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Saúde

Avaliação neuromotora: cuidados

Avaliação Neuromotora

Alguns parâmetros motores são considerados essenciais para a triagem do desenvolvimento neuropsicomotor no primeiro ano de vida:

  • Atividade reflexa primitiva.
  • Flexão no período neonatal.
  • Reações de equilíbrio.
  • Reações de retificação.
  • Simetria corporal.
  • Transferência de peso corporal.

São eles pré-requisitos motores, que evoluem do início da vida ao longo do primeiro ano, para a aquisição gradativa de habilidades não somente motoras, mas também secundariamente de outras funções.

Reciprocamente, o desenvolvimento das demais funções (cognitiva, psicoafetiva, visual) influi também grandemente na evolução motora. Isso porque os movimentos intencionais dependem de planejamento prévio, executado com participação de várias estruturas cerebrais, dentre essas, a córtex pré-frontal e a área motora cingulada (com conexão com o sistema límbico), que conferem respectivamente os componentes cognitivo e psicoafetivo, que permeiam em geral os atos motores.

Esse fato explica porque uma deficiência intelectual e/ou um distúrbio psicoafetivo pode afetar o desenvolvimento motor, com consequente atraso no alcance dos marcos motores e/ou comprometimento da qualidade dos atos motores.

É fundamental no desenvolvimento que a avaliação seja feita de forma global, por meio do exame das funções: cognitiva, psicoafetiva, social (interação com pessoas), visual, auditiva, linguagem, além da motora, mesmo que haja evidência de distúrbio motor.

Vale enfatizar que um atraso e/ou um distúrbio motor em criança pode ser decorrente não somente de lesões neurais nas vias motoras, mas também por deficiência visual, cognitiva ou distúrbio psicoafetivo e vice-versa.

Resumidamente, um déficit motor, dependendo da intensidade, pode levar a uma deficiência cognitiva e/ou distúrbio psíquico secundário.

Pela observação dos comportamentos da criança, é possível a avaliação das funções citadas e não apenas da sua competência motora. Essa avaliação deve ser feita com a criança em várias posturas: supino, prono, decúbito lateral, de deitado puxado para sentar, sentado e de pé.

Nos primeiros meses, é muito útil o uso da postura, denominada supino a 45 graus, apoiando-se a criança com o dorso sobre os antebraços do examinador, em inclinação aproximada de 45 graus e a cabeça acomodada sobre as suas mãos em concha. Essa postura permite não somente avaliar se o lactente vê ou ouve, mas também o “diálogo” examinador-lactente, que fornece muitas informações sobre as outras funções cognitiva, psicoafetiva e de linguagem, além da motora, através de suas manifestações de atenção, interesse, contato visual, interação, sorriso e/ou emissão de sons, vocalizações.

O oferecimento de brinquedos, permitindo não somente verificar a preensão destes, mas também a análise da reação perante os brinquedos (atenção, interesse, alcançar e apanhar, levar à boca, exploração, etc.), facilita a observação das manifestações de todas as funções mencionadas.

Recomenda-se que a avaliação do desenvolvimento seja realizada no tatame e não sobre a mesa de exame. No tatame, sem risco de quedas, a criança se sentirá menos controlada e livre para realizar as trocas posturais e os deslocamentos espontaneamente.

Idades-chaves e aquisições relevantes em nascidos a termo

Período Neonatal

– Postura em flexão

– Em prono: eleva a cabeça momentaneamente

– Contato visual/fixação visual (de forma mais evidente no final do período)

– Reage a sons

 

3 meses

– Controle de cabeça (ausência aos 4 meses: sinal de alerta)

– Simetria corporal

– Transferência do peso corporal

– Junção das 2 mãos na linha média

– Sorriso social (início, em geral, com 2 meses)

– Vocalização e gritos

6 meses

– Permanece sentado, quando colocado (ausência aos 7 meses: sinal de alerta)

– Rola

– Alcança e segura objetos ora com uma mão, ora com a outra (uso sempre de uma única e

da mesma mão: sinal de alerta)

– Localiza sons dirigindo o olhar em direção à fonte sonora

– Balbucio

9 meses

– De sentado passa para a postura de pé

– Engatinha

– Permanece de pé, com apoio

– Duplicidade de sílabas no balbucio

12 meses

– Anda

– Primeiras palavras

A maior parte da avaliação do desenvolvimento se baseia mais em observações de comportamentos espontâneos da criança, do que em manuseios. Assim sendo, ela deve ser realizada em todos os momentos em que a própria criança oferece oportunidade para tal.

Por isso mesmo, a avaliação pode ser feita no decorrer da consulta, seja no início, durante a anamnese (colocando-se, por exemplo, um brinquedo sobre a mesa, ao alcance da criança se maior de 6 meses de idade), ou no momento do exame físico, ou até mesmo no final da consulta. Não há, assim, necessidade de haver sequência rígida, preestabelecida, para os vários itens do exame.

Recomendação

Vídeo:

  • Desenvolvimento Neuropsicomotor da Criança – Avaliação no Primeiro Ano de Vida, NUTES, UFRJ, 1996 Autoria de: Alice Y. S. Hassano; Marcia Bellotti de Oliveira; Livia R.L. Borgneth e Monika Mueller
    Duração: 32 minutos
    As cópias podem ser solicitadas ao Laboratório de Vídeo Educativo-NUTES/UFRJ através do fax (0xx21) 2270-5847 – tel.: (0xx21) 2562-6360ou pelo endereço eletronicovideonutesufrj@gmail.com

Para ler mais conteúdos como esse, acesse: www.nestlenutrition.com.br

Dra. Alice Y. S. Hassano

Referências bibliográficas

  1. BLY, L. Motor skills acquisition in the fi rst year. Tucson: Therapy Skill Builders; 1994.
  2.  BRAZELTON, T.B. As forças vitais do recém-nascido. In: Brazelton, T.B. desenvolvimento do apego. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas Sul Ltda; 1988. p. 110-37.
  3.  BOBATH, K. A neurophysiological basis for the treatment of cerebral palsy. London: Spastics International Medical Pub. William Heinemann Medical Books Ltd.; 1980.
  4.  HASSANO, A. Y. S. Quando suspeitar e como conduzir: desvios do desenvolvimento. In: Nestlé e Sociedade Brasileira de Pediatria. (Org.). Curso Nestlé de Atualização em Pediatria – Anais. Rio de Janeiro: Nestlé; 2002.
  5.  HASSANO, A. Y. S.; BORGNETH, L. R. L. Desvios do desenvolvimento. In: Azevedo, C.E.S. & Cruz, W.M.F. (Org.). Terapêutica em Pediatria. São Paulo: Ed. Atheneu, 2001. p. 29-33.
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  7. HASSANO, A. Y. S. Caso 20. In: Schettino, C. E.. (Org.). Diagnósticos em Pediatria – 100 casos clínicos comentados. São Paulo: Ed. Atheneu; 1997, v. 01. p. 242-243
  8. HASSANO, A. Y. S.; BELLOTTI, M. C. O.; BORGNETH, L. R. L. & MULLER, M. W. Desenvolvimento Neuropsicomotor da Criança – Avaliação no Primeiro Ano de Vida. Vídeo. Rio de Janeiro: NUTES, UFRJ; 1996.
  9. HASSANO, A. Y. S.; OLIVEIRA, M. B.; STEINBERG, V. Desenvolvimento motor nos dois primeiros anos de vida. In: Comitê de. (Org.). Novo Manual de “Follow-up” de Recém-nascidos de Alto Risco. Rio de Janeiro: Serviço de Informação Científica Nestlé; 1995, v. 01. p. 35-42.
  10. HASSANO, A. Y. S. ; BORGNETH, L. R. L. ; MUELLER, M. W. . Avaliação do Desenvolvimento Motor no Primeiro Ano de Vida. In: Aires, V.T. & Ramires, C.. (Org.). Rotinas de Pediatria. 2a. ed. Rio de Janeiro: Ed. Cultura Médica; 1995, v. 01. p. 13-18.
  11.  HASSANO, A. Y. S. DDST – Triagem de Desenvolvimento de Denver. Manual de “Follow-up” de Recém-nascidos de Alto Risco. Rio de Janeiro: Serviço de Informação Científica Nestlé; 1995. p. 58-60.
  12. HASSANO, A. Y. S.; SAYEG, D.C.; SANTOS, G.L.M.; PORTO, M. A. C. S. C. Avaliação do Desenvolvimento. In: AIRES, V. L. T.; RODRIGUES, C. R. M. (Org.). Rotinas de Pediatria. 1a. ed. Rio de Janeiro: Ed. Cultura Médica Ltda.; 1993, v. 1. p. 15-21.
  13. HASSANO, A. Y. S. Teste de triagem de desenvolvimento de Denver (DDST): Desempenho de lactentes normais na Cidade do Rio de Janeiro (dissertação). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1990.
  14. JOHNSON, M. H. Functional brain development in humans. Neuroscience. 2: 475-82, 2001.
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Vacinas: não se deve dar paracetamol para prevenir reações

Resposta imune a vacinas pode ser reduzida pela administração profilática de paracetamol, segundo artigo publicado no The Lancet

Embora o uso de paracetamol reduza significativamente as reações febris após vacinação, a administração profilática de antitérmicos não deve ser rotineiramente recomendada, pois a resposta de formação de anticorpos a vários antígenos vacinais é reduzida com o uso de antitérmicos profiláticos.

