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Vacina reduz em 65% os riscos de crianças morrerem de gripe

Publicado originalmente em:

http://g1.globo.com/bemestar/gripe/noticia/estudo-dos-eua-estima-que-vacina-reduz-risco-de-morte-de-criancas-por-gripe-em-65.ghtml

Fonte: Sociedade Brasileira de Imunizações: http://sbim.org.br/noticias/701-estudo-estima-que-vacina-reduz-risco-de-crianca-morrer-de-gripe-em-65

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês) publicaram um estudo sobre a eficiência da vacina da gripe na prevenção da morte de crianças:  Continue lendo Vacina reduz em 65% os riscos de crianças morrerem de gripe

Conjuntivite neonatal: causas e tratamento

A conjuntivite (oftalmia) neonatal é definida como inflamação conjuntival no primeiro mês de vida e deve ser avaliada pela oftalmologia.

Cursa com graus variáveis de hiperemia (vermelhidão) conjuntival, secreção ocular e edema (inchaço) palpebral.

O diagnóstico diferencial inclui conjuntivite química, conjuntivite adquirida no canal de parto, conjuntivite bacteriana aguda e obstrução congênita de vias lacrimais:  Continue lendo Conjuntivite neonatal: causas e tratamento

Febre amarela: informativo da Sociedade Brasileira de Infectologia

Médicos infectologistas da Sociedade Brasileira de Infectologia, filiada à Associação Médica Brasileira, atualizaram o Informativo sobre a Febre Amarela, falando sobre a doença, os riscos, sintomas, tratamentos e contraindicações, prevenção e indicação para vacinação, incluindo link do Ministério da Saúde para lista dos municípios com indicação para a vacinação. Informe-se, previna-se e divulgue.

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A febre amarela é uma doença causada por um vírus, sendo transmitida por mosquitos.  Continue lendo Febre amarela: informativo da Sociedade Brasileira de Infectologia

Vitamina K: por que aplicar em recém-nascidos?

DHRN

A deficiência da vitamina K no recém-nascido (RN) pode provocar a doença hemorrágica do recém-nascido (DHRN), tanto na sua forma clássica, que aparece na primeira semana de vida, quanto na forma tardia, que ocorre entre o final da primeira semana e os seis meses de vida.

É importante que o bebê receba suplementação de vitamina K, um nutriente vital e sua falta pode fazer com que a coagulação não ocorra corretamente.

O recém-nascido

A vitamina K é obtida por meio da alimentação e também pode ser produzida pelas bactérias presentes no intestino. Contudo, os bebês nascem com uma quantidade baixa de vitamina K em seu organismo.

O intestino do recém-nascido possui poucas bactérias e por isso elas não produzem quantidades suficientes de vitamina K. Sem quantidades suficientes de vitamina K, a coagulação pode não ocorrer adequadamente e o bebê pode ter hemorragias em qualquer parte do corpo.

A melhor maneira de oferecer a vitamina K ao bebê é por meio de uma injeção intramuscular. Esta injeção deve ser aplicada logo após o parto.

Vitaminas

As vitaminas são substâncias orgânicas presentes em pequena quantidade nos alimentos, tendo por finalidade a participação em variadas reações metabólicas controladas por enzimas e coenzimas.

São indispensáveis ao funcionamento do organismo na forma de cofatores.

Em algumas enzimas o cofator é um participante direto do processo catalítico, em outras serve como um transportador transitório de algum grupo funcional específico derivado do substrato. Esses cofatores enzimáticos são essenciais para a ação de muitas enzimas, desempenhando um papel vital no metabolismo celular.

O organismo humano promove a síntese de algumas vitaminas, necessitando, no entanto, do suprimento. As vitaminas ocorrem na natureza como tal ou sob a forma de precursores, que são ingeridos através dos alimentos.

As microquantidades necessárias variam em função da idade, sexo, estado fisiológico e atividade física do indivíduo. A necessidade é aumentada nos processos de crescimento, gestação, lactação, condições de esforços intensos e na ocorrência de determinadas doenças.

Classificação

Podem ser classificadas em hidrossolúveis e lipossolúveis, segundo as características físico-químicas e propriedades fisiológicas.

Dentre as vitaminas lipossolúveis encontra-se a vitamina K, que foi descoberta em 1929 por Henrik Dam. Este observou casos de hemorragia como sinal característico de uma dieta livre de gorduras.

Posteriormente, em 1935, foi relatado por Dam que o sintoma era aliviado pela ingestão de uma substância solúvel em gordura, a qual denominou vitamina K ou vitamina da coagulação. A designação vitamina K deriva da primeira letra da palavra dinamarquesa koagulation.

Em 1939, Dam e Doisy isolaram-na da alfafa, determinando sua estrutura: 2 metil-3phytyl-1,4naftoquinona. A vitamina K encontra-se em alimentos animais e vegetais, com a maior concentração em folhas verde escuras.

As formas da vitamina K são:

– Filoquinona (vitamina K1 ) que é a forma predominante, presente nos vegetais, sendo os óleos vegetais e as hortaliças suas fontes mais significativas.

– Dihidrofiloquinona (dK), formada durante a hidrogenação comercial de óleos vegetais.

– Menaquinona (vitamina K2 ), sintetizada por bactérias, podendo variar de MK4 a MK13 (série de vitaminas designadas MK-n, sendo n o número de resíduos isoprenóides). Presente em produtos animais e alimentos fermentados.

– Menadiona (vitamina K3 ) que é um composto sintético a ser convertido em K2 no intestino(4, 6, 18, 19). Esse trabalho teve como objetivo revisar a literatura sobre a vitamina K, metabolismo, biodisponibilidade, recomendações, teores presentes nos alimentos e a interferência em tratamento com o anticoagulante oral varfarina sódica.

Metabolismo

A vitamina K é absorvida no intestino delgado e transportada pelas vias linfáticas. Necessita de um fluxo normal de bile e suco pancreático, além de um teor adequado de gordura na dieta.

Alguns fatores podem interferir na absorção como a fisiologia do indivíduo, doenças específicas, má absorção gastrintestinal, secreção biliar, estado nutricional, ingestão insuficiente das fontes dessa vitamina, uso de anticoagulantes cumarínicos, nutrição parenteral total (NPT) e ingestão de megadoses de vitaminas A e E (antagonistas da vitamina K).

As maiores lipoproteínas carreadoras da vitamina K são os triglicérides, explicando a relação entre filoquinona e triglicérides plasmáticos.

Independentemente da dose consumida, 20% é excretada pela urina em três dias, enquanto que entre 40 e 50% pelas fezes. Esse catabolismo mostra a rápida depleção das reservas hepáticas em pessoas com dieta pobre em vitamina K.

A menor concentração plasmática encontra-se na terceira década de vida para ambos os sexos, sendo aumentada após esse período.

Os indivíduos acima de 60 anos (principalmente as mulheres) apresentam concentrações maiores que os abaixo de 40 anos. Isso pode se dever ao fato de que as pessoas da terceira idade consomem mais filoquinona que os de 20 a 50 anos.

Foi relatado que os ossos podem agir como repositores de filoquinona e menaquinona em pessoas idosas. A deficiência da vitamina K é detectada através de sintomas como hemorragias, equimoses, melena, hematúria, hematêmese e osteoporose.

Funções da vitamina K

A vitamina K atua como cofator para a carboxilação de resíduos específicos de ácido glutâmico para formar o ácido gama carboxiglutâmico (Gla), aminoácido presente nos fatores de coagulação (fatores II, VII, IX e X) e que se apresenta ligado ao cálcio, podendo, ainda, regular a disposição do elemento cálcio na matriz óssea como parte da osteocalcina.

A osteocalcina (proteína do osso) é uma das mais frequentes proteínas não-colagenosas na matriz extracelular do osso. Sua dosagem no sangue constitui importante marcador biológico da atividade osteoblástica.

Há evidências de que a vitamina K seja importante no desenvolvimento precoce do esqueleto e na manutenção do osso maduro sadio.

Quanto à coagulação sanguínea, ocorre a transformação do fibrinogênio em fibrina insolúvel com a interferência de uma enzima proteolítica (trombina), que se origina da protrombina (fator II), através de fatores dependentes da vitamina K: a pró-convertina (fator VII), o fator anti-hemofílico B (fator IX) e o fator Stuart (fator X).

A vitamina K influi, ainda, na síntese de proteínas presentes no plasma, rins e talvez outros tecidos.

A carboxilação da vitamina K está envolvida, portanto, na homeostase, metabolismo ósseo e crescimento celular.

Estudos prévios mostraram efeitos inibitórios do crescimento de várias células neoplásicas (mieloma – human myeloma cell lines e non-myelomatous cell lines), provocados pela vitamina K2 e redução do risco de eventos mutagênicos na fase de proliferação celular rápida em fetos e recém-nascidos pré-termos.

Alguns estudos apontam a hipovitaminose K como responsável pela hemorragia retroplacentária de abortamentos habituais.

Níveis séricos da vitamina K

Nas pessoas saudáveis em jejum, a concentração de vitamina K plasmática (filoquinona) é menor que 1 ng/ml (1 ng/ml = 2,2 nmol/l), não existindo proteína carregadora específica.

Medidas como a dosagem da vitamina K plasmática podem ser utilizadas, porém, os métodos disponíveis não são práticos para uma avaliação rotineira.

A concentração da filoquinona plasmática não se correlaciona adequadamente com o estado nutricional da vitamina K, pois é dependente da ingestão recente da vitamina em 24 horas.

A excreção urinária de Gla, proteína induzida pela deficiência ou antagonismo de vitamina K, e a osteocalcina pouco carboxilada – under carboxylated osteocalcin (ucOc) – são os indicadores do estado nutricional. A ucOc é o marcador, mais sensível, no antagonismo à vitamina K resultante da inibição da enzima epóxi-redutase (pelo tratamento com a varfarina), que produz efeito diverso na produção de proteínas por diferentes tecidos, juntamente com o déficit na ingestão de vitamina K, em que a osteocalcina circulante parece ser a primeira proteína Gla a aparecer no plasma, na forma descarboxilada.

Biodisponibilidade da vitamina K

A biodisponibilidade é definida como a proporção da vitamina ingerida que sofre a absorção intestinal e consequente aproveitamento pelo corpo.

A absorção da filoquinona presente nos vegetais é um processo lento, sendo influenciado por fatores digestivos. Já a presença de gorduras na dieta possibilita um aumento na absorção (podendo conter de 30-60 µg de dK em 100 g do alimento), possivelmente pelo estímulo da secreção biliar e formação de micelas.

O fato de a filoquinona estar associada a tecidos que realizam a fotossíntese faz com que os vegetais contenham os maiores teores dessa substância. Trinta por cento do total do teor da vitamina K nos alimentos se apresentam sob a forma de dK, mas é menos ativa biologicamente que a filoquinona.

A casca das frutas e dos vegetais parece conter maiores concentrações da vitamina que a polpa. As preparações vegetais secas e congeladas não diferem do conteúdo da vitamina em comparação aos vegetais frescos.

A vitamina K presente nos óleos vegetais é estável ao calor, mas é destruída pela luz, tanto natural quanto fluorescente. A exemplo disso, foi verificado que o óleo de canola perde 87% da vitamina K após ser exposto por dois dias à luz solar.

