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Interações medicamentosas

Riscos de se medicar sem orientação

Se um médico lhe perguntar se você está fazendo uso de algum medicamento, não se esqueça de relatar o uso de chás, pomadas ou até mesmo um comprimido habitual para dor de cabeça, com o objetivo de prevenir um evento ao qual geralmente não se dá muita atenção: a interação medicamentosa.

Informar se utiliza remédios naturais

Ela acontece quando os efeitos de um remédio são alterados pela presença de outro, bem como pela mistura com fitoterápicos (os chamados remédios naturais), alimentos, bebidas ou algum agente ambiental.

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30 mil intoxicações por ano

O Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas (Sinitox/Fiocruz) registrou cerca de 30 mil casos de intoxicação por uso de medicamentos em apenas um ano.

Embora não seja possível afirmar quais deles ocorreram por interação medicamentosa, em três circunstâncias específicas a possibilidade é maior: pelo uso terapêutico errado, pela prescrição médica incorreta e por automedicação.

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“Às vezes a pessoa está fazendo uso de determinado medicamento e não informa isso ao médico, durante a consulta. Em outras, o próprio médico desconhece o potencial de interação dos remédios.

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E há ainda os casos em que o paciente usa medicamentos que tem em casa, seguindo palpites de amigos ou parentes, sem ter noção se eles podem realmente ser misturados”, descreve a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner.

Embora nem toda interação medicamentosa seja ruim, é preciso estar atento aos riscos de reunir, sem intenção prévia, dois ou mais efeitos terapêuticos.

Consequências

As consequências variam de dores pelo corpo, sangramentos e até problemas cardíacos, podendo ser fatal. No artigo Interações medicamentosas: uma contribuição para o uso racional de imunossupressores sintéticos e biológicos, disponível na base Scielo, os autores apontam duas questões que reforçam a necessidade de atenção ao assunto.

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Desconhecimento

A primeira delas é que a incidência de reações adversas causadas por interações medicamentosas não é totalmente conhecida, especialmente devido à dificuldade de sistematizar, num amplo banco de dados, os números e os tipos de pacientes aos quais foram e são prescritas as combinações com potencial para problemas.

Informação

E a segunda é que “não é possível distinguir claramente quem irá ou não experimentar uma interação medicamentosa adversa”. Alguns cuidados, contudo, reduzem sensivelmente as surpresas indesejáveis. O primeiro deles é optar pela informação.

 Ler a bula?

Seja pelo tamanho ou pela linguagem, ninguém nega: ler a bula é uma tarefa difícil. Mas ela contém informações úteis a respeito do medicamento a ser administrado, inclusive se ele pode (ou não) ser consumido junto a outros remédios, com água ou outros líquidos, em jejum ou alimentado etc.

3 tipos

Desde 2009 a Anvisa determinou que devem existir três tipos de bula: a do profissional de saúde, a do usuário (de linguagem mais simples e no formato de perguntas e respostas) e a bula em formato especial (destinada aos portadores de deficiência visual, e que deve ser solicitada no estabelecimento, caso a caso).

Quando a dispensação se dá em farmácias comerciais, a bula que vem dentro da caixa do medicamento já é a do paciente. E, quando o medicamento é disponibilizado na rede pública de saúde, podendo vir fracionado, o cidadão pode solicitar a bula impressa. É obrigação do serviço de saúde fornecê-la.

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Bulário eletrônico

No site da Anvisa existe o Bulário Eletrônico, onde uma busca simples — até pelo nome comercial do medicamento — já aponta as bulas disponíveis. Uma impressora que funcione e um profissional consciente podem estimular a maior busca por informação.

É o que defende o farmacêutico do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) José Liporage: “Em muitas unidades assistenciais os profissionais não entregam as bulas.

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Em alguns casos, porque acreditam que, assim, estão evitando que o cidadão comercialize o medicamento que recebeu no Sistema Único de Saúde. Em outros, porque fazem questão de controlar a informação sobre o remédio, de manter o seu poder como profissional.”

Saber o que pode acontecer

Além de informar, a bula é importante porque pode ser um mecanismo de proteção do cidadão. “Ela é extensa justamente porque precisa orientar sobre todas as possibilidades de ocorrência daquele medicamento, além das interações.

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Ela precisa dizer o que pode acontecer ao paciente. Se alguém ingere um remédio que causa determinado efeito que não foi previsto nem na bula, o paciente pode recorrer judicialmente, exigindo reparação”, diz Liporage.

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Mas nem sempre vai estar escrito neste documento a expressão “interação medicamentosa”. Na maioria das vezes a informação será algo do tipo “este medicamento não pode ser usado em tais situações”, lembra o farmacêutico.