Dois estudos consecutivos, randomizados e controlados (com a primeira dose da vacina e após a dose de reforço), nos quais participaram 459 crianças saudáveis, foram realizados para estudar o efeito profilático do paracetamol para evitar reações febris em crianças vacinadas e verificar a formação de anticorpos frente a diferentes antígenos vacinais.

Neles, 226 crianças receberam 3 doses profiláticas de paracetamol nas primeiras 24 horas após a vacinação e 233 não receberam paracetamol. As vacinas testadas foram vacina hexavalente acelular contra pólio, difteria, tétano, coqueluche (pertussis), hepatite B e haemophilus, vacina contra pneumococo e vacina oral contra rotavírus.

Febre acima de 39,5°C foi rara em ambos os grupos. A porcentagem de crianças com temperatura igual ou superior a 38°C foi significativamente menor no grupo que recebeu paracetamol profilático do que no grupo que não recebeu o antitérmico. A concentração média de anticorpos foi significativamente mais baixa no grupo que recebeu paracetamol.

Depois da dose de reforço, a concentração média de anticorpos persistiu mais baixa no grupo que recebeu o paracetamol.

Os resultados mostram que embora o uso de paracetamol reduza as reações febris, a administração profilática (preventiva) de antitérmicos não deve ser rotineiramente recomendada, pois a resposta de formação de anticorpos a vários antígenos vacinais é reduzida com o uso de antitérmicos profiláticos.

NEWS.MED.BR, 2009. Resposta imune a vacinas pode ser reduzida pela administração profilática de paracetamol, segundo artigo publicado no The Lancet. Disponível em: <http://www.news.med.br/p/pharma-news/51918/resposta-imune-a-vacinas-pode-ser-reduzida-pela-administracao-profilatica-de-paracetamol-segundo-artigo-publicado-no-the-lancet.htm>. Acesso em: 17 mar. 2016.

Transtornos alimentares (anorexia e bulimia)

De uma forma geral, consideramos os transtornos alimentares como um conjunto de síndromes cuja característica central é a relação anormal do sujeito com sua alimentação. Dentre eles, a anorexia nervosa se caracteriza pela recusa à alimentação associada a uma alteração na percepção subjetiva da forma e do peso corporais, levando a uma preocupação absolutamente descabida com a possibilidade de ganho ponderal.

“Anorexia”, que remete a ausência de orexis, apetite, descreve, na clínica, um comportamento em que uma exagerada restrição alimentar é adotada no sentido de atingir-se um peso e uma forma corporal suficientemente magra segundo padrões que discordam do senso comum e das variáveis propostas pela medicina.

A anorexia e a bulimia são distúrbios alimentares dos quais o número de casos vem aumentando especialmente em adolescentes do sexo feminino e com boa condição socioeconômica e cultural.

Anorexia: é uma doença em que a menina se considera muito acima do peso e a sua ingestão alimentar reduz drasticamente.

A recusa é voluntária. Na fase inicial da doença não ocorre uma perda real do apetite. Mais tarde, o organismo pode acostumar-se com a pouca alimentação (risco).

O anoréxico pode morrer em estado de desnutrição. Desidratados, os pacientes sofrem perda de eletrólitos, principalmente potássio, fundamental para o funcionamento muscular e cardíaco.

Bulimia: é quando existe uma compulsão alimentar em que se come acima do que deveria e, em seguida, uma forma forçada de eliminar o que foi consumido através do vômito, laxantes, diuréticos e outros medicamentos.

Geralmente, a pessoa bulímica come sozinha e escondida, não se importando com o sabor da comida ou sua combinação. Após o episódio compulsivo, sente-se culpada e com certo mal estar físico em razão da quantidade excessiva de alimentos ingeridos, ocorrendo-lhe a ideia de induzir o vômito para não engordar. Este comportamento lhe traz satisfação e alívio momentâneos e assim ela pensa em ter descoberto a forma ideal de manter o peso sem restringir os alimentos que considera proibidos.

O bulímico pode evoluir para o óbito devido a métodos purgativos. Há pacientes que chegam a vomitar 15 ou 20 vezes por dia. Em consequência, pode ter desidratação e perda de eletrólitos.

Quais são os sintomas?

– Baixo peso

– Interrupção da menstruação

– IMC abaixo de 15 em crianças e adolescentes

– abuso de prática de exercícios físicos

– prisão de ventre e depressão.

Quais são as causas que motivam a anorexia e a bulimia?

Genética: se a mãe já passou por algum transtorno alimentar, é comum que a filha possa ter.

Cultural: influência do ideal de beleza de modelos magras que é divulgado pela mídia.

Hormonal: é comum que na adolescência que as garotas não se aceitem como são. Então, para ser bem aceita na escola, entre amigos e o namorado, acaba “aderindo” ao transtorno, na tentativa de emagrecer.

Elementos psicológicos: pode acontecer quando a menina/jovem passa por problemas pessoais, como separação dos pais, bullying e abuso sexual.

Como interferir?

O tratamento deve contar com uma equipe multiprofissional com intervenções medicamentosas, psicológicas e nutricionais. Alguns casos exigem hospitalização.

Ambas são doenças crônicas de difícil controle. É necessário o acompanhamento a longo prazo, e as recaídas são frequentes.

O diagnóstico e o tratamento precoce podem fazer toda a diferença entre o fracasso e o sucesso terapêutico.

ANOREXIA: DEFINIÇÃO, FREQÜÊNCIA, MORTALIDADE E A RESTAURAÇÃO DO PESO

Os critérios diagnósticos para a anorexia nervosa (AN) são: a manutenção do peso corporal abaixo de 85% do esperado para a altura e a idade, grande medo de engordar (ainda que o indivíduo esteja com baixo peso), alteração da imagem corporal e amenorréia em, no mínimo, três ciclos consecutivos.

Entre os transtornos alimentares (TA), representa o menos comum, porém o mais grave. Nos pacientes com a doença, as principais causas de morte são o suicídio e os efeitos diretos do jejum.

É uma patologia com relativa baixa prevalência (1% em alguns estudos nos Estados Unidos), incidindo, mais comumente, em mulheres com idades entre 15 a 29 anos; no entanto, sua mortalidade é alta.

Sullivan, em uma metanálise englobando 42 estudos sobre mortalidade na AN estimou que a mortalidade fosse de 5,6% por década desde o início da doença.

Cerca de 20% dos afetados apresentarão doença crônica com grave comprometimento na qualidade de vida e cerca de 30% a 40% terão recuperação completa com o tratamento. Em geral, os adolescentes, quanto mais precocemente forem tratados, melhor será a evolução.

Referência: MOREIRA, Luiza Amélia Cabus; OLIVEIRA, Irismar Reis de. Algumas questões éticas no tratamento da anorexia nervosa. J. bras. psiquiatr.,  Rio de Janeiro ,  v. 57, n. 3,   2008 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047-20852008000300001&lng=en&nrm=iso>. access on  08  Mar.  2015.  http://dx.doi.org/10.1590/S0047-20852008000300001.

Insatisfação com a imagem corporal

Animais domésticos: cuidados especiais e riscos

Durante a evolução alguns predadores e presas na cadeia alimentar transformaram-se em “utilitários” e, ao serem domesticados, estabeleceu-se um vínculo de afeto, tornando-se animais de estimação.

Além da questão do companheirismo, atualmente estes animais têm sido auxiliares em processos terapêuticos em hospitais e instituições afins. Sabe-se que a posse responsável de um animal de estimação, desde que em harmonia e consenso familiar, pode ser positiva para a criança no plano afetivo.

