desde o ano de 2004, o mercado de produtos livres de glúten vem crescendo aproximadamente 30% ao ano, o que não se deve ao aumento da incidência de casos de intolerância ao glúten ou ao maior rigor no tratamento dos pacientes, mas sim ao aumento da demanda gerada pela adesão à dieta gluten free (GF) entre indivíduos não-celíacos e não diagnosticados com NCGS.

Segundo os próprios consumidores, a principal razão para a escolha de produtos GF é a crença de que estes seriam mais saudáveis que os comuns, auxiliando na perda de peso e na melhora de outras condições fisiopatológicas e de desconfortos gastrointestinais.

RISCOS DA DIETA POBRE EM GRÃOS
Apesar da sensível melhora na saúde de indivíduos com alterações relacionadas ao glúten, constata-se que não existem evidências suficientes para apoiar as crenças entre indivíduos que não são sensíveis a esse peptídeo.LACTOBACILOS12

Com relação à perda de peso excessivo, por exemplo, é difícil afirmar se até mesmo pacientes celíacos são beneficiados, uma vez que estudos mostram que indivíduos obesos acometidos de DC podem ter seu IMC aumentado e que a prevalência de obesidade entre crianças celíacas pode duplicar quando da adoção da dieta GF. Além disso, esse tipo de dieta é frequentemente pobre em grãos integrais e fibras, cujo consumo é inversamente relacionado ao IMC.

No que concerne à saúde gastrointestinal, um estudo experimental publicado em uma das mais respeitadas revistas da área demonstrou possíveis efeitos negativos da dieta GF sobre a flora intestinal de indivíduos saudáveis.

Por conta da exclusão de alimentos contendo trigo, no período de um mês houve redução significativa na proporção de bactérias benéficas que colonizam o intestino em relação de bactérias patogênicas nas fezes de 10 indivíduos adultos, fato provavelmente associado ao menor consumo de oligofrutose e inulina — frutanos do tipo inulina — os quais têm ação prebiótica e, desse modo, estimulam seletivamente o crescimento de determinadas espécies bacterianas consideradas benéficas (bifidogênicas) ao hospedeiro.

MENOR RISCO DE DOENÇAS MALIGNAS

Por conta do efeito prebiótico, pode-se ainda afirmar que o consumo de farinha de trigo integral por indivíduos não sensíveis ao glúten contribui para a redução do risco de câncer intestinal, de condições inflamatórias, de dislipidemias e de doenças cardiovasculares.

Cabe, no entanto, destacar que dietas GF podem ser saudáveis para o público em geral, caso tome-se o cuidado de serem selecionados outros cereais integrais, além de hortaliças e alimentos com baixa densidade energética. Entretanto, isto não implica na retirada do glúten ser a responsável por possíveis efeitos benéficos observados.

Finalmente, é possível afirmar novamente que a falta de evidências científicas sólidas faz com seja aceita a premissa de que a dieta GF não pode ser considerada benéfica para indivíduos aparentemente saudáveis e que a falta de planejamento na sua instituição pode, ainda, potencialmente afetar a saúde do trato digestório.


Adapt. de Lucas Carminatti Pantaleão

Nutricionista pela Universidade de São Paulo, Mestre em Nutrição Experimental e Membro do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
Membro da Comissão de Comunicação da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição – SBAN.

REFERÊNCIAS

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Marcason W. Is there evidence to support the claim that a gluten-freediet should be used for weight loss? J Am Diet Assoc. 2011;111(11):1786.

Dickey W, Kearney N. Overweight in celiac disease: Prevalence, clinicalcharacteristics, and effect of a gluten-free diet. Am J Gastroenterol.2006;101(10):2356-2359.

Valletta E, Fornaro M, Cipolli M, Conte S, Bissolo F, Danchielli C. Celiacdisease and obesity: Need for nutritional follow-up after diagnosis.Eur J ClinNutr. 2010;64(11):1371-1372.

De Palma G, Nadal I, Collado MC, Sanz Y. Effects of a gluten-free dieton gut microbiota and immune function in healthy adult human subjects.Br J Nutr. 2009;102(8):1154-1160.

Moshfegh AJ, Friday JE, Goldman JP, Ahuja JKC. Presence of inulin andoligofructose in the diets of Americans.J Nutr. 1999;129(7 suppl):1407S-1411S.

Glenn A. Gaesser, Siddhartha S. Angadi. Gluten-Free Diet: Imprudent Dietary Advice for theGeneral Population?J AcadNutr Diet. 2012;112(9):1330-1331.

Castillo NE, Theethira TG, Leffler DA. The present and the future in the diagnosis and management of celiac disease.Gastroenterol Rep. 2014, 1–9.

Czaja-Bulsa G, Non coeliac gluten sensitivity: a new disease with gluten intolerance. Clinic Nutr.2014, http://dx.doi.org/10.1016/j.clnu.2014.08.012.

http://www.sban.org.br/publicacoes/posicionamentos/132/dieta-livre-de-gluten-bom-para-todos

ALIMENTAÇÃO DO ESCOLAR: “O QUE HÁ DE NOVO”?

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ALIMENTAÇÃO DO ESCOLAR

 Adapt. de Silvana Gomes Benzecry, Elza Daniel de Mello  e Maria Arlete Meil Schimith Escrivão, da Sociedade Brasileira de Pediatria.

A idade escolar é caracterizada por uma fase de transição entre a infância e a adolescência e compreende a faixa etária de 7 a 10 anos.
Esse é um período de intensa atividade física e ritmo de crescimento constante, com ganho mais acentuado de peso próximo ao início da adolescência.

TRANSFORMAÇÕES

Observa-se também crescente independência da criança, sendo o momento em que ela começa a formar novos laços sociais com indivíduos da mesma idade. Essas transformações, aliadas ao processo educacional, são determinantes para o aprendizado em todas as áreas e o estabelecimento de novos hábitos.

FAMÍLIA + ESCOLA

Além da grande importância da família, a escola passa a desempenhar papel de destaque na manutenção da saúde (física e psíquica) da criança. Durante a fase escolar, o ganho de peso é proporcionalmente maior que o crescimento estatural.

ATIVIDADES MAIS VIGOROSAS

As crianças se tornam mais fortes, mais rápidas e bem mais coordenadas. É importante o incentivo à prática de atividades físicas lúdicas, como as brincadeiras. Cerca de 10% das brincadeiras livres dos escolares nas áreas recreativas são atividades vigorosas, que envolvem lutas e perseguições, entre outras.27-01-Alimentacao-Escolar

A maioria dos dentes permanentes aparece nessa idade. Os dentes decíduos (“de leite”) começam a cair em torno dos 6 anos e são substituídos pelos permanentes, numa taxa de cerca de quatro dentes por ano, durante os cinco anos seguintes. Assim, são de fundamental importância uma dieta adequada e a correta higienização da boca.

Dependendo do padrão dietético e da atividade física, as crianças, nessa fase, podem aumentar o percentual de gordura corporal e, consequentemente, o risco para o desenvolvimento de obesidade.

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A qualidade e a quantidade da alimentação são determinantes para a manutenção da velocidade de crescimento, que deve ser constante e adequada para que o estirão da puberdade seja satisfatório.

NOVOS HÁBITOS ALIMENTARES (RISCOS)

Nesse período, a criança costuma modificar o seu hábito alimentar por influência do meio e pela maior capacidade cognitiva e autonomia. A criança na idade escolar deve receber adequada educação nutricional, para fazer a escolha correta dos alimentos e adquirir melhor qualidade de vida, e a escola pode contribuir sobremaneira nesse processo.cartilhaorganicosescola

Orientá-la quanto aos riscos que hábitos alimentares e estilo de vida inadequados pode representar à saúde é de fundamental importância. Alguns estudos têm mostrado que desordens do balanço energético são comuns nessa fase da vida, podendo haver excesso no consumo de alimentos calóricos e pouco nutritivos, além de incentivo negativo ou insuficiente para a realização de exercícios físicos.

MENOS ARROZ E FEIJÃO?

