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Comportamento

Volta às aulas na pandemia

A sabedoria é a coisa principal; adquire pois a sabedoria, emprega tudo o que possuis na aquisição de entendimento. (Provérbios 4,7)

Alguns pais têm solicitado orientação sobre o retorno dos seus filhos às atividades escolares e coletivas.

Nestes 40 anos de profissão não enfrentamos desafio epidemiológico tão grande e, infelizmente, a Organização Mundial da Saúde deixou de ser merecedora de confiança.

A seguir, adaptamos o documento da Sociedade Brasileira de Pediatria: COVID-19 e a volta às aulas.

Introdução

Em 2020 o mundo foi surpreendido por uma pandemia causada por um novo Coronavírus (SARS-CoV-2) de alta contagiosidade e associado a significativas taxas de letalidade.

O Brasil registra 1.577.004 casos confirmados, 64.265 óbitos acumulados, 876.359 casos, recuperados e 636.380 em acompanhamento (Ministério da Saúde, 04/07/2020, 18h25).

Até o momento não se dispõe de tratamento antiviral efetivo, tampouco vacinas profiláticas. Medidas não farmacológicas têm sido recomendadas, em muitos países, com o intuito de diminuir a velocidade de transmissão e sobrecarga nos sistemas de saúde: higiene das mãos, uso de máscaras, quarentena etc.

A despeito das crianças estarem sendo mais poupadas das formas graves da doença (são raros os casos de hospitalização e óbitos em menores de 10 anos de idade), vários estudos têm demonstrado que elas também são infectadas.

Apesar de, até o momento, não haver evidências que demonstrem o real papel das crianças na transmissão da doença, devemos reconhecer que a suspensão das atividades escolares, implementadas em quase todos os países do mundo, acabaram limitando a possibilidade de que se conhecesse com clareza o papel das crianças na cadeia de transmissão da doença.

Sabemos que a doença é transmitida por meio de contato direto com gotículas respiratórias de uma pessoa infectada (fala, tosse e espirros) e ao se tocar na face (olhos, nariz e boca) após contato com superfícies contaminadas.

Entre as medidas de controle, o distanciamento social tem sido ferramenta crucial na redução da transmissão do vírus na comunidade, com evidências, em muitos países, da efetividade dessa medida; a suspensão das aulas é parte desta estratégia restritiva.

Retorno gradual e cauteloso

Portanto, é nosso entendimento que a volta às aulas deva ser gradual, de forma cautelosa, incluindo todas as precauções possíveis para minimizar a disseminação da infecção pelo SARS-CoV-2 nas escolas.

O relaxamento das medidas de distanciamento deve ser avaliado em cada município ou estado, em função de dados epidemiológicos e recursos de saúde disponíveis para o atendimento dos casos novos, podendo haver a necessidade de eventual retorno à instalação de medidas restritivas quando a situação epidemiológica assim indicar.

Este documento tem como principal objetivo destacar os pontos mais importantes a serem considerados por ocasião do retorno às atividades escolares, com sugestões para pais, educadores e escolas, públicas e privadas, para segurança de todos.

A volta à escola tem sido motivo de apreensão e dúvidas por parte de pais e/ou responsáveis.

Se por um lado existe a preocupação em relação ao adoecimento dos filhos e, como consequência, de outros membros da família, por outro lado, há o prejuízo da aprendizagem e sociabilização.

Crianças, mesmo assintomáticas, podem ser transmissoras da doença. Tossem, espirram, compartilham brinquedos e alimentos sem maiores cuidados.

De um modo geral, as crianças não fazem parte do grupo mais afetado pela COVID-19, entretanto, recentemente o Ministério da Saúde do Brasil publicou um documento que atualizou os grupos de risco, incluindo as crianças abaixo de 5 anos de idade com síndrome gripal, especialmente as menores de dois anos, nas quais há maior taxa de hospitalização, especialmente pelo potencial risco da infecção pelo vírus influenza nestes casos.

Princípios fundamentais

  1.  Pais e professores devem procurar manter-se informados sobre a COVID-19 (modo de transmissão, sintomas da doença, medidas de prevenção) por meio de fontes confiáveis, evitando as fake news;
  2.  Crianças e profissionais da educação, se doentes, não devem frequentar a escola;
  3.  A escola deve oferecer diversos locais para lavagem de mãos, água e sabão, álcool em gel e higienizar frequentemente os recintos e superfícies;
  4. A escola deve propiciar ambientes arejados, com aberturas de janelas. Atividades ao ar livre devem ser estimuladas;
  5.  Cabe à escola evitar aglomerações, na entrada, saída de alunos ou intervalos, criando horários alternativos para as turmas;
  6.  Jogos, competições, festas, reuniões, comemorações e atividades que envolvam coletividade devem ser temporariamente suspensos;
  7.  O ensino à distância, sempre que possível, deve ser estimulado;

Medidas de distanciamento social

As medidas de distanciamento social devem ser adotadas na escola, com o objetivo de diminuir o grande número de pessoas no mesmo espaço, reduzindo, assim, o contágio.

Em um primeiro momento o número de alunos por sala, sempre que possível, deve ser reduzido, e os alunos podem ser divididos em grupos que se alternem entre a atividade presencial e à distância, de acordo com as disciplinas curriculares.

O estabelecimento de ensino deve se organizar para que cada turma tenha o intervalo entre as aulas em horário diferente de outras turmas, assim como estabelecer horários de entrada e saída escalonados, evitando aglomerações.

Sempre que possível, é recomendável manter um espaçamento entre os alunos dentro da sala de aula, de acordo com a realidade de cada escola, idealmente com espaço mínimo de um metro entre as mesas.

Em relação ao transporte escolar, é necessário avaliar o número de usuários, para que se preserve a distância recomendável entre as pessoas também no veículo.

Alunos que tenham contraindicações de frequentar a escola por serem imunocomprometidos (ou tenham doenças crônicas) devem receber educação à distância, bem como professores e funcionários da escola que sejam pertencentes aos grupos de risco devem ser deslocados para funções distantes do contato com alunos.

Medidas educativas

É importante que cada escola adote políticas de educação para prevenção de infecções que envolvam alunos, pais, professores e funcionários.

Os pais devem ser orientados a não levarem seus filhos à escola ao menor indício de quadro infeccioso, seja febre, manifestações respiratórias, diarreia, entre outras.

Deve-se mantê-los afastados enquanto se aguarda a conclusão do diagnóstico, com o cuidado de não se estigmatizar o indivíduo, o que posteriormente pode trazer consequências negativas, como bullying entre as crianças.

Caso a criança ou membros da família apresentarem teste positivo para o SARS-CoV-2, a escola deve ser comunicada, sendo o seu retorno condicionado à melhora dos sintomas e não antes de 14 dias, a contar do primeiro dia do surgimento dos sintomas.

A escola deve ter um espaço reservado, para a situação em que haja adoecimento de algum aluno, professor ou funcionário. Dependendo do contexto clínico, pode haver a necessidade de conduzir o estudante para atendimento médico.

Outras medidas de higiene devem ser postas em prática na escola com o objetivo de diminuir a infecção entre as pessoas:

  • Higienização das mãos frequentemente, especialmente antes e após as refeições e a ida ao banheiro. Reforçar a técnica adequada, conforme orientada pelo Ministério da Saúde, com duração mínima de 40 segundos utilizando água e sabão ou de 20 segundos quando utilizado álcool gel;
  • A escola deve manter lavatórios em bom funcionamento, sinalizados e abastecidos com sabão e papel toalha;
  • Álcool em gel deve ser disponibilizado para alunos que possam utilizar com segurança e responsabilidade.
  • Manter higienizadores de mãos em sala de aula, corredores, banheiros e na entrada e saída da escola;
  • Evitar o uso e reuso de lenços de pano;
  • Orientar para o uso de lenços descartáveis ou do antebraço (cotovelo dobrado) ao tossir ou espirra;
  • Evitar tocar olhos, boca e nariz;
  • Orientar para que cada estudante traga e utilize sua própria garrafa de água, utilizando os bebedouros comuns apenas para encher essas garrafas novamente; proibir estudantes de beber diretamente do bebedouro;
  • Uso de máscaras deve ser estimulado. Está contraindicado em crianças menores de dois anos, pelo risco de sufocação e em indivíduos que apresentem dificuldade em removê-las, caso necessário. As máscaras devem ser trocadas a cada duas a quatro horas, ou antes, se estiverem sujas, úmidas ou rasgadas.

As medidas educativas devem ser adaptadas para as diversas faixas de idade (pré-escola, ensino fundamental, médio e superior), em linguagem e comunicação adequadas para cada fase.

Estas medidas devem ser estendidas ao ambiente doméstico da criança e a escola deve promover atividades educativas com intuito de reforçá-las, assim como exibir material ilustrativo em quadros de aviso, sala de aula, corredores etc.

Limpeza e desinfecção da escola

A escola deve proceder à limpeza de seus ambientes pelo menos uma vez ao dia e, mais frequentemente, das áreas de maior circulação de pessoas, assim como dos objetos mais tocados (maçanetas, interruptores, teclados, etc.).

Está recomendado o uso de solução de hipoclorito de sódio a 0,5% para limpar superfícies e de álcool a 70% para pequenos objetos.

Deve-se manter os ambientes arejados, de acordo com as condições climáticas, além de recolher o lixo com frequência e limpeza frequente dos bebedouros.

Considerações finais

A pandemia causada pela COVID-19 tem sido um aprendizado para todos, sobre o qual, a cada dia, vivenciamos fatos novos, exigindo constante atualização dos conhecimentos para um adequado enfrentamento desta grave situação.

Tem sido causa de estresse e ansiedade em grande parte das pessoas, e as crianças podem estar reagindo de formas diferentes, com alterações comportamentais, do sono e da alimentação.

É importante que a escola tenha um espaço para que a criança possa falar sobre seus sentimentos, medos e dúvidas.

Nos casos em que se identifique um quadro mais exacerbado a criança deve ser encaminhada para um acompanhamento especializado.

Estamos todos enfrentando uma crise de proporções mundiais, amplificada pela inédita conectividade planetária. Temos nos esforçado no autocuidado, no cuidado a outras pessoas e na adaptação às novas condições de vida, exigida pelas circunstâncias.

Mesmo com a adoção de medidas de mitigação durante o retorno às aulas, impactos emocionais, físicos e cognitivos são esperados no curto e médio prazo, e ações devem ser adotadas numa necessária parceria entre saúde e educação.

A escola é um espaço de inclusão, formação e de exercício de cidadania, e neste momento, deve buscar cumprir seu papel, inclusive de promotora da saúde, com segurança e responsabilidade.

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamentos Científicos de Imunizações e de Infectologia. COVID-19 e a volta às aulas. mai. 2020.

Departamento Científico de Imunizações

Presidente: Renato Ávila Kfouri; Secretária: Tania Cristina Barros Petraglia; Conselho Científico: Eduardo Jorge da Fonseca Lima, Helena Keico Sato, Heloisa Ihle Giamerardino, Solange Dourado de Andrade, Ricardo Queiroz Gurgel, Maria do Socorro Ferreira Martins, Sonia Maria de Faria.

Departamento Científico de Infectologia

Presidente: Marco Aurélio Palazzi Sáfadi; Secretária: Cristina de Oliveira Rodrigues; Conselho Científico: Analíria Moraes Pimentel, Aroldo Prohmannde Carvalho, Eitan Naaa Berezin, Euzanete Maria Coser, Maria Ângela Wanderley Rocha, Silvia Regina Marques.

Relatores: Ana Goretti Kalume Maranhão, Eduardo Jorge da Fonseca Lima, Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, Mariana Volpi Arnoni, Renato de Ávila Kfouri.