Entre outros fatores, ajuda a desenvolver hábitos de responsabilidade para com o outro, pode tornar-se um facilitador para informações sobre sexo; ajuda a entender a normalidade das necessidades fisiológicas (urinar e defecar) e acaba sendo um assunto em comum para conversas de pais e filhos, além de preparar a criança a lidar com a morte.

Embora existam várias razões que justifiquem a aquisição de um animal de estimação, não se deve esquecer de que se trata de um animal irracional domesticado, podendo levar a riscos de mordedura, doenças, lesões e (em alguns casos raros) à morte. Além da lesão própria da mordedura ou arranhadura há o risco de infecções graves, pois a boca do animal é altamente contaminada, assim como doenças transmissíveis por mamíferos como a hidrofobia (raiva).

Cães e gatos, animais mais populares, são também os principais agressores. Porém, a maioria dos animais domésticos pode apresentar riscos de mordedura. Alguns animais surgem “na moda”, como: iguanas, cobras, macacos e outros nomeados como “exóticos”, cujo comportamento ainda não é de todo conhecido.

Como toda lesão não intencional, a mordedura é passível de prevenção. Crianças gostam de brincadeiras com cães, que são considerados companheiros e amigos, mas, nessa convivência, é preciso conhecer as regras de segurança.

O que todos devemos saber:

Animais apresentam atitudes agressivas por medo ou defesa (território, dono, cria, alimento), portanto estas situações devem ser respeitadas.

Atitudes como não se aproximar de animais desconhecidos, não desafiar ou agredir os animais auxiliam na prevenção de lesões.

Outras medidas são importantes, como não tocar em animais sem a permissão do proprietário, além de respeitar e conhecer a natureza.
A mídia tem mostrado com frequência casos muito graves, inclusive fatais, de ataque por cães da raça Pitbull, mas não se deve desconhecer o risco de agressão por outras raças.

A grande maioria de mordidas em crianças é causada por animais da própria família ou de vizinhos, e as crianças são agredidas mais frequentemente do que os adultos.

Os ataques mais graves geralmente acontecem com crianças pequenas e, nessa situação, é grande o risco de mordida na cabeça, na face e no pescoço. Em crianças maiores, as lesões ocorrem habitualmente nos braços e nas pernas.

Principais medidas de segurança:

  • Se houver criança pequena em casa, os pais devem analisar bem antes de adquirir um cão, porque criança pequena nunca pode ficar sozinha perto de cão: é muito perigoso.
  • Observar o momento oportuno e seguro para adquirir um cão.
  • Antes de adquirir um cão, informar-se com um veterinário sobre as raças mais adequadas e mais mansas. Cães de raças reconhecidamente agressivas (Pitbull, Rottweiler, Pastor alemão, Doberman, etc.) não são recomendados.
  • Deve-se ter atenção aos cruzamentos porque podem gerar animais perigosos. Para crianças maiores, recomenda-se cão de raça dócil.
  • Observar bem o comportamento do cão antes de levá-lo para casa.
  • Cão de comportamento agressivo, independentemente da raça, não deve ficar em casa que tenha criança.
  • Cães castrados geralmente são menos agressivos.
  • O cão necessita de treinamento, socialização e educação, orientados por pessoa habilitada.
  • Nunca se deve estimular a agressividade do cão e, sim, comportamento submisso.
  • As brincadeiras entre crianças e cães devem ser supervisionadas por adultos.
  • Não se deve importunar o cão, principalmente durante a alimentação, o sono, se tiver filhote novo ou se estiver com aparência de doente.
  • Não se deve puxar as orelhas, as patas e o rabo; nunca colocar o dedo nos olhos do animal; não tomar brinquedo que esteja com o cão.
  • Não é recomendado beijar ou ficar com o rosto perto do animal.
  • Não tentar separar briga de cães; manter-se distante dos agressivos.
  • Manter as vacinas em dia, cuidar da higiene e da saúde do cão.
  • Orientar as crianças para não se aproximar ou brincar com animal estranho.
  • Deve-se combinar antecipadamente com as crianças que o cão não poderá dormir com elas nem fazer as refeições com a família.
  • Cão pequeno e de raça mansa não são garantia de que não morderá alguém.
  • As crianças precisam receber orientações sobre as maneiras adequadas para lidar com o animal, como não provocar ou machucar o cão. Se houver provocação ou agressão, mesmo o cão de raça dócil poderá morder.

Responsabilidades do proprietário: 

Ter controle sobre o animal e adestrá-lo corretamente.

Não estimular comportamento agressivo (principalmente se for cão).

Em caso de animal feroz providenciar placas de alerta com ilustração (nem todos são alfabetizados).

Conduzir o animal em locais públicos sempre com guia.

Oferecer assistência veterinária periódica.

Antes de adquirir um animal consultar veterinários, criadores e proprietários sobre as características e adaptação a rotina familiar.

Se o animal apresentar comportamento indesejado consultar um veterinário, nunca abandoná-lo em locais públicos.

São sinais sugestivos de ataque iminente por alguns mamíferos: pelo eriçado, dentes à mostra e rosnado, orelhas eretas e para frente, cauda elevada e reta e contato visual prolongado.

Ricardo Jukemura
Vera Lucia Venancio Gaspar

http://www.sbp.com.br/departamentos-cientificos/animais-domesticos/

http://www.rbmv.com.br/

Alimentos contaminados: risco de morte

Comida que mata
Organização lança, na próxima semana, campanha para melhorar a segurança da cadeia produtiva

Estima-se que mais de 2 milhões de pessoas, a maioria crianças, morram anualmente em decorrência dessas enfermidades, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Doenças provocadas por alimentos e água contaminados têm consequências devastadoras para a saúde e a economia de um país, independentemente do grau de desenvolvimento da nação.

A OMS alerta sobre a necessidade de promover ações internacionais que englobem toda cadeia de abastecimento de comida.

Embora as doenças de origem alimentar recebam pouca atenção, são um grave problema de saúde pública. Em conjunto, somam pelo menos 200 problemas, desencadeados por bactérias, parasitas, vírus e substâncias químicas.

No melhor dos casos, o paciente sofre apenas com náuseas e diarreia leve. Porém, podem surgir quadros mais graves, como insuficiência renal e hepática, distúrbios neurais, artrite reativa, câncer e até levar à morte.

A campanha da OMS chama-se “Do campo ao prato, torne os alimentos seguros”. Desde 2010, foram registrados pelo menos 582 milhões casos de 22 doenças entéricas transmitidas por produtos alimentícios — pouco mais de 40% eram crianças com menos de 5 anos.

No total, foram 351 mil mortes, a maior parte causada por Salmonella typhi (52 mil óbitos), Coli enteropatogênica (37 mil) e Norovírus (35 mil). E esses números ainda podem subir quando a análise for concluída — os resultados finais devem sair em outubro.

Sem fronteiras

Historicamente, doenças ligadas à alimentação são mais comuns no interior, onde a comida, por exemplo a carne, é produzida e consumida em casa.

Como nem sempre os animais são criados em condições ideais, acabam portando e transmitindo toxinas e vermes, sendo a Taenia solium, causadora da enfermidade conhecida como “solitária”, um deles. Porém, segundo a OMS, essa não é mais a regra.

Nas últimas décadas, os sistemas de produção e transporte de alimentos foram adaptados para funcionar em uma rede global. O lado ruim do processo é que os agentes causadores de doenças podem entrar na cadeia de abastecimento. Para a entidade de saúde, a globalização da distribuição aumenta a probabilidade de as doenças atravessarem fronteiras nacionais.

Um exemplo disso ocorreu em São Paulo, em 2005, quando o município registrou um surto de difilobotríase, enfermidade transmitida por um parasita de peixes. Os casos foram registrados em 20 pessoas que comeram sushi e sashimi em restaurantes da cidade.

A suspeita incidiu sobre o salmão, que, com o robalo, é o principal hospedeiro do verme causador da doença, o Diphyllobothrium spp. Hoje, assim como há 10 anos, praticamente todo salmão consumido no Brasil é importado do Chile. Outro caso foi um surto de febre aftosa na Inglaterra que chegou à França e, depois, se espalhou pela Europa em 2000.

“Um problema de segurança alimentar local pode rapidamente se tornar uma emergência internacional”, diz Margaret Chan, diretora-geral da OMS, acrescentando que a investigação de surtos de doenças transmitidas por alimentos é muito mais complicada quando um pacote de comida contém ingredientes de vários países. “Muitas vezes, é preciso uma crise para que a consciência coletiva seja agitada, e uma medida séria seja tomada”, completa Kazuaki Miyagishima, diretor do Departamento de Segurança dos Alimentos e Zoonoses da OMS.