A quantidade de vitamina K1 presente nos alimentos é influenciada por fatores como a fertilização e condições do solo, clima, área geográfica, estado de maturação e variação sazonal, sendo verificado que os meses de verão aumentam mais a quantidade da filoquinona que os meses de inverno. Alguns estudos, entretanto, contestam essa versão.

Fontes alimentares

Um dos métodos utilizados para a determinação da vitamina K nos alimentos é a cromatografia líquida de alta eficiência. Pode ser executado à temperatura ambiente e sem derivação das substâncias, utilizando a detecção por propriedades de fluorescência dos compostos que realizam a função das vitaminas.

A vitamina K, nos alimentos, pode variar de 1µg por 100 ml de leite a 400 µg por 100 g em hortaliças.

As sopas e carnes são fontes pobres de filoquinona. Mas, dependendo dos ingredientes da preparação, as sopas, os queijos, carnes processadas e pratos mistos podem ter seus teores elevados.

Os leites não são considerados fonte, assim como os queijos que contêm de 5-20 µg/100 g de menaquinona MK8 e 9.

Os peixes, cereais e grãos contêm pequenas quantidades, porém têm seu teor elevado em preparações com adição de óleos.

A farinha de aveia crua tem concentração mais alta de K1 que a cozida, devido ao efeito de diluição criado na adição de água durante a preparação. Os pães e o arroz são fontes pobres.

Os tubérculos e bulbos como a batata, rabanete e cebola contêm traço de filoquinona, sendo que entre as raízes, somente a cenoura contém teor maior ou igual a 8,3 µg/100 g. As frutas cítricas contêm baixos teores, tendo como exceção o kiwi, abacate, ameixa seca, figo, amora silvestre, blueberries e as uvas, que contêm de 15,6 a 59,5 µgK1 /100 g. Os sucos de frutas são as menores fontes de vitamina K.

Os lanches e sobremesas contêm valores intermediários de filoquinona, variando de 2,9-20 µg e 0-14 µg/100 g de alimento, respectivamente.

Alimentos cozidos e processados contêm de moderada a alta quantidade, levando-se em consideração que, geralmente, o consumo diário desses alimentos pode ultrapassar 100 g, tornando-os fontes significativas.

Os produtos derivados do tomate que contêm salsa, óleo ou ingredientes como ervas em sua composição, possuem teores maiores da vitamina que os demais. Certas oleaginosas como nozes e caju têm teores significantes de vitamina K.

As folhas de chá e os grãos do café também possuem quantidades significativas de filoquinona. Foi constatado que há diferentes concentrações de vitamina K1 entre duas marcas de chá preto e de chá de ervas verdes, indicando que fatores como estocagem, processamento, colheita e origem geográfica podem interferir no conteúdo de vitamina K1 nos chás.

Em relação ao café, o conteúdo pode variar de 0,5-25 µg/100 g. A vitamina K1 presente nos grãos de café depois do preparo foi significativamente menor que a concentração anterior ao preparo. Mesmo que as folhas de chá e os grãos de café contenham alta concentração de vitamina K, a bebida pronta para consumo não é considerada como fonte dessa vitamina.

O café instantâneo não é fonte nem antes, nem após o preparo. Quanto aos alimentos ricos em vitamina K, o grupo dos vegetais folhosos verde escuros contém a maior concentração, como, por exemplo, espinafre, brócolis e alguns tipos de alface, variando de 0,03-440 µgK1 /100 g de alimento.

A preparação de creme de espinafre foi considerada uma das maiores fontes, contendo 292 µgK1 /100 g de alimento. As segundas maiores fontes de filoquinona são os óleos e gorduras (0,3-193 µgK1 /100 g de alimento). Por isso, ao serem acrescentados aos alimentos ou preparações, ocorre aumento da vitamina K.

A manteiga pode conter até 10 µg em 100 g, enquanto que os óleos vegetais de canola e soja de 127-193 µg por 100 g. Os óleos de soja, canola, algodão e oliva têm maiores teores de vitamina K1 que os de amendoim e de milho.

As gorduras derivadas de óleos vegetais como a margarina, maionese e temperos para salada contêm mais filoquinona comparada à gordura de origem animal, como a manteiga, por exemplo. Os produtos fermentados à base de soja contêm quantidades importantes.

Resumo

As manifestações clínicas predominantes da carência da vitamina K são as hemorragias, decorrentes da não ativação das proteínas dependentes da vitamina. Apesar de ocorrer em qualquer faixa etária, o recém-nascido é mais susceptível à doença, por apresentar níveis mais baixos de fatores da coagulação, menores reservas de vitamina K e por ter baixo aporte da vitamina quando alimentado com o leite humano.

A doença hemorrágica do recém-nascido, causada pela deficiência de vitamina K, na sua forma clássica, é bastante conhecida dos pediatras. A sua importância clínica deixou de ser uma preocupação em virtude do uso de vitamina K após o nascimento como uma forma efetiva de prevenir a doença.

A forma tardia da doença, descrita em trabalhos publicados, continua sendo pouco divulgada em nosso meio. Nos países de primeiro mundo, a profilaxia da forma tardia constitui, ainda, uma preocupação.

Atualmente são descritas três formas clínicas da carência vitamínica no lactente.

1 – Doença hemorrágica do recém-nascido, forma precoce. Esta forma, em geral, surge no primeiro dia de vida e está associada ao uso materno de medicamentos anticonvulsivantes ou anticoagulantes.

2 – Doença hemorrágica do recém-nascido, forma clássica. Esta forma ocorre tipicamente entre o segundo e o quinto dia de vida, sendo mais frequente em crianças que não receberam vitamina K profilática ao nascimento. A doença manifesta-se através de hemorragias cutâneas, do aparelho digestivo e da cicatriz umbilical. A hemorragia intracraniana é pouco comum.

3 – Doença hemorrágica do recém-nascido, forma tardia, que ocorre entre a 2ª e a 12ª semana de vida, envolvendo crianças alimentadas exclusivamente ao seio e que não receberam vitamina K ao nascimento. Esta forma caracteriza-se pela complicação mais frequente e grave da doença, manifestada pela hemorragia intracraniana, a qual é responsável pela alta mortalidade e as graves sequelas neurológicas.

Embora não se conheça com exatidão a necessidade diária da vitamina K, estima-se que esteja em torno de 0,5 a 1,0 micrograma por quilograma por dia. A vitamina é depositada no fígado e é eliminada em sua maior parte pela bile.

O recém-nascido tem poucas reservas, que constam principalmente de vitamina K1. A habilidade da flora bacteriana em produzir a vitamina varia de acordo com o tipo de colonização do colo. Assim, as cepas de Bacteroides fragilis, de Escherichia coli e de Streptococcus faecalis produzem adequadamente a vitamina K2, enquanto os lactobacilos e as pseudomonas são incapazes de sintetizá-la.

O leite humano contém baixas concentrações de vitamina K, principalmente se comparado ao leite de vaca e fórmulas artificiais.

Algumas drogas (anticonvulsivantes, anticoagulantes, cefalosporinas de terceira geração, tuberculostáticos) podem interferir no metabolismo hepático da vitamina K, favorecendo ou precipitando um estado de carência vitamínica.

O tratamento da deficiência clínica, em qualquer das suas formas, é feito com vitamina K1 na dose de 5 mg via intramuscular ou, nos casos mais graves, via intravenosa devido ao risco de formação de hematomas no local da injeção intramuscular.

Como são necessárias algumas horas para correção do distúrbio quando se usa vitamina K, recomenda-se, nos casos graves, o emprego concomitante de plasma fresco e vitamina K1.

Como profilaxia para a doença hemorrágica do recém-nascido, a Academia Americana de Pediatria (AAP), desde 1961, tem preconizado a dose de 1 mg de vitamina K intramuscular ao nascimento. Como alternativa, alguns países têm recomendado a administração da vitamina por via oral, na dose de 2 mg ao nascimento e doses subsequentes após o nascimento.

Portanto, deve ser mantida a profilaxia da doença hemorrágica do recém-nascido pela administração da vitamina K intramuscular ou oral. No entanto, o esquema de dose oral única parece ser incapaz de evitar a forma tardia primária da doença hemorrágica do recém-nascido, principalmente quando há baixa ingestão da vitamina. Por isso, em alguns países europeus, emprega-se o esquema de três doses orais (ao nascimento, 1ª e 4ª semanas), cujos resultados aguardam avaliação mais completa.

A recomendação da Academia Americana de Pediatria é a de manter a profilaxia intramuscular e continuar com o aleitamento natural, até que se encontrem preparações orais e esquemas preventivos comprovadamente eficazes. Em recém-nascido deve ser usada somente a vitamina K1, pelo risco de hemólise, icterícia e kernicterus, quando são usadas outras formas da vitamina.

Fontes:

Hipotireoidismo

hipotireoidismo é uma disfunção na tireoide (glândula que regula importantes órgãos do organismo).

Caracteriza-se pela queda na produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina).

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É mais comum em mulheres, mas pode acometer qualquer pessoa, independente de gênero ou idade, até mesmo recém-nascidos – o chamado hipotireoidismo congênito.

A seguir 13 informações simples sobre o que é importante saber sobre hipotireoidismo:

1. Em recém-nascidos, o hipotireoidismo pode ser diagnosticado através da triagem neonatal, pelo “Teste do Pezinho”.

2. O Teste do Pezinho deve ser feito, preferencialmente, entre o terceiro e o sétimo dia de vida do bebê.

Em caso de resposta positiva ao hipotireoidismo congênito, o tratamento precisa ser iniciado imediatamente, sob rigoroso controle médico, para evitar suas consequências, entre elas o retardo mental. Assim, o bebê poderá ficar curado e ter uma vida normal.

3. Cerca de um a cada 4 mil recém-nascidos apresenta hipotireoidismo congênito.

4. Em adultos, na maioria das vezes, o hipotireoidismo é causado por uma inflamação denominada Tireoidite de Hashimoto.

5. O tratamento do hipotireoidismo é feito com o uso diário de levotiroxina, na quantidade prescrita pelo médico.

Os comprimidos são produzidos em microgramas, variando de 25 a 200 mcg, e não em miligramas (mg) como a maioria dos medicamentos. Por isso, a levotiroxina não deve ser manipulada, pois há maior risco de erro (dosagem, biodisponibilidade etc.).

6. Para reproduzir o funcionamento normal da tireoide, a levotiroxina deve ser tomada todos os dias, em jejum (no mínimo meia hora antes do café da manhã), para que a ingestão de alimentos não diminua a sua absorção pelo intestino.

Outros medicamentos devem ser ingeridos pelo menos uma hora após a levotiroxina, para não atrapalhar a absorção da mesma.

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7. Se estiver utilizando a medicação regularmente, e dessa forma mantendo os níveis de TSH dentro dos valores normais, quem tem hipotireoidismo pode levar uma vida saudável, feliz e completamente normal.

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8. Se o hipotireoidismo não for corretamente tratado, pode acarretar alterações das condições  físicas e mentais, além de elevar os níveis de colesterol, que aumentam os riscos de problemas cardiovasculares, entre outros.

9. Depressão, desaceleração dos batimentos cardíacos, intestino preso, menstruação irregular, falhas de memória, cansaço excessivo, dores musculares, pele seca, queda de cabelo, ganho de peso e aumento de colesterol no sangue estão entre os sintomas do hipotireoidismo.

10. Não se deve confundir hipotireoidismo com hipertireoidismo, pois as disfunções são praticamente opostas. Enquanto no “hipo” existe a diminuição da produção de hormônios, no “hiper“, há o aumento.