Anexo: algumas referências bíblicas sobre sabedoria:

Com os idosos está a sabedoria, e na longevidade o entendimento. Jó 12,12

Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos. Lucas 7,35

Com a sabedoria se edifica a casa, e com o entendimento ela se estabelece; Provérbios 24,3

Para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem, as palavras da prudência. Provérbios 1,2

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência. Provérbios 9,10

O Senhor, com sabedoria fundou a terra; com entendimento preparou os céus. Provérbios 3,19

Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Colossenses 2,3

Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. Colossenses 4,5

Eu, a sabedoria, habito com a prudência, e acho o conhecimento dos conselhos. Provérbios 8,12

E não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava. Atos 6,10

E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens. Lucas 2,52

Com ele está a sabedoria e a força; conselho e entendimento tem. Jó 12,13

E vinham de todos os povos a ouvir a sabedoria de Salomão, e de todos os reis da terra que tinham ouvido da sua sabedoria. 1 Reis 4,34

Tudo isto provei-o pela sabedoria; eu disse: Sabedoria adquirirei; mas ela ainda estava longe de mim. Eclesiastes 7,23

Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; 1 Coríntios 2,6

O coração do entendido adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios busca a sabedoria. Provérbios 18,15

O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução. Provérbios 1,7

Compra a verdade, e não a vendas; e também a sabedoria, a instrução e o entendimento. Provérbios 23, 23
 
Porém onde se achará a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência? Jó 28,1

Treinamento esfincteriano

O treinamento esfincteriano (TE) é um marco importante do desenvolvimento físico e psicológico em crianças, além de constituir um desafio para as famílias, pois ocorre quando a criança necessita de autoafirmação e há expectativa das famílias de que a continência ocorra o mais breve possível.

O TE representa um processo complexo que pode ser afetado pelas condições anatômicas, fisiológicas e comportamentais e as normas aceitas para a aquisição do TE relacionam-se mais com as diferenças culturais do que com as evidências científicas.

Quando a criança se conscientiza sobre sua própria necessidade de eliminar urina e fezes ela já pode ser considerada “treinada” para o controle e, então, pode iniciar o ato sem um lembrete ou um preparo por parte dos pais.

O controle da evacuação, em geral, precede o controle da micção. Os métodos para aquisição do TE têm variado ao longo dos anos e a Abordagem Orientada para a Criança indicada pela Academia Americana de Pediatria (AAP), mais comumente utilizada no mundo ocidental, recomenda que as crianças não sejam forçadas a iniciar o processo de TE até que apresentem os sinais de prontidão e que os pais estejam orientados para reconhecer esses sinais.

Nos últimos 50 anos, a média de idade na qual as crianças com desenvolvimento neuropsicomotor normal completam o TE aumentou de 24 meses para 36 a 39 meses.

O uso de fraldas descartáveis, pais que trabalham fora com menos tempo para orientar o TE dos seus filhos e a disponibilidade cada vez mais ampla de informações sobre técnicas da abordagem orientada para a criança são as possíveis explicações sugeridas para tal fenômeno de aumento na idade do TE.

No Brasil, a média de idade de início do processo do TE é em torno dos 22 meses e a média de conclusão aos 27,4 meses, ocorrendo mais precocemente nas meninas. O prazo de duração do processo fisiológico de TE pode variar entre 6 e 12 meses.

Já foi relatado que a ausência dos sinais de prontidão para o TE entre os 24 e 36 meses de idade está associada ao aparecimento de disfunção da bexiga e do intestino, de infecções do trato urinário e da recusa para ir ao banheiro.

Observa-se também maior prevalência de disfunção vesical em crianças que apresentam constipação intestinal funcional e que iniciam o TE precocemente, antes de 24 meses ou tardio, após 36 meses de idade.

No entanto, segundo a literatura, não existe correlação entre o método utilizado, a idade de término do TE aos 24 meses e o aparecimento de sintomas do trato urinário inferior.

O objetivo deste estudo é apresentar de forma prática os métodos mais utilizados para TE no nosso meio, as peculiaridades do processo e os problemas mais comuns associados. As orientações práticas aqui apresentadas para pediatras e pais têm o intuito de tornar esse processo mais eficiente e menos desgastante, envolvendo a criança e a família de forma ativa.

Quando a criança está pronta para iniciar o processo de treinamento esfincteriano?

  • Avaliação dos Sinais de Prontidão

A literatura pediátrica enfatiza a importância de a criança apresentar os sinais de prontidão, ou seja, habilidades físicas e psicológicas específicas antes de iniciar o TE.

As crianças com desenvolvimento neuropsicomotor normal começam mostrar as habilidades de prontidão e a maturidade física necessária para o TE geralmente entre 24 e 36 meses de idade.

É importante ressaltar que toda criança tem um desenvolvimento individualizado e, portanto, somente a idade não é um bom critério para decidir o momento de iniciar o TE. Apesar dessa importância percebida, os testes de rastreamento do desenvolvimento neuropsicomotor comumente usados em pediatria não fazem referência a alguma habilidade específica para TE.

Os principais sinais de prontidão estão relacionados à capacidade da criança de:

  1. Imitar o comportamento dos pais ou de cuidadores.
  2. Desejar agradar.
  3. Desejar ser autônoma: insistir em concluir tarefas sem ajuda e orgulhar-se de novas habilidades.
  4. Andar e estar apta a sentar-se de modo estável e sem ajuda.
  5. Pegar pequenos objetos.
  6. Ser capaz de dizer NÃO, como sinal de independência.
  7. Entender e responder a instruções e seguir comandos simples.
  8. Saber puxar as roupas para cima e para baixo.
  9. Possuir um vocabulário simples referente ao treinamento esfincteriano.
  10. Usar palavras, expressões faciais ou movimentos que indicam a necessidade de urinar ou evacuar.
  11. Mostrar interesse em outras pessoas que estejam usando o banheiro
  12. Ficar seca por duas horas ou mais durante o dia.
  13. Dizer que está “fazendo xixi” no momento da micção, em geral, nos banhos.
  14. Dizer aos pais que acabou de urinar ou evacuar em pequena quantidade na fralda e se incomodar com a fralda molhada. Tentar retirar fralda molhada ou pedir para ser trocado (consciência física).
  15. Não querer usar fraldas ou mostrar interesse em cuecas ou calcinha.
  16. Conseguir ficar parada no penico ou vaso sanitário por 3 a 5 minutos.
  17. Permanecer brincando com a mesma atividade por mais de 5 minutos.
  18. Ser capaz de apontar o que deseja.
  19. Ter iniciado a comunicação por palavras ou frases simples.
  20. Não apresentar atrasos nos marcos do desenvolvimento neuropsicomotor segundo escalas validadas internacionalmente.
  21. Compreender e seguir comandos simples.

Método: a abordagem orientada para a criança

A abordagem orientada para a criança, apoiada pela literatura e recomendada pela AAP, enfatiza que o processo de TE somente deverá ser iniciado quando a criança apresentar os sinais de prontidão.

A AAP recomenda somente o uso de elogios para reforço, desencorajando o uso de guloseimas ou recompensas materiais, como brinquedos.

Por volta dos 24 meses de idade, os sinais de prontidão para o TE da criança deverão ser avaliados pelo pediatra, tendo em mente as diferenças culturais.

Os pais e os cuidadores necessitarão estar disponíveis e motivados para iniciar o TE, assegurando que o tempo seja reservado para o processo inclusive com as adequações necessárias à rotina familiar.

O processo de TE não deverá ser iniciado em um momento de estresse da vida da criança ou da família (por exemplo, após uma mudança de casa ou após o nascimento de um novo irmão) e os pais deverão estar preparados emocionalmente para lidar com tranquilidade com as perdas urinárias e fecais inevitáveis, que ocorrerão até o final do processo de TE.

O ideal é que, em caso de a criança frequentar escola ou creche, que o TE seja iniciado de forma concomitante em todos os ambientes.

Instrumentos para o processo de treinamento

Penico ou vaso sanitário?

Antes de iniciar o processo do TE os pais precisarão decidir qual instrumento será utilizado: penico ou vaso sanitário.

O penico é geralmente preferido nos primeiros estágios do processo, pelo fato das crianças se sentirem mais seguras, não necessitar de redutor para o vaso sanitário, as pernas ficarem bem apoiadas, o dispositivo pode ter motivos lúdicos, poder ser deslocado para outros ambientes.

O penico também fornece a melhor posição biomecânica para a criança. O fundamental é tornar o processo de TE fácil e o mais divertido possível para a criança, sem qualquer forma de cobrança. Apesar de o penico ser preferível, algumas crianças gostam de imitar os pais e preferem os vasos sanitários. Nesses casos esses podem ser utilizados para o TE, desde que os pés fiquem apoiados e haja um redutor.

  1. Penico

O equipamento na abordagem orientada pela criança é o penico, considerado uma ferramenta que auxilia na avaliação dos sinais prontidão. Os pais deverão apresentar o penico como objeto pessoal da criança.

Ele deverá ser escolhido junto com a criança e colocado em um local conveniente para que ela se sinta atraída a usá-lo. A criança deve ser ensinada a observar, tocar e familiarizar-se com o penico bem antes de seu uso ser encorajado, em um momento prazeroso e lúdico. Quando a criança começar a mostrar interesse em usar o penico, os pais devem deixá-la sentar-se sobre ele totalmente vestida, para evitar um desconforto inicial e gerar confiança, sem criar nenhuma expectativa.

Nunca forçar a criança a sentar-se ou permanecer sentada no penico.

Em seguida, a criança é incentivada a sentar-se no penico após a remoção de uma fralda molhada ou com fezes. Para ajudar a criança na conceituação e compreensão do processo, os pais podem ser ensinados a demonstrar o propósito do penico, por exemplo, depositando nele o conteúdo de fraldas sujas.

Finalmente, a criança é encorajada a desenvolver uma rotina de sentar-se no penico em horários específicos do dia (por exemplo, depois de acordar de manhã, após as refeições ou lanches, antes de dormir). É importante elogiar a criança sempre que ela se sentar no penico.

Uma vez que a criança usou o penico com sucesso por uma semana ou mais, pode-se desfraldar a criança. Existem calças de treinamento (laváveis e reutilizáveis) que podem facilitar o processo para os pais. O ideal é que o treinamento esfincteriano seja completo e que se evite usar a fralda durante o dia, o que pode confundir a criança e dificultar o processo.

Perdas urinárias ou fecais são inevitáveis, e os pais precisam ser compreensivos e mostrar à criança que isso pode acontecer. Importante sempre demonstrar naturalidade e evitar criticar ou repreender a criança nessas situações de perdas.

A transição para o vaso sanitário somente deverá ser iniciada quando a criança estiver segura e treinada no uso do penico.

Na maioria das vezes, a criança senta-se com mais facilidade no penico e sente-se mais segura por não ser tão alto e não ter água no fundo. Além disso, será mais fácil levá-lo quando a criança estiver fora de casa.

O penico deve ser colocado em algum lugar de rápido alcance da criança, porque no início do processo, há pouca percepção sobre a eliminação de pequena quantidade de urina ou fezes. Uma boa estratégia é a criança escolher o tipo de penico que irá usar.

  1. Vaso sanitário

Caso os pais e a criança optem pelo vaso sanitário é necessário colocar um redutor de assento de vaso sanitário e um apoio para os pés para que fiquem firmes e seguros.

Um banco elevado será usado tanto para a criança alcançar o assento, quanto para apoiar os pés enquanto estiver sentada, dando a sensação de que ela pode sair quando for preciso e auxiliando-a na posição mais fisiológica para a evacuação.

Algumas crianças têm medo de cair no vaso sanitário (mesmo com o redutor de assento) e do barulho da descarga de água. É importante orientar que, nesses casos, usar um penico pode ser mais fácil.

Como a criança aprende muito pelo exemplo, os pais devem demonstrar como eles usam o vaso sanitário. Repetir as demonstrações faz a criança ganhar segurança.

Muitas vezes, os pediatras são questionados sobre o melhor momento e método para o aprendizado do TE. Alcançar esse marco de desenvolvimento pode ser complexo, tanto para a criança, quanto para os pais. Para ajudar a facilitar o processo de TE, os pediatras devem informar aos pais sobre o método, capacitando-os para perceber o momento e a forma ideal.

Antes do início do TE, o pediatra deve avaliar a criança quanto aos sinais de prontidão com o intuito de ajudar os pais a planejar esse período de transição, além de definir se a criança apresenta algum quadro clínico que pode interferir com o treinamento.

Também é importante considerar o temperamento de cada criança e a hora do dia em que ela é mais acessível e cooperativa. Se a criança for tímida e retraída, ela pode precisar de apoio e incentivo adicionais.

É fundamental entender o nível de frustração da criança e estar pronto a apoiá-la e tranquilizá-la a cada passo.

É importante que, na presença de constipação intestinal funcional, o tratamento dessa condição seja instituído antes do início do processo do TE. É fundamental, verificar a consistência das fezes da criança pela Escala de Bristol Modificada para a Criança.