Salmonela

Embora os alimentos industrializados sejam submetidos a criteriosos processos de fabricação, eles continuam suscetíveis à contaminação, especialmente por bactérias. A salmonela é uma das mais recorrentes. Em 2013, nos Estados Unidos, cerca de 250 pessoas de 18 estados adoeceram após consumirem frango infestado pelo micro-organismo. O mesmo ocorreu na Holanda, no ano anterior, com 950 doentes e três mortos. No Brasil, 18% dos casos de doenças provocados por comidas registrados entre 2000 e 2014 foram devidos à salmonela.
Henrique Marconi Sampaio Pinhati, infectologista da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, explica que essa bactéria está presente em produtos mal processados, especialmente o ovo. “O caipira pode vir sujo com as fezes da galinha, por isso é importante limpá-lo antes de colocar na geladeira. A bactéria também pode vir dentro do próprio ovo, que deve passar por uma boa cocção (cozimento) antes de ser consumido”, explica Pinhati, também presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, regional do Distrito Federal.

Ele explica que, além das bactérias, há o perigo imposto pelos vírus. Os norovírus são mais comuns entre adultos, causando febre alta durante dois ou três dias. “A grande questão é que o médico confunde isso com infecção bacteriana. É a tal virose com que as crianças sofrem tanto”, diz, notando que, entre os pequenos, o adenovírus é o grande causador das doenças de diagnóstico confuso.

Prejuízos

 Os alimentos não seguros também representam grandes riscos econômicos. Em 2011, um surto de E. coli na Alemanha causou perdas de US$ 1,3 bilhão para os agricultores e indústrias e exigiu mais US$ 236 milhões para ajuda humanitária, pagos por 22 países da União Europeia.

Na campanha que está lançando, a OMS ressalta que situações de emergência como essa podem ser evitadas com o desenvolvimento de sistemas que auxiliem os governos a arquitetarem ações públicas para conter as contaminações químicas ou microbiológicas.

A organização também ressalta que o consumidor, parte final da cadeia de abastecimento, desempenha um papel importante na promoção da segurança alimentar, adotando hábitos higiênicos, especialmente na hora de cozinhar certos alimentos, como carnes.

http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2015/04/07/noticia_saudeplena,152858/alimentos-contaminados-ja-mataram-351-mil-pessoas-nesta-decada-aponta.shtml

Manter a limpeza

Lavar bem as mãos antes de cozinhar é essencial. Além disso, para garantir a limpeza dos vegetais, como verduras, frutas e legumes, é preciso lavá-los para retirar as sujeiras e deixá-los de molho por 30 minutos em uma solução com hipoclorito de sódio.

“Muita gente acha que o vinagre faz a desinfecção e isso é um erro. O vinagre só ajuda as partículas maiores a sedimentarem na água, mas não mata os micro-organismos mais nocivos à saúde”, diz Nídia Pucci, nutricionista do Hospital 9 de Julho.

Não misturar alimentos crus e cozidos

Carnes cruas ou vegetais crus ainda não lavados não devem ser misturados com alimentos cozidos, prontos para consumo. De acordo com Nídia, todo alimento tem bactérias, mas enquanto os cozidos têm uma quantidade de bactérias não patogênicas, os crus podem ter bactérias que provocam doenças.

A nutricionista explica que recorrer aos mesmos utensílios para preparar carnes cruas e outros alimentos pode gerar uma contaminação cruzada. “As bactérias que são do frango cru, por exemplo, podem passar para uma verdura. Por isso deve-se preparar um de cada vez e lavar a tábua e a faca antes de preparar o próximo alimento.”

Outra dica é evitar a tábua de madeira, já que ela torna mais difícil a limpeza e eliminação de possíveis bactérias. A tábua de acrílico é uma opção mais segura.

Cozinhar bem para matar micro-organismos

O cozimento em temperaturas acima de 100ºC é capaz de matar bactérias patogênicas. Para evitar contaminações, o ideal é evitar o consumo de carnes cruas ou mal passadas ou ovos com gema mole. Nídia lembra que a recomendação vale especialmente para gestantes e idosos, mais vulneráveis a esse tipo de infecção.

De acordo com a OMS, os microorganismos presentes em comidas que mais provocaram mortes em 2010 foram as bactérias Salmonella typhi, que levou a 52 mil mortes e a E. coli, responsável por 37 mil mortes, além do norovírus, causador de 35 mil mortes.

Manter temperaturas seguras

Para prevenir o crescimento de micro-organismos, é importante observar a temperatura de armazenamento dos alimentos. O ideal é mantê-los em uma temperatura menor do que 5ºC ou maior do que 60ºC. A nutricionista observa que é importante ficar atento à regulação da geladeira em casa: no verão, ela deve ser ajustada para trabalhar com uma potência maior.

Usar água e alimentos crus seguros

Na hora de comprar os produtos, é preciso ter cuidados especiais, segundo Nídia. No caso de carnes, frios e laticínios, o consumidor deve observar a temperatura da geladeira do mercado. No caso de alimentos congelados, a presença de pedras de gelo soltas dentro da embalagem pode indicar que o alimento descongelou e voltou a ser congelado, o que não é seguro.

“Carnes com coloração marrom ou acinzentada e frios com coloração esbranquiçada podem indicar que, mesmo estando dentro de prazo de validade, o resfriamento pode não ter sido adequado”, diz a especialista.

http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/04/comida-contaminada-levou-351-mil-mortes-em-2010-diz-relatorio-da-oms.html

15 alimentos que as crianças não devem consumir

Risco de engasgo, ausência de valor nutricional e até incompatibilidade com vacinas são alguns motivos para os pais ficarem de olho no que os filhos estão comendo.

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A introdução de alimentos diferentes do leite materno na dieta do bebê, após os seis meses de idade. Por motivos que vão do risco de engasgo à incompatibilidade com vacinas, alguns produtos são verdadeiros vilões dos cardápios das crianças.

Ao identificá-los, é preciso manter os filhos afastados deles. “Sempre explicamos para os pais que tais alimentos devem ser evitados, e não proibidos, porque a proibição aumenta a vontade do consumo”, aconselha Virgínia Weffort, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Mesmo no caso dos liberados, como carnes brancas (aves em geral e peixes sem espinha), há que se tomar cuidado no preparo.

“Alimentos mal cozidos podem causar intoxicação alimentar. Tenha a certeza de que a parte interna das carnes esteja bem cozida antes de servi-las às crianças”, alerta Elisa Maria de Aquino Lacerda, professora adjunta de nutrição materno-infantil do Instituto de Nutrição Josué de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Além disso, estimular o hábito de comer bem e de se manter afastado daquilo que é pouco relevante para a saúde é um legado que os pequenos carregarão por toda a vida, como afirma Isa Maria de Gouvêia Jorge, nutricionista da Divisão de Creches da Coordenadoria de Assistência Social da Universidade de São Paulo: “Os alimentos que a criança come até os quatro anos são determinantes para seu padrão alimentar adulto.”

As três especialistas apontam os principais alimentos a serem evitados, o motivo da restrição e a partir de que idade a criança pode começar a consumi-los. Confira:

Amendoim, castanhas, nozes e demais oleaginosas

Podem conter o fungo aflatoxina, que causa danos ao fígado. Além disso, há o risco de causar engasgos e sufocamento, devido ao tamanho e ao formato. Não deixe a criança comer até os quatro anos de idade.

Azeitonas com caroço

Podem causar engasgos e sufocamento. Evite até os quatro anos de idade.

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Balas

Não têm valor nutricional e, em muitos casos, são açúcar puro, podendo causar obesidade e cáries dentárias. Também podem causar engasgos sérios e sufocamentos. O consumo deve ser evitado até os dois anos. Depois disso, permitir o acesso com moderação.

Biscoitos com recheio

Ricas em gorduras, açúcares e sódio, não têm quantidade relevante de vitaminas e minerais.

Bolos prontos com recheio ou cobertura

Ricos em gorduras trans e/ou saturadas e em açúcares, não acrescentam na nutrição infantil. Evite que a criança coma até completar um ano.

Clara do ovo

Pode desenvolver alergia e merece cuidados quanto à vacinação, já que muitas vacinas têm em sua composição a clara do ovo (sob o nome de “albumina”).

Frutos do mar

Até o primeiro ano, podem causar reações cutâneas semelhantes a alergias nas crianças. Evite, portanto, nos 12 primeiros meses de vida de seu filho.