Automedicação

Profissionais de diferentes unidades da Fiocruz têm um relato em comum: um dos maiores geradores de interação medicamentosa é a prática da automedicação.

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O Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para Farmacêuticos (ICTQ) realizou uma pesquisa que revela este cenário: 76,4% da população brasileira faz uso de medicamentos a partir da indicação de familiares, amigos, colegas e vizinhos.

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São pessoas que consomem qualquer tipo de remédio quando necessitam e dispõem, inclusive aumentando suas dosagens a fim de obter um efeito mais acelerado.

Um estudo foi realizado em 12 capitais brasileiras e a cidade do Rio de Janeiro ficou acima da média nacional, com 91% de sua população se automedicando.

Medicamentos: usar racionalmente

“Sempre alertamos para a necessidade do uso racional de medicamentos.

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As pessoas não fazem ideia dos riscos que estão correndo ao tomar esses fármacos aleatoriamente, por conta própria”.38519488-92f7-4f3f-9813-b61a2604fee2_ZoomCultura popular

Em nossa cultura um medicamento se tornou tão usual quando uma blusa, uma calça ou qualquer coisa já naturalizada no cotidiano. As famílias estocam medicamentos, não têm muito cuidado com o prazo de validade, fazem combinações baseadas em efeitos ocorridos com terceiros, enfim, agem de forma muito arriscada. E sequer têm noção desse risco”, alerta Rosany.

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Para discutir a prática da automedicação é preciso, contudo, discutir também o acesso aos medicamentos e aos serviços de saúde, lembra Liporage. “Mesmo com todo o avanço do SUS, ainda temos uma grande dificuldade de garantir o direito à saúde.

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Temos uma parcela muito significativa da população que se automedica especialmente porque a farmácia comercial é sua porta de entrada ao acesso.

E esse processo não vem com o suporte de informação necessário para garantir a segurança do uso do medicamento.”

Na farmácia comercial o profissional que pode assegurar todas as informações com relação à interação medicamentosa é o farmacêutico.

No SUS, a luta é para que esse profissional seja parte de uma equipe multiprofissional, trabalhando desde a Atenção Básica, onde a orientação farmacêutica será parte fundamental do atendimento ao paciente. “Evitar a interação medicamentosa começa no atendimento, que deveria ser multiprofissional em todos os serviços.

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Cuidado com o cuidador

No primeiro contato do paciente com o medicamento, ele deveria receber uma atenção especial sobre como administrá-lo. Quando a pessoa é adulta e a consulta é para si, já há essa necessidade. Mas, quando é uma cuidadora, sua responsabilidade duplica. Quando se trata de um medicamento que deve ser manipulado, o processo se torna ainda mais complexo”, aponta Liporage.

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http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/interacao-medicamentosa-entenda-os-riscos-de-medicar-se-sem-orientacao

http://www.cff.org.br/pagina.php?id=530&titulo=Intera%C3%A7%C3%A3o+Medicamentosa

Saiba mais:

A maioria dos medicamentos tem a capacidade de interagir entre si quando associados, com ou sem repercussão clínica de relevância, e esse aspecto deve ser levado em consideração no momento da prescrição.

Monoterapia (apenas um medicamento)

Por isso, sempre que possível, deve-se preconizar a monoterapia. Contudo, existem tratamentos que necessitam da associação medicamentosa para: potencializar os efeitos terapêuticos, diminuir efeitos colaterais, diminuir doses terapêuticas, prevenir resistência, obter ações múltiplas e amplas, e proporcionar maior comodidade para o paciente. Porém, muitas associações ocorrem inadvertidamente.

Interações

As interações medicamentosas são consideradas como um evento clínico detectável, mensurável, quantitativo ou qualitativo, em que há alteração dos efeitos de um fármaco, pela presença de outro fármaco, alimento, bebida ou algum agente químico do ambiente, sendo consideradas interações que ocorrem in vivo.

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Mudança de rumo

Este fato se traduz modificando o rumo esperado da terapêutica. Ainda, interações que ocorrem antes da administração dos fármacos no organismo, quando se misturam dois ou mais destes numa mesma seringa, recipiente ou equipo, também são consideradas interações medicamentosas, conhecidas como interações farmacêuticas, ou incompatibilidades de medicamentos, ou interações in vitro.

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 Eventos adversos

Os eventos adversos são definidos como sendo qualquer ocorrência médica desfavorável, que pode ocorrer durante o tratamento com um medicamento, mas que não possui, necessariamente, relação causal com esse tratamento e compreendem situações que podem ser evitadas ou não.