A consistência endurecida (Bristol 1 e 2) pode tornar o processo de evacuação difícil e doloroso. Dieta rica em fibras, quantidade reduzida de produtos lácteos associada à ingestão hídrica adequada pode auxiliar para a obtenção da consistência fecal normal (Bristol 3 e 4), manter os movimentos intestinais regulares e uma fácil eliminação das fezes.

Ressalta-se que se a criança se sentir pressionada, se os pais se referem às eliminações como algo inadequado, sujo, e de odor ruim, ou se o processo de TE for estressante, ela pode começar a reter a urina ou fezes. Nesses casos, o processo deve ser interrompido e deve-se aguardar o momento no qual a criança ou a família esteja mais receptiva para reiniciar o treinamento.

Orientação aos pais para o processo do treinamento esfincteriano.

Como já mencionado, o TE inclui reconhecer a vontade de urinar e evacuar, despir-se, andar até o penico ou vaso sanitário, limpar-se, vestir-se, sendo fundamental reforçar o sucesso da criança em cada passo. Quanto mais pronta a criança estiver ao iniciar, mais rapidamente concluirá o processo de TE. O sucesso inicial depende da compreensão da criança sobre o uso do banheiro.

As orientações aos pais consistem em:

  1. Incentivá-los a conversarem entre si sobre como farão para ajudar a criança a iniciar e completar o TE. Escolher um horário em que os mesmos tenham tempo e paciência para dar a atenção necessária. Os finais de semana e feriados deverão ser bem aproveitados, caso algum dos pais estiver de folga do trabalho.
  2. Solicitar que oriente aos demais cuidadores que a criança se encontra em processo de TE e que o sucesso depende muito da continuidade e da atitude dos adultos. Evitar que a escola defina o período de TE em conjunto na sala, sem individualizar cada criança em relação à sua idade, seu desenvolvimento e a presença dos sinais de prontidão.
  3. Auxiliar a criança a preparar-se para o processo do TE, mostrando a ela que urinar e evacuar são normais a todas as pessoas. Pode-se usar a expressão: “a partir de hoje você vai fazer xixi e cocô (ou urinar e defecar) igual a gente grande, igual ao papai e à mamãe”.
  4. Incentivar a criança a acompanhar os pais ao banheiro e conversar sobre a sua utilização.
  5. Ensinar à criança as palavras necessárias para o processo do TE. Estabelecer uma conversa padrão no banheiro. Alguns especialistas recomendam usar palavras formais (defecar, urinar) em vez de jargões, para que as crianças não fiquem constrangidas com termos infantis quando forem mais velhas – mas o mais importante é ser consistente no seu uso e utilizar uma forma de comunicação que a criança entenda e que consiga se fazer entender em todos os contextos. E nunca se referir ao conteúdo das fraldas com nomes pejorativos ou com desprezo.
  6. Ressaltar sobre a importância de garantir que a área do banheiro seja totalmente sem riscos, com os produtos de limpeza e de higiene pessoal mantidos fora de alcance das crianças. Assentos, penicos e bancos devem ser firmes e seguros. Além de cuidar para que esteja limpo e sem odor desagradável. Algumas crianças relutam ir ao banheiro por causa dessas características.
  7. Vestir a criança com roupas que sejam mais simples de colocar, de retirar e de lavar. O processo de TE será mais fácil nos dias mais quentes, pois menos roupas serão removidas além de não ter a sensação de desconforto da baixa temperatura.
  8. Incentivar a criança a avisar quando da eliminação de urina e/ou fezes, na fralda, mesmo as pequenas quantidades. É fundamental que os pais entendam os sinais que expressam que a criança está prestes a urinar ou evacuar (por ex. cruzar as pernas ou agachar) com a finalidade de guiar a criança para o banheiro ou penico. Muitas crianças apertam os genitais para conter a urina. Sempre que a criança realizar algumas dessas manobras os pais devem levá-la ao penico ou ao toalete, mesmo que ela diga que não está com vontade, de forma carinhosa e com paciência. Os pais precisam estar prontamente disponíveis para atender as demandas, pois o tempo, entre o momento que a criança tem a sensação que vai urinar ou evacuar e o ato de eliminar propriamente dito, é muito curto.
  9. Para a criança ganhar autonomia para a defecação, convém colocá-la sentada no penico ou vaso sanitário sem fralda, nos horários em que a mesma geralmente evacua, por exemplo, alguns minutos depois de uma refeição. Também colocá-la para urinar depois de uma soneca caso acorde seca é educativo. Não é recomendável manter a criança sentada no penico ou no vaso sanitário por mais de 3 a 5 minutos aguardando a eliminação. Pode parecer uma punição e não a auxilia para a aquisição do TE.
  10. Explicar que a criança ainda não tem as habilidades para realizar a higiene íntima corretamente após urinar ou evacuar. Então será necessário auxiliá-las até que consigam fazer adequadamente sozinhas. Vale a pena ressaltar a importância de ensiná-las a lavar as mãos depois de usar o vaso sanitário ou o penico.
  11. Solicitar e auxiliar os pais a terem paciência durante todo o processo. Pode levar várias semanas para que a criança consiga a aquisição do TE. Expectativas irrealistas dos pais, início do TE muito precoce ou de maneira agressiva poderão determinar redução da autoconfiança da criança.

Importante:

  1. Decida o vocabulário a ser usado.
  2. Assegure-se de que penico ou o vaso sanitário sejam facilmente acessíveis.
  3. Se usar o vaso sanitário, use um redutor de assento e um apoio para pés.
  4. Permitir a criança assisti-lo ao usar o banheiro.
  5. Incentive a criança a avisar quando ela sentir que urinou ou evacuou em pequena quantidade ou quando sentir vontade.
  6. Elogiar o sucesso e a tentativa de avisar mesmo quando ocorreu perda.
  7. Aprender os sinais comportamentais da criança quando ela estiver na iminência de urinar ou evacuar.
  8. Não esperar resultados imediatos; as perdas fazem parte do processo.
  9. Garantir a cooperação de todos os cuidadores para fornecer uma abordagem consistente.
  10. Após sucessos repetidos, usar calças de treino ou roupas íntimas.
  11. Sempre encorajar a criança com elogios e sem guloseimas. Não é permitido qualquer punição e/ou esforço negativo.

Peculiaridades na orientação aos pais: abordagem em meninos e meninas

Meninos

Os pais deverão certificar-se que o menino esteja vestindo calças ou “shorts” com uma cintura elástica que é fácil de puxar para baixo quando for urinar ou evacuar.

No início do processo adotar a posição sentada, tanto para urinar como para evacuar, com o intuito de evitar um fator de confusão.

Gradualmente, durante o processo de TE, poderá urinar em pé, como o pai. É necessário ensinar direcionar a pênis corretamente. O penico é uma ótima ferramenta para ajudar o menino a aprender a direcionar corretamente o pênis para urinar.

Meninas

Orientar as meninas a limpar a região genital iniciando da parte de frente para trás, evitando assim a contaminação da vagina com as fezes. Ensinar também a levantar a saia ou vestido ou baixar o “short” para uso do penico ou vaso sanitário. Duchas vaginais não são aconselháveis.

O processo de treinamento esfincteriano

Aproximadamente 2% a 3% das crianças com desenvolvimento neuropsicomotor adequado e sem doenças crônicas ou neurológicas apresentam problemas durante o processo do TE.

O insucesso do TE é muito frequente quando iniciado na ausência de sinais de prontidão. Se a criança não estiver pronta, as tentativas em concluir o TE não serão eficazes.

Os pais devem ser aconselhados a não se envolver em uma “batalha” com o processo, que prejudica o relacionamento entre pais e filhos, a autoimagem da criança e a aquisição natural do TE.

Outra causa de insucesso ocorre quando o TE é iniciado em apenas um ambiente em que a criança convive; ou quando há falta de homogeneidade na orientação por parte de um dos pais (cada pai orienta de uma forma, ou um permite o uso de fraldas na ausência do outro, ou um é muito exigente e o outro permissivo) ou entre o ambiente casa/escola.

Se uma criança expressar a recusa para o TE, uma pausa de um a três meses é sugerida. Isso permite que a confiança e cooperação sejam restabelecidas entre pais e filhos.

Depois desse intervalo, a maioria das crianças está pronta para reiniciar o treinamento.

Em caso de tentativas repetidas mal sucedidas; crianças com 36 meses ou mais que não apresentam sinais de prontidão; ou 48 meses ou mais sem terem concluído o TE diurno, o pediatra deverá explorar aspectos do relacionamento da criança com os pais, ou mesmo descartar anormalidades físicas e/ou de desenvolvimento neuropsicomotor.

Entre elas podem ser citados: deficiência intelectual, transtornos do espectro autista, transtorno comportamentais, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, espinha bífida oculta ou estigma sacral relacionados com malformação da inervação do trato urinário, bexiga neurogênica, intestino neurogênico, doenças que acometem a medula espinhal e seus ramos para o trato intestinal e urinário, hipotonia, estresse tóxico, abuso sexual, prolapso retal, diarreia crônica etc.

O diagnóstico precoce dessas condições pode evitar consequências psicológicas, emocionais e orgânicas nas crianças. Muitas crianças se escondem enquanto evacuam em suas fraldas durante o processo do TE. Isso pode ocorrer porque preferem defecar sozinhas, têm medo do vaso sanitário ou não gostam do banheiro.

Nas crianças constipadas, o tratamento da constipação resolve a situação. Cerca de 20% das crianças recusam a ser treinadas para a eliminação das fezes durante o processo do TE.

Essa recusa poderá estar associada à retenção fecal, atraso na conclusão do TE e incontinência fecal. É importante que os pais sejam aconselhados a não usar termos pejorativos para as fezes ou para o ato de evacuar, bem como sinais de que possam sugerir nojo relacionado ao ato (como, por exemplo, fralda suja ou com cheiro ruim).

Os problemas mais comuns durante o processo do TE são:

  1. Recusa para treinamento de eliminação das fezes

Diagnosticada quando uma criança treinada para urinar no penico ou vaso sanitário se recusa a evacuar nesses locais por, no mínimo, um mês. Dois comportamentos associados à recusa do treinamento para eliminação de fezes podem exigir a intervenção do pediatra:

  • Retenção de fezes causando constipação intestinal que pode resultar em impactação de fezes no reto e incontinência fecal.
  • Falha na aquisição de treinamento esfincteriano para eliminação de fezes aos 42 meses de idade.
  1. Retenção de fezes

Ocorre quando a criança usa manobras físicas na tentativa de evitar a evacuação. A constrição voluntária do esfíncter durante a contração vesical ou do reto pode levar à constipação intestinal. Os principais sinais de a criança estar constipada são dor à defecação, esforço excessivo no ato ou defecar menos de 4 vezes por semana. As intervenções mais comuns para retenção de fezes incluem tratamento agressivo de constipação e retomada do uso de fraldas.

  1. Esconder-se para eliminar fezes

Algumas crianças que concluíram o treinamento esfincteriano vesical pedem fraldas ou se escondem durante a evacuação ao invés de usar o penico ou vaso sanitário. O início desse comportamento é mais comum em torno dos 22 meses de idade. Geralmente associa-se à retenção de fezes e a desenvolverem constipação intestinal. Há melhora com o tratamento agressivo da “constipação”.

  1. Necessidade do uso de fraldas após completar o TE

Em geral é um sinal de disfunção vésico- -intestinal ou está associada a algum evento estressante na vida da criança. Necessitará de uma investigação mais aprofundada. O prolongamento do TE ou a presença de infeção urinária chama a atenção de que pode estar havendo uma disfunção vesical.

Passos para o sucesso do treinamento esfincteriano:

  1. Procurar por sinais de prontidão.
  2. Falar sobre o banheiro com a criança.
  3. Escolher o penico ou o vaso sanitário com redutor de assento e apoio dos pés adequados a criança.
  4. Escolher o momento certo.
  5. Demonstrar o método.
  6. Realizar o reforço positivo.
  7. Lidar com naturalidade e paciência.
  8. Ensinar a higiene adequada.

Conclusão

O processo de TE mudou significativamente ao longo dos anos e em diferentes culturas. Na cultura ocidental, recomenda-se uma abordagem centrada na criança, na qual as etapas são individualizadas o máximo possível.

