Praia ou piscina?

QUALIDADE DA ÁGUA DAS PRAIAS E SAÚDE PÚBLICA

Grande parte da população mundial vive em cidades próximas à costa e muitas das maiores cidades cresceram ao longo de estuários, baías e áreas costeiras. Essa proximidade do homem com o mar gerou interações antigas e importantes.

Os oceanos fornecem muitos benefícios aos seres humanos que vão desde a obtenção de alimentos e novas drogas para o tratamento de doenças, até as atividades de recreação.

À medida que o mar tornou-se cada vez mais importante do ponto de vista da obtenção de alimento e de lazer, a preocupação com a qualidade da água das praias também aumentou, tendo em vista que a urbanização e o consequente aumento populacional nas regiões costeiras geraram também um aumento na quantidade de esgoto e lixo doméstico produzidos.

Águas do mar que recebem esgotos domésticos sem tratamento carregam consigo uma variedade de micro-organismos causadores de doenças chamadas de doenças de veiculação hídrica. Estas podem ser transmitidas pela água e causadas por vírus (hepatite A e E, rotavirose, poliomielite, conjuntivite), bactérias (gastroenterite, cólera, febres tifóide e paratifoide), fungos (micoses superficiais) e protozoários (giardiase e criptosporidiose).

As doenças infecciosas veiculadas por águas marinhas contaminadas poderão se iniciar após o contato com o agente patogênico, através das vias de penetração: oral (boca), nasal (nariz), cutânea (pele) e ocular (olhos).

O uso de águas costeiras para várias atividades recreacionais, tais como: a natação, o mergulho, os esportes náuticos e a pesca atrai milhares de pessoas.  No Rio, na Baixada Santista e na Região dos Lagos (RJ), por exemplo, a população flutuante representa, em determinados períodos do ano mais que o dobro da população residente. Este aumento populacional resulta em um aumento na carga de esgotos domésticos que, mesmo servida pela rede coletora de esgotos, gera um remanescente significativo, que acaba sendo lançado em cursos de água e ao mar, alterando a qualidade da água das praias.

É cada vez maior a preocupação com a qualidade das águas das praias. Embora o lançamento de esgotos no mar seja o principal fator de contaminação das águas das praias, outros fatores como a existência de rios e córregos que recebem esgotos domésticos e deságuam nas praias, ligações clandestinas ou erradas à rede de esgotos, ligação do sistema de esgotos à rede de drenagem pluvial ou ligação do sistema coletor de águas pluviais à rede de esgotos também contribuem para poluição das praias.

As chuvas, de forma semelhante, influenciam muito a qualidade da água do mar uma vez que, o lixo, as fezes de animais e todos os detritos são levados com as águas da chuva, para córregos, galerias e canais de drenagem que atingem o mar.

A contaminação das praias pelos frequentadores e por animais também é fator importante nas condições sanitárias das praias, principalmente no que diz respeito às areias. A qualidade da água utilizada para atividades de recreação, nas quais as pessoas têm contato direto e prolongado com a água (contato primário), tais como mergulho e natação, é denominada balneabilidade.

As águas recreacionais podem ser doces (rios, represas, lagos), salobras (estuários) e salinas (mar). A avaliação da qualidade das águas recreacionais marinhas é realizada através da análise e monitoramento da presença de um ou mais microorganismos que, quando presentes no meio aquático, indicam a existência de contaminação fecal e a possível presença de patógenos – chamados, portanto indicadores.

Até pouco tempo, os micro-organismos indicadores de contaminação fecal mais utilizados para monitorar a qualidade de águas recreacionais marinhas eram os coliformes fecais (atualmente denominados termotolerantes).

No início da década de 80, a bactéria Escherichia coli passou a ser utilizada para esta finalidade. Esta bactéria é encontrada exclusivamente nas fezes de humanos e de animais homeotérmicos (mamíferos e aves), portanto sua presença na água do mar indica um elevado nível de contaminação fecal e a possibilidade da presença de micro-organismos patogênicos, colocando em risco a saúde dos banhistas.

Autora: Dra. Ana Julia Fernandes Cardoso de Oliveira, doutora em Oceanografia e docente e pesquisadora em Ecologia de micro-organismos em ambientes marinhos da Unesp.

Clique para acessar o %C3%81GUA%20E%20SA%C3%9ADE%20P%C3%9ABLICA_1.pdf

Saiba mais (trecho do parecer do Conselho Federal de Medicina, em 2015)

As chamadas doenças das águas recreacionais são causadas por germes disseminados pela deglutição, aspiração de névoas ou aerossóis ou pelo contato com águas contaminadas em piscinas, banheiras, parques aquáticos, áreas de desportos aquáticos, fontes interativas, spas, águas termais, lagos, rios e oceanos.

Essas doenças também podem ser provocadas por substâncias químicas presentes na água, ou por sua evaporação da água, que causam problemas na qualidade do ar em ambientes fechados. As doenças de águas recreacionais podem estar relacionadas a uma gama de infecções: gastrointestinais, cutâneas, otológicas, respiratórias, oculares, neurológicas e por traumatismos.

A mais comumente relatada é a diarreia. Doenças diarreicas passíveis de transmissão por essa via podem ser causadas por germes como Cryptosporidium, Giardia, Shiguella, Norovirus e E.Coli O157:H7.

Doenças cutâneas infecciosas de natureza bacteriana, viral ou fúngica são passíveis de serem devidamente diagnosticadas através de exame dermatológico e devem constituir impedimento à utilização de piscinas e outros locais de águas recreacionais.

A frequência do exame médico para indivíduos saudáveis deve ser trimestral. Os usuários devem ser orientados a se apresentarem em trajes de banho, sem esmalte; e com a recomendação de que mantenham atitude de bom senso, evitando o comparecimento a esse tipo de ambiente quando apresentarem doenças que possam comprometer a saúde dos demais usuários.

Os médicos responsáveis pelos exames dos usuários, em conjunto com os representantes dos clubes, associações e estabelecimentos privados e as autoridades sanitárias, deverão conscientizar as pessoas doentes, sobretudo aquelas com doenças diarreicas, para que evitem frequentar os banhos coletivos.

É conveniente ressaltar que o banho de chuveiro antes de entrar no local do banho coletivo, a existência dos chamados tanques lava-pés destinados à desinfecção dos pés dos banhistas, o tratamento adequado – com saneantes – das áreas destinadas aos chuveiros construídos – segundo as normas estabelecidas pela NBR 9818, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – são importantes medidas que devem também ser observadas pelo profissional médico, visando a prevenção das doenças já mencionadas.

http://www.portalmedico.org.br/pareceres/CFM/2015/2_2015.pdf (acesso em 08 ago. 2015).
wwf_livro_das_aguas

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