11. Existem casos de  hipotireoidismo subclínico, o que torna ainda mais importante a rotina de consultar seu médico assistente.

12. Saiba um pouco mais sobre o  hipotireoidismo.

hipotireoidismo

http://www.endocrino.org.br/10-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-hipotireoidismo/

13. Exames de imagem da tireoide podem ser carcinogênicos?

Orientações: Tireoide, Mamografia e Raio-x

Atualmente circula na internet um vídeo associando o aumento do câncer de tireoide em mulheres aos exames de mamografias e raios-x dentários, além de questionar a não utilização de protetores nesses casos.

Devido à repercussão do assunto, o Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) esclareceu a questão:

Não há comprovação científica que demonstre relação entre os dois exames e o crescimento do câncer de tireoide.

Os endocrinologistas afirmam que, embora alguns estudos tenham sugerido um risco maior de desenvolvimento de câncer de tireoide em pacientes submetidos a tomografias, a mamografias e até mesmo a RX dentários, ainda não existe comprovação de causa-efeito, ou seja, não se pode afirmar que a exposição à radiação ionizante foi a causa de câncer de tireoide em qualquer paciente que tenha sido submetido a tais procedimentos radiológicos.

No entanto,  precauções, incluindo o uso de protetores cervicais e a indicação médica e odontológica criteriosa, podem ser tomadas, especialmente em crianças, que são mais suscetíveis ao efeito da radiação ionizante.

A indicação do uso de protetores é de competência do médico radiologista.

A SBEM reitera a posição do Colégio Brasileiro de Radiologia, da Sociedade Brasileira de Mastologia e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia de “não recomendar o uso do protetor de tireoide em exames de mamografia”.

http://www.tireoide.org.br/orientacao-tireoide-mamografia-e-raio-x/

Translucência nucal


O exame verifica a quantidade de líquido acumulado na nuca do feto, essa medida indica se há possibilidade de algum problema ou não

Há alguns exames feitos por especialistas durante a gestação que podem dizer se está ou não tudo bem com o bebê em desenvolvimento. Um desses exames é a Translucência Nucal (TN).

A Translucência Nucal é medida durante a ultrassonografia realizada entre a 11a e 13a semana gestacional. A ultrassonografia geralmente é abdominal, mas se a medida não for possível, pode ser necessária a realização da ultrassonografia transvaginal.

Se houver um acúmulo excessivo de líquido na região da nuca do feto, aumenta o risco do bebê ter uma alteração cromossômica, malformações ou alguma síndrome genética.

Vale ressaltar que a TN não faz o diagnóstico, isto é, não oferece certeza absoluta, mas revela um risco grande daquele feto que está com acúmulo de líquido na região da nuca apresentar alguma alteração.

Fazer um diagnóstico de alguma alteração precoce é fundamental para a realização de um tratamento precoce.

Síndrome de Down

A mais conhecida das alterações cromossômicas é a Síndrome de Down. Além da TN, a idade materna e a história anterior na família de alteração cromossômica são importantes para calcular os riscos.

Para se ter certeza do diagnóstico de Síndrome de Down é preciso realizar outros exames como o estudo de cariótipo fetal (aminiocentese).

Dos fetos que apresentam a TN aumentada e o cariótipo normal, há riscos  de malformações do coração, síndromes genéticas ou mesmo o não desenvolvimento pleno do feto resultando em abortos espontâneos ou morte intrauterina.

Se a mãe tiver 25 anos, o risco inicial é de 1/430. Isto é, a cada 430 gestantes, 1 poderá ter um filho com anomalia cromossômica. Caso tenha 35 anos, o risco sobe para 1/125.

Mas esse número pode aumentar ou diminuir de acordo com os fatores já mencionados, entre os quais a idade da mulher e a história na família de alterações (risco ajustado ou individual).

Como é um exame simples e não invasivo, ou seja, não há risco para mamãe e nem para bebê, esse exame deve ser realizado rotineiramente no pré-natal.

A partir do cálculo desse risco deve-se então verificar a necessidade de se realizar exames mais invasivos para se ter a certeza do diagnóstico, possibilitando tratamento mais específico e o aconselhamento genético para o casal sobre as possíveis anomalias do seu bebê.

Dicas

  • A Translucência Nucal também proporciona verificar com mais precisão a idade gestacional da mulher, facilitando o acompanhamento do crescimento fetal.
  • Caso a TN estiver aumentada, não tenha medo e pergunte tudo o que lhe passar pela cabeça na consulta médica.
  • Quanto mais conhecer o seu bebê, melhor você vai poder cuidar da maior preciosidade que você carrega.

http://guiadobebe.uol.com.br/translucencia-nucal/

Saiba mais

Evolução perinatal e pediátrica de crianças com translucência nucal aumentada e cariótipo normal

Lívia Adriano VieiraI; Sônia Valadares Lemos SilvaII; Roberto Buenfil de FariaIII; Umberto Gazi LippiIII; Reginaldo Guedes Coelho LopesI

IServiço de Ginecologia e Obstetrícia, Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira” – HSPE-FMO – São Paulo (SP), Brasil
IISetor de Medicina Fetal do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira” – HSPE-FMO – São Paulo (SP), Brasil
IIISetor de Obstetrícia do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira” – HSPE-FMO – São Paulo (SP), Brasil.

Introdução 

A partir do início da década de 1990, vários trabalhos associaram a presença de uma quantidade anormal de fluido na região da nuca fetal, no primeiro trimestre da gestação [translucência nucal (TN) aumentada], com um aumento do risco de cromossomopatias1-8.

Diferentes mecanismos fisiopatológicos foram propostos para explicar uma TN aumentada no fim do primeiro trimestre da gestação, entre eles as disfunções cardíacas, as anormalidades na matriz extracelular, o desenvolvimento anormal do sistema linfático, as limitações dos movimentos fetais, a anemia fetal ou a hipoproteinemia e as infecções fetais5,9,10.

Posteriormente, a medida da TN no primeiro trimestre da gestação passou a ser utilizada como método de rastreamento para cromossomopatias, podendo identificar cerca de 80% dos fetos acometidos para um falso positivo de 5%6-8,11.

Quando utilizada juntamente com a idade materna e marcadores bioquímicos do primeiro trimestre, tem uma sensibilidade de 90%, passando a 95% quando acrescida da avaliação do osso próprio do nariz, para um falso positivo de 5%12-14.

A TN está aumentada em cerca de 4,5% dos fetos cromossomicamente normais15, os quais permanecem, porém, com risco elevado de defeitos estruturais, principalmente cardíacos, e resultados gestacionais adversos, como abortamento, óbito fetal ou neonatal, síndromes genéticas e atraso no desenvolvimento neurológico16-22.

Em um estudo com 179 fetos com o cariótipo normal e a TN acima do percentil 99, foram encontradas, entre os 162 nascidos vivos acompanhados até os 2 anos de idade, alterações em 11%, sendo metade com defeitos cardíacos23-25.

Outro estudo que analisou 451 fetos com o cariótipo normal e a TN acima do percentil 95 (P95) detectou 19% de resultados adversos18. Em 834 fetos com a TN >3,0 mm em parte deles e acima do P95 na parte restante, encontrou-se 11% de resultados adversos20.

Uma recente revisão sistemática observou que 44% dos fetos com cariótipo normal e defeitos cardíacos congênitos tinham a TN acima do percentil 95 e 20%, acima do percentil 9923. Em fetos euploides, quanto maior a TN, maior a probabilidade de resultados adversos perinatal, variando de 8% nos casos de TN no P95-3,4 mm a 80% nos casos de TN >6,5 mm18. O número de anormalidades relacionadas ao aumento da TN não é conhecido. Entretanto, grande parte dos fetos com TN aumentada se mostram neonatos saudáveis26. Portanto, TN aumentada não significa necessariamente anormalidade fetal e, sim, risco aumentado para tal.

Alguns autores têm relacionado casos de TN aumentada com déficit no desenvolvimento neurológico pós-natal16,27,28, mas em uma revisão recente, os autores concluíram que em fetos com TN aumentada, cariótipo normal e exame ecográfico morfológico normal, o risco de déficit no desenvolvimento neurológico pós-natal não é superior ao da população geral29.

O presente estudo tem como objetivo a avaliação pré e pós-natal dos casos com TN aumentada e cariótipo normal em um serviço terciário da região sudeste do Brasil, visando ao aconselhamento dos casais a respeito do resultado do exame.

Métodos

Foi realizado um estudo retrospectivo no setor de medicina fetal do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira” (HSPE-FMO) durante o período compreendido entre janeiro de 2005 e dezembro de 2011. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição.

Durante esse período, as gestantes da população geral foram submetidas à avaliação ultrassonográfica de rotina para o rastreamento de aneuploidias entre a 10ª e a 14ª semanas, e a TN foi medida seguindo as normas recomendadas pela Fetal Medicine Foundation (FMF), de Londres (www.fetalmedicine.com), quando o comprimento cabeça-nádega fetal (CCN) encontrava-se entre 45-84 mm.

A TN aumentada foi definida como uma medida acima do percentil 95 para o CCN, segundo a curva de Wright et al30. Após o cálculo do risco ajustado (idade materna, CCN e TN), quando ele se encontrava <1:100, foi oferecida a pesquisa citogenética à paciente. Esta foi realizada nos casos com consentimento pela biópsia de vilo corial (até a 14ª semana) ou amniocentese (após a 16ª semana).

Um exame ultrassonográfico foi realizado pela via transabdominal (transdutor multifrequencial de 3,0-6,0 Mhz, Toshiba Xario, Toshiba medical do Brasil), e por meio de um corte sagital do feto, foi medido o CCN e a espessura máxima da TN.

Nos casos com TN aumentada, as pacientes foram encaminhadas para a realização de ecocardiografia fetal, exame morfológico entre a 20ª e a 24ª semana, e nova avaliação morfológica no terceiro trimestre (entre a 28ª e a 34ª semana).

Os resultados pós-natal foram obtidos pela análise dos prontuários e/ou por contatos telefônicos. No nascimento, foram analisados a idade gestacional, o peso, o comprimento e o índice de Apgar no primeiro e quinto minutos.

O seguimento pós-natal de rotina foi realizado pelo pediatra e teve como objetivo avaliar o crescimento pós-natal, habilidades psicomotoras e da fala, bem como a interação com a criança. Características associadas a síndromes genéticas foram também investigadas. O acompanhamento variou de seis meses a sete anos, e os seus dados foram obtidos por meio da análise dos prontuários.

A avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor se deu por intermédio do AgesandStages Questionnaire (ASQ), que foi respondido pelas mães por contato telefônico. O ASQ foi desenvolvido em 1980 como uma ferramenta de triagem para ser respondida pelos pais com o objetivo de detecção precoce dos problemas de desenvolvimento infantil.

Ele consiste em uma série de 19 questionários que compreendem o período de desenvolvimento entre 4 meses e 5 anos de idade. Cada questionário contém um conjunto de 30 perguntas que representam 5 domínios: comunicação, atividades motoras grossas e finas, resolução de problemas e habilidades sociais31. Em 27 crianças (64%) foi realizada ecocardiografia pós-natal.

Para a comparação entre proporções, fez-se uso do teste χ2 ou teste exato de Fisher, e, para a comparação entre as médias, foi utilizado o teste t de Student ou o teste não-paramétrico de Mann-Whitney. O nível de significância utilizado para os testes foi de 5%.