Macarrão instantâneo

Com excesso de sódio em sua composição, pode produzir alterações no metabolismo infantil. Os pais devem evitar servi-lo para as crianças durante o primeiro ano.

Maionese

Na maioria dos casos, é uma fonte de gordura exclusivamente, sem valor nutricional nenhum. Deve ser evitada até o segundo ano de vida da criança, com consumo moderado depois disso.

Mel

Pode estar contaminado com esporos da bactéria Clostridium botulinum, que produz uma toxina causadora do botulismo (doença que causa paralisia no tronco, braços, pernas e sistema respiratório). O organismo humano só desenvolve uma barreira contra ela na flora intestinal depois que a criança completa um ano de idade. Logo, não dê mel para seu filho até o primeiro aniversário.

Peixes com espinhas

Por mais cuidado que os pais tenham ao tirar as espinhas antes de colocar o peixe no prato da criança, alguma parte pode sobrar e levar ao engasgo e até ao sufocamento infantil. Não deve estar no cardápio até os quatro anos.

Pipoca

Pode causar engasgos sérios. Os pequenos não devem comer pipoca até os quatro anos.

Refrigerantes

Além de não terem valor nutricional nenhum, trazem sódio, gorduras e açúcares em excesso na sua composição. Podem causar obesidade e cáries dentárias. Evite até a criança completar dois anos. Depois disso, permita o consumo com moderação.

Salgadinhos industrializados

O excesso de sódio na composição pode levar a alterações no metabolismo infantil. Também têm mais gorduras do que o recomendado para a dieta das crianças. Dependendo do formato, podem fazer a criança engasgar. Evite até os dois anos.

Salsicha

Além de ser um embutido e ter conservantes demais, o que não é saudável para o organismo sensível das crianças, é uma grande causadora de engasgos e sufocamento, seja servida inteira ou em rodelas. Evite até os quatro anos de idade.

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Raquel Paulino

http://delas.ig.com.br/filhos/2013-04-04/alimentos-que-as-criancas-nao-devem-consumir.html

Alergia alimentar

Alergia Alimentar
Abordagem prática
Wellington G. Borges e Departamento de Alergia e Imunologia
Sociedade Brasileira de Pediatria

Conceito
Alergia alimentar é uma entidade clínica resultante de reações imunológicas após a ingestão de proteínas alimentares, em indivíduos previamente sensibilizados. Ocorre em cerca de 8% das crianças1.

Causas
Os alimentos mais freqüentemente envolvidos são o leite de vaca, ovo, trigo e soja, sendo responsáveis por cerca de 90% dos casos2.

A maioria das reações ocorre devido à sensibilização a apenas um ou dois alimentos. Pacientes portadores de alergia a três ou mais alimentos diferentes são menos frequentes2.

A lactose, por ser um carboidrato, não provoca alergia e sim intolerância, por deficiência da enzima de –lactase.

O número de aditivos alimentares (incluídos os corantes) implicados em reações alérgicas é muito pequeno3.

Manifestações Clínicas
Baseando-se na classificação de Gell & Coombs, há três tipos de manifestações1:
1. Mediadas por IgE ou imediatas, que ocorrem dentro de minutos até 2 horas após a ingestão do alimento. As manifestações incluem urticária e angioedema, hipersensibilidade gastrointestinal imediata, síndrome oral alérgica e anafilaxia. São as formas mais comuns de alergia alimentar1.
2. Não-mediadas por IgE ou tardias, que surgem horas após ingerir o alimento. As manifestações são doença celíaca, enteropatia induzida por proteína, dermatite herpetiforme e síndrome de Heiner.
3. Mistas, cujas manifestações são dermatite atópica, esofagite eosinofílica, gastrite e enterocolite eosinofílicas e asma.

Descrição das manifestações clínicas

As manifestações cutâneas e gastrointestinais são as mais frequentes4.

Urticária é caracterizada por eritema, pápulas e prurido cutâneos. O angioedema é o mesmo fenômeno da urticária, porém acometendo a derme, levando ao edema de pálpebras, lábios, língua, bolsa escrotal e de mãos e pés. A dermatite atópica é a manifestação alérgica mais pruriginosa, podendo levar a escoriações e assumindo uma distribuição característica em flexuras, nos pacientes maiores.

A síndrome oral alérgica é de início rápido, com prurido e desconforto nos lábios, língua e orofaringe, podendo haver sensação de aperto na garganta e angioedema.

Alguns pacientes apresentam vômitos de início súbito, bem como diarreia e dor abdominal.

A alergia alimentar é responsável por 50% dos casos de anafilaxia, com hipotensão arterial, arritmia cardíaca e comprometimento respiratório. Anafilaxia associada ao exercício ocorre com a realização de exercício físico 2 a 4 horas após a ingestão do alimento causal. Durante o repouso, o mesmo alimento não causa sintoma algum5.
Asma é rara como manifestação isolada de alergia alimentar. Geralmente, acompanha sintomas cutâneos e gastrointestinais4.
Vários estudos já foram publicados tentando associar otite média recorrente ou sintomas nasais crônicos com a sensibilidade a alimentos. Entretanto, ainda não dispomos de trabalhos de qualidade que deem sustentação para esta associação.2

A cólica afeta 40% dos lactentes, mas apenas 5% podem ter sua etiologia determinada. O papel do alimento como causador de cólicas é controverso. O tratamento de lactentes com cólica, utilizando fórmulas hipoalergênicas, apresentou resultados pobres6.

A enteropatia induzida pelo leite de vaca apresenta-se com vômitos, diarreia, malabsorção e redução do ganho ponderoestatural. A perda de proteínas pode ser evidenciada pela excreção fecal aumentada de alfa 1 anti-tripsina.

A proctocolite alérgica apresenta-se com diarreia leve e sangramento retal, porém com preservação do estado geral. Afeta lactentes exclusivamente com leite materno ou em uso de fórmulas lácteas e pode surgir nos primeiros dias de vida.
Há controvérsias quanto ao papel da alergia alimentar na constipação intestinal.

Diagnóstico

HISTÓRIA CLÍNICA

A história clínica tem baixo poder de resolução diagnóstica. Deve-se questionar:

a. Qual alimento é suspeito de provocar a reação;
b. O intervalo entre a ingestão do alimento e o surgimento dos sintomas;
c. Quais foram os sintomas;
d. Se os sintomas ocorrem sempre que o alimento é ingerido;
e. Se há melhora ou desaparecimento dos sintomas após a suspensão do alimento suspeito;
f. Se há re-surgimento dos sintomas após a re-introdução (acidental ou provocada) do alimento suspeito.

A descrição dos sintomas deve ser compatível com as manifestações de alergia alimentar, descritas anteriormente.
O exame físico é útil para caracterizar as manifestações tipicamente alérgicas.

TESTES CUTÂNEOS
Os testes cutâneos imediatos devem ser realizados por alergista. Isoladamente não confirmam o diagnóstico. Apenas detectam a presença de anticorpos IgE específicos para os alimentos testados, demonstrando sensibilização.
Devem ser testados apenas os alimentos suspeitos. Painéis de testes com inúmeros alimentos não devem ser realizados. A positividade do teste cutâneo pode persistir por muito tempo após o desaparecimento do quadro clínico.
Os testes cutâneos de contato com alimentos têm a finalidade de investigar as reações tardias, mediadas por células T. Serão necessários mais estudos controlados, utilizando esse método, para se estabelecer sua aplicabilidade7.

DOSAGEM DE IGE ESPECÍFICA
Os testes in vitro (Unicap®) servem para dosar a IgE específica para os alimentos suspeitos. Também não têm valor diagnóstico, apenas demonstram se o paciente tem IgE específica para determinado alimento.
Painéis de testes para inúmeros alimentos não devem ser realizados, pois pode haver resultados positivos que não se relacionam às manifestações clínicas.

DIETA DE EXCLUSÃO
Frente uma história e exame físico sugestivos de alergia alimentar, deve ser realizada dieta de exclusão do alimento suspeito. A dieta de exclusão deve ser realizada com número limitado de alimentos (1 a 3) e de acordo com a história clínica.
Após duas a seis semanas de exclusão, os sintomas devem desaparecer. Se os sintomas desaparecerem, um teste de provocação oral deve ser feito para se confirmar o diagnóstico.3

Atenção! Crianças não devem ser submetidas a dietas de exclusão prolongadas sem provocação oral que confirmem, definitivamente, que as manifestações clínicas foram provocadas pelo alimento excluído. Para crianças exclusivamente alimentadas com leite materno, deve-se suspeitar de sensibilização através do leite materno. Nestes casos a mãe deve submeter-se à dieta de exclusão do alimento suspeito.
TESTES DE PROVOCAÇÃO ORAL

Uma vez que os sintomas e sinais desaparecem após a exclusão do alimento suspeito, faz-se a provocação oral administrando o mesmo alimento ao paciente. O teste é considerado positivo se os sintomas ressurgem, tal como eram antes da eliminação do alimento da dieta.