Os hábitos alimentares da família ainda continuam a exercer influência sobre as práticas alimentares dos escolares. Verificou-se redução no consumo de arroz, feijões, raízes e tubérculos, peixes e ovos e aumento no consumo de embutidos, refeições prontas e biscoitos.

Essas mudanças ocorridas no hábito alimentar da população brasileira contribuíram para o aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade e suas comorbidades.

O consumo de refrigerantes, sucos artificiais e bebidas à base de soja nos horários das refeições e dos lanches, em detrimento do consumo de leite e derivados, pode comprometer a ingestão de cálcio.

Além disso, os refrigerantes fosfatados (bebidas tipo cola) aumentam a excreção urinária de cálcio, elevando suas necessidades de ingestão e comprometendo a aquisição adequada da massa óssea.

Além da ingestão deficiente de cálcio, há também a baixa ingestão de vitamina D, ocasionada por falta de exposição solar e erro alimentar. Raros são os alimentos que contêm essa vitamina e, nos que a possuem, as quantidades são muito pequenas.

A deficiência de vitamina D e de cálcio está relacionada a retardo no crescimento, doenças autoimunes, câncer, fraturas e desenvolvimento de osteoporose na vida adulta.

Também deve ser destacado o consumo de alimentos ricos em gordura, sal e açúcar, tais como fast-foods, salgadinhos, bolachas, produtos panificados que contêm gorduras trans e saturadas, que aumentam o risco para as doenças cardiovasculares.

A adequação no consumo de sal, por meio da redução do sal de adição (5 porções/dia).

Redução dos enlatados, embutidos, salgadinhos e de condimentos industrializados, deve ser preconizada para diminuir o risco do desenvolvimento de hipertensão arterial sistêmica (“pressão alta”) no futuro.

Outro aspecto que merece ser ressaltado diz respeito aos transtornos alimentares, que já podem aparecer nessa fase. Se por um lado há a preocupação da comunidade científica e dos próprios pais com o desenvolvimento da obesidade, por outro lado, também se deve atentar para o fato de que a preocupação excessiva ou mal conduzida com o ganho de peso pode causar transtornos alimentares, como a bulimia e a anorexia.

A redução do nível da atividade física, decorrente do uso de computadores por períodos prolongados em âmbito doméstico e o tempo gasto com TV são fatores que contribuem para o aumento da prevalência de obesidade, nessa faixa etária.

A televisão, além de ser uma das causas mais importantes de sedentarismo, também propicia, por meio das propagandas veiculadas, o consumo de alimentos mais calóricos.

Os resultados de uma pesquisa financiada pelo Ministério da Saúde (MS) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na qual foram analisadas 4.108 horas de televisão, num total de 128.525 peças publicitárias, mostraram que 72% das propagandas eram de fast-foods, guloseimas, sorvetes, refrigerantes, sucos artificiais, salgadinhos de pacote, biscoitos doces e bolos.

Medidas educativas são necessárias para que as crianças aprendam a escolher alimentos mais saudáveis, prevenindo, dessa forma, o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis.

Recomendações Nutricionais

O cardápio deve respeitar os hábitos da família e as características regionais. O esquema alimentar deve ser composto por cinco a seis refeições diárias, incluindo-se: café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche vespertino, jantar e lanche da noite.

Resumidamente, diretrizes gerais para a alimentação do escolar:

  1. Ingestão de alimentos para prover energia e nutrientes em quantidade e qualidade adequadas ao crescimento, ao desenvolvimento e à prática de atividades físicas.
  1. Alimentação variada, que inclua todos os grupos alimentares, conforme preconizado na pirâmide de alimentos, evitando-se o consumo de refrigerantes, balas e outras guloseimas.
  1. Priorizar o consumo de carboidratos complexos em detrimento dos simples (a ingestão de carboidrato simples deve ser inferior a 25% do valor energético total, enquanto o total de carboidrato ingerido deve ser de 50 a 55% do valor energético total).
  1. Consumo diário e variado de frutas, verduras e legumes (>5 porções/dia). Os sucos naturais, quando oferecidos, não devem ultrapassar a quantidade máxima de 240 ml/dia, sendo que uma porção de fruta equivale a aproximadamente 180 ml de suco.
  1. Consumo restrito de gorduras saturadas (30% do valor energético total)
  1. Estimular o consumo de peixes marinhos duas vezes por semana.
  2. Controle da ingestão de sal (< 6 g por dia) para prevenir a hipertensão arterial.
  1. Consumo apropriado de cálcio (cerca de 600 ml de leite/dia e/ou derivados) para formação adequada da massa óssea e prevenção da osteoporose na vida adulta.
  1. Orientar o escolar e sua família sobre a importância de ler e interpretar corretamente os rótulos de alimentos industrializados.
  1. Controlar o ganho excessivo de peso pela adequação da ingestão de alimentos ao gasto energético e pelo desenvolvimento de atividade física regular.

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  1. Evitar a substituição de refeições por lanches.
  1. Estimular a prática de atividade física (consultar o documento científico Atividade Física na Infância e Adolescência: Guia Prático, do Departamento Científico de Nutrologia da SBP, www.sbp.com.br).
  1. Reduzir o tempo gasto com atividades sedentárias (TV, videogame e computador). Limitar o tempo com essas atividades – no máximo, 2 horas/dia.
  1. Incentivar hábitos alimentares e estilo de vida adequados para toda a família.

Estimular a “autonomia orientada”: que a própria criança sirva seu prato com orientações adequadas das porções.

https://www.nestlenutrition.com.br/docs/default-source/Publica%C3%A7%C3%B5es-cient%C3%ADficas/pdf_manual_nutrologia_alimentacao.pdf?sfvrsn=0

Diarreia dos viajantes (atenção especial)

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Diarreia dos viajantes
Fernando SV Martins, Luciana GF Pedro & Terezinha Marta PP Castiñeiras

A diarreia é o principal problema de saúde durante viagens, afetando de 10 a 50% dos viajantes.mapa-paises-diarreia

O termo diarreia dos viajantes define um grupo de doenças que é resultante da ingestão de água e alimentos contaminados por agentes infecciosos e que tem a diarreia como manifestação principal.

Em geral, a diarreia dos viajantes tem duração de dois a três dias, mas pode causar desconforto e impedir a realização de atividades importantes.

Pode ainda evoluir com complicações como a desidratação, o que é mais comum em crianças pequenas, idosos e portadores de doenças crônicas.

Transmissão

Os agentes infecciosos (bactérias, vírus, helmintos e protozoários) são a principal causa de diarreia e intoxicações alimentares em viajantes.

A maioria dos agentes infecciosos pode ser adquirida através de transmissão fecal-oral, resultante da contaminação da água e de alimentos por dejetos, direta ou indiretamente.

Nos alimentos, a contaminação pode ocorrer antes, durante ou após o preparo.

O armazenamento incorreto de alimentos ou insumos em temperaturas inadequadas (entre 5 e 60 °C) por um período longo de tempo (horas) facilita a multiplicação de agentes infecciosos.

INFECÇÃO ALIMENTAR

A diarreia dos viajantes, em geral, é uma infecção alimentar, ou seja, ocorre após a ingestão de água ou de alimentos contaminados por um agente infeccioso, que pode multiplicar-se no trato digestivo humano.

O agente infeccioso pode causar diarreia por ser invasivo (como a Salmonella spp.) ou, não sendo invasivo (como a Escherichia coli produtora de toxinas), por ser capaz de produzir enterotoxinas, após multiplicar-se no interior do organismo humano.

As intoxicações alimentares resultam da ingestão de toxinas que causam vômitos (principalmente) e diarreia e que são produzidas antes da ingestão dos alimentos (toxinas pré-formadas) por agentes infeccioso (como o Staphylococcus aureus).

As intoxicações alimentares são eventos frequentes também em países desenvolvidos e por terem mecanismos de transmissão e medidas de proteção semelhantes, são relacionadas à diarreia dos viajantes.

A frequência de cada agente infeccioso como causa de diarreia dos viajantes e de intoxicações alimentares pode variar de acordo com países e regiões visitadas.