Resultados

Das 3.014 pacientes que foram submetidas à avaliação ultrassonográfica de rotina para o rastreamento de aneuploidias entre a 10ª e a 14ª semanas, a idade materna variou de 14 a 47 anos, com média de 32 anos, e o CCN variou de 45 a 84 mm, com média de 64 mm, correspondendo a 12 semanas e 5 dias de gestação (variação de 10 a 14 semanas). Dessa amostra, 116 pacientes apresentavam a TN acima do P95 (3,8%). Em 79 delas, o cariótipo era conhecido. Destas, 43 (54,4%) apresentavam cariótipo normal e 36 (45,6%) alterado.

Entre os cariótipos alterados, observaram-se 14 casos de trissomia do cromossomo 21, 9 de trissomia do 18; 3 de trissomia do 13; 2 casos de monossomia X; 2 casos de 47XXX e um caso de cada das seguintes: 1 de mosaico do 18, 69XXX, 45XY,der(13;14)(q10;q10), 1 caso de 46XY,13 ps+pstk+, 46XY,del(6)(q25) e 46XY,9ph[14]. Destes, 89% apresentavam a TN >3 mm (Tabela 1).

A média de idade das pacientes com TN aumentada foi de 33 anos (variação de 18 a 45 anos e desvio padrão (DP) =7 anos), sendo 32 anos no grupo com cariótipo normal (variação de 19 a 43 anos, DP=6 anos) e 35 anos no grupo com cariótipo alterado (variação de 17 a 46 anos, DP=8 anos). Pelo teste t de Student, observou-se que os grupos não diferem em relação à idade (p=0,14).

A média das medidas das 116 TN aumentadas foi de 3,8 mm (variação de 2,2 a 17,1 e DP=2,0), sendo 5,5 mm (variação de 2,0 a 16,0 mm e DP=3,7) no grupo com cariótipo alterado e 3,5 mm (variação de 2,3 a 8,1 mm e DP=1,4) no grupo com cariótipo normal. Pelo teste não-paramétrico de Mann-Whitney, observou-se que os grupos diferem em relação ao valor da TN (p<0,05). O grupo com cariótipo alterado apresenta maior valor de TN do que o grupo com cariótipo normal.

Dos casos com cariótipo normal, 97,7% (42/43) foram submetidos à ultrassonografia de segundo trimestre, e somente um caso não participou devido a abortamento espontâneo na 15ª semana de gravidez. Dos 42 casos restantes, em 73,8% (31/42) foram registrados achados normais e em 26,2% (11/42) foram achados ultrassonográficos anormais (Tabela 2). Entre os 11 casos com alteração morfológica, 45,4% deles (5/11) foram malformações maiores detectadas no período pré ou pós-natal, dos quais 80% (4/5) cardíacas.

Em todos os 42 casos, realizou-se ecocardiografia fetal pré ou pós-natal. Destes, 90,4% foram normais (38/42) e 9,5% (4/42) apresentaram alterações: 2 casos de comunicação interventricular (CIV), 1 ventrículo único e 1 de associação de persistência do canal atrial (PCA) com comunicação interatrial (CIA).

A evolução completa da gestação foi conhecida em todos os casos com cariótipo normal. Dos 72% dos casos (31/43) com exame morfológico-ecocardiográfico normal, 93,5% (29/31) resultaram em nascidos vivos e bem.

Os outros 6,5% (2/31) tiveram desfechos desfavoráveis, dos quais 2 casos apresentavam associação entre alteração no neurodesenvolvimento e defeitos estruturais. Já nos 28% dos casos com exame morfológico-ecocardiográfico alterado (12/43), 66,7% (8/12) resultaram em nascidos vivos e bem e 33,3% (4/12) em desfechos desfavoráveis, sendo 1 caso de abortamento com 15 semanas de gestação (pentalogia de Cantrel), 1 óbito intrauterino com 24 semanas gestacionais (múltiplas malformações na ultrassonografia de primeiro trimestre), 1 óbito neonatal com 27 dias de vida (sem causa conhecida) e 1 caso de CIV.

Todos os 40 sobreviventes tiveram seguimento pós-natal. O tempo médio de acompanhamento foi de 39,7 meses (variação de 6 a 70 meses e DP=18,8). A média da idade gestacional no nascimento foi 38,5 semanas (variação de 33 a 42 semanas e DP=2,0). A média dos valores de Apgar no 1º e 5º minutos foram, respectivamente, 8 (variação de 2 a 9 min e DP=1,4) e 9 (variação de 7 a 10 min e DP=0,8). A média dos pesos ao nascer foi de 3.166 gramas (variação de 1.810 a 4.290 g e DP=509,5), e a média das estaturas ao nascer foi de 47 cm (variação de 41 a 53 cm e DP=3,1).

Alterações do neurodesenvolvimento foram notadas em 5% dos casos (2/40). Uma criança apresentou atraso no desenvolvimento da fala (que normalizou aos três anos de idade), e uma teve quadro de autismo, ambos diagnosticados aos dois anos de idade. Os demais casos resultaram em desenvolvimento neurológico normal.

A probabilidade de uma gestação com TN aumentada resultar em cariótipo normal é de 68,8% quando o valor da TN está entre o P95 e 2,9 mm; de 66,6% quando está entre 3,0 e 3,9 mm; de 37,5% quando está entre 4,0 e 4,9 mm e de 28,5% se o valor for >5,0 mm. No grupo com cariótipo normal, a probabilidade do exame morfológico-ecocardiográfico ser normal varia de 83,3% quando a TN está entre 3,0 e 3,9 mm a 50% quando a TN está >5,0 mm. Já nos casos nos quais tanto o -cariótipo quanto o exame morfológico-ecocardiográfico são normais, a probabilidade dessa gestação resultar em um recém-nascido vivo e bem chega próximo a 100% (Tabela 3).

Observou-se que quanto maior a TN, maior a razão de probabilidade estimada de cariótipo alterado, sendo 1,1 (p=0,880) no intervalo de TN de 3,0 a 3,9 mm; 3,7 (p=0,115) no intervalo de 4,0 a 4,9 mm e 5,5 (p=0,006) quando a TN é > 5,0 mm, sendo significante nesse caso.

Discussão

O presente estudo reforça a forte associação existente entre TN aumentada entre 10 a 14 semanas e cromossomopatias. Cerca de 45% dos casos estudados apresentaram anormalidades cromossômicas, o que está de acordo com Senat et al.32, embora haja divergência na literatura6,17-20,33.

Essa diferença pode ser explicada pelos diferentes pontos de corte utilizados na classificação de TN aumentada e no fato de que neste estudo as pacientes que optaram pela pesquisa do cariótipo fetal apresentavam a TN em um valor mais elevado (média 5,5).

Aproximadamente 4% das pacientes rastreadas para aneuploidias no primeiro trimestre apresentaram TN acima do P95, o que foi concordante com outros estudos17,33, porém discordante de Bilardo et al.29, que encontraram 8,6% de TN acima desse percentil. Essa diferença poderia ser explicada pela média de idade mais elevada das pacientes nesse grupo.

Nos casos com cariótipo normal, este estudo confirma a relação entre TN aumentada e anomalias estruturais, principalmente cardíacas e resultados adversos, como abortamento, perda fetal e neonatal.

As anomalias estruturais foram detectadas em 9,5% dos fetos, estando de acordo com outros estudos18-20,33, sendo que 80% delas eram cardíacas. A literatura mostra a predominância de alterações cardíacas entre as anomalias estruturais6,17-20,24,25,34.

Um importante estudo de revisão mostra que a prevalência de anormalidades fetais maiores na população com TN normal é de 1,6%, havendo uma elevação exponencial com o aumento da TN, sendo 1,5 vezes maior em casos de TN entre os percentis 95 e 99 (2,5%) e quase 30 vezes maior em TN >6,5 mm (46,2%)16.

Em relação às perdas fetais, o presente estudo apresentou 4,6%, taxa bem superior à encontrada na população com cariótipo e TN normal (1,3%)16.

Uma revisão recente mostra aumento da taxa de perda fetal e redução da sobrevida com o aumento do valor da TN. Quando a TN encontra-se no intervalo de P95 a 99, a taxa de perda fetal é de 1,3% e a de RN sem alterações é de 97%. Contudo, quando a TN encontra-se >6,5 mm, a taxa de perda fetal é elevada a 19% e a de RN sem alterações, a 15%16.

Apesar de haver um aumento na taxa de resultados adversos nos casos com TN aumentada e cariótipo normal, este estudo demonstrou que a avaliação pós-natal do neurodesenvolvimento, com segmento médio de 3,3 anos, mostrou alguma normalidade em 5% dos casos, o que não é superior a da população geral. Outros estudos confirmam achado16,18,24,25,29.

Quanto à avaliação pós-natal, ela foi normal (nascidos vivos e bem) em 92,5%. Quanto aos resultados adversos, tanto de ordem morfológica quanto funcional, estes ocorreram em 13,9%, comparado com 11% no estudo de Ayras et al.20, 19% no de Bilardo et al.18, 23% no de Souka et al.16, e 24% no de Tahmasebpour et al.19 

No grupo com exame ultrassonográfico pré-natal normal e eventos adversos (6,5%), houve 2 casos com alteração no desenvolvimento e defeitos estruturais cardíacos, sendo um caso de autismo e CIV leve diagnosticada em ecocardiografia pós-natal e um caso de atraso na fala e CIA e PCA também diagnosticada no exame pós-natal. Já no grupo com exame ultrassonográfico pré-natal alterado, mas nascidos vivos e bem (66,7%), o principal achado foi o espessamento da prega nucal, no segundo trimestre da gestação, sem demais alterações. Uma única criança apresentou rim multicístico unilateral e no pós-natal apresentava vida normal, com o funcionamento adequado do rim contralateral.

Simplificando, este estudo mostrou que um a cada seis fetos vivos, com TN aumentada e cariótipo normal, apresenta algum resultado adverso. Entretanto, quando o seguimento morfológico-ecocardiográfico do segundo trimestre se mostra normal, resultados favoráveis ocorrem em 93,5% dos casos.

Os dados deste estudo possibilitaram um melhor aconselhamento aos pais de fetos com TN aumentada e cariótipo normal. Diante deles, pode-se concluir, para a população estudada, que nos casos em que não há alterações adicionais ao acompanhamento ultrassonográfico morfológico-ecocardiográfico, os pais podem ser tranquilizados quanto à alta probabilidade da criança nascer viva e bem (93,5%) e à probabilidade de anomalias estruturais residuais e alterações no neurodesenvolvimento não ser maior que na população geral.

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Tempo de tela

Atividade física e tempo de tela em jovens de uma cidade de médio porte do Sul do Brasil

Autores: João Paulo de Aguiar Grecaa,, , Diego Augusto Santos Silvab, Mathias Roberto Lochc

  • a Brunel University London, Uxbridge, Greater London, Inglaterra
  • b Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil
  • c Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, PR, Brasil

Objetivo

Analisar a associação do sexo e idade com comportamentos relacionados à prática de atividades físicas e sedentarismo em crianças e adolescentes.

Métodos

Estudo transversal com 480 (236 sexo masculino) estudantes de uma escola pública de Londrina, Paraná, Brasil, entre 8 e 17 anos. As medidas de atividade física, prática de esportes e quantidade de comportamentos sedentários foram obtidas mediante aplicação do Physical Activity Questionnaire for Older Children. O teste U de Mann‐Whitney foi usado para comparar variáveis de rapazes e moças. O teste de qui‐quadrado foi usado para variáveis categóricas e a regressão de Poisson para identificar prevalências.