Em geral, os pediatras somente são procurados para o aconselhamento sobre o TE quando há problemas no processo. Uma atitude proativa do pediatra com o aconselhamento antecipatório, abordando as percepções e equívocos familiares e auxiliando os pais a desenvolver expectativas razoáveis ajuda para que essa fase do desenvolvimento da criança ocorra da maneira mais tranquila possível.

O ideal é que ocorra uma avaliação sobre as habilidades de prontidão nas crianças aos 24 meses.

Os componentes necessários incluem avaliar os sinais de prontidão da criança, a dinâmica familiar, fornecer educação e apoio e desenvolver metas de curto e longo prazo para acompanhamento.

Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento – Presidente: Liubiana Arantes de Araújo.

Departamento de Urologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Urologia – Coordenador: Atila Victal Rondon.

Autores: Flavia Cristina de Carvalho Mrad, Mônica Maria de Almeida Vasconcellos, José de Bessa Junior, Atila Victal Rondon, Liubiana Arantes de Araújo, Ubirajara Barroso Junior, José Murillo de Basttos Netto, setembro de 2019.

Disquesia

Etimologia (origem da palavra): Do grego dys + chézein, defecar + ia. Dificuldade para defecar, para expelir os excrementos.

Existem “doenças” que não costumam apresentar alterações orgânicas. Entre elas, estão os chamados distúrbios funcionais do trato gastrointestinal, definidos como combinações variáveis de sintomas crônicos ou recorrentes do aparelho digestório, não explicados por anormalidades estruturais ou bioquímicas.

Na prática pediátrica, esses transtornos são frequentes. Em determinados casos é necessária a investigação clínica e laboratorial. Sendo a criança um ser em desenvolvimento, alguns distúrbios são próprios de determinada faixa etária.

Assim, a regurgitação, disquesia e diarreia funcional podem ocorrem nas crianças pequenas. Enquanto a retenção de fezes pela não aquisição da função motora normal (esfincteriana), nas maiores.

Por outro lado, a caracterização de certos distúrbios depende da maturidade cognitiva, ou seja, a criança deve ter idade adequada para reconhecer e expressar seus sintomas. Assim, a dispepsia funcional, a síndrome do intestino irritável e a dor abdominal funcional são definidas com critérios semelhantes aos dos adultos.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acrescenta:

Meu filho só mama no peito e quando quer fazer cocô chora e faz muita força, mesmo com as fezes moles. Isso é normal?

Nos primeiros meses de vida, bebê que só mama no peito pode evacuar fezes amolecidas a cada mamada, como ficar até 7 dias sem evacuar. Tudo isso pode ser normal.

Ele pode também, quando sentir vontade de fazer cocô, fazer muita força, ficar vermelho, chorar, gemer, levar até 20 minutos para conseguir evacuar, mesmo com as fezes moles. Isso tem nome científico: DISQUESIA.

Não se considera doença

Pode acontecer em bebês que mamam só leite materno ou também nos que usam outro leite, e não é doença. O bebê não nasce pronto. Vai se desenvolvendo aos poucos, com o tempo.

O sistema digestivo também é assim: a criança precisa saber coordenar a vontade de evacuar com o relaxamento da musculatura pélvica e a abertura do esfíncter anal para conseguir eliminar as fezes. Com o tempo ela aprende a fazer isso.

O que fazer nestes casos?

Seu bebê vai crescer, se desenvolver, amadurecer e aprender. A disquesia costuma passar sozinha e ele vai fazer cocô normalmente, sem sofrimento. Nem para ele, nem para você.

A SBP apresenta 4 dicas que as famílias podem adotar nesses casos:

  1. Não se desespere, mesmo que pareça que o seu bebê esteja sofrendo muito. Com o seu instinto, tente consolá-lo com afagos e carinhos. Dobrar as pernas do bebê sobre a barriga dele pode ajudar.
  2. Isso não é prisão de ventre. Sendo assim, não medique com remédios laxantes.
  3. Antes dos 6 meses evite iniciar qualquer outro alimento por conta própria (sucos, frutas laxantes, chás e outros leites), principalmente se o bebê estiver em aleitamento materno exclusivo.
  4. Estimular o ânus (com supositório e outros agentes) pode “dar certo” num primeiro momento. Mas a criança pode se acostumar a evacuar somente se receber esses estímulos. E isso não é bom.

E lembre-se: em qualquer caso de dúvida, fale sempre com seu (sua) pediatra!

Fontes:

http://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/nutricao/disquesia/

COSTA, C.D. Distúrbios Funcionais do Trato Gastrointestinal. Disponível em: file:///C:/Users/fcrbr_000/Downloads/338-43145-1-PB.pdf Acesso em 09 mar. 2019

Refeições em família: crianças e pais à mesa

A hora da refeição é uma correria para muitas famílias: agendas que não batem, cansaço depois de um dia intenso e pouco tempo para preparar refeições nutritivas.

O resultado é que, às vezes, cada pessoa se alimenta do seu jeito, no seu canto, num horário diferente, diante de uma tela (TV, celular etc.).

A Universidade Harvard analisou 15 anos de pesquisas acadêmicas sobre refeições familiares e descobriu resultados significativos.

Resultados 

Crianças que jantam regularmente em família costumam consumir mais nutrientes (frutas e vegetais), têm menor propensão a obesidade e distúrbios alimentares importantes quando adultos.

Foram identificados, também, outros benefícios importantes: menos uso de drogas, menos depressão, mais resiliência, vocabulário mais amplo, maior capacidade de leitura e, no geral, notas melhores na escola.

“Muitos fatores estão por trás disso, mas em grande parte esses benefícios se devem aos laços criados durante as refeições. É um momento de criar tradições familiares, de aproveitar a companhia um do outro e de simplesmente estar juntos”, diz à BBC News Brasil Lynn Barendsen, diretora-executiva do Family Dinner Project (Projeto Jantar em Família), da Escola de Educação de Harvard.

Adolescentes e propensão à dependência química

Um dos estudos levantados pelo projeto foi feito pela Universidade de Columbia, e comparou adolescentes que faziam refeições familiares frequentes (cinco a sete vezes por semana) aos que faziam menos de três refeições semanais. Estes últimos apresentaram o dobro de propensão de experimentar drogas. Um motivo por trás disso seria que as refeições davam aos jovens a chance de conversar com seus parentes sobre seu cotidiano.

Mais de 12 mil famílias

O Projeto Jantar em Família passou a elaborar e divulgar estratégias, receitas e até dicas de tópicos de conversa para incentivar refeições familiares que fossem menos estressantes e mais benéficas para todos. O projeto atende a 12 mil famílias diretamente e a outras centenas de milhares online.

A BBC News Brasil levantou algumas dessas dicas e estratégias para famílias que queiram melhorar – e multiplicar – as refeições conjuntas.

Barendsen ressalta que não há uma cartilha ou regra única para ser adotada por todos: cada família pode avaliar o que serve ou não para suas necessidades e o que ajuda ou não a deixar suas refeições mais prazerosas.

Criar hábitos aos poucos, sem se preocupar com a perfeição

“Em geral, as famílias que acompanhamos têm diferentes obstáculos: falta de tempo para cozinhar, o que gera estresse; reunir todos os membros da família ao mesmo tempo; não saber cozinhar; ter membros da família que sejam chatos para comer; ou estar em momentos de dificuldade financeira, tendo que trabalhar em excesso”, diz Barendsen.

“A questão é identificar qual obstáculo dificulta as suas refeições e pensar em metas realistas, pequenas. Para uma família que só tem conseguido comer fast food todos os dias, não adianta esperar que todas as refeições passem a ser orgânicas. É um bom começo se eles passarem a comer melhor e juntos um dia por semana, ou a experimentar um alimento novo por semana, e aos poucos elas podem evoluir a partir daí.”

Entre as 21 oportunidades de refeição de cada semana, se a família conseguir aproveitar uma ou outra para se reunir e conversar já estará dando passos importantes.

Se o pai só chega em casa depois de os filhos terem jantado, a reunião familiar pode se dar durante a sobremesa.

Sugestões I:
  1. Tirar um tempinho do fim de semana para planejar as refeições da semana seguinte facilita a organização da família.
  2. Cozinhar em maior quantidade e com antecedência, congelando porções em seguida.
  3. “Trocar” refeições com outras famílias em situação parecida: você prepara uma quantidade dobrada da mesma comida e troca com a outra família o prato que ela fez em dobro; assim, ambas vão ter uma variedade maior de pratos.
  4. Dividir as tarefas relacionadas às refeições é importante para evitar que um único membro da família (geralmente, a mãe) fique sobrecarregado com compras, preparo e limpeza. “Dá para criar tradições familiares e dividir as tarefas de compras e limpeza, por exemplo, incluindo as crianças – cada dia da semana uma lava a louça”, sugere Barendsen.

A conversa importa tanto quanto a comida

A pesquisadora sugere deixar assuntos espinhosos (notas na escola, por exemplo) para outros momentos da vida familiar. E preservar as refeições para conversas descontraídas, jogos e brincadeiras.

“A conversa e a diversão das refeições importam exatamente o mesmo que a (qualidade da) comida”, afirma Barendsen.

“Se as refeições forem só de perguntas sobre o dia na escola, os jovens não vão querer participar, por exemplo. Se a conversa for algo leve, vai estimulá-los a expressar seus pontos de vista, aprender a respeitar opiniões alheias e a desenvolver mais vocabulário até mesmo do que se os pais estivessem lendo com eles.”

Sugestões II
  1. Conversar sobre filmes e séries de TV em vez de escola ou trabalho, caso esses assuntos gerem discussões muito acaloradas e improdutivas.
  2. Deixar cada membro da família ter um dia para escolher a música que será ouvida durante a refeição.
  3. Ter em mãos temas reflexivos para estimular as conversas com as crianças: “se você ganhasse na loteria, o que faria com o dinheiro?”; “se você pudesse voltar ao passado, que coisas traria para o presente?”; “conte duas coisas boas do seu dia.”
  4. Em vez de fazer perguntas, pode-se propor reflexões sobre partes do dia da criança ou adolescente. “Pensei em você na hora do almoço porque sabia que você estaria fazendo aquela prova difícil e fiquei torcendo para ir tudo bem”. Não espere uma resposta, apenas veja se ela vai usar a deixa para conversar.
  5. Se ajudar a prevenir o estresse, talvez valha evitar a “fiscalização” constante do prato das crianças, dando a elas alguma autonomia. Ter mais de um vegetal disponível na refeição permite, por exemplo, que a criança escolha um caso não queira comer o outro.

Caso os pais achem válido brincar com a comida no prato, Barendsen sugere que fazer um rosto com cabelo de alface e olhos de azeitona, por exemplo, pode ajudar a tornar a refeição mais divertida.

A comida importa muito: mas pode ser simples e rápida

Poucas famílias têm tempo para elaborar múltiplos pratos complexos para todas as refeições – e isso nem é necessário.

“Dá para pensar em pratos rápidos e nutritivos e envolver a família no preparo”, diz Barendsen. “Lembrando que não há um número mágico em que as refeições em família começam a surtir efeito, e a única coisa que não pode faltar é desfrutar a companhia um do outro.”

Sugestões III:
  1. As crianças estão com fome e a comida não está pronta? Uma ideia é usar frutas e vegetais como lanchinho – pedaços de cenoura, manga, brócolis, pepino ou azeitona, por exemplo. Daí você não precisa se preocupar quanto a se elas vão comer frutas e vegetais durante a refeição.
  2. Bolar refeições de “uma panela só”: um macarrão enriquecido com vegetais, um risoto com múltiplos ingredientes ou um wrap/sanduíche/panqueca/pizza caseira em que cada membro da família possa montar com os ingredientes (desde que saudáveis) de sua escolha.
  3. Para manter as crianças sentadas à mesa e conversando por mais tempo, uma possibilidade é ter como atrativo sobremesas simples e saudáveis – raspadinha de frutas, sorvete de banana congelada, bolos de frutas.
  4. Envolva as crianças no preparo: por exemplo, oferecendo duas opções de menu e deixando elas escolherem uma; levando-as à feira para que conheçam os alimentos in natura e pedindo para que elas escolham um que nunca viram – depois, vocês podem bolar juntos uma receita para esse alimento novo.
  5. As crianças também podem se divertir ajudando a pôr a mesa, medindo ingredientes, ligando o liquidificador e (com muito cuidado e supervisão), dependendo da idade, cortando vegetais e mexendo na panela.
  6. Elabore uma lista de receitas simples às quais você possa recorrer quando estiver com pressa e sem ideias, e mantenha ingredientes-chave na geladeira. Vegetais congelados, queijo e pedaços de pão podem virar uma refeição improvisada em questão de minutos.
  7. Com bebês e crianças pequenas, é necessário oferecer o mesmo alimento diversas vezes – e de diversos jeitos – para eles se acostumarem ao sabor. E pode ser que haja bagunça e sujeira. Se o resultado forem refeições mais divertidas, talvez valha relevar a confusão. Vai depender da dinâmica de cada casa.
  8. Pensar fora da caixa: se não deu para se reunir no jantar de ontem, quem sabe dá para organizar um café da manhã juntos ou um lanchinho antes de dormir? Se a mesa de jantar está cheia de papéis, dá para estender a toalha no chão e fazer um piquenique improvisado.