BACTÉRIAS: PRINCIPAIS CAUSAS

As bactérias são a principal causa de diarreia dos viajantes e, dependendo do local de destino, a Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC – produtora de toxinas) pode ser responsável por 25-50% dos casos, seguida em frequência por espécies de Shigella, Salmonella e Campylobacter.

Os vírus (adenovírus, astrovírus, rotavírus e calicivírus) podem ser causa importante diarreia em pessoas que viajam e surtos em navios causados por Norovírus (um dos calicivírus) são relativamente comuns.

Os parasitas intestinais (Giardia lamblia, Entamoeba histolytica, Cryptosporidium parvum e Cyclospora cayetanensis) geralmente são os responsáveis pelas diarreias mais prolongadas, algumas vezes com duração superior a 14 dias.

INTOXICAÇÕES

As principais causas de intoxicações alimentares são as enterotoxinas produzidas pelo Staphylococcus aureus (toxina emética – causadora de enjoo e vômitos) e Bacillus cereus (toxina emética e toxina diarreica), bactérias que podem contaminar os alimentos antes, durante ou depois da preparação.

A influência do consumo de bebidas alcoólica, do stress e da mudança na dieta como causa de diarreia ainda não está claramente definida. Provavelmente esses fatores são responsáveis por uma parcela dos casos leves que evoluem sem febre ou comprometimento significativo da saúde.

RISCOS

O risco da diarreia dos viajantes e de intoxicações alimentares existe em qualquer país do mundo e é consideravelmente maior durante o verão.

A diarreia dos viajantes acomete cerca de 10% (países
desenvolvidos) a 50% (países em desenvolvimento) das pessoas que viajam.

Ainda que, geralmente, seja de curta duração (dois a três dias), pode levar à total incapacidade de realizar atividades programadas. Considerando a frequência da doença, a interrupção das atividades, em determinadas circunstâncias, pode causar enormes transtornos e, adicionalmente, ter impacto financeiro significativo.

Para pessoas que viajam por motivo de trabalho, militares em missões e atletas em competição, a incapacidade de realizar adequadamente atividades programadas pode resultar em prejuízos significativos e potencialmente irreparáveis.

Os hábitos alimentares do viajante, da população local e a estação do ano (ex.: verão) são fatores de risco importantes.

O consumo de alimentos preparados por vendedores ambulantes ou de alimentos crus (como frutos do mar) constituem fatores de risco elevado.

A alimentação compartilhada, feita com outras pessoas em um mesmo recipiente, ou a ingestão de alimentos com o auxílio das mãos, comum em muitos países, aumenta o risco de aquisição de agentes infecciosos.

O desenvolvimento das manifestações depende de fatores como a quantidade de micro-organismos ingeridos (inóluco), a virulência dos agentes infeciosos e os mecanismos individuais de defesa.

Para algumas bactérias, como a Escherichia coli enterotoxigênica, é necessária a ingestão de um grande número de micro-organismos  – cerca de 106 micro-organismos para provocar diarreia, o que ocorre com maior facilidade em regiões com infraestrutura de saneamento básico precária.

Para outras bactérias, como a Shigella, um pequeno inóculo (menos de 200 micro-organismos) é capaz de desencadear diarreia, o que pode resultar em aumento da incidência de contaminação dos alimentos e da água através de manipulação inadequada ou por insetos (moscas, baratas), mesmo em locais com saneamento básico adequado.

IMUNIDADE

As pessoas com comprometimento dos mecanismos de defesa, como ocorre nos extremos de idade (crianças e idosos), quando existe diminuição da acidez gástrica, nos gastrectomizados, nas doenças crônicas intestinais e nas imunodeficiências, têm um risco maior de desenvolver diarreia dos viajantes.

Os viajantes que são portadores de insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca congestiva, diabetes insulinodependente, ou de doenças inflamatórias intestinais são particularmente susceptíveis à variação da quantidade de água e sais minerais no organismo, e estão sob risco de descompensar a doença de base em razão da diarreia.

Em viajantes, a diarreia pode ser uma consequência de doenças infecciosas mais graves e potencialmente fatais, como as formas graves de cólera (que deve ser sempre investigada quando a diarreia é profusa), a febre tifóide e a malária (ambas cursam com febre).

MEDIDAS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

O risco de diarreia dos viajantes e de intoxicações alimentares pode ser significativamente reduzido por meio da adoção sistemática de medidas de proteção contra doenças transmitidas por água e alimentos.

A seleção de alimentos seguros e o consumo de água tratada são essenciais, ainda que não sejam tarefas simples por envolverem mudanças individuais de percepção de riscos, atitudes e hábitos.

Em geral, a aparência, o cheiro e o sabor dos alimentos não ficam alterados pela contaminação com os agentes infecciosos. Para reduzir os riscos, o viajante deve alimentar-se em locais que tenham condições higiênicas adequadas e observar cuidados adicionais na seleção de alimentos.

MAIOR RISCO

Os alimentos de maior risco são aqueles mal cozidos ou crus, como as saladas, os frutos do mar, os preparados com ovos (como maionese, molhos, sobremesas tipo mousse), leite e derivados não pasteurizados (queijos, iogurtes, cremes), sucos, sorvetes e bebidas (batidas, caipirinhas) que contenham água não tratada ou gelo.

O consumo de alimentos expostos (como em buffets) à temperatura ambiente por períodos prolongados (horas) implica em risco elevado de adoecimento.

Em razão disto, deve ser preferido o consumo de alimentos bem cozidos ou fervidos, preparados na hora do consumo e servidos ainda quentes (“saindo fumaça”). No entanto, não devem ser consumidos alguns alimentos que são “preparados na hora” (como hambúrgueres e sanduíches) quando não houver segurança de que os produtos necessários foram armazenados em locais e temperaturas adequadas.

TOXINAS

Neste sentido, deve ser considerado que o aquecimento dos alimentos posterior à preparação pode inativar a toxina diarreica, porém não destrói as toxinas eméticas que causam as intoxicações alimentares.

Em qualquer país do mundo, a alimentação com vendedores ambulantes deve ser evitada, por constituir um risco elevado para a aquisição de doenças.

Em áreas que não possuem infraestrutura de saneamento básico adequada, a água para consumo deve ser tratada pelo próprio viajante.

O tratamento químico da água a ser utilizada como bebida ou no preparo de alimentos pode ser feito com compostos halogenados (cloro ou iodo). O cloro e o iodo são capazes de eliminar a maioria dos agentes infecciosos e têm eficácia semelhante, quando utilizados nas concentrações e por períodos de tempo adequados.

CUIDADOS COM O IODO

No entanto, os oocistos do Cryptosporidium parvum (que pode causar diarreia em imunodeficientes) são resistentes a ambos. Além disto, deve ser considerado que o iodo ingerido com a água pode “interferir no funcionamento da tireoide”, quando utilizado por longo período ou em indivíduos predispostos.

Os compostos iodados estão absolutamente contraindicados em gestantes e em pessoas portadoras de doenças tireoidianas.

FILTROS PORTÁTEIS

Os filtros portáteis podem ser úteis no tratamento da água para consumo e quando têm diâmetro dos poros entre 0,1 a 1 µm, removem a maioria de bactérias, helmintos e protozoários, mas não eliminam os vírus de forma efetiva.

Em razão disso, o viajante deve utilizar filtros impregnados previamente com compostos halogenados ou, alternativamente, utilizar cloro (ou iodo) após a filtração.

É importante verificar as instruções do fabricante quanto ao número de vezes em que é possível a utilização segura do filtro.

PREVENIR COM ANTIBIÓTICOS?

Não se recomenda a utilização sistemática de antibióticos profiláticos (preventivos) para a diarreia dos viajantes. Além do alto custo, os antibióticos podem causar efeitos adversos importantes, como fotosensibilidade (aumento da sensibilidade da pele ao sol), reações alérgicas, alteração da microbiota intestinal (colonização por bactérias resistentes, aumento do risco de febre tifóide), desenvolvimento de infecções fúngicas como candidose vaginal e risco de colite (inflamação do intestino) causada por Clostridium difficile.

Também não se recomenda o uso, como rotina, do subsalicilato de bismuto, uma vez que a posologia (quatro doses por dia) é pouco conveniente e existe o risco de toxicidade associada ao salicilato.