Resultados

Moças (69,6%; RP=1,05 [0,99‐1,12]) dedicaram mais tempo ao comportamento sedentário quando comparadas com rapazes (62,2%). Rapazes (80%; RP=0,95 [0,92‐0,98]) apresentaram maiores níveis de atividade física quando comparados com moças (91%). Estudantes mais velhos entre 13‐17 anos (91,4%; RP=1,06 [1,02‐1,10]) apresentaram maior prevalência de inatividade física e comportamento sedentário de ≥2h/dia (71,8%; RP=0,91 [0,85‐0,97]) quando comparados com estudantes entre 8 e 12 anos (78,7 e 58,5%, respectivamente).

Conclusões

A prevalência de inatividade física foi superior entre as moças. Estudantes mais velhos despenderam mais tempo em tela quando comparados com estudantes mais novos.

Palavras‐chave

Sedentarismo, Fatores socioeconômicos, Atividades de lazer, Televisão, Obesidade

A literatura atual relata que níveis mais elevados de atividade física podem reduzir o risco de mortalidade prematura por todas as causas e também sustenta a relação dose‐resposta entre sedentarismo e doenças crônicas, ou seja, doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral, hipertensão, câncer de cólon, câncer de mama, diabetes tipo 2 e osteoporose.1

Estudos têm demonstrado que o aumento dos comportamentos sedentários, como assistir a televisão e jogar videogames, jogos de computador e/ou jogos eletrônicos, está associado com composição corporal desfavorável, diminuição da aptidão física, baixos escores de autoestima e comportamento pró‐social e diminuição do desempenho acadêmico de crianças em idade escolar.2

Baixos níveis de atividade física na infância e adolescência têm sido relatados em todo o mundo, com uma proporção de 80,3% que fazem menos de 60 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa por dia.3

Um estudo que descreve níveis de atividade física de adolescentes com dados de 32 países concluiu que a maioria dos adolescentes não atende às recomendações atuais de atividade física.4

No Brasil, foram relatados altos níveis de inatividade física em crianças e adolescentes nas regiões Sul5 e Nordeste.6

O comportamento sedentário está relacionado a um estilo de vida não saudável na infância e adolescência. Ver televisão por mais de duas horas, por exemplo, aumenta as chances de sobrepeso e obesidade, assim como a redução no comportamento sedentário está associada a uma melhor composição corporal.2

Publicações recentes têm demonstrado que o comportamento sedentário em jovens, especialmente o fato de assistir televisão, está associado a uma dieta menos saudável, como menor consumo de frutas e vegetais e um maior consumo de lanches altamente energéticos e bebidas que contêm açúcar.7,8

Além disso, comportamentos estabelecidos em crianças em idade escolar tendem a continuar na idade adulta9 e estudos que incluem essa população têm sido sugeridos.1

Alguns estudos brasileiros anteriores que avaliaram inatividade física e comportamento sedentário concentraram‐se em adolescentes,5,6 mas não estratificaram subgrupos, ou seja, comparações de idade e sexo como recomendado em outros estudos.7

Estudos que analisaram outras variáveis entre crianças e adolescentes também não apresentaram dados que diferenciassem a idade de meninas e meninos.10 Essas estratificações forneceriam uma melhor compreensão dos mecanismos da doença na infância e adolescência e ajudariam a manter um estilo de vida saudável desde a infância até a idade adulta.

Assim, o objetivo deste estudo foi analisar a associação entre sexo e idade com o comportamento relacionado à prática de atividade física e ao comportamento sedentário em crianças e adolescentes.

Método

Este estudo tem um desenho transversal. A coleta de dados ocorreu durante o segundo semestre de 2011, em Londrina, a quarta cidade da Região Sul do Brasil. Londrina tem 543.003 habitantes e Índice de Desenvolvimento Humano de 0,778.

É a segunda cidade do Estado do Paraná depois da capital, Curitiba. Tem uma economia estável em de acordo com seu Produto Interno Bruto, é classificada como a cidade mais rica do norte de Paraná.11

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina (CAAE 0089.0.268.000‐11)

Processo de seleção da amostra estudada.

Para compor uma amostra de meninos e meninas entre 8‐17 anos, a maior escola da cidade foi escolhida e todos os alunos do 3° ao 8° anos matriculados nessa escola foram convidados a participar.

A escola tem 54.000m2, fica na zona central e é a principal na área municipal. Como fica na zona central e tem alunos de diferentes regiões municipais, foi possível encontrar uma grande variedade de estudantes de diferentes níveis socioeconômicos.

A escola tinha 2.239 alunos, 486 matriculados no 3° ao 8° anos, todos moradores da cidade. Eram elegíveis e foram convidados a participar; os critérios de inclusão foram: (1) de 8 a 17 anos, (2) estudantes que manifestaram interesse em participar, após convite, e (3) alunos e pais que retornaram o questionário e o formulário de consentimento assinados com informações sobre o estudo.

O escore de atividade física foi medido com o Questionário de Atividade Física para Crianças mais Velhas (PAQ‐C)13 validado12 e traduzido para o português e adaptado por Silva e Malina14 para ser aplicado ao contexto dos estudantes brasileiros. Assim, a reprodutibilidade do PAQ‐C não foi avaliada neste estudo.

Os alunos responderam ao questionário dentro de suas salas de aula, sob a supervisão de pesquisadores previamente treinados para a sua aplicação. O PAQ‐C investiga a quantidade de atividade física moderada e intensa feita nos sete dias anteriores ao preenchimento do questionário.

É composto por 13 questões sobre a prática de esportes e jogos e atividades físicas na escola e nos momentos de lazer, incluindo fins de semana, durante o ano escolar. As respostas foram dadas em uma escala do tipo Likert de 5 pontos, que variou de “muito sedentário” a “muito ativo”. Os escores 2, 3, e 4 representaram as categorias “sedentário”, “moderadamente ativo” e “‘ativo”, respectivamente. Portanto, a partir do escore final, foi possível classificar os alunos como fisicamente ativos ou insuficientemente ativos, de acordo com Crocker e Bailey.13 Aqueles com escores ≥3 foram considerados ativos e aqueles com escore <3 foram considerados insuficientemente ativos.13,14

O tempo gasto diante da televisão, do computador e de videogames foi avaliado e definido como tempo de tela.2 De acordo com as recomendações atuais baseadas em autorrelatos e medições diretas,2 um tempo de tela ≥2h/dia foi classificado como alto comportamento sedentário, enquanto um tempo de tela <2h/dia foi classificado como baixo comportamento sedentário.

As avaliações da massa corporal e estatura de meninos e meninas foram feitas dentro da sala de aula no mesmo dia da aplicação do questionário. A massa corporal foi avaliada com uma balança com uma faixa de variação de 0.1‐150kg (Britânia, Curitiba, Brasil).

Antes de avaliação de peso, os estudantes removeram os sapatos e então foram posicionados no centro da plataforma da balança de pesagem com roupas leves.

Para a estatura, foi usado um estadiômetro com uma variação de precisão de 0,1cm (Sanny, São Bernardo do Campo, Brasil). Após a obtenção de massa corporal e estatura, foi calculado o índice de massa corporal (IMC), com os valores de referência específicos para sexo e idade propostos por Cole e Lobstein.15 Cada indivíduo foi classificado de acordo com seu estado nutricional: eutrófico, sobrepeso ou obeso.

Após esses procedimentos, os estudantes preencheram um questionário16 criado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa para a avaliação da situação econômica da família. O questionário foi desenvolvido de acordo com as condições de vida das famílias brasileiras. As famílias dos estudantes foram classificadas em classes: A, B, C, D e E, em seguida, divididas em alta/média (classes A e B) ou classe baixa (classes C, D e E).

O teste U de Mann‐Whitney foi usado para comparar as variáveis de idade de ambos os sexos e o teste do qui‐quadrado foi usado para análise categórica. A regressão de Poisson foi usada para a construção de um modelo para as associações observadas. Para analisar o grau das associações entre as variáveis foram usados razões de prevalência e intervalos de confiança de 95%. Todos os casos de significância (p‐valor) inferior a 5% foram considerados estatisticamente significativos. As análises foram feitas com o softwareestatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences Inc., Chicago, Illinois), versão 20.0.

Resultados

Participaram do estudo 480 estudantes, 236 meninos e 244 meninas entre 8 e 17 anos. Seis recusaram‐se a participar devido à vergonha de expor seu peso corporal ou tipo corporal durante as medições antropométricas ou devido ao fato de seus pais não terem devolvido os questionários.

A maioria da amostra (meninos=62,2%; meninas=69,9%) gastava mais de duas horas/dia em atividades relacionadas à tela, ou seja, televisão, computador ou videogames (RP=1,05 [0,99‐1,12]). A prevalência de inatividade física também foi alta (meninos=80%; meninas=91%) em ambos os sexos (RP=0,95 [0,92‐0,98]). As classes econômicas dos alunos encontradas foram: A=8,4%, B=67,1%, C=20,2%, D=0,8% e E=34%.

tabela 1mostra a análise descritiva de acordo com idade, massa corporal, estatura, IMC e níveis de atividade física de acordo com o PAQ‐C e comportamentos sedentários e comparações de ambos os sexos. De acordo com o escore do PAQ‐C, os meninos apresentaram maiores níveis de atividade física quando comparados com as meninas (meninos=2,4; meninas=2,0; p<0,001). Meninas dedicaram mais horas por dia em comportamento sedentário do que os meninos (meninos=2,4; meninas=3,0; p=0,026).

Tabela 1.

Características gerais da amostra, segundo sexo

  Meninas Meninos p‐valora 
  P25  Mediana  P75  P25  Mediana  P75   
Idade (anos) 11,7 13,4 14,2 11,7 12,9 14,2 0,430
Masa corporal (kg) 42,1 48,2 56,7 39,0 49,3 58,1 0,983
Altura (cm) 150,5 157,0 161,6 147,9 158,2 166,5 0,181
Índice de massa corporal (kg/m2) 17,6 19,2 22,8 17,0 19,3 22,2 0,262
Escore PAQ‐C 1,6 2,0 2,4 2,0 2,4 2,8 <0,001
Comportamento sedentário (h/dia) 1,4 3,0 4,3 1,4 2,4 3,7 0,026

Índice de massa corporal de acordo com Cole e Lobstein (2012). Negrito indica p<0,050.

a Teste U de Mann‐Whitney.

tabela 2 mostra as associações entre baixos níveis de atividade física e as variáveis independentes em estudantes. Altos níveis de inatividade física foram encontrados em meninos entre 8‐12 (72,6%), 13‐17 anos (87,6%; RP=1,09 [1,03‐1,15]) e meninas entre 8‐12 (86,7%) e 13‐17 anos (94,8%; RP=1,04 [1,00‐1,09]). Após a análise ajustada, foi observado que a prevalência de inatividade física era maior em meninas (91%; RP=0,95 [0,92‐098]). Meninos (87,6%; RP=1,09 [1,03‐1,15]) e meninas (94,8%; RP=1,04 [1,00‐1,09]) entre 13‐17 anos apresentaram maior prevalência de inatividade física do que seus pares mais jovens.

tabela 3 mostra a associação entre alto tempo de tela e as variáveis independentes. Ao analisar os meninos e meninas mais velhos conjuntamente, foi observada uma maior prevalência de alto tempo de tela do que em seus pares mais jovens (71,8%; RP=0,91 [0,85‐0,97]).