Permitir ou não eletrônicos?

Para Barendsen, cada família deve avaliar o que funciona ou não para si – e fazer acordos a partir disso. É o que vale, por exemplo, para o dilema de permitir ou não o uso de eletrônicos durante as refeições.

“A ideia é, novamente, que não adianta esperar perfeição, e tem gente que não consegue ficar longe do celular, embora eu coloque os eletrônicos na lista de coisas que podem perturbar as refeições”, diz ela.

“Há famílias que vetam o uso de eletrônicos, há as que permitem o uso se for alguma mensagem urgente e há as que usam os eletrônicos em favor das conversas e da integração familiar – para ver um vídeo que pode servir de assunto ou para conversar via Skype com o pai que não chegou a tempo para o jantar.”

Se a ideia for vetar os eletrônicos, ela sugere fazê-lo em pequenos passos e sempre em comum acordo com a família.

Começar tradições familiares

Um dos princípios do Projeto Jantar em Família é que “as refeições familiares têm o poder de estimular o pensamento ético”.

E Barendsen conta ter visto isso na prática. “Uma das famílias que acompanhamos é de uma mãe que certa noite estava jantando com seus dois filhos, quando perguntou: ‘se vocês ganhassem na loteria, o que fariam com o dinheiro?’. Ela esperava uma resposta brincalhona, mas ouviu de um deles, ‘eu daria o dinheiro para caridade’. Foi uma conversa de dez minutos no jantar que deu início a uma tradição familiar: eles reservaram um pote no qual juntam dinheiro para doar.”

Sugestões IV:
  •  Aproveitar as refeições para conversar sobre projetos em família: uma viagem que queiram fazer juntos, uma decisão que queiram tomar ou um esforço coletivo (por exemplo, mudar os hábitos alimentares de todos).
  •  Celebrar pequenas conquistas cotidianas: transformar as refeições em ocasiões especiais para comemorar não apenas aniversários, mas também quando um dos membros da família concluir um projeto difícil (desde aprender a andar de bicicleta a entregar um trabalho escolar) ou fizer algo especial.

Fonte: IDOETA, Paula Adamo. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/geral-45424589

Afogamentos

Medidas de prevenção de afogamentos

  • Fonte: Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do Paraná.  
  • Agradecimento ao colega Dr. Leonardo Nese, pediatra (Niterói/RJ).

  • Crianças devem ser incentivadas a aprender a flutuar a partir de um ano e nadar a partir de quatro anos.

  • Mantenha atenção constante nas crianças.

  • Nunca nade sozinho.

  • Evite mergulhar em local onde você desconheça a profundidade.
  • Prefira sempre nadar em águas rasas.

  • Não superestime sua capacidade de nadar, tenha cuidado.

Na praia

  1. Pergunte ao guarda-vidas o melhor local para o banho de mar.
  2. Se possível, nade sempre perto de um guarda-vidas.
  3. Não superestime sua capacidade de nadar. A metade dos afogados acha que sabe nadar. 
  4. Tenha sempre atenção com as crianças.
  5. Nade longe de pedras, estacas ou píeres. 
  6. Evite ingerir bebidas alcoólicas antes do banho de mar.
  7. Crianças perdidas: leve-as a um posto de guarda-vidas. 
  8. Mais de 80% dos afogamentos ocorrem em valas:
    • A vala (ou corrente de retorno) é o local de maior correnteza, que aparenta uma falsa calmaria que leva para o alto mar.
    • Se você entrar em uma vala, nade paralelamente a ela até conseguir escapar ou peça por socorro imediatamente.
  9. Nunca tente salvar alguém se você não for preparado para fazê-lo. Muitas pessoas morrem dessa forma.
  10. Ao pescar em pedras, observe antes se as ondas podem alcançá-lo.
  11. Antes de mergulhar no mar cerifique-se da profundidade.
  12. Afaste-se de animais marinhos como águas-vivas e caravelas.

Na piscina

  • 65% dos afogamentos ocorrem em água doce.
  • Crianças devem sempre estar sob a supervisão de um adulto.

  • Não permita o acesso à piscina para crianças menores desacompanhadas.

  • Caso você necessite se afastar da piscina, leve sua criança consigo.
  • Isole sua piscina. Tenha grades com altura de 1,50m e 12 cm entre as verticais. O portão de acesso deve possuir trava superior.

  • Utilize ralos que evitam sugar o cabelo (ralos “antihair”).
  • Evite deixar brinquedos próximos à piscina. Isso atrai as crianças.
  • Não pratique “prender o fôlego” ou “travessias submersas” sem supervisão confiável.
  • Não utilize boias ou flutuadores. Prefira um colete salva-vidas.
  • Desligue o filtro da piscina em caso de uso.

  • Evite o choque térmico (hidrocussão): antes de entrar na água, molhe a face e a nuca.
  • Cuidado ao mergulhar em local raso. Pessoas ficaram paralíticas dessa forma.

Em rios, lagos, tanques etc.

  • Não entre em rios de corredeira para atividades de banho ou natação. É muito perigoso.
  • Se entrar em represas, lagos, açudes, remanso de rio use coletes salva-vidas homologado e de tamanho adequado.
  • Em embarcações, recomenda-se sempre o uso de colete salva-vidas, homologado e do tamanho certo.
Observação:

O número de óbitos por afogamento em nosso país se aproxima dos 6.000 casos por ano, isto sem falar nos acidentes não fatais que chegam a mais de 100.000.

Com o crescimento do número de pessoas susceptíveis a acidentes na água, seja pela prática de esportes aquáticos, transporte, trabalho, natação recreativa ou mesmo banho; em piscinas ou praias, tornou-se fundamental agir para se evitar o afogamento.

Conheça o site da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático:  http://www.sobrasa.org/prevencao/

http://www.defesacivil.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=262

Exposição de crianças e adolescentes a conteúdos impróprios na TV

Nota da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) à sociedade e aos médicos contrária à exposição de crianças e adolescentes a conteúdos impróprios na TV

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em nome de cerca de 40 mil especialistas na saúde física, mental e emocional de cerca de 60 milhões de crianças e adolescentes, vê com preocupação o anúncio de estreia, no segundo semestre de 2018, de um desenho animado, a ser exibido em plataforma de streaming, cuja trama gira ao redor de jovens que se transformam em drag queens super-heroínas.

A SBP respeita a diversidade e defende a liberdade de expressão e artística no País, no entanto, alerta para os riscos de se utilizar uma linguagem iminentemente infantil para discutir tópicos próprios do mundo adulto, o que exige maior capacidade cognitiva e de elaboração por parte dos espectadores.

STF suspendeu a classificação indicativa

A situação se agrava com o fim da Classificação Indicativa, decretado em sentença do Supremo Tribunal Federal (STF) que declarou inconstitucional o dispositivo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que estabelece multa e suspensão às emissoras de rádio e TV ao exibirem programas em horário diverso do autorizado pela classificação indicativa.

Essa decisão deixa crianças e adolescentes dependentes, exclusivamente, do bom senso das emissoras de TV e plataformas de streaming, agregando um complicador a mais às relações delicadas existentes no seio da família, do ambiente escolar e da sociedade, de forma em geral.

Exposição indevida e perigosa

Isso por conta do risco de exposição indevida desse segmento, por meio de programas, como esse desenho animado, a imagens e conteúdos com menções diretas e/ou indiretas a situações de sexo, de violência, de emprego de linguagem imprópria ou de uso de drogas.

Vários estudos internacionais importantes comprovam os efeitos nocivos, entre crianças e adolescentes, desse tipo de exposição. Ressalte-se o período de extrema vulnerabilidade pela qual passam esses segmentos, com impacto em processos de formação física, mental e emocional.

Sendo assim, a SBP reitera seu compromisso com a liberdade de expressão e com a diversidade, mas apela à plataforma que cancele esse lançamento, como expressão de compromisso do desenvolvimento de futuras gerações.

É preciso escutar e respeitar especialistas 

Além disso, a SBP pede aos políticos que, considerando a impossibilidade de recurso à decisão do STF, reabram o debate sobre a retomada da Classificação Indicativa ouvindo a contribuição dos especialistas, o que permitirá encontrar solução que não comprometa questões artísticas e assegure mecanismos de proteção para o público composto por crianças e adolescentes.

Fonte: http://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/contra-a-exposicao-de-criancas-e-adolescentes-a-conteudos-improprios-na-tv/

Da Redação da Revista Veja (Rio):

Netflix tem seu 1ª desenho animado feito no Brasil criticado por médicos

Divulgada no fim de maio, Super Drags narra as aventuras de Patrick, Donny e Ramon, três jovens que, de dia, trabalham em uma loja de departamento e, à noite, se transformam em Lemon Chiffon, Safira Cian e Scarlet Carmesim, três drag queens que defendem a comunidade LGBT.

Leia a nota completa da Netflix sobre o caso:

A Netflix oferece uma grande variedade de conteúdos para todos os gostos e preferências. Super Drags é uma série de animação para uma audiência adulta e não estará disponível na plataforma infantil. A seção dedicada às crianças combinada com o recurso de controlar o acesso aos nossos títulos faz com que pais confiem em nosso serviço como um espaço seguro e apropriado para os seus filhos. As crianças podem acessar apenas o nosso catálogo infantil e colocamos o controle nas mãos dos pais sobre quando e a que tipo de conteúdo seus filhos podem assistir (grifo nosso).

Fonte:

Netflix tem seu 1ª desenho animado feito no Brasil criticado por médicos

Transporte do bebê

Antigamente, os bebês eram transportados no colo da mãe, que ia sentada no banco de trás.

Hoje sabemos que essa prática coloca em risco a segurança e a vida do bebê, além de não ser permitida por lei no Brasil, segundo a Resolução n.º 277/2008 (do Conselho Nacional de Trânsito), que dispõe sobre o transporte de menores de 10 anos e a utilização do dispositivo de retenção para o transporte de crianças em veículos.

Não se deve transportar crianças no banco dianteiro do carro. Em caso de colisão, ela irá se chocar com o para-brisa, com o airbag ou com o painel do carro. O airbag, quando acionado, pode causar ferimentos graves em crianças.

Todo bebê, incluindo os recém-nascidos, deve ser transportado em cadeirinha própria, inclusive logo que deixa a maternidade.

Há diversas marcas e modelos disponíveis no mercado, de acordo com a faixa etária e o peso da criança.

Leia atentamente o manual de instruções da cadeira e instale-a fixando com os cintos de segurança do carro, segundo as recomendações do fabricante.

A cadeira do bebê deve ser fixada no centro do banco traseiro, de frente para seu encosto. As cintas devem ser passadas sobre os ombros e o corpo do bebê, posicionando confortavelmente. A fivela de contenção das cintas deve estar sobre o tórax do bebê.

Rolos de tecido macio, colocados lateralmente, podem ajudar no posicionamento correto e na sustentação da cabeça e do pescoço do recém-nascido.

Nunca deixe seu filho sozinho no carro e, enquanto você dirige, mantenha todas as portas travadas e janelas fechadas.​

Fonte: https://www.einstein.br/noticias/noticia/transporte-do-bebe

O Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu a seguinte nota:

“A obrigatoriedade do uso de assentos de segurança para transportar crianças com até sete anos e meio de idade, prevista pela resolução 277 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), de 28/05/2008, vigora desde setembro de 2010, mas não contempla transporte coletivo, como vans e ônibus, de aluguel, escolar, táxis e os demais com peso bruto superior a 3,5 toneladas.

