Formol disfarçado ainda é usado em cosméticos
Pesquisa da Faculdade de Farmácia e do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) indica que novos produtos aparentemente inofensivos usados como alisadores capilares liberam formol em estado gasoso e continuam trazendo risco à saúde, informou reportagem da revista Rede Câncer.
Foram realizados testes com marcas que prometem milagres para os cabelos, sem a utilização de formol — produto proibido desde 1989 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por causar sérios danos tanto ao usuário quanto ao profissional que o aplica.
A pesquisa identificou, no entanto, que alguns fabricantes acrescentam substâncias que, quando recebem o calor da prancha para alisar ou do secador, liberam o formaldeído, que é o formol na forma gasosa. De acordo com a professora Nancy dos Santos, que coordenou o estudo, a substância é a mesma, apenas o estado físico altera a nomenclatura.
O formol aparece disfarçado sob o selo de escova sem botox, também chamado de redutor de volumes, domador de cachos, alinhamento de fios e máscara hidratante, entre outros. A publicidade garante que a formulação é tão inofensiva que pode ser aplicada até em mulheres grávidas e crianças, sem risco, quando, pode provocar problemas imediatos, como coceira, irritação nos olhos, queimadura, inchaço, descamação e queda de cabelo.
Exposições sucessivas podem causar ainda boca amarga, dor de barriga, enjoo, vômito, desmaio e feridas na boca, narinas e olhos. Há ainda estudos segundo os quais a substância é cancerígena, estando associada a leucemias e, principalmente, ao câncer de nasofaringe.
Na reportagem da Rede Câncer, a epidemiologista Ubirani Otero, chefe da Unidade Técnica de Exposição Ocupacional, Ambiental e Câncer do Inca, explica que não existem níveis seguros de exposição ao formol e que a melhor forma de prevenção é evitar o contato.
No Brasil, a substância mais utilizada nas fórmulas desses tratamentos capilares é o ácido glioxílico. Se o consumidor encontrar produto contendo a substância com finalidade de alisamento deve denunciar à vigilância sanitária.
Os produtos liberados pela Anvisa com o propósito de alisar os cabelos são: ácido tioglicólico, hidróxido de sódio, hidróxido de potássio, hidróxido de cálcio, hidróxido de lítio e hidróxido de guanidina.
Breve histórico
É comum encontrar mulheres que fariam de tudo para deixarem os cabelos mais lisos. É aí que entra o perigo. Há cerca de dez anos, o formol, uma substância química que também serve para alisar os cabelos, começou a ser utilizado nos salões de beleza.
O formol é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma substância cancerígena para humanos, enquadrando-se no Grupo 1, ou seja, com fortes evidências de carcinogênese em humanos e em animais.
- Qual a concentração permitida para o formol utilizado como alisante capilar nos salões de beleza?
A legislação permite que os produtos cosméticos capilares contenham uma concentração de apenas 0,2% de formol como conservante, durante o processo de fabricação. Qualquer adição de formol em produtos já prontos não é permitida, acarretando riscos à saúde da população e constituindo-se em infração. Para atingir o efeito alisante, o formol deveria ser empregado em concentrações maiores, o que é totalmente vetado.
AGRAVANTE: A aplicação do formol conjugada ao uso de recursos térmicos promove a evaporação do produto, provocando irritações cutâneas, oculares e respiratórias.
Desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a venda do formol puro em todo o País. O que mais preocupa as autoridades sanitárias é que, mesmo com todo o tipo de alerta já lançado em relação aos riscos, a procura por esse tipo de alisamento milagroso ainda é grande.
O produto pode causar sérios danos à saúde e até levar à morte. A gerente-geral de Cosméticos da Anvisa, Josineire Sallum, faz um alerta aos consumidores:
“- Tem pessoas que não vão sentir nada por enquanto, mas daqui uns dez, quinze anos vão começar a aparecer os problemas mais graves que são feridas na boca, no nariz, e até o desenvolvimento de um câncer.”
Sallum ressalta que é crime adicionar formol ao produto já pronto para uso. Além disso, ela explica também que é importante observar o material que o cabeleireiro vai aplicar nos cabelos.