Os testes de provocação oral são padrão-ouro para comprovação diagnóstica. Também são úteis para se constatar se o paciente já se tornou tolerante ao alimento. São contra-indicados quando há história recente de reação anafilática grave e devem ser realizados em ambiente hospitalar.

ENDOSCOPIA E BIÓPSIA

São úteis para avaliar pacientes com manifestações não mediadas por IgE.

Tratamento

A forma mais eficaz de tratamento de alergia alimentar é excluir totalmente da dieta do paciente o alimento identificado. Até o momento, não se aplicam vacinas orais para tratamento de alergia alimentar.
Fórmulas lácteas extensamente hidrolisadas devem substituir o leite de vaca. As fórmulas hipoalergênicas (HA) não são isentas de alérgenos, sendo passíveis de provocar reações em indivíduos sensibilizados.
Fórmulas de soja são freqüentemente utilizadas como substitutas de fórmulas do leite de vaca, porém não são adequadas para menores de seis meses de idade.

Noventa por cento dos pacientes alérgicos ao leite de vaca toleram muito bem a carne bovina.
A hipersensibilidade alimentar pode desaparecer com a idade, mesmo nos casos de reações graves1. Deve-se tentar re-introduzir o alimento a cada 6 a 12 meses de dieta de exclusão, para verificar se o paciente já desenvolveu tolerância.

Cuidado: Dietas de exclusão múltiplas e prolongadas podem acarretar problemas nutricionais sérios.

Crianças com histórico de anafilaxia devem ter epinefrina auto-injetável sempre à disposição.
Anti-histamínicos são úteis apenas para diminuir o prurido da urticária e dermatite atópica. Eles não são capazes de impedir uma reação a um alimento. O mesmo ocorre com os corticosteróides.
Ainda não dispomos de pesquisas avaliando o risco dos alimentos geneticamente modificados (transgênicos).

Prevenção

Dietas de exclusão alimentar durante a gestação não se mostraram eficientes na prevenção da doença alérgica do lactente de risco para atopia. Denomina-se lactente de risco aquele com parentes de primeiro grau atópicos (pais ou irmãos).
O aleitamento materno deve ser exclusivo até os seis meses. Após este período, os alimentos apropriados para a faixa etária podem ser introduzidos, de maneira gradativa, como para qualquer outro lactente.
4
Quando encaminhar para o alergista
a. Quando houver falhas ao tratamento instituído.
b. Quando houver história de anafilaxia ou internação.
c. Quando houver necessidade de testes alérgicos, para esclarecimento diagnóstico e orientação.
d. Para realização dos testes de provocação oral.
Referências
1. Sampson HA. Update on food allergy. J Allergy Clin Immunol 2004;113:805-19.
2. Sampson HA, Scanlon SM. Natural history of food hypersensitivity in children with atopic dermatitis. J Pediatr. 1989 Jul;115(1):23-7.
3. Fuglsang G, Madsen C, Saval P, Osterballe O. Prevalence of intolerance to food additives among Danish school children. Pediatr Allergy Immunol. 1993 Aug;4(3):123-9.
4. Bock SA, Atkins FM. Patterns of food hypersensitivity during sixteen years of double-blind, placebo-controlled food challenges. J Pediatr 1990;117:561-7.
5. Castells MC, Horan RF, Sheffer AL. Exercise-induced Anaphylaxis. Curr Allergy Asthma Rep. 2003 Jan;3(1):15-21.
6. Castro-Rodríguez JA, Stern DA, Halonen M, Wright AL, Holberg CJ, Taussig LM, Martinez FD. Relation between infantile colic and asthma/atopy: a prospective study in an unselected population. Pediatrics. 2001 Oct;108(4):878-82.
7. Roehr CC, Reibel S, Ziegert M, Sommerfeld C, Wahn U, Niggemann B. Atopy patch tests, together with determination of specific IgE levels, reduce the need for oral food challenges in children with atopic dermatitis. J Allergy Clin Immunol. 2001 Mar;107(3):548-53.
Leitura recomendada
1. Burks W. Current understanding of food allergy. Ann NY Acad Sci 2002;964:1-12.
2. Heine RG, Elsayed S, Hosking CS, Hill DJ. Cow´s milk allergy in infancy. Curr Opin Allergy Clin Immunol 2002;2:217-25.
3. James JM. Food allergy and the respiratory tract. Curr Allergy Rep. 2001;1(1):54-60.
4. Sampson HA. Food allergy. Part 1: immunopathogenesis and clinical disorders. J Allergy Clin Immunol. 1999;103(5 Pt 1):717-28.
5. Sampson HA. Food allergy. Part 2: diagnosis and management. J Allergy Clin Immunol. 1999;103(6):981-9.
6. Sicherer SH, Sampson HA. Food allergy. J Allergy Clin Immunol. 2006 Feb;117(2 Suppl Mini-Primer):S470-5. Review.
7. Burns DAR e Borges WG. Reações Adversas a Alimentos e Aditivos Alimentares. In: Lopez FA e Campos Jr D. Tratado de Pediatria. 2ª Ed. Seção 10. Capítulo 9, pg 591-9. Barueri, SP: Manole, 2010.
1. Dieta de exclusão para eliminar os sintomas.
2. Reintroduzir o alimento para verificar se os sintomas são reproduzidos.
3. Se os sintomas re-aparecem, excluir o alimento por três meses.
4. Após este intervalo, re-administrar o alimento novamente, para verificar o re-surgimento dos sintomas.
5. Se os sintomas retornam, suspender o alimento da dieta e encaminhar o paciente para o alergista.

Águas vivas (II): como tratar as lesões

Saiba como tratar lesões provocadas por águas-vivas e outros seres marinhos

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Além dos tradicionais conselhos sobre uso de protetor solar, ingestão de líquidos e cuidados com a correnteza, quem passa as férias na praia deve tomar cuidado para não esbarrar em criaturas venenosas.

Frequentadores do litoral vêm sendo surpreendidos por relatos de “queimaduras” provocadas por águas-vivas.

Mas esses não são os únicos seres que podem tirar a paz dos banhistas. Caravelas, moreias e ouriços-do-mar são outros possíveis causadores de lesões na pele e até problemas mais graves.

No caso da água-viva, cujo veneno costuma causar vergões na pele, a recomendação é resfriar o local com bolsas de gelo ou água do mar gelada para aliviar a dor e, depois, fazer uma compressa com vinagre, que ajuda a neutralizar as toxinas. ”

É importante não usar água doce, que pode agravar os sintomas”, alerta o dermatologista Vidal Haddad Jr., professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e colaborador do Instituto Butantan.

O dermatologista afirma que, em 90% dos casos, o contato com a água-viva provoca apenas dor temporária. Em algumas pessoas, no entanto, as proteínas presentes no veneno podem causar reações alérgicas, gerando sintomas como falta de ar. Crianças pequenas também podem ter problemas respiratórios graves.

 

Cnidários

Águas-vivas são invertebrados marinhos do grupo dos cnidários (parentes das anêmonas-do-mar e dos corais). A característica que diferencia esses animais de todos os outros é a presença de pequenas estruturas em suas células (chamadas de cnidas ou nematocistos). Estas estruturas funcionam como pequenas agulhas que podem injetar toxinas.

O veneno serve para paralisar as presas e, em alguns casos, como mecanismo de defesa. No Brasil, há diversas espécies de águas-vivas – aproximadamente 155, mas felizmente poucas delas causam acidentes graves, como explica o professor de zoologia André Morandini, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para ele, as ocorrências registradas no litoral de São Paulo são resultado da grande concentração de banhistas e, também, do aumento do número de certas espécies de águas-vivas. Os motivos do fenômeno ainda não são claros, mas acredita-se que estejam relacionados ao aquecimento global e à pesca excessiva em determinadas áreas. ”

O homem está causando grandes alterações na vida marinha e esses acontecimentos são apenas uma das consequências”, diz.

Além disso, Morandini explica que este é o período de reprodução desses seres, o que provoca um aumento natural do número de indivíduos: uma praia de um quilômetro pode ter, em média, 10 águas-vivas.