A utilidade do uso de probióticos (como o Lactobacillus) para a evitar a diarreia dos viajantes não está claramente definida.

Não existem vacinas disponíveis contra todos os agentes infecciosos que causam a diarreia dos viajantes.

A E. coli enterotoxigênica (ETEC) pode produzir dois tipos de toxinas, isoladamente ou em associação. Uma das toxinas é sensível ao calor (toxina termolábil) e a outra é resistente (toxina termoestável).

A vacina oral contra a cólera, que contém a subunidade B da toxina colérica recombinante, pode ter algum efeito protetor cruzado contra a diarreia dos viajantes, exclusivamente quando esta é causada pela Escherichia coli produtora da toxina sensível ao calor, uma vez que a subunidade B e a toxina termolábil são semelhantes.

O efeito protetor cruzado pode variar de lugar para lugar, de acordo com a freqüência da E. coli produdora de toxina termolábil como causa da diarreia dos viajantes.

Nestas circunstâncias, a eficácia da vacina oral contra a cólera, quando se considera todas as causas de diarreia dos viajantes, é limitada.

Em razão disto, não se recomenda a utilização desta vacina quando risco a ser considerado é exclusivamente a diarreia dos viajantes, exceto em situações de risco individual elevado de aquisição da doença (como diminuição da acidez gástrica) ou em pessoas nas quais as consequências podem ser muito graves, tais como: insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca congestiva, diabetes insulinodependente, doenças inflamatórias intestinais etc

MANIFESTAÇÕES

A diarreia do viajante se manifesta com aumento do número de evacuações (três ou mais episódios em 24 horas) associado ao amolecimento das fezes (líquidas ou pastosas).

Em mais de 90% dos casos é de curta duração (dois a três dias) e, geralmente, é causada por bactérias.

A diarreia pode estar acompanhada de dor abdominal tipo cólica, naúseas, vômitos e, em alguns casos, de febre.

A ocorrência de vômitos pode levar ao aumento da perda de líquidos e diminuir a capacidade do indivíduo de ingerir soluções orais para reidratação, contribuindo consideravelmente para a desidratação.

A presença de febre, de sangue ou pus nas fezes pode ser indício de diarreia invasiva e indica que o viajante deve ser avaliado por um médico o mais rápido possível.

Em 5 a 10% dos casos, a diarreia do viajante pode persistir por mais de 14 dias e, em 1 a 3% por mais de quatro semanas.

Além disto, em 4 a 10% da pessoas, a diarreia dos viajantes pode desencadear a síndrome do cólon irritável, especialmente quando causada por bactérias invasivas que provocam colite inflamatória, como Campylobacter, Salmonella, Shigella e Escherichia coli O157.

A síndrome do cólon irritável pós-infecciosa é caracterizada pela persistência, intermitente ou contínua, de alterações intestinais (diarreia ou, menos frequentemente, constipação e cólica abdominal) após um episódio de diarreia infecciosa.

As intoxicações alimentares causadas por toxinas pré-formadas têm um período de incubação muito curto, que pode variar de trinta minutos a até oito horas.

As manifestações clínicas predominantes são os vômitos. Mas algumas pessoas podem evoluir com diarreia e, mais raramente, com febre.

A aquisição da doença resulta do consumo de alimentos que antes, durante ou depois de preparados foram contaminados com bactérias (Staphylococcus aureus, Bacillus cereus) que podem se multiplicar e produzir enterotoxinas que causam vômitos e diarreia.

A maioria dos casos de cólera apresenta-se como uma diarreia leve ou moderada, que é indistinguível clinicamente e tem o mesmo tratamento básico (hidratação oral) dos casos comuns de diarreia do viajante.

No entanto, em todos os casos que evoluem com diarreia profusa, a possibilidade de cólera deve ser excluída, uma vez que em algumas pessoas (menos de 10%), a doença pode evoluir de forma mais grave, com início súbito de uma diarreia aquosa profusa, geralmente sem muco, pus ou sangue e, com frequência, acompanhada de vômitos, que rapidamente leva à desidratação e pode ser fatal.

A febre tifóide é uma doença de evolução relativamente lenta. A febre, que inicialmente é baixa, torna-se progressivamente mais alta e ocorre alteração do trânsito intestinal, manifestada por diarreia ou constipação intestinal (“prisão de ventre”).

A hipótese de malária deve ser sempre investigada todas as pessoas que tenham sido expostas ao risco de infecção – comumente viagem a uma área de transmissão – e apresente qualquer tipo de febre, associada ou não à diarreia.

TRATAMENTO

O tratamento básico da diarreia do viajante e das intoxicações alimentares consiste em reidratação, que deve ser iniciada o mais precocemente possível.

Em casos leves, a reidratação pode ser feita por via oral, preferentemente com uma solução reidratante contendo eletrólitos (sais) e glicose, em concentrações adequadas (sais de reidratação oral).

A solução de reidratação oral deve ser preparada imediatamente antes do consumo e o conteúdo de um envelope deve ser dissolvido em um litro de água fervida, após o resfriamento.

A solução não pode ser fervida depois de preparada, mas pode ser conservada em geladeira por até 24 horas. Pode ser ingerida de acordo com a aceitação, com frequência e volume proporcionais à intensidade da diarreia.

Deve ser alternada com outros líquidos (água, chá, sopa). A alimentação deve ser reiniciada após três a quatro horas de aceitação adequada da reidratação oral e, nos lactentes, o aleitamento materno deve ser mantido desde o início.

CRIANÇAS

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Em crianças, deve se iniciar a hidratação imediatamente e evitar alguns medicamentos contra vômitos, uma vez que podem ocasionar intoxicação, com diminuição do nível de consciência e movimentos involuntários, dificultando a ingestão da solução oral de reidratação.como-fazer-soro-caseiro

Além disso, a medicação é geralmente desnecessária, uma vez que os vômitos tendem a cessar com o início da reidratação.

A utilização de qualquer medicamento deve ser feita exclusivamente com orientação médica.

O uso de medicamentos como antibióticos ou antiparasitários, após avaliação médica, pode estar indicado (ou não) em casos de diarreia que evoluem com febre, presença de sangue ou pus e nas que se manifestam por um período de tempo prolongado.

Os antibióticos não estão indicados nos casos de intoxicações alimentares, uma vez que não atuam contra as toxinas pré-formadas.

A utilização de agentes que reduzem a motilidade intestinal (difenoxilato, loperamida) para tratamento sintomático da diarreia do viajante não é recomendada e está associada à possibilidade do desenvolvimento de megacolon tóxico (dilatação aguda, total ou parcial do intestino grosso, potencialmente fatal).

Medicamentos que atuam reduzindo a secreção de líquido da mucosa intestinal (como o subsalicilato de bismuto) têm início de ação lento, posologia pouco conveniente (quatro doses por dia), risco de toxicidade associada ao salicilato e, adicionalmente, podem interferir na absorção de antibióticos (como a doxiciclina).

Os casos mais graves devem ser hospitalizados para hidratação venosa até a melhora das condições clínicas da pessoa e, tão logo quanto possível, a reidratação oral deve ser feita simultaneamente.

Nas diarreias mais acentuadas (nas quais a cólera deve ser excluída) ou mais prolongadas (duração maior que três dias), nas que evoluem com presença de sangue ou pus ou com febre (quando deve ser feito o diagnóstico diferencial com febre tifóide e malária) um Serviço de Saúde deve ser procurado o mais rápido possível.

Autores

Fernando SV Martins, Luciana GF Pedro & Terezinha Marta PP Castiñeiras

Centro de Informação em Saúde para Viajantes da UFRJ

http://www.cives.ufrj.br/informacao/dv/dv-iv.html

Receitas sem leite. Atenção aos casos de alergia à proteína do leite de vaca (APLV).

marca_Leite_NAOAPLV-x-ILImagens da internet (não pertencem ao autor) de crianças supostamente portadoras de alergia ao leite de vaca (APLV):
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UrticáriaShrCkCK0Lqm4XazP0tPQUQqUlGE9mWum_med Alergia-alimentar1 Alergia-a-Proteína-do-Leite

BEM-CASADO

Bem casado

BISCOITO DE CHOCOLATE biscoitos-chocolate BOLO DE ANIVERSÁRIO BOLO DE ANIVERSÁRIO BOLO DE CENOURA COM COBERTURA DE CHOCOLATE BOLO DE LARANJA
decoracao-bolo-festa-aniversario ESFIHA FECHADA DE CARNE

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A Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), com o apoio da Nestlé Nutrition, produziu um material da maior importância.

