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Apraxia de fala na infância

O desenvolvimento da fala da criança ocorre de forma gradual, respeitando as etapas de maturação e por isso ocupando grande parte da infância.

Sabe-se que as crianças não nascem com os movimentos de fala já desenvolvidos e, portanto, não apresentam a praxia desenvolvida.

Desenvolvimento e transformações

Os movimentos de lábios, língua e mandíbula sofrem modificações, e os movimentos indiferenciados no início da infância passam a ser refinados e diferenciados conforme o desenvolvimento.

Essas transformações também são fundamentais para alcançar níveis mais elevados de precisão e coordenação articulatória, importantes para a efetividade da comunicação oral.Lobos-cerebrais

Os gestos articulatórios de lábios superior, inferior e mandíbula apresentam mudanças significativas durante os primeiros anos de vida e continuam o seu refinamento até depois dos seis anos.

Controle motor

O desenvolvimento do controle motor desses articuladores segue um curso não uniforme, com mandíbula precedendo o lábio. Este processo de desenvolvimento e refinamento do controle motor oral influencia significativamente na aquisição de sons da fala.

Comprometimento da fala

Quando este refinamento não ocorre, a produção da fala torna-se comprometida, podendo surgir a suspeita de uma desordem práxica na infância.

Essa desordem na infância é definida como uma suposta categoria diagnóstica atribuída às crianças, cujos erros de fala diferem dos erros de crianças com atraso no desenvolvimento de fala e se assemelham aos erros de adultos com apraxia adquirida.

Quadro

Os pacientes com apraxia da fala adquirida demonstram, geralmente, comprometimento primariamente na articulação, com alterações na sequência dos movimentos musculares para a produção voluntária dos fonemas e, secundariamente, por alterações prosódicas, caracterizadas por uma fala mais lenta que o normal e com escassez de padrões de entonação, ritmo e melodia.

As anormalidades prosódicas (*) são usualmente percebidas como sendo secundárias às dificuldades articulatórias.

A falta da fluência na fala é causada por pausas e hesitações que ocorrem na tentativa de produzir corretamente as palavras, surgindo como uma forma de compensação da contínua dificuldade na articulação.banner2-695x700

No levantamento feito pela American Speech and Hearing Association (ASHA), em um grupo de mil crianças na faixa de 1 a 5 anos de idade, 10 delas apresentaram algum distúrbio de comunicação. De 3 a 5% foram diagnosticadas com apraxia.

O que é?

A apraxia (ou “dispraxia”) é um distúrbio de origem neurológica que consiste no envio incorreto de informações para o cérebro planejar e executar determinados movimentos.

Classificação

Ela pode ser classificada como global (quando acontece em várias partes do corpo), oral (envolvendo a boca e seus movimentos) e/ou verbal (ou da fala, na qual a dificuldade é específica para a produção dos sons de fala).

Causas

Os fatores que causam a apraxia não são totalmente conhecidos e esse distúrbio pode acontecer em paralelo com outros – por exemplo, “transtorno sensorial” ou “do espectro autista.

Como acontece

A modelagem de cada som é dada por diferenças milimétricas e dos movimentos de língua, lábios, céu da boca e dentes. Por isso, qualquer falha nas etapas de processamento, planejamento e execução pode causar alguma alteração.

Por isso, muitas vezes a criança fala uma coisa querendo dizer outra. Exemplo: em vez de “casa”, ela diz “caca”. Essa é uma fala bem aquém do esperado, mas é notório perceber que ela sabe o que queria dizer.

Segundo a ASHA, o diagnóstico diferencial de apraxia só deve ser conclusivo aos 3 anos de idade. Entretanto, se houver uma desconfiança antes dessa época, o paciente deve ser acompanhado.

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Os principais sinais de apraxia de fala na infância (AFI) são:

Até os 12 meses:

Os bebês são muitos calados e/ou têm um repertório limitado de balbucios, apesar de interagirem bem com os adultos;

Entre 12 e 18 meses:

Quando se espera que as crianças aumentem o vocabulário, as crianças com AFI podem ter perda de palavras já faladas anteriormente;

Por volta dos 2 anos de idade:

É diagnosticado um atraso no desenvolvimento de linguagem oral;

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Aos 3 anos:

Nessa fase, as crianças já são bem compreendidas, apesar de um erro ou outro de pronúncia, mas as que têm Apraxia de Fala podem ainda nem estar falando ou podem ter a fala bastante ininteligível, com erros de pronúncia que mudam muito e que são incomuns (por ex: trocas de vogais), dificuldade de falar as palavras com mais sílabas, omissão da primeira sílaba.

Desde a primeira infância:

Dificuldade de imitação (ex: mostrar a língua, fazer careta, se houver Apraxia Oral associada à AFI), alterações de produção e articulação dos sons da fala e na melodia (prosódia) da fala e acentuação das sílabas.

Elas podem falar um determinado som (por ex: “p”) em algumas palavras (por ex: “pá”, “papai”) e omissão deste mesmo som na repetição de outras palavras mais difíceis  (“pedido”, “parque”, “capa”) ou em momentos de fala espontânea.

Sinais variáveis

Vale ressaltar que, como em qualquer distúrbio, os sinais da Apraxia de Fala podem variar em menor ou maior grau e em presença/ausência, o que torna o diagnóstico bem complexo.

Quando buscar o tratamento fonoaudiológico.

O que os pais, familiares, educadores e profissionais de saúde precisam observar antes de encaminhar a um fonoaudiólogo:

•  Se a ausência ou alteração da fala não é justificada por alterações na estrutura muscular da região da boca, auditivos ou psicossociais.
•  Se o ambiente é rico em estimulação, os pais ficam horas brincando com ela, está bem adaptada à escola, e a inteligência está preservada e mesmo assim há algumas falhas. Se a criança não está acompanhando as etapas do desenvolvimento de linguagem.  Nem sempre é “normal demorar para falar”.
•  Se a criança está em um longo processo terapêutico fonoaudiológico (há mais de um ano), mas não há avanços visíveis no quadro apresentado pela criança.

As pesquisas no Brasil nesta área ainda estão caminhando, bem como a formação de profissionais especializados. Por isso, nem sempre é possível fazer um diagnóstico rápido e eficaz.

Então, a sugestão é: lute por uma intervenção adequada e precoce que vise o treinamento intensivo de fonoterapia.

http://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Lilian-Kuhn/noticia/2016/05/apraxia-da-fala-na-infancia-afi-o-que-e-isso.html

  • Souza, Thaís Nobre Uchôa, Payão, Miscow da Cruz, & Costa, Ranilde Cristiane Cavalcante. (2009). Apraxia da fala na infância em foco: perspectivas teóricas e tendências atuais. Pró-Fono Revista de Atualização Científica21(1), 75-80.https://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872009000100013

(*)  Prosódia (do grego προσῳδία, transl. prosodía, composto de προσ, pros-, “verso”, e ᾠδή, odé, “canto”) é a parte da linguística que estuda a entonação, o ritmo, o acento (intensidade, altura, duração) da linguagem falada e demais atributos correlatos na fala.