Em 17/07/15, o Contran, por meio da resolução 541, acrescentou o seguinte parágrafo ao texto, ampliando a obrigatoriedade, a partir de 1º de fevereiro de 2016:

‘Todo veículo utilizado no transporte escolar, independentemente de sua classificação, categoria e do peso bruto total – PBT do veículo, deverá utilizar o dispositivo de retenção adequado para o transporte de crianças com até sete anos e meio de idade”. Continuam desobrigados a oferecer cadeirinha vans e ônibus que não sejam de transporte escolar e táxis.

O descumprimento da lei é considerado infração gravíssima com pena de multa de R$ 191,54, perda de 7 pontos na Carteira Nacional de Habilitação e retenção do veículo.

Os proprietários e motoristas de transporte escolar se manifestaram em várias cidades e algumas questões foram levantadas:

1 – No Brasil, os veículos que realizam transporte escolar (vans, ônibus e Kombi) possuem apenas cintos de segurança de dois pontos, subabdominais. Os dispositivos de retenção para crianças, regulamentados pelo INMETRO, exigem cintos de três pontos para sua fixação adequada ao veículo.

2- A normativa do Contran diz que é possível fazer adaptação, mas sabe-se que qualquer modificação no veículo deve ter o certificado de inspeção veicular expedido pelo INMETRO para garantir que a modificação atendeu às especificações dos fabricantes e legislações vigentes.

3- Alegam que o uso da cadeirinha vai reduzir em cerca de 40% a capacidade de transporte de crianças e que o custo será repassado para os pais.

4- Contestam ainda a proposta de padronização nacional de veículo de grande porte para transporte escolar, cujo alto custo (cerca de R$350.000,00) inviabiliza sua aquisição pelos profissionais do transporte escolar.’

O Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) compreende as queixas dos transportadores escolares e espera que acordos sejam feitos entre os órgãos representativos e o Governo, sem prejuízo para a segurança das crianças.

A recomendação da SBP é de que crianças e adolescentes devem ser transportados em assentos de segurança infantis apropriados para a idade e o tamanho, até atingir a altura de 1,45m.

O cinto de segurança de três pontas do veículo foi projetado para conferir proteção para pessoas com no mínimo 1,45m, quando o cinto deverá passar pelo meio do ombro, longe do pescoço, e sobre os quadris.

O uso correto do dispositivo de retenção reduz o risco de morte em até 71% em caso de colisão. 

Recomenda-se ainda que até os 13 anos de idade, e não apenas até 10 anos como diz a resolução do Contran, crianças e adolescentes sejam transportados no banco traseiro, o que confere maior proteção.

Fonte: http://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/assentos-de-seguranca-serao-obrigatorios-para-o-transporte-escolar-de-criancas/

Hipotireoidismo

hipotireoidismo é uma disfunção na tireoide (glândula que regula importantes órgãos do organismo).

Caracteriza-se pela queda na produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina).

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É mais comum em mulheres, mas pode acometer qualquer pessoa, independente de gênero ou idade, até mesmo recém-nascidos – o chamado hipotireoidismo congênito.

A seguir 13 informações simples sobre o que é importante saber sobre hipotireoidismo:

1. Em recém-nascidos, o hipotireoidismo pode ser diagnosticado através da triagem neonatal, pelo “Teste do Pezinho”.

2. O Teste do Pezinho deve ser feito, preferencialmente, entre o terceiro e o sétimo dia de vida do bebê.

Em caso de resposta positiva ao hipotireoidismo congênito, o tratamento precisa ser iniciado imediatamente, sob rigoroso controle médico, para evitar suas consequências, entre elas o retardo mental. Assim, o bebê poderá ficar curado e ter uma vida normal.

3. Cerca de um a cada 4 mil recém-nascidos apresenta hipotireoidismo congênito.

4. Em adultos, na maioria das vezes, o hipotireoidismo é causado por uma inflamação denominada Tireoidite de Hashimoto.

5. O tratamento do hipotireoidismo é feito com o uso diário de levotiroxina, na quantidade prescrita pelo médico.

Os comprimidos são produzidos em microgramas, variando de 25 a 200 mcg, e não em miligramas (mg) como a maioria dos medicamentos. Por isso, a levotiroxina não deve ser manipulada, pois há maior risco de erro (dosagem, biodisponibilidade etc.).

6. Para reproduzir o funcionamento normal da tireoide, a levotiroxina deve ser tomada todos os dias, em jejum (no mínimo meia hora antes do café da manhã), para que a ingestão de alimentos não diminua a sua absorção pelo intestino.

Outros medicamentos devem ser ingeridos pelo menos uma hora após a levotiroxina, para não atrapalhar a absorção da mesma.

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7. Se estiver utilizando a medicação regularmente, e dessa forma mantendo os níveis de TSH dentro dos valores normais, quem tem hipotireoidismo pode levar uma vida saudável, feliz e completamente normal.

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8. Se o hipotireoidismo não for corretamente tratado, pode acarretar alterações das condições  físicas e mentais, além de elevar os níveis de colesterol, que aumentam os riscos de problemas cardiovasculares, entre outros.

9. Depressão, desaceleração dos batimentos cardíacos, intestino preso, menstruação irregular, falhas de memória, cansaço excessivo, dores musculares, pele seca, queda de cabelo, ganho de peso e aumento de colesterol no sangue estão entre os sintomas do hipotireoidismo.

10. Não se deve confundir hipotireoidismo com hipertireoidismo, pois as disfunções são praticamente opostas. Enquanto no “hipo” existe a diminuição da produção de hormônios, no “hiper“, há o aumento.

11. Existem casos de  hipotireoidismo subclínico, o que torna ainda mais importante a rotina de consultar seu médico assistente.

12. Saiba um pouco mais sobre o  hipotireoidismo.

hipotireoidismo

http://www.endocrino.org.br/10-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-hipotireoidismo/

13. Exames de imagem da tireoide podem ser carcinogênicos?

Orientações: Tireoide, Mamografia e Raio-x

Atualmente circula na internet um vídeo associando o aumento do câncer de tireoide em mulheres aos exames de mamografias e raios-x dentários, além de questionar a não utilização de protetores nesses casos.

Devido à repercussão do assunto, o Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) esclareceu a questão:

Não há comprovação científica que demonstre relação entre os dois exames e o crescimento do câncer de tireoide.

Os endocrinologistas afirmam que, embora alguns estudos tenham sugerido um risco maior de desenvolvimento de câncer de tireoide em pacientes submetidos a tomografias, a mamografias e até mesmo a RX dentários, ainda não existe comprovação de causa-efeito, ou seja, não se pode afirmar que a exposição à radiação ionizante foi a causa de câncer de tireoide em qualquer paciente que tenha sido submetido a tais procedimentos radiológicos.

No entanto,  precauções, incluindo o uso de protetores cervicais e a indicação médica e odontológica criteriosa, podem ser tomadas, especialmente em crianças, que são mais suscetíveis ao efeito da radiação ionizante.

A indicação do uso de protetores é de competência do médico radiologista.

A SBEM reitera a posição do Colégio Brasileiro de Radiologia, da Sociedade Brasileira de Mastologia e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia de “não recomendar o uso do protetor de tireoide em exames de mamografia”.

http://www.tireoide.org.br/orientacao-tireoide-mamografia-e-raio-x/

Tempo de tela

Atividade física e tempo de tela em jovens de uma cidade de médio porte do Sul do Brasil

Autores: João Paulo de Aguiar Grecaa,, , Diego Augusto Santos Silvab, Mathias Roberto Lochc

  • a Brunel University London, Uxbridge, Greater London, Inglaterra
  • b Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil
  • c Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, PR, Brasil

Objetivo

Analisar a associação do sexo e idade com comportamentos relacionados à prática de atividades físicas e sedentarismo em crianças e adolescentes.

Métodos

Estudo transversal com 480 (236 sexo masculino) estudantes de uma escola pública de Londrina, Paraná, Brasil, entre 8 e 17 anos. As medidas de atividade física, prática de esportes e quantidade de comportamentos sedentários foram obtidas mediante aplicação do Physical Activity Questionnaire for Older Children. O teste U de Mann‐Whitney foi usado para comparar variáveis de rapazes e moças. O teste de qui‐quadrado foi usado para variáveis categóricas e a regressão de Poisson para identificar prevalências.

Resultados

Moças (69,6%; RP=1,05 [0,99‐1,12]) dedicaram mais tempo ao comportamento sedentário quando comparadas com rapazes (62,2%). Rapazes (80%; RP=0,95 [0,92‐0,98]) apresentaram maiores níveis de atividade física quando comparados com moças (91%). Estudantes mais velhos entre 13‐17 anos (91,4%; RP=1,06 [1,02‐1,10]) apresentaram maior prevalência de inatividade física e comportamento sedentário de ≥2h/dia (71,8%; RP=0,91 [0,85‐0,97]) quando comparados com estudantes entre 8 e 12 anos (78,7 e 58,5%, respectivamente).

Conclusões

A prevalência de inatividade física foi superior entre as moças. Estudantes mais velhos despenderam mais tempo em tela quando comparados com estudantes mais novos.

Palavras‐chave

Sedentarismo, Fatores socioeconômicos, Atividades de lazer, Televisão, Obesidade

A literatura atual relata que níveis mais elevados de atividade física podem reduzir o risco de mortalidade prematura por todas as causas e também sustenta a relação dose‐resposta entre sedentarismo e doenças crônicas, ou seja, doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral, hipertensão, câncer de cólon, câncer de mama, diabetes tipo 2 e osteoporose.1

Estudos têm demonstrado que o aumento dos comportamentos sedentários, como assistir a televisão e jogar videogames, jogos de computador e/ou jogos eletrônicos, está associado com composição corporal desfavorável, diminuição da aptidão física, baixos escores de autoestima e comportamento pró‐social e diminuição do desempenho acadêmico de crianças em idade escolar.2

Baixos níveis de atividade física na infância e adolescência têm sido relatados em todo o mundo, com uma proporção de 80,3% que fazem menos de 60 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa por dia.3

Um estudo que descreve níveis de atividade física de adolescentes com dados de 32 países concluiu que a maioria dos adolescentes não atende às recomendações atuais de atividade física.4

No Brasil, foram relatados altos níveis de inatividade física em crianças e adolescentes nas regiões Sul5 e Nordeste.6

O comportamento sedentário está relacionado a um estilo de vida não saudável na infância e adolescência. Ver televisão por mais de duas horas, por exemplo, aumenta as chances de sobrepeso e obesidade, assim como a redução no comportamento sedentário está associada a uma melhor composição corporal.2

Publicações recentes têm demonstrado que o comportamento sedentário em jovens, especialmente o fato de assistir televisão, está associado a uma dieta menos saudável, como menor consumo de frutas e vegetais e um maior consumo de lanches altamente energéticos e bebidas que contêm açúcar.7,8

Além disso, comportamentos estabelecidos em crianças em idade escolar tendem a continuar na idade adulta9 e estudos que incluem essa população têm sido sugeridos.1

Alguns estudos brasileiros anteriores que avaliaram inatividade física e comportamento sedentário concentraram‐se em adolescentes,5,6 mas não estratificaram subgrupos, ou seja, comparações de idade e sexo como recomendado em outros estudos.7

Estudos que analisaram outras variáveis entre crianças e adolescentes também não apresentaram dados que diferenciassem a idade de meninas e meninos.10 Essas estratificações forneceriam uma melhor compreensão dos mecanismos da doença na infância e adolescência e ajudariam a manter um estilo de vida saudável desde a infância até a idade adulta.

Assim, o objetivo deste estudo foi analisar a associação entre sexo e idade com o comportamento relacionado à prática de atividade física e ao comportamento sedentário em crianças e adolescentes.

Método

Este estudo tem um desenho transversal. A coleta de dados ocorreu durante o segundo semestre de 2011, em Londrina, a quarta cidade da Região Sul do Brasil. Londrina tem 543.003 habitantes e Índice de Desenvolvimento Humano de 0,778.

É a segunda cidade do Estado do Paraná depois da capital, Curitiba. Tem uma economia estável em de acordo com seu Produto Interno Bruto, é classificada como a cidade mais rica do norte de Paraná.11

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina (CAAE 0089.0.268.000‐11)

Processo de seleção da amostra estudada.

Para compor uma amostra de meninos e meninas entre 8‐17 anos, a maior escola da cidade foi escolhida e todos os alunos do 3° ao 8° anos matriculados nessa escola foram convidados a participar.