Para todos os cuidadores, é fundamental um olhar mais amplo, que contemple o lado saudável que existe em toda criança com alergia alimentar.

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Esta é a história desse Manual (em anexo): “todos nós nos sensibilizamos pelo fato das crianças com alergia alimentar se sentirem excluídas das refeições com o irmão, da hora do lanche na escola ou pelo fato de sua festa de aniversário ter que ser diferente daquelas dos amigos.

“Assim, decidimos que faríamos alguma coisa e não ficaríamos lamentando junto com a família e o paciente. No nosso caminho fomos encontrando outros sonhadores, como os profissionais da Nestlé, e juntos trabalhamos neste projeto.”

“Essas receitas foram idealizadas dentro da Unidade de Alergia e Imunologia e Divisão de Nutrição, no início do ambulatório de alergia alimentar.

Após um longo tempo, nasceu este livro, dirigido aos profissionais que integram esse grande time de cuidadores de pacientes com alergia alimentar.

Que todos se deliciem com estas receitas e ofereçam aos pacientes uma chance de ter prazeres comuns com uma simples refeição.

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“Convidamos vocês a lerem, testarem e utilizarem este livro para orientação de seus pacientes.”

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Lanches saudáveis podem reduzir riscos de obesidade. Cuidados com a merenda escolar.

JUSTIFICATIVA

No Brasil, há mais de 80.000 mortes por ano, decorrentes de morbidades (doenças) associadas à obesidade.

Os estudos mostram que, apesar da desnutrição ainda ser uma triste realidade no Brasil, há, pelo menos, 70 milhões de brasileiros (40% da população) acima do peso adequado.

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Cerca de 15% das crianças e adolescentes estão obesos.Gordinhos

A obesidade apresenta uma tendência secular de crescimento em todas as regiões geográficas, faixas etárias e estratos socioeconômicos, principalmente na população mais carente e com menor acesso à informação.

A obesidade pode gerar graves distúrbios metabólicos, físicos e psicossociais no indivíduo, sendo bem documentada a correlação da obesidade com diversas doenças nos vários aparelhos e sistemas, como, por exemplo:

  • sistema cardiovascular: hipertensão arterial, aterosclerose, acidente vascular cerebral, trombose sistêmica, tromboflebite superficial.
  • sistema respiratório: apneia do sono, restrição ventilatória.
  • sistema endócrino-metabólico: resistência insulínica, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemias, gota, diminuição da fertilidade em homens e mulheres.
  • sistema digestório: litíase biliar, esteatose hepática, refluxo gastroesofágico, hérnia.
  • sistema osteoarticular: osteoartrose, deformidades ósseas.
  • sistema tegumentar: dermatites, erisipela, estrias.4f60f12e9fa0b3c_2
  • distúrbios psicossociais: distúrbios do comportamento, do humor (afetivos), da personalidade, distúrbios neuróticos.
  • alguns tipos de câncer, por exemplo: mama, útero, próstata, esôfago, estômago e intestino.

A preparação da lancheira dos filhos é um momento de dúvida para muitos pais.

Preocupados em oferecer uma alimentação saudável, os questionamentos vão desde quais alimentos e que quantidade oferecer até como variar e manter uma boa aceitação.

bfo8szst3xep0dsjvb98rafw5As crianças passam boa parte do dia na escola. Receber nutrientes necessários é fundamental.

A merenda apropriada torna-se uma boa oportunidade de contribuir para a alimentação balanceada das crianças, ajudar no desempenho escolar e na formação de hábitos alimentares saudáveis.

Como montar uma lancheira saudável?lanches-idela-para-seu-filho

Pensando na importância da boa alimentação durante o período escolar, a Sociedade Brasileira de Pediatria resumiu o que não pode faltar no lanche:

  • Uma fruta: prática para consumir com casca ou cuja casca pode ser retirada com facilidade (maçã, banana, pera, morango, uva). As frutas que não escurecem podem também ser oferecidas picadas em potes hermeticamente fechados.
  • Um tipo de carboidrato: para fornecer energia para as atividades escolares e do dia a dia. Pães (integrais, de forma, árabe), biscoitos sem recheio, bolos caseiros.9634578853
  • Um tipo de proteína: produtos lácteos são bem-vindos e ajudam a atingir a necessidade de cálcio diário, importante para a formação de ossos e dentes. Ex: queijos, leite e iogurtes.
  • Um líquido: importante evitar a desidratação durante as atividades escolares. Sucos, chás, água de coco são boas opções.

Unindo sabor, saúde e praticidade

  • Para aliar praticidade e boa nutrição, é interessante pensar em alimentos embalados e “porcionados”.
  • Para fazer uma escolha nutricionalmente adequada, é importante ter o hábito de ler os rótulos dos alimentos, para verificar o quanto a porção de cada alimento contribui com os nutrientes.
  • Intercalar alimentos processados com caseiros ou in natura é uma forma inteligente de compor a lancheira, mantendo a praticidade, o equilíbrio e a qualidade nutricional do lanche da criança.
  • Outra dica é envolver os filhos na preparação da lancheira. Leve-os ao mercado para ajudarem a escolher os alimentos e peça ajuda ao preparar um patê, bolo ou biscoito em casa.
  • Momentos gostosos e divertidos como esses são boas oportunidades de ensinar a criança a fazer melhores escolhas e, com isso, garantir que a lancheira tenha alimentos adequados, saborosos e bem aceitos pelo seu filho.
  • E de nada adianta oferecer uma refeição nutritiva se na hora do lanche os alimentos não estiverem adequados para o consumo.
  • Para manter a segurança alimentar, lembre-se de higienizar a lancheira e as mãos antes do preparo e de lavar bem os alimentos consumidos in natura antes colocá-los na lancheira.
  • Se esta não for térmica, utilize recipientes (térmicos) para acondicionar os alimentos que necessitem de refrigeração.
  • Ainda assim, evite alimentos mais perecíveis como patês e maioneses em dias muito quentes.
  • Diversificar a forma de apresentação dos alimentos é outro ponto que merece destaque. Sanduíches enroladinhos, frutas no palito e biscoitos caseiros em formatos lúdicos são alguns exemplos de como tornar a lancheira divertida, sem monotonia, aumentando a “possibilidade” de aceitação dos alimentos.receitas-alimentao-escolar-lanche-gostoso-04-11-728

Exemplos de lancheiras saudáveis

  • Vitamina com cereal infantil pronta para consumo + bolo caseiro + maçã.
  • Suco de laranja in natura + sanduíche integral com peito de peru + morangos.
  • Suco à base de soja pronto para consumo + pão integral com patê de ricota e cenoura + uva.lanche-escolar-2
  • Iogurte líquido + biscoito simples + banana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Departamento Científico de Nutrologia. Manual do lanche saudável. São Paulo:Sociedade Brasileira de Pediatria, 2011.

Kepple AW,Segall-Corrêa AM. Conceituando e medindo segurança alimentar e nutricional. Ciência & Saúde Coletiva, 2011; 16(1):187-99.

Philippi ST. Pirâmide alimentar para crianças de 2 a 3 anos. Rev Nutr 2003; 16(1):5-19.

Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Disponível em: http://www.endocrino.org.br/projeto-escola-saudavel/ Acesso em: 25 mar. 2016.lanche_nacc83o_indicado

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Doe leite materno! Por quanto tempo e como conservar?