Resultado de imagem para atividade fisica obesidade infantil

Ao comparar meninos mais velhos com os mais jovens, a prevalência de meninos mais velhos com alto tempo de tela foi maior do que em meninos mais jovens (69.7%; RP=0.90 [0.82–0.98]).

Tabela 2.

Associação entre baixos níveis de atividade física e variáveis independentes em crianças e adolescentes

  Inativo
  n=409 (85,2%)  RP (IC95%)a  RP (IC95%)b 
Sexo
Masculino 196 (80,0) 0,95 (0,83‐1,09) 0,95 (0,92‐0,98)c
Feminino 213 (91,0)
Idade (ambos os sexos)
13‐17 234 (91,4) 1,06 (0,92‐1,21) 1,06 (1,02‐1,10)c
8‐12 174 (78,7)
Masculino
13‐17 106 (87,6) 1,09 (0,90‐1,31) 1,09 (1,03‐1,15)c
8‐12 90 (72,6)
Feminino
13‐17 128 (94,8) 1,04 (0,86‐1,26) 1,04 (1,00‐1,09)c
8‐12 85 (86,7)
Nível econômico
Alto/médio 132 (81,0) 1,03 (0,89‐1,19) 1,03 (0,99‐1,07)
Baixo 259 (87,5)
Tempo de tela
<2 horas/dia 129 (81,1) 0,97 (0,84‐1,12) 0,97 (0,93‐1,01)
≥2 horas/dia 269 (87,9)
Índice de massa corporal
Eutrófico 290 (85,5) 1,01 (0,87‐1,18) 1,01 (0,97‐1,05)
Sobrepeso 88 (86,3)
Obeso 31 (85,6)

a Análise bruta.

b Análise ajustada para todas as variáveis, independente do p‐valor na análise bruta. c p<0,050.

Tabela 3.

Associação entre tempo de tela elevado e variáveis independentes em crianças e adolescentes

  Tempo de tela ≥2h/dia
  n=306 (63,8%)  RP (IC95%)a  RP (IC95%)b 
Sexo
Masculino 148 (62,2) 1,05 (0,89‐1,24) 1,05 (0,99‐1,12)
Feminino 158 (69,6)
Idade (ambos os sexos)
13‐17 181 (71,8) 0,91 (0,77‐1,07) 0,91 (0,85‐0,97)c
8‐12 124 (58,5)
Masculino
13‐17 83 (69,7) 0,90 (0,72‐1,11) 0,90 (0,82‐0,98)c
8‐12 65 (54,6)
Feminino
13‐17 98 (73,7) 0,93 (0,74‐1,17) 0,93 (0,85‐1,02)
8‐12 60 (63,8)
Nível econômico
Alto/médio 113 (69,3) 1,05 (0,88‐1,24) 1,05 (0,98‐1,12)
Baixo 193(65,6)
Atividade física
Ativo 37 (55,2) 0,93 (0,75‐1,17) 0,93 (0,85‐1,02)
Inativo 269 (67,6)
Índice de massa corporal
Eutrófico 215 (65,3) 1,00 (0,84‐1,20) 1,00 (0,93‐1,08)
Sobrepeso 68 (67,3)
Obeso 23 (65,8)

a

Análise bruta.

b

Análise ajustada para todas as variáveis, independentemente do p‐valor na análise bruta.

p<0,050.

Discussão

O objetivo deste estudo foi analisar a associação entre sexo e idade com o comportamento relacionado com a prática de atividade física e comportamento sedentário em crianças e adolescentes. Na comparação de diferentes grupos de gênero na infância e adolescência, as meninas apresentaram níveis mais baixos de atividade física do que os meninos.

Os resultados deste estudo corroboram achados anteriores. Decelis et al.17 relataram que uma elevada porcentagem de meninos e meninas não atendia às recomendações de atividade física1 e mostraram que os níveis de atividade física na infância e adolescência começam a diminuir antes da idade adulta.

A família desempenha um papel importante na prática de atividade física na infância e adolescência.18 Uma explicação para o fato de meninos se envolverem em mais atividades físicas do que as meninas é que eles parecem ter mais apoio social e familiar para a prática dessas atividades.19

Ainda há uma necessidade de promover atividade física na infância e adolescência e esses dados podem ajudar a desenvolver intervenções para essa população. Essas comparações fornecem informações para a literatura, tal como recomendado anteriormente para estudos posteriores.7

Comparações feitas com as meninas de diferentes faixas etárias mostraram que as meninas mais velhas gastam mais tempo de tela do que as mais jovens.

Resultado de imagem para atividade fisica obesidade infantil

As consequências de grandes quantidades de tempo gastas com atividades sedentárias são esperadas no início da infância. Um estudo da atividade física e tendência à obesidade relatado por Sigmundová et al.7 mostrou que, em dez anos, o tempo gasto com atividades sedentárias aumentou e o nível de atividade física diminuiu na infância e na adolescência.

A análise de agrupamento feita por De Bourdeaudhuij et al.20 com crianças recrutadas da Hungria, Bélgica, Holanda, Grécia e Suíça mostrou que as meninas passavam mais tempo sedentárias do que os meninos, semelhantemente aos nossos achados.

As atividades sedentárias de meninos e meninas são maiores do que as atuais recomendações2 e programas orientados tanto para diminuir o comportamento sedentário quanto aumentar a atividade física são necessários, particularmente em meninas.21

Níveis mais baixos de atividade física em meninos e meninas mais velhos podem ser explicados pelo fato de que os pais podem associar menor desempenho acadêmico na escola com o tempo que eles passam fora de casa, o que pode ser uma barreira para os meninos e as meninas mais velhos participarem em mais atividade física.19

Neste estudo, verificou‐se uma maior prevalência de estudantes do sexo masculino mais velhos que gastavam mais tempo de tela e praticavam menos atividade física do que os meninos mais jovens.

Uma explicação para essa diferença encontrada em nosso estudo poderia ser o fato de que muitos meninos mais velhos têm atributos que as crianças ainda não têm, isto é, trabalho ou obrigações de estudo.22

Esses tipos de rotinas são comuns em adolescentes de classe média de ambos os sexos no Brasil22

No entanto, nosso estudo não inclui informações específicas sobre tarefas diárias fora da escola, além da atividade física e do comportamento sedentário.

A prevalência de comportamento sedentário encontrada no presente estudo foi alta em ambos os sexos e isso corrobora os recentes achados de um estudo brasileiro de Silva et al.,23 em que os autores investigaram a associação entre a prática de esportes e comportamento sedentário e verificaram que a maioria dos adolescentes incluídos na amostra apresentavam uma alta incidência de comportamento sedentário.

Suchert et al.24avaliaram efeitos do comportamento sedentário, afeto deprimido, autoestima, autoconceito físico, autoeficácia geral e atividade física.

Entre as meninas, menores escores na autoestima e autoeficácia geral estavam associados a comportamentos sedentários mais altos com base em tempo de tela. Melkevik et al.25 relataram que o uso dos meios eletrônicos estava associado com o aumento dos escores Z de IMC e maiores chances de sobrepeso em meninos e meninas que não seguiam as diretrizes de atividade física.

Uma pesquisa recente23 encontrou uma associação negativa entre comportamento sedentário e prática de esportes em adolescentes.

Uma alta prevalência de inatividade física foi encontrada em alunos com elevado tempo de tela. Vários estudos analisaram essas variáveis coexistentes nessa população. A atividade física e o maior tempo gasto com o comportamento sedentário estão relacionados com o desempenho acadêmico.26

Além disso, baixos níveis de atividade física e altos níveis de comportamento sedentário aumentam as chances de obesidade na infância.1,2

A obesidade na infância e na adolescência está ligada a várias doenças crônicas durante a vida.

Um estudo brasileiro feito por Dutra et al.27 relatou uma prevalência de sedentarismo de mais de 70% e que o tempo de tela era inversamente associado com a atividade física.

Da mesma forma, Ferrari et al.28 encontraram maior prevalência de crianças que atendiam às diretrizes de atividade física moderada a vigorosa entre as crianças que assistiam ≤2h/dia de televisão. Ainda assim, a atividade física insuficiente não deveria estar relacionada a comportamentos sedentários, uma vez que não está diretamente associada às atividades sedentárias investigadas neste estudo, isto é, assistir a televisão.29

A evidência mostra que o fato de assistir a televisão e a atividade física na infância e adolescência são constructos que não estão relacionados29 e a prática de mais atividade física não necessariamente diminui os comportamentos sedentários.30

Nossos resultados são preocupantes e corroboram a alta prevalência de ambos os fatores de risco, o alto comportamento sedentário e a baixa atividade física, reportados em outros estudos feitos em diferentes regiões do Brasil.23,28

Este estudo tem limitações que devem ser levadas em consideração: em primeiro lugar, o método de investigação baseia‐se em questionários de autorrelato sobre a atividade física e comportamentos sedentários.

Há vantagens no uso desses métodos, ou seja, descrição completa e detalhes sobre a atividade física e tempo gasto com o comportamento sedentário; no entanto, dispositivos sensores de movimento forneceriam informações melhores e mais precisas em comparação com o método recordatório de sete dias.

Em segundo lugar, o desenho transversal impede a avaliação da causalidade. O desenho longitudinal pode permitir um melhor entendimento, em vez de fazer comparações entre estudantes mais jovens e mais velhos de diferentes regiões da cidade e de diferentes classes sociais.

A amostra usada neste estudo não é representativa de todos os estudantes da cidade; no entanto, é representativa da maior escola na cidade onde o estudo foi feito.

Além disso, a escola selecionada para este estudo tem alunos de todas as regiões da cidade. No entanto, a coleta de dados de outras cidades forneceria uma amostra maior e permitiria fazer comparações com estudos similares feitos em outros países.7

Em conclusão, nossos resultados corroboram a evidência de que os níveis de atividade física são mais baixos em alunos mais velhos do que nos mais jovens.

Além disso, os alunos mais velhos gastam mais tempo com atividades sedentárias do que seus pares mais jovens. A prevalência de inatividade física foi maior em meninas do que em meninos.

Meninos mais velhos apresentaram níveis mais baixos de atividade física e maior tempo de tela do que os meninos mais jovens.