A escola tem 54.000m2, fica na zona central e é a principal na área municipal. Como fica na zona central e tem alunos de diferentes regiões municipais, foi possível encontrar uma grande variedade de estudantes de diferentes níveis socioeconômicos.

A escola tinha 2.239 alunos, 486 matriculados no 3° ao 8° anos, todos moradores da cidade. Eram elegíveis e foram convidados a participar; os critérios de inclusão foram: (1) de 8 a 17 anos, (2) estudantes que manifestaram interesse em participar, após convite, e (3) alunos e pais que retornaram o questionário e o formulário de consentimento assinados com informações sobre o estudo.

O escore de atividade física foi medido com o Questionário de Atividade Física para Crianças mais Velhas (PAQ‐C)13 validado12 e traduzido para o português e adaptado por Silva e Malina14 para ser aplicado ao contexto dos estudantes brasileiros. Assim, a reprodutibilidade do PAQ‐C não foi avaliada neste estudo.

Os alunos responderam ao questionário dentro de suas salas de aula, sob a supervisão de pesquisadores previamente treinados para a sua aplicação. O PAQ‐C investiga a quantidade de atividade física moderada e intensa feita nos sete dias anteriores ao preenchimento do questionário.

É composto por 13 questões sobre a prática de esportes e jogos e atividades físicas na escola e nos momentos de lazer, incluindo fins de semana, durante o ano escolar. As respostas foram dadas em uma escala do tipo Likert de 5 pontos, que variou de “muito sedentário” a “muito ativo”. Os escores 2, 3, e 4 representaram as categorias “sedentário”, “moderadamente ativo” e “‘ativo”, respectivamente. Portanto, a partir do escore final, foi possível classificar os alunos como fisicamente ativos ou insuficientemente ativos, de acordo com Crocker e Bailey.13 Aqueles com escores ≥3 foram considerados ativos e aqueles com escore <3 foram considerados insuficientemente ativos.13,14

O tempo gasto diante da televisão, do computador e de videogames foi avaliado e definido como tempo de tela.2 De acordo com as recomendações atuais baseadas em autorrelatos e medições diretas,2 um tempo de tela ≥2h/dia foi classificado como alto comportamento sedentário, enquanto um tempo de tela <2h/dia foi classificado como baixo comportamento sedentário.

As avaliações da massa corporal e estatura de meninos e meninas foram feitas dentro da sala de aula no mesmo dia da aplicação do questionário. A massa corporal foi avaliada com uma balança com uma faixa de variação de 0.1‐150kg (Britânia, Curitiba, Brasil).

Antes de avaliação de peso, os estudantes removeram os sapatos e então foram posicionados no centro da plataforma da balança de pesagem com roupas leves.

Para a estatura, foi usado um estadiômetro com uma variação de precisão de 0,1cm (Sanny, São Bernardo do Campo, Brasil). Após a obtenção de massa corporal e estatura, foi calculado o índice de massa corporal (IMC), com os valores de referência específicos para sexo e idade propostos por Cole e Lobstein.15 Cada indivíduo foi classificado de acordo com seu estado nutricional: eutrófico, sobrepeso ou obeso.

Após esses procedimentos, os estudantes preencheram um questionário16 criado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa para a avaliação da situação econômica da família. O questionário foi desenvolvido de acordo com as condições de vida das famílias brasileiras. As famílias dos estudantes foram classificadas em classes: A, B, C, D e E, em seguida, divididas em alta/média (classes A e B) ou classe baixa (classes C, D e E).

O teste U de Mann‐Whitney foi usado para comparar as variáveis de idade de ambos os sexos e o teste do qui‐quadrado foi usado para análise categórica. A regressão de Poisson foi usada para a construção de um modelo para as associações observadas. Para analisar o grau das associações entre as variáveis foram usados razões de prevalência e intervalos de confiança de 95%. Todos os casos de significância (p‐valor) inferior a 5% foram considerados estatisticamente significativos. As análises foram feitas com o softwareestatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences Inc., Chicago, Illinois), versão 20.0.

Resultados

Participaram do estudo 480 estudantes, 236 meninos e 244 meninas entre 8 e 17 anos. Seis recusaram‐se a participar devido à vergonha de expor seu peso corporal ou tipo corporal durante as medições antropométricas ou devido ao fato de seus pais não terem devolvido os questionários.

A maioria da amostra (meninos=62,2%; meninas=69,9%) gastava mais de duas horas/dia em atividades relacionadas à tela, ou seja, televisão, computador ou videogames (RP=1,05 [0,99‐1,12]). A prevalência de inatividade física também foi alta (meninos=80%; meninas=91%) em ambos os sexos (RP=0,95 [0,92‐0,98]). As classes econômicas dos alunos encontradas foram: A=8,4%, B=67,1%, C=20,2%, D=0,8% e E=34%.

tabela 1mostra a análise descritiva de acordo com idade, massa corporal, estatura, IMC e níveis de atividade física de acordo com o PAQ‐C e comportamentos sedentários e comparações de ambos os sexos. De acordo com o escore do PAQ‐C, os meninos apresentaram maiores níveis de atividade física quando comparados com as meninas (meninos=2,4; meninas=2,0; p<0,001). Meninas dedicaram mais horas por dia em comportamento sedentário do que os meninos (meninos=2,4; meninas=3,0; p=0,026).

Tabela 1.

Características gerais da amostra, segundo sexo

  Meninas Meninos p‐valora 
  P25  Mediana  P75  P25  Mediana  P75   
Idade (anos) 11,7 13,4 14,2 11,7 12,9 14,2 0,430
Masa corporal (kg) 42,1 48,2 56,7 39,0 49,3 58,1 0,983
Altura (cm) 150,5 157,0 161,6 147,9 158,2 166,5 0,181
Índice de massa corporal (kg/m2) 17,6 19,2 22,8 17,0 19,3 22,2 0,262
Escore PAQ‐C 1,6 2,0 2,4 2,0 2,4 2,8 <0,001
Comportamento sedentário (h/dia) 1,4 3,0 4,3 1,4 2,4 3,7 0,026

Índice de massa corporal de acordo com Cole e Lobstein (2012). Negrito indica p<0,050.

a Teste U de Mann‐Whitney.

tabela 2 mostra as associações entre baixos níveis de atividade física e as variáveis independentes em estudantes. Altos níveis de inatividade física foram encontrados em meninos entre 8‐12 (72,6%), 13‐17 anos (87,6%; RP=1,09 [1,03‐1,15]) e meninas entre 8‐12 (86,7%) e 13‐17 anos (94,8%; RP=1,04 [1,00‐1,09]). Após a análise ajustada, foi observado que a prevalência de inatividade física era maior em meninas (91%; RP=0,95 [0,92‐098]). Meninos (87,6%; RP=1,09 [1,03‐1,15]) e meninas (94,8%; RP=1,04 [1,00‐1,09]) entre 13‐17 anos apresentaram maior prevalência de inatividade física do que seus pares mais jovens.

tabela 3 mostra a associação entre alto tempo de tela e as variáveis independentes. Ao analisar os meninos e meninas mais velhos conjuntamente, foi observada uma maior prevalência de alto tempo de tela do que em seus pares mais jovens (71,8%; RP=0,91 [0,85‐0,97]).

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Ao comparar meninos mais velhos com os mais jovens, a prevalência de meninos mais velhos com alto tempo de tela foi maior do que em meninos mais jovens (69.7%; RP=0.90 [0.82–0.98]).

Tabela 2.

Associação entre baixos níveis de atividade física e variáveis independentes em crianças e adolescentes

  Inativo
  n=409 (85,2%)  RP (IC95%)a  RP (IC95%)b 
Sexo
Masculino 196 (80,0) 0,95 (0,83‐1,09) 0,95 (0,92‐0,98)c
Feminino 213 (91,0)
Idade (ambos os sexos)
13‐17 234 (91,4) 1,06 (0,92‐1,21) 1,06 (1,02‐1,10)c
8‐12 174 (78,7)
Masculino
13‐17 106 (87,6) 1,09 (0,90‐1,31) 1,09 (1,03‐1,15)c
8‐12 90 (72,6)
Feminino
13‐17 128 (94,8) 1,04 (0,86‐1,26) 1,04 (1,00‐1,09)c
8‐12 85 (86,7)
Nível econômico
Alto/médio 132 (81,0) 1,03 (0,89‐1,19) 1,03 (0,99‐1,07)
Baixo 259 (87,5)
Tempo de tela
<2 horas/dia 129 (81,1) 0,97 (0,84‐1,12) 0,97 (0,93‐1,01)
≥2 horas/dia 269 (87,9)
Índice de massa corporal
Eutrófico 290 (85,5) 1,01 (0,87‐1,18) 1,01 (0,97‐1,05)
Sobrepeso 88 (86,3)
Obeso 31 (85,6)

a Análise bruta.

b Análise ajustada para todas as variáveis, independente do p‐valor na análise bruta. c p<0,050.

Tabela 3.

Associação entre tempo de tela elevado e variáveis independentes em crianças e adolescentes

  Tempo de tela ≥2h/dia
  n=306 (63,8%)  RP (IC95%)a  RP (IC95%)b 
Sexo
Masculino 148 (62,2) 1,05 (0,89‐1,24) 1,05 (0,99‐1,12)
Feminino 158 (69,6)
Idade (ambos os sexos)
13‐17 181 (71,8) 0,91 (0,77‐1,07) 0,91 (0,85‐0,97)c
8‐12 124 (58,5)
Masculino
13‐17 83 (69,7) 0,90 (0,72‐1,11) 0,90 (0,82‐0,98)c
8‐12 65 (54,6)
Feminino
13‐17 98 (73,7) 0,93 (0,74‐1,17) 0,93 (0,85‐1,02)
8‐12 60 (63,8)
Nível econômico
Alto/médio 113 (69,3) 1,05 (0,88‐1,24) 1,05 (0,98‐1,12)
Baixo 193(65,6)
Atividade física
Ativo 37 (55,2) 0,93 (0,75‐1,17) 0,93 (0,85‐1,02)
Inativo 269 (67,6)
Índice de massa corporal
Eutrófico 215 (65,3) 1,00 (0,84‐1,20) 1,00 (0,93‐1,08)
Sobrepeso 68 (67,3)
Obeso 23 (65,8)

a

Análise bruta.

b

Análise ajustada para todas as variáveis, independentemente do p‐valor na análise bruta.

p<0,050.

Discussão

O objetivo deste estudo foi analisar a associação entre sexo e idade com o comportamento relacionado com a prática de atividade física e comportamento sedentário em crianças e adolescentes. Na comparação de diferentes grupos de gênero na infância e adolescência, as meninas apresentaram níveis mais baixos de atividade física do que os meninos.

Os resultados deste estudo corroboram achados anteriores. Decelis et al.17 relataram que uma elevada porcentagem de meninos e meninas não atendia às recomendações de atividade física1 e mostraram que os níveis de atividade física na infância e adolescência começam a diminuir antes da idade adulta.

A família desempenha um papel importante na prática de atividade física na infância e adolescência.18 Uma explicação para o fato de meninos se envolverem em mais atividades físicas do que as meninas é que eles parecem ter mais apoio social e familiar para a prática dessas atividades.19

Ainda há uma necessidade de promover atividade física na infância e adolescência e esses dados podem ajudar a desenvolver intervenções para essa população. Essas comparações fornecem informações para a literatura, tal como recomendado anteriormente para estudos posteriores.7

Comparações feitas com as meninas de diferentes faixas etárias mostraram que as meninas mais velhas gastam mais tempo de tela do que as mais jovens.

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As consequências de grandes quantidades de tempo gastas com atividades sedentárias são esperadas no início da infância. Um estudo da atividade física e tendência à obesidade relatado por Sigmundová et al.7 mostrou que, em dez anos, o tempo gasto com atividades sedentárias aumentou e o nível de atividade física diminuiu na infância e na adolescência.

A análise de agrupamento feita por De Bourdeaudhuij et al.20 com crianças recrutadas da Hungria, Bélgica, Holanda, Grécia e Suíça mostrou que as meninas passavam mais tempo sedentárias do que os meninos, semelhantemente aos nossos achados.

As atividades sedentárias de meninos e meninas são maiores do que as atuais recomendações2 e programas orientados tanto para diminuir o comportamento sedentário quanto aumentar a atividade física são necessários, particularmente em meninas.21

Níveis mais baixos de atividade física em meninos e meninas mais velhos podem ser explicados pelo fato de que os pais podem associar menor desempenho acadêmico na escola com o tempo que eles passam fora de casa, o que pode ser uma barreira para os meninos e as meninas mais velhos participarem em mais atividade física.19

Neste estudo, verificou‐se uma maior prevalência de estudantes do sexo masculino mais velhos que gastavam mais tempo de tela e praticavam menos atividade física do que os meninos mais jovens.