ORDENHA OU EXPRESSÃO MANUAL DO LEITE

O processo manual é o método mais útil para a retirada do leite do peito.doacao_vidros_leite_02

Está indicado para aliviar mamas muito cheias, manter a produção de leite quando o bebê não suga bem, aumentar o volume de leite, guardar leite para oferecer ao bebê mais tarde na ausência da mãe e, também, para doar a um banco de leite.amamentacao

Para realizar ordenha manual e guardar o leite, a mãe deve seguir os seguintes passos:

Preparo do frasco para guardar o leite

  1. Escolha um frasco de vidro incolor com tampa plástica, de maionese ou café em pó, por exemplo.
  2. Retire o rótulo e o papel de dentro da tampa.
  3. Lave bem com água sabão e depois ferva a tampa e o frasco por 15 minutos, contando o tempo a partir do início da fervura.doacao-leite-materno-destaque
  4. Escorra o frasco e a tampa sobre um pano limpo até secar.
  5. Depois, feche bem o frasco sem tocar com a mão na parte interna da tampa.
  6. O ideal é deixar vários frascos secos preparados, mas no momento da coleta você precisa identificar o frasco com seu nome, data e hora da coleta.cartaz_smam_2009

Higiene pessoal antes de iniciar a coleta

  1. Retire anéis, aliança, pulseiras e relógio.
  2. Coloque uma touca ou um lenço no cabelo e amarre uma tolha/lenço/pano/máscara na boca.
  3. Lave as mãos e os braços até o cotovelo com bastante água limpa e sabão.
  4. Lave as mamas apenas com água limpa.
  5. Seque as mãos e as mamas com toalha/pano limpo ou papel toalha, evitando deixar resíduo de papel.

Local adequado para retirar o leite

  • Escolha um lugar confortável, limpo e tranquilo.
  • Forre uma mesa com pano limpo para colocar o frasco e a tampa.
  • Evite conversar durante a retirada do leite, para evitar contaminar o leite com a saliva.

COMO FAZER PARA RETIRAR O LEITE

  1. Massageie as mamas com a ponta dos dedos, fazendo movimentos circulares no sentido da parte escura (aréola) para o corpo.
  2. Coloque o polegar acima da linha onde acaba a aréola e os dedos indicador e médio abaixo da aréola.
  3. Firme os dedos e empurre para trás em direção ao corpo.
  4. Aperte o polegar contra os outros dedos até sair o leite. Não deslize os dedos sobre a pele.
  5. Pressione e solte, pressione e solte muitas vezes. A manobra não deve doer se a técnica estiver correta.
  6. No começo o leite pode não fluir, mas depois de pressionar algumas vezes, o leite começa a sair com mais facilidade.Armazenando-o-seu-leite-materno
  7. Despreze os primeiros jatos ou gotas.
  8. Em seguida, abra o frasco e coloque a tampa sobre a mesa forrada com um pano limpo, com a abertura para cima.
  9. Colha o leite no frasco, colocando-o debaixo da aréola.
  10. Mude a posição dos dedos ao redor da aréola para esvaziar todas as áreas.
  11. Alterne a mama quando o fluxo de leite diminuir e repita a massagem e o ciclo várias vezes.
  12. Lembre-se que ordenhar leite do peito adequadamente leva mais ou menos 20 a 30 minutos, em cada mama, especialmente nos primeiros dias.
  13. A retirada do leite pode ser feita ao mesmo tempo nas duas mamas.
  14. Após terminar a coleta, feche bem o frasco.

COMO CONSERVAR O LEITE ORDENHADO

  • Após a coleta, guarde imediatamente o frasco na geladeira, no congelador ou freezer, em posição vertical.
  • Se o frasco não ficar cheio você pode completá-lo em outra coleta (no mesmo dia), deixando sempre um espaço de dois dedos entre a boca do frasco e o leite. No outro dia, comece com outro frasco.
  • Leite cru (não pasteurizado) pode ser conservado em geladeira por até 12 horas, e no freezer ou congelador por até 15 dias.amamentacao

COMO OFERECER O LEITE ORDENHADO À CRIANÇA

  1. O leite deve ser oferecido, de preferência, utilizando-se copo, xícara ou colher.
  2. Para alimentar o bebê com leite ordenhado congelado, esse deve ser descongelado em banho-maria.
  3. Amorne o leite em banho-maria (água quente em fogo desligado) agitando o frasco lentamente para misturar bem o leite até que não reste nenhuma pedra de gelo.
  4. Para manter seus fatores de proteção, o leite materno não deve ser fervido e nem aquecido em micro-ondas.
  5. Amorne apenas a quantidade de leite que o bebê for utilizar. O leite morno que sobrar deve ser desprezado.
  6. O restante de leite descongelado e não aquecido poderá ser guardado na primeira prateleira da geladeira e utilizado no prazo de até 12 horas após o descongelamento.

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COMO PREVENIR PROBLEMAS NA AMAMENTAÇÃO

Certos cuidados na amamentação podem prevenir problemas como rachaduras no bico do peito, seios empedrados e outros.

Por isso é importante:

  1. O bebê pegar corretamente a mama.
  2. Lavar os mamilos apenas com água, não usar sabonetes, cremes ou pomadas.
  3. Não é necessário lavar os mamilos sempre que o bebê for mamar.
  4. Retirar um pouco do leite para amaciar a aréola (parte escura do peito) antes da mamada se a mama estiver muito cheia e endurecida.
  5. Conversar com outras mulheres (amigas, vizinhas, parentes, etc.) que amamentaram bem e durante bastante tempo seus bebês.

DIFICULDADES NA AMAMENTAÇÃO

  • As rachaduras podem ser sinal de que é preciso melhorar o jeito do bebê pegar o peito.
  • Se o peito rachar, a mãe pode passar seu leite na rachadura.
  • Se não houver melhora, é bom procurar ajuda com seu médico assistente ou no serviço de saúde.af_banner_b_visualizar02082010

Mamas empedradas

  1. Quando isso acontece, é preciso esvaziar bem as mamas.
  2. A mãe não deve deixar de amamentar; ao contrário, deve amamentar com frequência, sem horários fixos, inclusive à noite.
  3. É importante retirar um pouco de leite antes da mamada para amolecer a mama e facilitar para o bebê pegar o peito.
  4. Se houver piora, a mãe deve procurar ajuda.

Pouco leite

  • Para manter uma boa quantidade de leite, é importante que a mãe amamente com frequência.
  • A sucção é o maior estímulo à produção do leite: quanto mais o bebê suga mais leite a mãe produz
  • É importante, também, dar tempo ao bebê para que ele esvazie bem o peito em cada mamada.
  • Se o bebê dorme bem e está ganhando peso, o leite não está sendo pouco.
  • Se a mãe achar que está com pouco leite, deve procurar orientação com seu médico ou no serviço de saúde.

Leite fraco

Não existe leite fraco! Todo leite materno é forte e bom. A cor do leite pode variar, mas ele nunca é fraco.

Nem todo choro do bebê é de fome. A criança chora quando quer aconchego ou sente algum desconforto. Sabendo disso, não deixe que ideias falsas atrapalhem a amamentação.

É importante acreditar que a mãe é capaz de alimentar o filho nos primeiros seis meses só com o seu leite.Aleitamento-Materno-Ministério-da-Saúde-2-400x400

DOE LEITE MATERNO:

  • Banco de Leite da UFF – Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), Niterói, Rio de Janeiro:
  • Interessadas em agendar uma visita podem entrar em contato com o telefone (21) 2629-9234 ou enviar um e-mail para bancodeleite@huap.uff.br.
  • Quem preferir visitar pessoalmente, o endereço do BLH do Huap é Avenida Marquês do Paraná, 303, térreo, Centro, Niterói.
  • http://globotv.globo.com/rede-globo/rjtv-1a-edicao/v/banco-de-leite-materno-de-niteroi-procura-doadoras/4106009/

É normal o bebê golfar? Quando se deve tratar o refluxo?

Adap. do Prof. José Cesar Junqueira MD Ph.D.
Apresentar refluxo (golfadas e eventuais vômitos) pode ser normal em bebês, sem necessidade de remédio.
A maioria melhora consideravelmente após os 3 meses e quase todos aos 6 meses de vida.
Aqueles que não melhorarem entre 6 meses e 1 ano ou aqueles (em qualquer idade) que apresentarem sintomas respiratórios, como crises repetidas de bronquite ou sinusite, pausa respiratória, inflamação nos ouvidos ou choro constante com desconforto às mamadas, devem ser vistos por um especialista (gastropediatra).Mesmo assim, é importante lembrar que golfar ou eventualmente vomitar até uma vez por semana pode ser normal em crianças até os 2 anos de idade.