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IMP

A interação medicamentosa potencial (IMP) define a possibilidade de ocorrência da interação entre dois fármacos ou entre um fármaco e um nutriente. Quando a interação ocorre, esta passa a ser definida como interação medicamentosa real (IMR).

As IMP são um grave problema de saúde pública, pois podem estar relacionadas com o aumento dos gastos médicos e do tempo de hospitalização. Estima-se que 68 a 70% das IMP identificadas demandam cuidados médicos, e aproximadamente 2% delas colocam em risco a vida do paciente.

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Uso restrito e reserva terapêutica

Várias medidas têm sido propostas com a finalidade de diminuir o uso irracional de antimicrobianos, entre as quais as justificativas de prescrição de medicamentos considerados de reserva terapêutica ou de uso restrito.

A justificativa por escrito para o uso de agentes antimicrobianos considerados de uso restrito, normalmente os mais novos, mais onerosos, de maior espectro de ação e potencial de indução de resistência é um método efetivo para melhorar o uso destas drogas. A requisição exige que o prescritor explique ou justifique racionalmente sua conduta.

Histórico de cardiopatia ou diabetes: mais atenção.

Os antecedentes pessoais mais frequentes encontrados por alguns autores são: cardiovasculares (66%) e diabetes mellitus (25%).

As medicações mais prescritas relacionadas às interações moderadas e leves em uma Emergência foram: fenitoína, omeprazol, captopril, heparina sódica, claritromicina e dipirona sódica.

Essas interações podem causar deterioração clínica do paciente, exigir tratamento adicional, aumentar o período de internação ou trazer algum desconforto para o paciente.

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Tramadol X Metoclopramida

A interação entre tramadol e metoclopramida foi a mais frequente (30%) dentre as interações graves. A análise realizada pelo banco de dados Drugs.com revela essa combinação como altamente letal, podendo levar o paciente ao óbito, dependendo de sua dosagem.

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Crises convulsivas

O risco de convulsões aumenta durante a administração concomitante de tramadol e outras medicações, como inibidores seletivos da recaptação da serotonina, inibidores da monoamina oxidase, neurolépticos centrais estimulantes do sistema nervoso e opiodes, entre outros.

Esses agentes são frequentemente epileptogênicos individualmente e podem ter efeitos aditivos quando combinados.

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Outras interações importantes

Além da interação com metoclopramida, o tramadol apresentou potencial de interação com outros medicamentos, como antibacterianos e medicamentos que agem no sistema nervoso central, como amitriptilina, fluoxetina e morfina.

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Omeprazol X Fenitoína

No caso das interações moderadas, o uso de omeprazol com fenitoína foi o mais encontrado (10,6%) e, apesar de indicações distintas, essas medicações possuem efeitos antagonistas. Dados semelhantes foram encontrados em estudo que evidenciou essa interação em 29,3% dos achados.

O omeprazol pode aumentar as concentrações séricas de fenitoína e seu risco de toxicidade, inibindo a ação do metabolismo hepático e a excreção dessa medicação. Além disso, ele pode interagir de modo semelhante com outras hidantoínas, sendo que doses >40mg/dia desse medicamento são mais suscetíveis a causar interação potencial.

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A utilização concomitante desses medicamentos requer acompanhamento laboratorial para efeitos colaterais da fenitoína, além da necessidade de se observar sinais e sintomas de possível toxicidade da mesma, como sonolência, distúrbios visuais, alteração do estado mental, convulsões, náuseas e ataxia.

A coadministração de omeprazol pode resultar, também, em aumento da concentração da claritromicina plasmática. Esse aumento pode ser devido ao efeito do omeprazol no pH gástrico.

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É preocupante, ainda, a presença de mais de uma interação medicamentosa na mesma prescrição, sendo preciso investigação, mesmo que não ocorra manifestação clínica imediata, uma vez que a suspeita inicial permite que a equipe de saúde esteja preparada para a ocorrência de reações farmacodinâmicas e farmacocinéticas indesejáveis.

Interação medicamentosa na emergência Manual de Interações Antibióticos UFMT REV-Interacoes-medicamentosas-envolvendo-antimicrobianos uso_racional_medicamentos_temas_selecionados

  • OKUNO, Meiry Fernanda Pinto; CINTRA, Raíssa Silveira; VANCINI-CAMPANHARO, Cássia Regina  and  BATISTA, Ruth Ester Assayag. Interação medicamentosa no serviço de emergência. Einstein (São Paulo) [online]. 2013, vol.11, n.4 [cited  2016-07-09], pp.462-466. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082013000400010&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1679-4508.  http://dx.doi.org/10.1590/S1679-45082013000400010.

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