Uma explicação para essa diferença encontrada em nosso estudo poderia ser o fato de que muitos meninos mais velhos têm atributos que as crianças ainda não têm, isto é, trabalho ou obrigações de estudo.22

Esses tipos de rotinas são comuns em adolescentes de classe média de ambos os sexos no Brasil22

No entanto, nosso estudo não inclui informações específicas sobre tarefas diárias fora da escola, além da atividade física e do comportamento sedentário.

A prevalência de comportamento sedentário encontrada no presente estudo foi alta em ambos os sexos e isso corrobora os recentes achados de um estudo brasileiro de Silva et al.,23 em que os autores investigaram a associação entre a prática de esportes e comportamento sedentário e verificaram que a maioria dos adolescentes incluídos na amostra apresentavam uma alta incidência de comportamento sedentário.

Suchert et al.24avaliaram efeitos do comportamento sedentário, afeto deprimido, autoestima, autoconceito físico, autoeficácia geral e atividade física.

Entre as meninas, menores escores na autoestima e autoeficácia geral estavam associados a comportamentos sedentários mais altos com base em tempo de tela. Melkevik et al.25 relataram que o uso dos meios eletrônicos estava associado com o aumento dos escores Z de IMC e maiores chances de sobrepeso em meninos e meninas que não seguiam as diretrizes de atividade física.

Uma pesquisa recente23 encontrou uma associação negativa entre comportamento sedentário e prática de esportes em adolescentes.

Uma alta prevalência de inatividade física foi encontrada em alunos com elevado tempo de tela. Vários estudos analisaram essas variáveis coexistentes nessa população. A atividade física e o maior tempo gasto com o comportamento sedentário estão relacionados com o desempenho acadêmico.26

Além disso, baixos níveis de atividade física e altos níveis de comportamento sedentário aumentam as chances de obesidade na infância.1,2

A obesidade na infância e na adolescência está ligada a várias doenças crônicas durante a vida.

Um estudo brasileiro feito por Dutra et al.27 relatou uma prevalência de sedentarismo de mais de 70% e que o tempo de tela era inversamente associado com a atividade física.

Da mesma forma, Ferrari et al.28 encontraram maior prevalência de crianças que atendiam às diretrizes de atividade física moderada a vigorosa entre as crianças que assistiam ≤2h/dia de televisão. Ainda assim, a atividade física insuficiente não deveria estar relacionada a comportamentos sedentários, uma vez que não está diretamente associada às atividades sedentárias investigadas neste estudo, isto é, assistir a televisão.29

A evidência mostra que o fato de assistir a televisão e a atividade física na infância e adolescência são constructos que não estão relacionados29 e a prática de mais atividade física não necessariamente diminui os comportamentos sedentários.30

Nossos resultados são preocupantes e corroboram a alta prevalência de ambos os fatores de risco, o alto comportamento sedentário e a baixa atividade física, reportados em outros estudos feitos em diferentes regiões do Brasil.23,28

Este estudo tem limitações que devem ser levadas em consideração: em primeiro lugar, o método de investigação baseia‐se em questionários de autorrelato sobre a atividade física e comportamentos sedentários.

Há vantagens no uso desses métodos, ou seja, descrição completa e detalhes sobre a atividade física e tempo gasto com o comportamento sedentário; no entanto, dispositivos sensores de movimento forneceriam informações melhores e mais precisas em comparação com o método recordatório de sete dias.

Em segundo lugar, o desenho transversal impede a avaliação da causalidade. O desenho longitudinal pode permitir um melhor entendimento, em vez de fazer comparações entre estudantes mais jovens e mais velhos de diferentes regiões da cidade e de diferentes classes sociais.

A amostra usada neste estudo não é representativa de todos os estudantes da cidade; no entanto, é representativa da maior escola na cidade onde o estudo foi feito.

Além disso, a escola selecionada para este estudo tem alunos de todas as regiões da cidade. No entanto, a coleta de dados de outras cidades forneceria uma amostra maior e permitiria fazer comparações com estudos similares feitos em outros países.7

Em conclusão, nossos resultados corroboram a evidência de que os níveis de atividade física são mais baixos em alunos mais velhos do que nos mais jovens.

Além disso, os alunos mais velhos gastam mais tempo com atividades sedentárias do que seus pares mais jovens. A prevalência de inatividade física foi maior em meninas do que em meninos.

Meninos mais velhos apresentaram níveis mais baixos de atividade física e maior tempo de tela do que os meninos mais jovens.

Referências

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M.S. Tremblay,A.G. LeBlanc,M.E. Kho,T.J. Saunders,R. Larouche,R.C. Colley Systematic review of sedentary behaviour and health indicators in school‐aged children and youth Int J Behav Nutr Phys Act, 8 (2011), pp. 98 Medline

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http://www.rpped.com.br/pt/atividade-fisica-e-tempo-tela/articulo/S0103058216000022/

Osteoporose em homens

O tema escolhido para a campanha de conscientização do Dia Mundial da Osteoporose (20 de outubro) pela Fundação Internacional da Osteoporose (IOF), há 2 anos, foi osteoporose em homens.

O texto completo do relatório da IOF está disponível em http://share.iofbonehealth.org/WOD/2014/thematic-report/WOD14-Report.pdf).

Este alerta em escala global corroborou o momentum de atenção para a osteoporose nos homens, confirmado pela publicação de um guideline da Endocrine Society em junho de 2012 Watts et al. J Clin Endocrinol Metab 2012; 97(6):1802-22).

A dimensão do problema

A osteoporose em homens é uma doença comumente negligenciada. Enquanto que nas mulheres a osteoporose é ativamente investigada e tratada, nos homens muitas vezes ela não é reconhecida, mesmo frente à ocorrência de fraturas de fragilidade (aquelas fraturas decorrentes de baixo impacto ou de queda da própria altura).

A estrutura óssea masculina

De fato, o osso dos homens tem peculiaridades que os protegem de fraturas, como uma geometria mais favorável dada pelo maior diâmetro dos ossos longos, e menor perda de massa óssea com o envelhecimento em comparação com as mulheres.

Mesmo assim, dados alarmantes apresentados no relatório da IOF mostram que quase 40% de todas as fraturas de fragilidade acontecem em homens, que a mortalidade após fratura de fêmur é maior nos homens, e que o risco de fratura de fragilidade em homens com mais de 50 anos de idade é 27% maior do que o risco de desenvolver câncer de próstata, um problema que ganha muito mais atenção na saúde masculina.

O papel da testosterona

Durante muito tempo se atribuiu importante papel à testosterona na regulação do metabolismo ósseo, permitindo extrapolar que este hormônio traria especial proteção contra o desenvolvimento de osteoporose nos homens.

O grupo de pesquisa liderado por Sundeep Khosla na Mayo Clinic foi instrumental em destrinchar a real contribuição da testosterona na remodelação óssea: de fato, a contribuição direta da testosterona é pequena, mas já o estradiol gerado a partir da aromatização periférica da testosterona tem, sim, papel principal regulando reabsorção e formação óssea nos homens (estes achados estão resumidos em Endocrinol Metab Clin North Am 2012; 41(3):629-41).

Está claro que a testosterona influencia a saúde óssea através do estímulo para a expansão óssea e formação de osso subperiosteal (resultando em geometria protetiva) e do estímulo para o trofismo muscular, essencial à formação óssea.

Entretanto, o reconhecimento do papel do estradiol no osso do homem embasa a perda de massa óssea com o envelhecimento e “andropausa”, à semelhança da menopausa nas mulheres, e tem implicações na definição de estratégias terapêuticas nos homens com osteoporose.

O guideline da Endocrine Society (2012)

A diretriz preparada pelo grupo de especialistas nomeados pela Endocrine Society traz recomendações práticas para o diagnóstico e tratamento da osteoporose masculina.

Alguns pontos:

  • Na avaliação inicial do homem com osteoporose, é importante se investigar e descartar causas de osteoporose secundária, que podem acometer até 40% destes indivíduos. Destacam-se como causas de osteoporose secundária nesta população o hipogonadismo, o excesso de glicocorticoide, alcoolismo e tabagismo, a hipercalciúria, os estados de disabsorção intestinal e a doença pulmonar obstrutiva crônica, dentre muitas outras.
  • A avaliação por densitometria óssea (DXA) está indicada em todos os homens com mais de 70 anos, e naqueles com mais de 50 anos que apresentem um ou mais fatores de risco para fraturas, como histórico pessoal ou familiar de fraturas de fragilidade, baixo índice de massa corpórea, quedas frequentes, antecedente de AVC ou demência, ou qualquer causa de osteoporose secundária. O documento da Endocrine Society traz uma lista completa destes fatores de risco.
  • Frente a um homem com osteoporose e alto risco de fraturas que apresente hipogonadismo laboratorial (testosterona sérica inferior a 200 ng/dl), não basta tratar o hipogonadismo com reposição de testosterona – há que se adicionar de princípio droga anti-fratura para proteção específica do osso.

Atenção aos homens em terapia de privação androgênica no tratamento do câncer de próstata.

http://fernandobraganca.com.br/wp-content/uploads/2022/07/osteoporosis_2.jpg

Terapia de privação androgênica (ADT)

Dentre as subpopulações de homens com osteoporose, tanto o guideline quanto a literatura médica mais recente chamam a atenção para o alto risco de fraturas dos homens em terapia de supressão do androgênio ou terapia privação androgênica (ADT, do inglês androgen deprivation therapy) para o tratamento do câncer de próstata.

Diversos estudos detalharam os efeitos da ADT no esqueleto, que podem ser resumidos em:

1) aumento rápido e mantido da remodelação óssea;

2) perda rápida de massa óssea mensurada por DXA, principalmente nos primeiros 6 meses de ADT e

3) perda progressiva de massa muscular.

Provavelmente, os efeitos 1 e 2 são mediados pela diminuição do estradiol e o efeito 3 diretamente pela diminuição da testosterona.

O resultado combinado destes três efeitos é o aumento cumulativo do risco de fraturas em homens em ADT, bem documentado por diversos estudos em diferentes populações.

Ainda há controvérsia entre os especialistas se todos os homens em ADT para tratamento de câncer de próstata necessitam tratamento de princípio com droga anti-fratura. Faltam estudos clínicos randomizados justificando essa abordagem, e a maioria dos consensos sugere que o estado de hipogonadismo induzido pela ADT seja interpretado como um fator de risco a mais na avaliação da decisão terapêutica.

Em outras palavras, um homem iniciando ADT que tenha massa óssea normal e baixo risco de fratura provavelmente não necessita de droga anti-fratura específica. É importante, entretanto, que a decisão seja individualizada, que todos os fatores de risco de fratura sejam considerados e que estes homens sejam avaliados clinicamente e com DXA.

Em todos os indivíduos em risco de osteoporose, práticas para boa saúde óssea devem certamente ser promovidas, como adequação nutricional em cálcio e vitamina D, atividade física, cessação do tabagismo e redução da ingesta alcoólica.

Perspectivas futuras

O maior entendimento dos mecanismos que propiciam a osteoporose nos homens vem trazendo algumas perspectivas futuras para o tratamento desta condição.

Busca-se desenvolver moduladores seletivos do receptor androgênico que tragam benefício para a saúde óssea, com a ressalva de que a ausência de ação específica em vias estrogênicas provavelmente não trará benefício direto na remodelação, mas com potencial melhora da geometria óssea e da trofia muscular.

Paralelamente, também se buscam alternativas terapêuticas capazes de promover a hipertrofia muscular e que indiretamente estimulariam a formação óssea, como através da inibição da miostatina e de outras vias de controle do músculo, a nova fronteira da pesquisa no sistema musculoesquelético.

Embora ainda não haja nenhum agente desta natureza aprovado para uso clínico, o futuro parece promissor para o tratamento da osteoporose nos homens.

É essencial, portanto, que estejamos alerta para esta condição e reconheçamos, sempre, os homens em risco.

Fonte: http://www.blog.endocrinologia.org.br/?p=293

Bruno Ferraz de Souza, Membro Especialista da SBEM, Comissão de Novas Lideranças