Lidar com os vômitos do bebê é basicamente parte da rotina para a maioria dos papais e mamães. Diante disso, é natural que os pais se perguntem se os vômitos são naturais ou podem estar relacionado com alguma doença.

IMPORTANTE: entender o conceito de “refluxo gastroesofágico”, que é o retorno do conteúdo do estômago (no caso dos bebês, do leite) para o esôfago e, por vezes, podendo chegar até a boca, causando a conhecida regurgitação.thumbnail_450_x_312_video_aula_refluxo

Isso é um evento normal, que pode ocorrer várias vezes ao dia em recém-nascidos, crianças e até mesmo adultos. É aquele clássico momento em que o bebê tem leite escorrendo no canto da boca, mas está sorridente; parece que nem foi com ele!

Em geral, os eventos duram menos de três minutos, ocorrem no período após as mamadas ou refeições e não são acompanhados de complicações. 017Ntvm

Algumas vezes, a regurgitação pode sair com mais força, devido à estimulação de uma estrutura que fica na parte posterior da boca, que nos dá sensação de náusea, causando, então, o vômito – o que não é nada preocupante.

Nesses casos, não é necessário nenhum tipo de tratamento medicamentoso, porém as chamadas “medidas não farmacológicas” ajudam a diminuir a ocorrência dos episódios de regurgitação:

  1.  colocar o bebê para arrotar e segurá-lo no colo “em pé” após as mamadas por 30-60 minutos;
  2. tomar o cuidado de não “sacudir”o bebê para que ele arrote;
  3. evitar o uso de calças na altura do umbigo e acima dele, pois, apesar de não parecer apertado, o elástico das roupas pode ser o suficiente para pressionar o estômago e facilitar, também, a volta do leite.montagem_macacao

Para os bebês menores de seis meses e amamentados exclusivamente com fórmula, o uso de Fórmula Infantil Anti Regurgitação pode ajudar a diminuir os episódios de refluxo.

Se o bebê é amamentado exclusivamente ao seio, o aleitamento deve ser mantido, não sendo indicada a substituição do leite materno por fórmula.

Quando as regurgitações estão causando algum desconforto, como choro excessivo, ou prejuízo, como perda de peso, podemos estar diante da “doença do refluxo gastroesofágico”.

Frente a isso, a consulta com o pediatra é fundamental para fazer o correto diagnóstico, que muitas vezes não é fácil.

Nos bebês, não existem sintomas que sejam específicos da doença do refluxo, tão pouco sintomas que garantam ao médico que o bebê responderá ao tratamento.refluxo2

Ainda, vale lembrar que diversas situações podem causar os mesmos sintomas da doença do refluxo, como alergia à proteína do leite de vaca, infecções, má formações do aparelho gástrico, exposição ao cigarro e outras.

Durante a investigação, pode ser que o pediatra julgue necessário solicitar algum tipo de exame específico.

O tratamento, no caso de doença, vai utilizar, além das medidas não farmacológicas vistas antes, medicamentos. Nos menores de seis meses, a medicação mais comumente utilizada é a ranitidina.

À medida em que o bebê cresce, o esfíncter, que funciona como um “anel” que fecha o estômago, começa a funcionar melhor, dificultando o retorno do leite.images

Com o desenvolvimento, o bebê aprende a ficar mais tempo sentado e em pé, posições estas que ajudam o leite e os alimentos a ficarem no estômago. Por isso, os pais devem ficar tranquilos, pois o refluxo gastroesofágico, apesar de, por vezes, desconfortável, tende a ter seus dias contados.

Fontes: Gastroesophageal Reflux: Management Guidance for the Pediatrician. 2013.

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http://www.soperj.org.br/revista/detalhes.asp?id=665

Prisão de ventre na infância: 7 dicas de tratamento (para casos mais simples)

ORIENTAÇÕES DIETÉTICAS PARA O TRATAMENTO DA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL EM PEDIATRIA

O objetivo do tratamento dietético é modificar a consistência do bolo fecal e estimular o peristaltismo intestinal.

Cerca de 95% das constipações em pediatria são funcionais (relacionadas aos erros alimentares, medo etc.)

Se for de causa orgânica e/ou emocional, a nutrição adequada será um recurso terapêutico importante. O tratamento é longo e podem haver ”recaídas”.

Por sua capacidade de reter água, cada grama de fibra ingerida aumenta 15 gramas o “bolo fecal”. Algumas medidas são sugeridas no tratamento da constipação:

  1.  Hidratação: o aumento da ingestão de água é uma medida útil no manejo da “prisão de ventre”. Ingerir bastante líquido (água, sucos naturais etc.).Meu-Dia-D-Mãe-Constipação-2
  1.  Horário: o reflexo gastrocólico ocorre em média de 15 minutos a uma hora após a alimentação e é exacerbado por alimentos (quentes ou frios) de fácil esvaziamento gástrico. Neste intervalo, após as refeições principais (café da manhã, almoço e jantar), pode-se tentar a evacuação. Se possível, levar à criança ao banheiro no mesmo horário. Ela não precisa evacuar naquele momento. Entretanto, essa atitude estimula a criança a estar no ambiente.
  1.  Postura: quando colocada em vaso sanitário comum, a criança pode sentir medo, além de manter os pés suspensos no ar. Devemos usar um redutor de vaso e permitir que ela fique em posição confortável. Deixá-la com os pés firmemente apoiados no chão ou em uma banqueta, facilitando assim a utilização da prensa abdominal (musculatura).
  1.  Ginástica: a prática de exercícios para fortalecer a musculatura da parece abdominal é uma medida que pode facilitar o ato da evacuação.
  1.  Apoio emocional: sempre necessário. Mesmo quando não é primariamente causada por distúrbio emocional, a constipação intestinal pode levar a mudanças comportamentais no paciente, com ansiedade que pode atingir seus familiares.
  1.  Atendimento ao reflexo retal: atender ao reflexo que precede a evacuação (ex. após as principais refeições). A família deve comunicar inclusive aos professores para que seja permitido à criança ir ao banheiro quando solicitar. Explicar que o quadro não é voluntário, principalmente nos casos de incontinência fecal.
  1.  Mudança de hábitos: quando possível, as frutas devem ser consumidas com casca e bagaço; o farelo e os cereais integrais podem ser utilizados no preparo de massas, tortas, pães, bolos e farofas (na proporção de 30%), legumes coloridos, diariamente, preferindo os que se comem com casca e semente. Verduras diariamente. Não fazer restrições alimentares. A dieta da criança deve ser liberada, apenas deve-se ter equilíbrio.

De acordo com a sua ação estimuladora sobre o peristaltismo intestinal, os alimentos podem ser assim classificados:

INTENSA (LAXANTES) – abóbora (moranga), acelga, aipo, alcachofra (folha), almeirão, alface, aipo, agrião, alcaparra, aspargo (inteiro), caruru, chicória, cebola, couve, erva-doce, espinafre, ervilha, feijões, jiló, lentilha, pimentão, pepino, quiabo, rúcula, repolho, rabanete, salsinha, tomate, vagem; abacaxi, ameixa, abacate, azeitona, coco, cidra, figo, jaca, jabuticaba, laranja, mamão, melancia, melão, manga, romã, sapoti, tâmara, uva; aveia, centeio, cevada, farelo de aveia, germe de trigo, linhaça (sementes), milho (espiga, farelo, grão), pães e biscoitos integrais; creme de leite, iogurte, leite, manteiga; carnes vermelhas; chocolate (puro ou adicionado em alimentos), condimentos, doces concentrados e sorvetes.Captura-de-ecrã-2015-10-24-às-16.24.02

MODERADA – alcachofra (polpa), alho, beterraba, berinjela, brócolis, cenoura crua, couve-flor, grão-de-bico (sem casca), nabo, tomate (sem pele e semente), verduras de folha (caldo: alto teor de sais); amora, abio, abricó, caqui, cereja, carambola, damasco, fruta-de-conde, framboesa, frutas em geral (suco coado), goiaba, graviola, jabuticaba (sem casca, sem semente), maracujá (polpa), lima, morango, tangerina, uva (polpa); açúcar, café, mel, milho (fubá); queijo branco, margarina, requeijão, ricota; carnes brancas, ovo, vísceras.