Referências

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20 De Bourdeaudhuij,M. Verloigne,L. Maes,W. Van Lippevelde,M.J. Chinapaw,S.J. Te Velde Associations of physical activity and sedentary time with weight and weight status among 10‐ to 12‐year‐old boys and girls in Europe: a cluster analysis within the ENERGY project Pediatr Obes, 8 (2013), pp. 367-375 Medline

21 Verloigne,W. Van Lippevelde,L. Maes,M. Yıldırım,M. Chinapaw,Y. Manios Levels of physical activity and sedentary time among 10‐ to 12‐year‐old boys and girls across 5 European countries using accelerometers: an observational study within the ENERGY‐project Int J Behav Nutr Phys Act, 9 (2012), pp. 34 Medline

22 R.M. Guimarães,G. Romanelli The inclusion of adolescents of lower classes in the job market through an ONG Psicologia em Estudo, Maringá, 7 (2002), pp. 117-126

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24 Suchert,R. Hanewinkel,B. Isensee,läuft Study Group Sedentary behavior, depressed affect, and indicators of mental well‐being in adolescence: does the screen only matter for girls? J Adolesc, 42 (2015), pp. 50-58 Medline

25 Melkevik,E. Haug,M. Rasmussen,A.S. Fismen,B. Wold,A. Borraccino Are associations between electronic media use and BMI different across levels of physical activity? BMC Public Health, 15 (2015), pp. 497 Medline

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28 G.L. Ferrari,T.L. Araujo,L. Oliveira,V. Matsudo,E. Mire,T.V. Barreira Association between television viewing and physical activity in 10‐year old Brazilian children J Phys Act Health, 12 (2015), pp. 1401-1408 Medline

29 E.M. Taveras,A.E. Field,C.S. Berkey,S.L. Rifas-Shiman,A.L. Frazier,G.A. Colditz  Longitudinal relationship between television viewing and leisure‐time physical activity during adolescence Pediatrics, 119 (2007), pp. e314-e319 Medline

30 R.A. Fernandes,I.F. Júnior,J.R. Cardoso,E.R. Vaz Ronque,M.R. Loch,A.R. de Oliveira Association between regular participation in sports and leisure time behaviors in Brazilian adolescents: a cross‐sectional study BMC Public Health, 8 (2008), pp. 329

http://www.rpped.com.br/pt/atividade-fisica-e-tempo-tela/articulo/S0103058216000022/

Osteoporose em homens

O tema escolhido para a campanha de conscientização do Dia Mundial da Osteoporose (20 de outubro) pela Fundação Internacional da Osteoporose (IOF), há 2 anos, foi osteoporose em homens.

O texto completo do relatório da IOF está disponível em http://share.iofbonehealth.org/WOD/2014/thematic-report/WOD14-Report.pdf).

Este alerta em escala global corroborou o momentum de atenção para a osteoporose nos homens, confirmado pela publicação de um guideline da Endocrine Society em junho de 2012 Watts et al. J Clin Endocrinol Metab 2012; 97(6):1802-22).

A dimensão do problema

A osteoporose em homens é uma doença comumente negligenciada. Enquanto que nas mulheres a osteoporose é ativamente investigada e tratada, nos homens muitas vezes ela não é reconhecida, mesmo frente à ocorrência de fraturas de fragilidade (aquelas fraturas decorrentes de baixo impacto ou de queda da própria altura).

A estrutura óssea masculina

De fato, o osso dos homens tem peculiaridades que os protegem de fraturas, como uma geometria mais favorável dada pelo maior diâmetro dos ossos longos, e menor perda de massa óssea com o envelhecimento em comparação com as mulheres.

Mesmo assim, dados alarmantes apresentados no relatório da IOF mostram que quase 40% de todas as fraturas de fragilidade acontecem em homens, que a mortalidade após fratura de fêmur é maior nos homens, e que o risco de fratura de fragilidade em homens com mais de 50 anos de idade é 27% maior do que o risco de desenvolver câncer de próstata, um problema que ganha muito mais atenção na saúde masculina.

O papel da testosterona

Durante muito tempo se atribuiu importante papel à testosterona na regulação do metabolismo ósseo, permitindo extrapolar que este hormônio traria especial proteção contra o desenvolvimento de osteoporose nos homens.

O grupo de pesquisa liderado por Sundeep Khosla na Mayo Clinic foi instrumental em destrinchar a real contribuição da testosterona na remodelação óssea: de fato, a contribuição direta da testosterona é pequena, mas já o estradiol gerado a partir da aromatização periférica da testosterona tem, sim, papel principal regulando reabsorção e formação óssea nos homens (estes achados estão resumidos em Endocrinol Metab Clin North Am 2012; 41(3):629-41).

Está claro que a testosterona influencia a saúde óssea através do estímulo para a expansão óssea e formação de osso subperiosteal (resultando em geometria protetiva) e do estímulo para o trofismo muscular, essencial à formação óssea.

Entretanto, o reconhecimento do papel do estradiol no osso do homem embasa a perda de massa óssea com o envelhecimento e “andropausa”, à semelhança da menopausa nas mulheres, e tem implicações na definição de estratégias terapêuticas nos homens com osteoporose.

O guideline da Endocrine Society (2012)

A diretriz preparada pelo grupo de especialistas nomeados pela Endocrine Society traz recomendações práticas para o diagnóstico e tratamento da osteoporose masculina.

Alguns pontos:

  • Na avaliação inicial do homem com osteoporose, é importante se investigar e descartar causas de osteoporose secundária, que podem acometer até 40% destes indivíduos. Destacam-se como causas de osteoporose secundária nesta população o hipogonadismo, o excesso de glicocorticoide, alcoolismo e tabagismo, a hipercalciúria, os estados de disabsorção intestinal e a doença pulmonar obstrutiva crônica, dentre muitas outras.
  • A avaliação por densitometria óssea (DXA) está indicada em todos os homens com mais de 70 anos, e naqueles com mais de 50 anos que apresentem um ou mais fatores de risco para fraturas, como histórico pessoal ou familiar de fraturas de fragilidade, baixo índice de massa corpórea, quedas frequentes, antecedente de AVC ou demência, ou qualquer causa de osteoporose secundária. O documento da Endocrine Society traz uma lista completa destes fatores de risco.
  • Frente a um homem com osteoporose e alto risco de fraturas que apresente hipogonadismo laboratorial (testosterona sérica inferior a 200 ng/dl), não basta tratar o hipogonadismo com reposição de testosterona – há que se adicionar de princípio droga anti-fratura para proteção específica do osso.

Atenção aos homens em terapia de privação androgênica no tratamento do câncer de próstata.

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Terapia de privação androgênica (ADT)

Dentre as subpopulações de homens com osteoporose, tanto o guideline quanto a literatura médica mais recente chamam a atenção para o alto risco de fraturas dos homens em terapia de supressão do androgênio ou terapia privação androgênica (ADT, do inglês androgen deprivation therapy) para o tratamento do câncer de próstata.

Diversos estudos detalharam os efeitos da ADT no esqueleto, que podem ser resumidos em:

1) aumento rápido e mantido da remodelação óssea;

2) perda rápida de massa óssea mensurada por DXA, principalmente nos primeiros 6 meses de ADT e

3) perda progressiva de massa muscular.

Provavelmente, os efeitos 1 e 2 são mediados pela diminuição do estradiol e o efeito 3 diretamente pela diminuição da testosterona.

O resultado combinado destes três efeitos é o aumento cumulativo do risco de fraturas em homens em ADT, bem documentado por diversos estudos em diferentes populações.

Ainda há controvérsia entre os especialistas se todos os homens em ADT para tratamento de câncer de próstata necessitam tratamento de princípio com droga anti-fratura. Faltam estudos clínicos randomizados justificando essa abordagem, e a maioria dos consensos sugere que o estado de hipogonadismo induzido pela ADT seja interpretado como um fator de risco a mais na avaliação da decisão terapêutica.

Em outras palavras, um homem iniciando ADT que tenha massa óssea normal e baixo risco de fratura provavelmente não necessita de droga anti-fratura específica. É importante, entretanto, que a decisão seja individualizada, que todos os fatores de risco de fratura sejam considerados e que estes homens sejam avaliados clinicamente e com DXA.

Em todos os indivíduos em risco de osteoporose, práticas para boa saúde óssea devem certamente ser promovidas, como adequação nutricional em cálcio e vitamina D, atividade física, cessação do tabagismo e redução da ingesta alcoólica.

Perspectivas futuras

O maior entendimento dos mecanismos que propiciam a osteoporose nos homens vem trazendo algumas perspectivas futuras para o tratamento desta condição.

Busca-se desenvolver moduladores seletivos do receptor androgênico que tragam benefício para a saúde óssea, com a ressalva de que a ausência de ação específica em vias estrogênicas provavelmente não trará benefício direto na remodelação, mas com potencial melhora da geometria óssea e da trofia muscular.

Paralelamente, também se buscam alternativas terapêuticas capazes de promover a hipertrofia muscular e que indiretamente estimulariam a formação óssea, como através da inibição da miostatina e de outras vias de controle do músculo, a nova fronteira da pesquisa no sistema musculoesquelético.

Embora ainda não haja nenhum agente desta natureza aprovado para uso clínico, o futuro parece promissor para o tratamento da osteoporose nos homens.

É essencial, portanto, que estejamos alerta para esta condição e reconheçamos, sempre, os homens em risco.

Fonte: http://www.blog.endocrinologia.org.br/?p=293

Bruno Ferraz de Souza, Membro Especialista da SBEM, Comissão de Novas Lideranças

Tuberculose

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa, transmissível e  curável, que afeta prioritariamente os pulmões.

Anualmente são notificados cerca de 6 milhões de novos casos em todo o mundo, levando mais de um milhão de pessoas a óbito.

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O surgimento da aids e o aparecimento de focos de tuberculose resistente aos medicamentos agravam ainda mais esse cenário.

TB no Brasil

No Brasil, a tuberculose é um grave problema da saúde pública, com profundas raízes sociais. A cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem 4,6 mil mortes em decorrência da doença. O país está entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo.

Nos últimos 17 anos, a tuberculose apresentou queda de 38,7% na taxa de incidência e 33,6% na taxa de mortalidade.

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Descrição

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A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível, causada pelo Mycobacterium tuberculosis, que afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos e sistemas.

A apresentação pulmonar, além de ser mais frequente, é também a mais relevante para a saúde pública, pois é a principal responsável pela transmissão da doença.

Agente etiológico (causador)

A tuberculose pode ser causada por qualquer uma das sete espécies que integram o complexo Mycobacterium tuberculosis: M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M. pinnipedi e M. caprae.

Entretanto, do ponto de vista sanitário, a espécie mais importante é a M. tuberculosis.

Reservatório

O principal reservatório da tuberculose é o ser humano. Outros possíveis reservatórios são gado bovino, primatas, aves e outros mamíferos.

No Brasil, não existem estimativas sobre a proporção de pacientes com tuberculose causada pelo M. bovis. No entanto, é importante que o sistema de saúde esteja atento à possibilidade de ocorrência desse evento.

Modo de transmissão

A tuberculose é uma doença de transmissão aérea, ou seja, que ocorre a partir da inalação de aerossóis.

Ao falar, espirrar e, principalmente, ao tossir, as pessoas com tuberculose ativa lançam no ar partículas em forma de aerossóis que contêm bacilos, sendo denominadas de, bacilíferas.

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As formas bacilíferas são, em geral, a tuberculose pulmonar e a laríngea.

Calcula-se que, durante um ano, numa comunidade, um indivíduo que tenha baciloscopia positiva pode infectar, em média, de 10 a 15 pessoas.

Bacilos que se depositam em roupas, lençóis, copos e outros objetos dificilmente se dispersam em aerossóis e, por isso, não desempenham papel importante na transmissão da doença.

Período de incubação

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Embora, o risco de adoecimento seja maior nos primeiros dois anos após a primeira infecção, uma vez infectada a pessoa pode adoecer em qualquer momento de sua vida.

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Período de transmissibilidade

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A transmissão da tuberculose é plena enquanto o indivíduo estiver eliminando bacilos.

Com o início do esquema terapêutico adequado, a transmissão tende a diminuir gradativamente e, em geral, após 15 dias de tratamento chega a níveis insignificantes.

No entanto, o ideal é que as medidas de controle de infecção pelo M. tuberculosis sejam implantadas até haja a negativação da baciloscopia.

Crianças com tuberculose pulmonar geralmente são negativas à baciloscopia.