O professor também afirma que os ventos fortes no litoral vindos do mar aberto podem trazer caravelas às praias, tipos de água-viva que causam “queimaduras” bastante graves.

Conheça os seres marinhos que podem causar problemas aos banhistas ou a mergulhadores, especialmente no litoral de São Paulo:

Esponjas-do-mar – possuem estruturas semelhantes a agulhas minúsculas que penetram a pele com facilidade. O contato pode provocar irritação, vermelhidão, inchaço, coceira e dor. Em casos de reação alérgica, é preciso procurar o médico.

Caravelas – têm o corpo gelatinoso, de cor roxo-azulada, com uma parte semelhante a uma bexiga, visível acima da linha da água. Os tentáculos podem ter até 30 metros e são muito urticantes. Nos casos mais graves, provocam câimbras, náuseas, vômitos, desmaios, convulsões, arritmias cardíacas e problemas respiratórios. Em caso de contato, remova os tentáculos com luvas, pinças ou lâminas; não esfregue o ferimento; aplique compressas de água do mar gelada ou bolsas de gelo; utilize compressas de vinagre; não lave com água doce, nem use álcool ou urina; procure auxílio médico

Águas-vivas – são gelatinosas, com aspecto de guarda-chuva ou prato. Possuem tentáculos urticantes. Nadam na água, geralmente em grupo. A maioria é pequena e inofensiva. Podem causar desde dermatites discretas até lesões intensamente dolorosas e necrose da pele. Em geral, causam os mesmos problemas provocados por caravelas e o procedimento, em caso de lesão, é aplicar bolsas de gelo, vinagre e procurar auxílio médico. Assim como no caso da “queimadura” por caravela, a água doce pode agravar os sintomas.

Ouriços-do-mar – são animais de corpo mais ou menos esférico. Possuem espinhos abundantes, rígidos e quebradiços. São comuns sobre rochas, entre pedras ou em fundo arenoso e são responsáveis por cerca de 50% dos acidentes no litoral de SP. Os espinhos podem causar dor intensa, quando o espinho penetra fundo (geralmente no pé). Algumas espécies são venenosas e podem causar vermelhidão, inchaço e infecções secundárias. É importante procurar auxílio de profissionais de saúde para evitar infecções secundárias. Para aliviar a dor, faça banhos de água quente.

Moreias – embora pareçam cobras, são peixes pacíficos. Vivem em água rasas, em tocas e frestas nas rochas. Têm visão ruim e, por isso, podem confundir nossos dedos com comida. Em caso de mordida, lave com água e sabão. Comprima a região de sangramento com uma compressa e faça banhos de água quente no local por 30-90 minutos. Não use torniquete e procure auxílio médico.

 

Arraias – são peixes achatados, com nadadeiras largas e uma cauda comprida. Ficam enterrados em fundos arenosos ou lodosos. Costumam se aproximar da praia no verão. Algumas espécies possuem um ou mais ferrões na base da cauda, que podem ser introduzidos na vítima se ela se aproximar muito ou pisá-las. Mergulhe o ferimento em água quente por 30-90 minutos e procure imediatamente um médico.

Bagres – são peixes muito comuns em águas rasas, em fundos arenosos ou lodosos. Possuem dois pares de barbilhões ao redor da boca e 3 espinhos serrilhados nas nadadeiras dorsal e peitorais. A maioria dos acidentes ocorre em banhistas que pisam nos bagres pescados e devolvidos ao mar. O ferimento pode causar dor forte por cerca de seis horas e, em alguns casos, necrose da pele, febre e vômitos. Mergulhe o ferimento em água quente por 30-90 minutos e procure imediatamente um médico .

Mangangás ou peixes-escorpião – vivem em águas rasas, em fundos rochosos. Movimentam-se pouco e se camuflam, ficando parecidos com o local onde se encontram. Possuem espinhos nas nadadeiras com glândulas de veneno. Ao serem tocados podem causar ferimentos dolorosos. Mergulhe o ferimento em água quente por 30-90 minutos e procure imediatamente um médico.

 

Polvos – são moluscos muito ativos e inteligentes. Vivem em tocas entre as rochas e pedras. Possuem tentáculos com ventosas e um bico associado a glândulas salivares que contêm veneno. São raros os casos de bicada. Nesse caso, lave a região com água e sabão. Caso haja dor intensa, mergulhe o local em água quente por 30-90 minutos e procure um médico.

http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2008/01/08/ult4477u267.jhtm

Fonte: Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (CEBIMar). Elaborado por Álvaro Esteves Migotto (CEBIMar/USP), Vidal Haddad Junior (Unesp) e Shirley Pacheco de Souza (Instituto Terra & Mar)

Águas vivas (I): como funcionam e atacam?

Perigo na praia: caravelas-portuguesas aparecem nas águas cariocas

ANA LUCIA VALINHO

Como se não bastassem os arrastões na areia, neste verão o carioca também tem com o que se preocupar quando está no mar.

A combinação água quente + ventos de sul e sudeste trouxe para as praias da Zona Sul a caravela-portuguesa, uma prima tóxica das águas-vivas.

“Elas são bastante perigosas. Se avistá-las, o ideal é sair de perto na mesma hora”, diz o oceanógrafo David Zee, da Uerj.

Como funciona a água-viva

Stephanie Watson

A água-viva é provavelmente uma das criaturas mais estranhas e misteriosas que se encontra.

Com seu corpo gelatinoso e seus tentáculos bamboleantes, ela se parece mais com algo de um filme de terror do que com um animal de verdade. Mas se conseguir deixar a estranheza de lado e o fato de que se você chegar muito perto de uma água-viva resultará em uma ardência terrível, irá descobrir que ela é muito fascinante.

A água-viva existe há mais de 650 milhões de anos e é representada por milhares de espécies diferentes, sendo que novas espécies são descobertas a todo o momento.

É importante aprender sobre esses misteriosos animais e descobrir o que fazer se você cruzar com um urticante tentáculo de água-viva.

As águas-vivas são animais marinhos, que variam de tamanho, podendo medir de menos de 2,5 cm a cerca de 2m, com tentáculos chegando até a 30,5 m de comprimento. Embora muitas sejam planctônicas, ou seja, sua locomoção depende da mercê das correntes ou é tão limitada que não podem vencê-las, algumas água-vivas conseguem nadar lançando um jato de água.

A água-viva faz parte do filo dos Cnidários, (da palavra grega “urtiga que queima”) e da classe dos Cifozoários (da palavra grega “xícara ou taça”, referindo-se ao formato do corpo da água-viva).

Todas as espécies dos cnidários têm uma boca no centro do corpo, e envolvida por tentáculos. Outros cnidários, parentes da água-viva incluem corais, anêmonas do mar e a caravela-portuguesa.

A água-viva é composta por cerca de 98% de água. Se ela encalhar na praia, praticamente irá desaparecer à medida que a água evaporar. A maioria é transparente e tem o formato de um sino. Seu corpo tem simetria radial, o que significa que os membros se estendem de um ponto central como os raios de uma roda.

Se você cortar uma água-viva pela metade em qualquer ponto, sempre terá partes iguais. Ela tem um corpo muito simples: não possui ossos, cérebro nem coração. Para ver a luz, detectar odores e se orientar, a água-viva tem nervos sensoriais rudimentares na base de seus tentáculos.

O corpo da água-viva geralmente é composto de seis partes básicas:

  • a epiderme, que protege os órgãos internos;
  • a gastroderme, que é a camada interna;
  • a mesogléia, ou parte gelatinosa intermediária, entre a epiderme e a gastroderme;
  • a cavidade gastrovascular, que funciona como um conjunto do esôfago, estômago e intestino, tudo em um só;
  • um orifício que funciona como boca e ânus;
  • tentáculos que formam a extremidade do corpo.

Uma água-viva adulta é uma medusa, que recebeu este nome por causa da criatura mitológica com cobras no lugar do cabelo, que poderia transformar os seres humanos em pedra com um simples olhar. Depois que o macho libera seu esperma na água por seu orifício, o esperma nada até o orifício da fêmea e fertiliza os óvulos.

Várias dezenas de larvas de água-viva podem ser concebidas de uma só vez. Finalmente, elas flutuam nas correntes e procuram uma superfície sólida para se fixarem, como uma rocha. Ao se fixarem, elas se tornam pólipos, cilindros ocos com uma boca e tentáculos na parte superior. Posteriormente, os pólipos se desenvolvem em uma água-viva jovem, chamada éfira. Depois de algumas semanas, a água-viva se desprende e se desenvolve, tornando-se uma medusa adulta. Uma medusa vive cerca de três a seis meses.