QUASE NULA – aspargo (ponta), abóbora (peneirada), abobrinha (sem casca), batata, cará, cenoura cozida, chuchu, inhame, mandioquinha; banana, caju, goiaba (sem semente e sem casca), limão (suco diluído), maçã (sem casca), pera (sem casca), maracujá (suco); arroz, baunilha, canela, chá, fécula de batata, fermento em pó, gelatina natural, milho (maisena) e tapioca.

OBS.: Se possível, comer alimentos de cada grupo, diariamente:

Grupos              Alimentos ricos em fibras
I Abacaxi, ameixa madura, ameixa preta, caqui, figo, kiwi, laranja (“bagaço”/gomos, suco sem coar), mamão, manga, pera (com casca), melancia, melão, nêspera, pêssego, tangerina, uva (com casca), uva passa.
II Abóbora madura, abobrinha verde (com casca), berinjela, cenoura, chuchu, palmito, quiabo, vagem.
III Acelga, agrião, alface, bertalha, brócolis, couve, couve-flor, ervilha em grão, ervilha verde, espinafre, repolho.
IV Aveia (em flocos ou farinha), arroz integral, farelo de trigo, feijão (com casca), gergelim, germe de trigo, grão de bico, lentilha, milho (cozido, ralado, pipoca), trigo (para quibe).

CONSTIPAÇÃO CRÔNICA EM PEDIATRIA: EXAMES SÃO NECESSÁRIOS?

Dra. Soraia Tahan (Gastroenterologia)

A constipação é uma queixa pediátrica frequente, sendo responsável por 3% das consultas pediátricas e 25% das consultas com pediatra gastroenterologista.

A constipação crônica na infância pode decorrer de várias causas (etiologias), sendo de origem funcional na grande maioria dos pacientes.

A história clínica e o exame físico completo são suficientes para o diagnóstico de constipação funcional na maior parte dos casos.

Existem definições para o diagnóstico de constipação crônica funcional na infância, sendo que os critérios de Roma III são atualmente mundialmente utilizados.

Os critérios de Roma III que definem constipação funcional dividiram o grupo pediátrico em 2 grupos: menores de 4 anos e maiores de 4 anos.

Os critérios considerados são:

  1. duas ou menos evacuações por semana;
  2. pelo menos 1 episódio de incontinência fecal (escape fecal) por semana (após aquisição do controle esfincteriano para menores de 4 anos);
  3. comportamento de retenção;
  4. evacuações com dor ou dificuldade;
  5. presença de grande quantidade de fezes no reto;
  6. eliminação de fezes de grande diâmetro que podem entupir o vaso.

Para preencher o diagnóstico de constipação funcional, os menores de 4 anos devem ter, no mínimo, 2 dos critérios acima descritos no último mês e os maiores de 4 anos devem ter, no mínimo, 2 desses critérios nos últimos 2 meses e não podem preencher o diagnóstico de síndrome do intestino irritável.

Nos casos que preenchem critérios clínicos de diagnóstico de constipação funcional, a realização de exames subsidiários não é necessária.

A realização de exames para investigação de constipação crônica fica reservada a casos que apresentam sinais de alarme que sugerem origem orgânica, especialmente na doença de Hirschsprung, principal diagnóstico diferencial: constipação com início antes de 1 mês de vida, eliminação de mecônio por mais de 48 horas, história familiar de doença de Hirschsprung, fezes em fita, déficit de crescimento, distensão abdominal importante, canal anal hipertônico com ampola retal vazia ao toque, em vigência de massa abdominal palpável, ou fezes explosivas após o toque retal.

Além da doença de Hirschsprung, malformações anorretais e medulares, hipotireoidismo, doença celíaca e alergia à proteína do leite de vaca podem cursar com constipação.

Recentemente, a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição (NASPGHAN), juntamente com a Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição (ESPGHAN), desenvolveu um documento que dispõe sobre recomendações baseadas em evidências científicas para o diagnóstico e o tratamento da constipação crônica funcional em lactentes e crianças. As recomendações são:

  • A radiografia simples de abdome não é útil para o diagnóstico de constipação funcional, exceto nas crianças com suspeita de impactação fecal e cujo exame físico não fornece essa informação ou não pode ser realizado.
  • Testes laboratoriais para hipotireoidismo, doença celíaca e hipercalcemia não são recomendados na ausência de sinais de alarme.
  • O enema baritado não é recomendado como exame inicial para avaliação de crianças com constipação, pois não representa uma alternativa válida à biópsia retal ou à manometria anorretal para excluir doença de Hirschsprung, porém pode ser usado para avaliar a extensão do segmento agangliônico antes da cirurgia.
  • A manometria anorretal não é recomendada como única ferramenta diagnóstica de doença de Hirschsprung em neonatos e lactentes, sendo útil em crianças mais velhas com sintomas que sugerem essa doença, inclusive a ausência de resposta clínica à terapia padrão.
  • A biópsia retal é o padrão-ouro de diagnóstico de doença de Hirschsprung.
  • A ultrassonografia retal não é recomendada para o diagnóstico de constipação funcional.
  • Estudos de trânsito colônico não são recomendados para o diagnóstico de constipação funcional, porém, com base na opinião de especialistas, podem ser úteis para discriminar de constipação funcional com incontinência fecal não retentiva quando o diagnóstico não é claro.

Testes alérgicos não são recomendados para o diagnóstico de alergia ao leite de vaca em crianças com constipação funcional. Porém, com base na opinião de especialistas, a retirada da proteína do leite de vaca pode ser indicada em crianças com constipação intratável. A constipação intratável é definida como a constipação que não responde ao tratamento convencional adequado por, no mínimo, 3 meses.

Para os casos de constipação “intratável”, a manometria anorretal é útil para pesquisar a presença do reflexo inibitório retoanal (RIRA), que quando presente exclui a doença de Hirschsprung.

A manometria colônica é somente indicada para pacientes com constipação refratária antes da intervenção cirúrgica (por exemplo: enemas anterógrados).

A cintilografia colônica e as biópsias colônicas profundas (para diagnóstico de doenças neuromusculares colônicas) não são recomendadas. Só se recomenda a ressonância magnética de coluna se houver evidência de outras anormalidades neurológicas.

Leia mais: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24345831

Comentários pessoais da especialista

As recomendações baseadas em evidências científicas da NASPGHAN e da ESPGHAN para o diagnóstico e o tratamento da constipação crônica em lactentes e crianças visam a auxiliar os profissionais médicos no manejo clínico eficiente de crianças com constipação crônica.

Entretanto, concordo com a menção dos autores no texto de que a diretriz não deve ser considerada como um substituto do julgamento clínico ou como protocolo aplicável a todos os pacientes.

Ressalto ainda que a experiência que temos no Serviço de Manometria Anorretal da UNIFESP difere de uma das recomendações da diretriz. Temos utilizado a manometria anorretal em lactentes como única ferramenta diagnóstica para excluir a doença de Hirschsprung nos pacientes que apresentam reflexo inibitório retoanal no exame.

Referência

Tabbers MM, Di Lorenzo C, Berger MY, Faure C, Langendam MW, Nurko S, Staiano A, Vandenplas Y, Benninga MA. Evaluation and treatment of functional constipation in infants and children: evidence-based recommendations from ESPGHAN and NASPGHAN. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2014;58:258-274.

http://www.nestlenutrition.com.br/comentarios-dos-especialistas/detalhe/dra-soraia-tahan/2014/08/15/constipacao-cronica-em-pediatria-exames-sao-necessarios?utm_source=restrospectiva2014&utm_medium=Pediatras&utm_content=gastro&utm_campaign=Email_Mkt&