Sinais e sintomas

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A apresentação da tuberculose na forma pulmonar, além de ser mais frequente, é também a mais relevante para a saúde pública, pois é essa forma, especialmente a positiva à baciloscopia, a principal responsável pela transmissão da doença que se dá por via aérea.

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No entanto, não raramente, a tuberculose pode manifestar-se sob diferentes apresentações clínicas, que podem estar relacionadas com idade, imunodepressão e órgão acometido. Assim, outros sinais e sintomas, além da tosse, devem ser valorizados.

Adolescentes e adultos jovens

Na tuberculose pulmonar, em adolescentes e adultos jovens, o principal sintoma é a tosse (seca ou produtiva, com expectoração purulenta ou mucoide, com ou sem sangue). Por isso, recomenda-se que todo sintomático respiratório (pessoa com tosse por três semanas ou mais) seja investigado para a tuberculose.

Considerando que há maior risco de adoecimento por tuberculose entre as populações mais vulneráveis, para esses grupos o PNCT recomenda investigar a tuberculose utilizando pontos de corte diferenciados quanto à tosse, conforme o quadro abaixo:

Populações vulneráveis

Tempo de tosse

Indígenas

Duas semanas ou mais

Pessoas privadas de liberdade
Pessoas que vivem com o HIV/aids
Pessoas em situação de rua Independentemente do tempo de sintoma

Há outros sinais e sintomas que podem estar presentes, tais como: febre vespertina (no final da tarde), sudorese noturna (suor durante a noite), anorexia e emagrecimento.

TB em crianças

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Em crianças menores de 10 anos as manifestações clínicas podem variar bastante.

O achado clínico que chama a atenção na maioria dos casos é a febre, habitualmente moderada, persistente por 15 dias ou mais e frequentemente vespertina. São comuns irritabilidade, tosse, inapetência, perda de peso e sudorese noturna.

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Muitas vezes, a suspeita de tuberculose em crianças surge com diagnóstico de pneumonia sem melhora com o uso de antimicrobianos para germes comuns.

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Quando a tuberculose é extrapulmonar, os sinais e sintomas dependem dos órgãos e/ou sistemas acometidos.

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A forma extrapulmonar ocorre mais comumente em pessoas que vivem com o HIV/aids, especialmente entre aquelas com grave comprometimento imunológico.

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Exames diagnósticos

Para o diagnóstico da tuberculose são utilizados, principalmente, os seguintes exames: exame microscópico direto (baciloscopia direta), cultura para micobactéria com identificação de espécie, teste de sensibilidade antimicrobiana, teste rápido para tuberculose (TR-TB) e radiografia de tórax.

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Além desses exames, recomenda-se que o teste anti-HIV seja oferecido a todas as pessoas com tuberculose.

O Quadro 1 apresenta o sistema de pontuação para diagnóstico de TB pulmonar na infância.

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Prova tuberculínica

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Para as pessoas com maior risco de adoecimento por tuberculose, como os contatos de pessoas infectadas por tuberculose e pessoas vivendo com o HIV/aids, recomenda-se investigar a infecção latente da tuberculose por meio da prova tuberculínica para tratar, quando indicado, a infecção latente antes que a pessoa adoeça.

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Vídeo sobre aplicação e leitura da prova tuberculínica

Baciloscopia direta

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A pesquisa do bacilo álcool-ácido-resistente (baciloscopia) é, atualmente, a técnica mais utilizada no Brasil, não apenas para o diagnóstico, mas também para o controle do tratamento.

Desde que executada corretamente em todas as suas fases, permite detectar de 60% a 80% dos casos, com resultado em até 48 horas. Em 2012, dos 59.423 casos de tuberculose pulmonar registrados no País, 86,5% realizaram baciloscopia no momento do diagnóstico, desses 37.800 (73,5%) tiveram o resultado positivo.

Cultura para micobactéria com identificação de espécie

A cultura, o método “padrão ouro” para o diagnóstico da tuberculose, quando associada ao teste de sensibilidade antimicrobiana, permite o diagnóstico da tuberculose resistente.

Além disso, nos casos pulmonares com baciloscopia negativa, a cultura de escarro pode aumentar em até 30% o diagnóstico bacteriológico da doença.

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O PNCT recomenda a realização de cultura com teste de sensibilidade principalmente para populações consideradas de maior risco de albergarem bacilo resistente, como: pacientes com tratamento prévio; pessoas que vivem com HIV/aids, contatos sintomáticos de pessoas com tuberculose resistente e populações consideradas especiais para o programa.

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Nos últimos anos houve o aumento na realização de cultura entre as pessoas em retratamento, no Brasil. Em 2001, 12,5% dessas pessoas realizaram exame de cultura, e em 2011 o percentual subiu para 36,5%.

Teste rápido para tuberculose

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O Ministério da Saúde implantará na rede pública de saúde, a partir do segundo semestre de 2013, o teste rápido para diagnóstico – tecnologia inovadora para o controle da doença que deverá se tornar a principal ferramenta para o diagnóstico de casos novos de tuberculose pulmonar.

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O teste rápido para o diagnóstico da tuberculose utiliza técnicas de biologia molecular (PCR em tempo real) para identificar o DNA do Mycobacterium tuberculosis, permitindo seu diagnóstico em apenas duas horas.

A proposta do Ministério é substituir a baciloscopia diagnóstica pelo teste rápido, e assim aumentar o número de pessoas identificadas e de diagnóstico precoce, proporcionando a quebra da cadeia de transmissão e o controle da doença.

Vale salientar que as baciloscopias de acompanhamento (mensais) continuam sendo fundamentais na manutenção do tratamento de tuberculose.

O novo teste também indica, com alta sensibilidade e especificidade, a resistência à rifampicina, um dos principais medicamentos usados no tratamento básico da doença.

A possibilidade de dispor amplamente de um teste diagnóstico de fácil realização, muito eficiente, com resultado rápido, e que indica a possibilidade de resistência à rifampicina, poderá revolucionar as ações de controle da tuberculose no Brasil.

Teste anti-HIV

Considerando a magnitude e as sérias implicações da coinfecção TB/HIV, recomenda-se que o teste anti-HIV seja oferecido o mais cedo possível a todo indivíduo com diagnóstico estabelecido de tuberculose, independentemente da confirmação bacteriológica.

O profissional de saúde deve abordar com o paciente a possibilidade de associação das duas infecções e os benefícios do diagnóstico e tratamento precoces da infecção pelo HIV, por meio do aconselhamento pré-teste.

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O teste anti-HIV deve ser realizado com o consentimento do paciente, observando-se o sigilo e confidencialidade do teste, utilizando-se, preferencialmente, algoritmo diagnóstico com testes rápidos para o HIV. Independentemente do resultado da testagem, o aconselhamento pós-teste deve ser realizado.

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Exame positivo

Caso o exame seja positivo, a pessoa deve ser encaminhada a um serviço de atenção especializada a pessoas vivendo com o HIV/aids (SAE) mais próximo de sua residência para dar continuidade ao tratamento da tuberculose e iniciar tratamento de HIV/aids, conforme indicado.

Radiografia de tórax

A radiografia de tórax é método diagnóstico de grande importância na investigação da tuberculose e deve ser solicitada para todo paciente com tiver suspeita clínica de tuberculose pulmonar.

Ela tem como funções principais excluir outra doença pulmonar associada, que necessite de tratamento concomitante, avaliar a extensão do acometimento e a evolução radiológica dos pacientes, sobretudo naqueles que não respondem ao tratamento contra a tuberculose.

Diagnóstico da ILTB com prova tuberculínica

É particularmente importante na avaliação de contatos assintomáticos de pessoas com tuberculose e em pessoas vivendo com o HIV/aids, uma vez que é utilizada, em adultos e crianças, no diagnóstico de infecção latente pelo M. tuberculosis (ILTB).

Resultado de imagem para ILTB com prova tuberculínica

Na criança também é muito importante como método coadjuvante para o diagnóstico da TB.

PERGUNTAS E RESPOSTAS (Ministério da Saúde)

O que é tuberculose?

Doença infecto-contagiosa causada por uma bactéria que afeta principalmente os pulmões, mas também pode ocorrer em outros órgãos do corpo, como ossos, rins e meninges (membranas que envolvem o cérebro).

Qual a causa?

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Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch (BK). Outras espécies de micobactérias também podem causar a tuberculose. São elas: Mycobacterium bovis, africanum e microti.

Quais os sintomas?

Alguns pacientes não exibem nenhum indício da doença, outros apresentam sintomas aparentemente simples que são ignorados durante alguns anos (ou meses).

Contudo, na maioria das pessoas infectadas, os sinais e sintomas mais frequentemente descritos são tosse seca contínua no início dos sintomas, depois com presença de secreção por mais de quatro semanas, transformando-se, na maioria das vezes, em uma tosse com pus ou sangue; cansaço excessivo; febre baixa geralmente à tarde; sudorese noturna; falta de apetite; palidez; emagrecimento acentuado; rouquidão; fraqueza e prostração.

Casos graves

Os casos graves apresentam dificuldade na respiração; eliminação de grande quantidade de sangue, colapso do pulmão e acúmulo de pus na pleura (membrana que reveste o pulmão) – se houver comprometimento dessa membrana, pode ocorrer dor torácica.

Como se transmite?

A transmissão é direta, de pessoa a pessoa.

O doente expele, ao falar, espirrar ou tossir, pequenas gotas de saliva que contêm o agente infeccioso e podem ser aspiradas por outro indivíduo contaminando-o.

Somente 5% a 10% dos infectados pelo bacilo de Koch adquirem a doença.

Pessoas vivendo com HIV/aids, diabetes, insuficiência renal crônica, desnutridas, idosos doentes, usuários de álcool e outras drogas e tabagistas são mais propensos a contrair a tuberculose.

Como tratar?

O tratamento deve ser feito por um período mínimo de seis meses, sem interrupção, diariamente.

São utilizados quatro fármacos para o tratamento dos casos que utilizam o esquema básico: rifampicina (R), isoniazida (H), pirazinamida (Z) e etambutol (E).

Todos os pacientes que seguem o tratamento corretamente são curados.

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Como se prevenir?

Para prevenir a doença é necessário imunizar as crianças obrigatoriamente no primeiro ano de vida ou no máximo até quatro anos, com a vacina BCG. Crianças soropositivas ou recém-nascidas que apresentam sinais ou sintomas de aids não devem receber a vacina.

A prevenção inclui evitar aglomerações, especialmente em ambientes fechados, mal ventilados e sem iluminação solar. A tuberculose não se transmite por objetos compartilhados.

Vacinação

Para prevenir a doença é necessário imunizar as crianças obrigatoriamente no primeiro ano de vida ou no máximo até quatro anos, com a vacina BCG.

Crianças soropositivas ou recém-nascidas que apresentam sinais ou sintomas de aids não devem receber a vacina. A prevenção inclui evitar aglomerações, especialmente em ambientes fechados, mal ventilados e sem iluminação solar.

A tuberculose não se transmite por objetos compartilhados.

Histórico da vacina

Em 1908, os cientistas Albert Calmette e Camille Guérin conseguiram isolar uma cepa do bacilo da tuberculose para produzir culturas vivas atenuadas a serem usadas como vacina. A cepa recebeu o nome de bacilo Calmette-Guérin, de onde surgiu o nome “BCG”. Foi aplicada pela primeira vez em crianças em 1921.

http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/tuberculose