“- A primeira coisa que você tem de fazer é perguntar ao cabeleireiro o que ele vai usar no seu cabelo e ele tem a obrigação de não só dizer, mas como também mostrar o produto. Você pode se certificar disso se o produto realmente está regularizado, pedir para abrir o produto porque quando abre o produto, o cheiro é muito característico porque é muito forte”, completa.
Toxicidade
Devido a sua solubilidade em água, o formol é rapidamente absorvido no trato respiratório e gastrointestinal e metabolizado. Embora o formol ou metabólitos sejam capazes de penetrar na pele humana, a absorção dérmica é mais leve, porém podem induzir a dermatites de contato. Desta forma, o formol é tóxico se ingerido, inalado ou tiver contato com a pele, por via intravenosa, intraperitoneal ou subcutânea.
Efeitos do formol em humanos após exposições de curta duração
Média de concentração | Tempo médio | Efeitos à saúde população geral |
0,8 – 1 ppm | Exposições repetidas | percepção olfativa |
até 2 ppm | Única ou repetida exposição | irritante aos olhos, nariz e garganta |
3 – 5 ppm | 30 minutos | lacrimação e intolerância por algumas pessoas |
10 – 20 ppm | Tempo não especificado | dificuldade na respiração e forte lacrimação |
25 – 50 ppm | Tempo não especificado | edema pulmonar, pneumonia, perigo de vida |
50 – 100 ppm | Tempo não especificado | pode causar a morte |
Fonte: Adaptado World Health Organization (1989); IARC (1995); WHO Regional Office for Europe (1987).
Sintomas frequentes em caso de intoxicação:
Inalação: fortes dores de cabeça, tosse, falta de ar, vertigem, dificuldade para respirar e edema pulmonar. Pode causar ainda irritação nos olhos, nariz, mucosas e trato respiratório superior. Em altas concentrações pode causar bronquite, pneumonia ou laringite.
Ingestão: causa imediata e intensa dor na boca e faringe; dores abdominais com náuseas, vômito e possível perda de consciência. Também podem ser observados sintomas como proteinúria, acidose, hematemesis, hematúria, anúria, vertigem, coma e morte por falência respiratória.
Ocasionalmente pode ocorrer diarréia (com possibilidade de sangue nas fezes), pele pálida, fria e úmida além de sinais de choque como dificuldade de micção, convulsões, e estupor. A ingestão também pode ocasionar inflamação e ulceração /coagulação com necrose na mucosa gastrintestinal, colapso circulatório e nos rins. Podem ocorrer danos degenerativos no fígado, rins, coração e cérebro.
Pele: O contato com o vapor ou com a solução pode deixar a pele esbranquiçada, áspera e causar forte sensação de anestesia e necrose na pele superficial. Longos períodos de exposição podem causar dermatite e hipersensibilidade, rachaduras na pele (ressecamento), ulcerações, principalmente entre os dedos.
Olhos: Pode causar conjuntivite.
Revisão da Literatura sobre carcinogênese do formol:
Algumas avaliações feitas pela IARC – International Agency for Research on Cancer da Organização Mundial da Saúde sobre o formaldeído foram concluídas em 1987 (Suplemento 7) que classificou o formaldeído no grupo 2A – provável cancerígeno em humanos – e manteve essa classificação também em 1995 (Volume 62). Em 2003, foi montado um grupo de trabalho com cientistas da mesma Agência, que reavaliaram os resultados de estudos existentes e optaram pela reclassificação do formaldeído quanto ao seu potencial cancerígeno. Desta forma a partir de julho de 2004, a IARC classificou este composto como carcinogênico (Grupo 1), tumorogênico e teratogênico por produzir efeitos na reprodução para humanos e em estudos experimentais demonstraram ser também, para algumas espécies de animais.
O formaldeído é um agente reconhecidamente cancerígeno em humanos
Em relação ao câncer – não há níveis seguros de exposição
Tipos de câncer associados a exposição do formaldeído
De nasofaringe
A mortalidade por câncer de nasofaringe apresentou um aumento estatisticamente significativo em um estudo de coorte dos Estados Unidos (EUA) em trabalhadores de industrias expostos ao formaldeído, e em dois outros estudos de coorte dos EUA e Dinamarca. Cinco de sete estudos caso-controle estudados, também acharam o risco elevado para exposição de formaldeído. O Grupo de trabalho considerou que era “inverossímil que todos os casos positivos poderiam ser explicado por viés ou por fatores de confundimento desconhecidos” e concluiu que existe evidência suficiente em humanos que o formaldeído causa câncer de nasofaringe.