Quando a água-viva ataca!

Parece algo extraído do filme “Godzilla”: monstros marítimos gigantes invadiram os mares do Japão. Eles têm 1,82 m de comprimento e pesam até 225 kg. Eles causaram danos à indústria pesqueira nacional e infligiram algumas fisgadas mortais nos seres humanos. Eles foram responsáveis até pelo desligamento temporário de uma usina de energia nuclear depois que entraram no seu sistema de resfriamento. Essas criaturas eram águas-vivas, que os japoneses chamam de echizen kurage. Alguns especialistas atribuem o influxo de águas-vivas às chuvas pesadas na China, que direcionaram as criaturas marítimas para os mares do Japão. Felizmente, os japoneses encontraram uma utilização para as diversas águas-vivas enormes que capturaram: água-viva desidratada e salgada.

http://ciencia.hsw.uol.com.br/agua-viva.htm

Vinagre é utilizado nos primeiros socorros
Em caso de queimadura, o Corpo de Bombeiros orienta o banhista a procurar um posto de salva-vidas que irá amenizar o desconforto do veranista com vinagre.

Entretanto, o tenente Siqueira destacou que é importante que o turista previna o acidente perguntando para o bombeiro se naquele local e naquele horário estão acontecendo muitas queimaduras. Se a resposta for positiva, o ideal é evitar o banho de mar.

“Talvez seja interessante já levar um frasco com vinagre porque cerca de 98% das queimaduras são leves, em uma pequena parte do membro”, recomendou o tenente. De qualquer forma, é preciso comunicar o Corpo de Bombeiros sobre a ocorrência para o monitoramento dos casos.

Quando o veranista tiver uma grande parte do corpo queimada e a pessoa tiver tosse ou ânsia de vômito, por exemplo, é recomendado procurar uma unidade de saúde.

Praia ou piscina?

QUALIDADE DA ÁGUA DAS PRAIAS E SAÚDE PÚBLICA

Grande parte da população mundial vive em cidades próximas à costa e muitas das maiores cidades cresceram ao longo de estuários, baías e áreas costeiras. Essa proximidade do homem com o mar gerou interações antigas e importantes.

Os oceanos fornecem muitos benefícios aos seres humanos que vão desde a obtenção de alimentos e novas drogas para o tratamento de doenças, até as atividades de recreação.

À medida que o mar tornou-se cada vez mais importante do ponto de vista da obtenção de alimento e de lazer, a preocupação com a qualidade da água das praias também aumentou, tendo em vista que a urbanização e o consequente aumento populacional nas regiões costeiras geraram também um aumento na quantidade de esgoto e lixo doméstico produzidos.

Águas do mar que recebem esgotos domésticos sem tratamento carregam consigo uma variedade de micro-organismos causadores de doenças chamadas de doenças de veiculação hídrica. Estas podem ser transmitidas pela água e causadas por vírus (hepatite A e E, rotavirose, poliomielite, conjuntivite), bactérias (gastroenterite, cólera, febres tifóide e paratifoide), fungos (micoses superficiais) e protozoários (giardiase e criptosporidiose).

As doenças infecciosas veiculadas por águas marinhas contaminadas poderão se iniciar após o contato com o agente patogênico, através das vias de penetração: oral (boca), nasal (nariz), cutânea (pele) e ocular (olhos).

O uso de águas costeiras para várias atividades recreacionais, tais como: a natação, o mergulho, os esportes náuticos e a pesca atrai milhares de pessoas.  No Rio, na Baixada Santista e na Região dos Lagos (RJ), por exemplo, a população flutuante representa, em determinados períodos do ano mais que o dobro da população residente. Este aumento populacional resulta em um aumento na carga de esgotos domésticos que, mesmo servida pela rede coletora de esgotos, gera um remanescente significativo, que acaba sendo lançado em cursos de água e ao mar, alterando a qualidade da água das praias.

É cada vez maior a preocupação com a qualidade das águas das praias. Embora o lançamento de esgotos no mar seja o principal fator de contaminação das águas das praias, outros fatores como a existência de rios e córregos que recebem esgotos domésticos e deságuam nas praias, ligações clandestinas ou erradas à rede de esgotos, ligação do sistema de esgotos à rede de drenagem pluvial ou ligação do sistema coletor de águas pluviais à rede de esgotos também contribuem para poluição das praias.

As chuvas, de forma semelhante, influenciam muito a qualidade da água do mar uma vez que, o lixo, as fezes de animais e todos os detritos são levados com as águas da chuva, para córregos, galerias e canais de drenagem que atingem o mar.

A contaminação das praias pelos frequentadores e por animais também é fator importante nas condições sanitárias das praias, principalmente no que diz respeito às areias. A qualidade da água utilizada para atividades de recreação, nas quais as pessoas têm contato direto e prolongado com a água (contato primário), tais como mergulho e natação, é denominada balneabilidade.

As águas recreacionais podem ser doces (rios, represas, lagos), salobras (estuários) e salinas (mar). A avaliação da qualidade das águas recreacionais marinhas é realizada através da análise e monitoramento da presença de um ou mais microorganismos que, quando presentes no meio aquático, indicam a existência de contaminação fecal e a possível presença de patógenos – chamados, portanto indicadores.

Até pouco tempo, os micro-organismos indicadores de contaminação fecal mais utilizados para monitorar a qualidade de águas recreacionais marinhas eram os coliformes fecais (atualmente denominados termotolerantes).

No início da década de 80, a bactéria Escherichia coli passou a ser utilizada para esta finalidade. Esta bactéria é encontrada exclusivamente nas fezes de humanos e de animais homeotérmicos (mamíferos e aves), portanto sua presença na água do mar indica um elevado nível de contaminação fecal e a possibilidade da presença de micro-organismos patogênicos, colocando em risco a saúde dos banhistas.

Autora: Dra. Ana Julia Fernandes Cardoso de Oliveira, doutora em Oceanografia e docente e pesquisadora em Ecologia de micro-organismos em ambientes marinhos da Unesp.

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Saiba mais (trecho do parecer do Conselho Federal de Medicina, em 2015)

As chamadas doenças das águas recreacionais são causadas por germes disseminados pela deglutição, aspiração de névoas ou aerossóis ou pelo contato com águas contaminadas em piscinas, banheiras, parques aquáticos, áreas de desportos aquáticos, fontes interativas, spas, águas termais, lagos, rios e oceanos.

Essas doenças também podem ser provocadas por substâncias químicas presentes na água, ou por sua evaporação da água, que causam problemas na qualidade do ar em ambientes fechados. As doenças de águas recreacionais podem estar relacionadas a uma gama de infecções: gastrointestinais, cutâneas, otológicas, respiratórias, oculares, neurológicas e por traumatismos.

A mais comumente relatada é a diarreia. Doenças diarreicas passíveis de transmissão por essa via podem ser causadas por germes como Cryptosporidium, Giardia, Shiguella, Norovirus e E.Coli O157:H7.

Doenças cutâneas infecciosas de natureza bacteriana, viral ou fúngica são passíveis de serem devidamente diagnosticadas através de exame dermatológico e devem constituir impedimento à utilização de piscinas e outros locais de águas recreacionais.

A frequência do exame médico para indivíduos saudáveis deve ser trimestral. Os usuários devem ser orientados a se apresentarem em trajes de banho, sem esmalte; e com a recomendação de que mantenham atitude de bom senso, evitando o comparecimento a esse tipo de ambiente quando apresentarem doenças que possam comprometer a saúde dos demais usuários.

Os médicos responsáveis pelos exames dos usuários, em conjunto com os representantes dos clubes, associações e estabelecimentos privados e as autoridades sanitárias, deverão conscientizar as pessoas doentes, sobretudo aquelas com doenças diarreicas, para que evitem frequentar os banhos coletivos.

É conveniente ressaltar que o banho de chuveiro antes de entrar no local do banho coletivo, a existência dos chamados tanques lava-pés destinados à desinfecção dos pés dos banhistas, o tratamento adequado – com saneantes – das áreas destinadas aos chuveiros construídos – segundo as normas estabelecidas pela NBR 9818, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – são importantes medidas que devem também ser observadas pelo profissional médico, visando a prevenção das doenças já mencionadas.

http://www.portalmedico.org.br/pareceres/CFM/2015/2_2015.pdf (acesso em 08 ago. 2015).
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