A neoplasia maligna de nasofaringe é um evento raro, porém apresenta um dos piores prognósticos dentre os tumores malignos de cabeça e pescoço, pela proximidade da base de crânio e de outras estruturas vitais, pela natureza invasiva do tumor e por causar sintomas tardios e a dificuldade no exame da nasofaringe.
Além do formol, os fatores ambientais/ocupacionais associados ao câncer de nasofaringe são as nitrosaminas (presentes no peixe salgado seco), os hidrocarbonetos policíclicos, o níquel, a madeira, os produtos têxteis, os produtos derivados do refinamento do petróleo, os pigmentos de cromo, a exposição à fumaça industrial, o gás mostarda, o gás hidrocarbônico e a fuligem de madeira. Pode-se ainda associar fatores como o uso crônico de álcool e tabaco, condições precárias de vida, infecções nasossinusais de repetição, e a associação com a infecção pelo vírus Epstein-Barr, principalmente em pacientes do sudeste asiático, onde a população afetada geralmente é mais jovem quando comparada à população caucasiana (Mukerji et al. 2003).
Leucemia
Existe “forte, mas não suficiente evidência para uma associação causal entre leucemia e exposição profissionais a formaldeído”.
Adenocarcinoma nasal
Existe evidência limitada em humanos de câncer nasal causado por formaldeído.
Genotoxicidade e citotoxicidade do formol
O formaldeído é genotóxico em modelos in-vitro, animais e humanos. A genotoxicidade e citotoxicidade têm papéis importantes na carcinogênese do formaldeído em tecidos nasais
Considerações:
– Existe uma legislação no país que estabelece limites de exposição ao formaldeído em ambientes de trabalho. O patamar de exposição ocupacional permitido no Brasil é de 1,6 ppm (2mg/m3) até 48h/semana e o dos Estados Unidos, por exemplo, que é de 0,75 ppm em 8h (± 1mg/m3) em 1 dia de trabalho. Embora os níveis permitidos aqui são inferiores a norma americana (OSHA, 2002), há de se questionar o cumprimento da mesma pelos órgãos de fiscalização, a informação e compreensão por parte dos trabalhadores de que se trata de agente cancerígeno. O estabelecimento e cumprimento dos limites de exposição são importantes para evitar/reduzir o quadro de intoxicação aguda por formol.
Em relação ao câncer, ressalta-se que não há limites seguros de exposição a agentes cancerígenos.
– Apesar das leis que proíbem o uso de formol como alisante de cabelos, essa prática continua sendo utilizada amplamente por salões de beleza no Brasil, mesmo porque a procura pelos efeitos do uso de formol nos cabelos continua crescente.
– Os cabeleireiros fazem parte de uma força de trabalho que por si só, constituem uma circunstância de risco para o desenvolvimento de câncer, por trabalharem com inúmeras tintas, misturas e produtos já classificados como cancerígenos. Adicionando-se a manipulação do formol, que para essa finalidade, parece ser uma particularidade do nosso país, o risco tende a crescer.
– A Agência Nacional de Vigilância Sanitária vem aos poucos, elaborando leis cada vez mais restritivas ao uso do formol e propondo substituição desse agente em vários produtos. No entanto, empenhos devem ser feitos em relação a fiscalização dos ambientes de trabalho.
– Embora no Rio de Janeiro, haja uma lei específica, sobre a obrigatoriedade de informar ao cliente que frequenta salões de beleza de que o uso do formol está proibido por lei, essa prática não tem sido observada na prática.
– Embora no Brasil, o uso do formol tem ganhado mais atenção pela mídia, dado o uso como alisante de cabelos, não deve ser esquecido o seu uso em outras categorias profissionais como em técnicos de laboratório e patologistas, que geralmente trabalham em locais fechados.
Links:
Agency for Toxic Substances and Disease Registry
Divison of Toxicology / e-mail: atsdric@cdc.gov
Fontes:
http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=795
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