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Higiene

Brinquedos podem causar doenças?

Brinquedos em brinquedotecas como uma fonte de microrganismos patogênicos para as infecções hospitalares

Sonia Regina Testa da Silva Ramos*

Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil

Revista Paulista de Pediatria

“… a brincadeira que é universal e que é própria da saúde: o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde…” (Winnicott)

As brincadeiras fazem parte da vida da criança, e é por meio delas que, muitas vezes, a criança expressa os sentimentos de forma não verbal. Essa forma de expressão é de muita importância quando submetida a agravos, como a internação hospitalar. Privar a criança de sua linguagem é piorar ainda mais a agressão.

Assim, um espaço adequado para que as brincadeiras aconteçam dentro do ambiente hospitalar é altamente recomendado. No Brasil, desde 2005, os hospitais que prestam atendimento pediátrico estão obrigados por lei a contar com brinquedotecas.1

Se, por um lado, a brinquedoteca proporciona um local para a criança manifestar seus sentimentos durante a internação e minimizar o sofrimento, sendo um dos locais do hospital lembrados com alegria, por outro, o convívio próximo e o contato com brinquedos manipulados por outras crianças podem facilitar a aquisição de infecções. Infelizmente, pode ocorrer a contaminação dos brinquedos, e surtos de infecções hospitalares já foram atribuídos a eles.24

As crianças apresentam algumas peculiaridades que as predispõem aos processos infecciosos, como a imaturidade imunológica, a falta de contato anterior com patógenos, a falta de controle esfincteriano nas crianças de baixa idade e a fase oral do desenvolvimento. Soma-se a isso a interação muito próxima com os membros da equipe de saúde e familiares e, portanto, maior contato com mãos e utensílios potencialmente contaminados. Também as causas infecciosas grande parte das vezes predominam nas internações pediátricas.5

Embora a maior vulnerabilidade da criança e a exposição a patógenos sejam bem conhecidas, o papel das superfícies e, particularmente, dos brinquedos tem tido pouca atenção por parte das equipes de controle de infecção hospitalar e de pesquisa, e é tida como prioritária.6,7

Boretti et al,8, em artigo publicado nesta edição da revista, mostram que microrganismos do gênero Staphylococcus, tanto coagulase negativos como positivos, com resistência elevada aos antimicrobianos habitualmente utilizados no tratamento de pacientes internados, estavam presentes em 87% dos brinquedos que analisaram logo após a manipulação pela criança. Tem o mérito de mostrar que a contaminação é elevada por microrganismos resistentes e que em alguns materiais, como plásticos e borracha, a contaminação é mais intensa.

Algumas limitações podem ser apontadas e podem servir para a continuação dessa linha de pesquisa. O desenho do estudo não permite saber quando ocorreu a contaminação, se os brinquedos já estavam contaminados antes da manipulação pela criança. Sabe-se que os estafilococos permanecem muitos dias viáveis em fomites e superfícies.9,10

A origem dos microrganismos também não pode ser analisada, e um fato curioso é o encontro de estafilococos coagulase positivos, como o S. Intermedius, o S. schleiferi e o S. hyicus.5,11 Essas espécies habitualmente são encontradas em animais domésticos, como cães e gatos;5,11 será que a procedência nos brinquedos foi das crianças expostas a animais antes da internação? Ou nesse hospital ocorre a visita terapêutica de animais? A presença dos microrganismos não prova que eles podem infectar os pacientes, mas estudos utilizando tecnologia de biologia molecular poderiam atestar a origem das cepas que infectam os pacientes.5

De qualquer forma, medidas preventivas para evitar a disseminação dos microrganismos devem ser tomadas.

Além das medidas clássicas de limpeza e desinfecção dos brinquedos e, portanto, a escolha de brinquedos laváveis e da higiene das mãos, não se deve esquecer da higiene das mãos das crianças12 e da limpeza e desinfecção dos mobiliários e das superfícies do ambiente.10

Tecnologias inovadoras, como superfícies autodesinfetantes, métodos de cuidados com pouca manipulação, desenho das áreas destinadas à recreação, devem ser pesquisadas em hospitais pediátricos.6,7,10

REFERÊNCIAS

  1. Brasil – Presidência da República. Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005. Dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação. Brasília: Casa Civil; 2005. Available from: HYPERLINK “http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11104.htm”www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11104.htmwww.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11104.htm [ Links ]
  2. Avila-Aguero ML, German G, Paris MM, Herrera JF; Safe Toys Study Group. Toys in a pediatric hospital: are they a bacterial source? Am J Infect Control 2004;32:287-90. [ Links]
  3. Freitas AP, Silva MC, Carvalho TC, Pedigone MA, Martins CH. Brinquedos em uma brinquedoteca: um perigo real? Rev Bras Anal Clin 2007;39:291-4. [ Links]
  4. Merriman E, Corwin P, Ikram R. Toys are a potential source of cross-infection in general practitioners’ waiting rooms. Br J Gen Pract 2002;52:138-40. [ Links]
  5. Safdar N, Anderson DJ, Braun BI, Carling P, Cohen S, Donskey C et al. The evolving landscape of healthcare-associated infections: recent advances in prevention and a road map for research 2014;35:480-93. [ Links]
  6. Cardoso MF. Humanização. In: Ramalho MO, Costa SF, editor. Como instruir um programa de controle de infecção hospitalar. São Paulo: APECIH; 2007. p. 193-206. [ Links]
  7. Boretti VS, Corrêa RN, Santos SS, Leão MV, Silva CR. Sensitivity profile of Staphylococcus spp. and Streptococcus spp. Isolated from toys used in a teaching hospital playroom. Rev Paul Pediatr 2014;32:151-6. [ Links]
  8. Desai R, Pannaraj PS, Agopian J, Sugar CA, Liu GY, Miller LG. Survival and transmission of community-associated methicillinresistant Staphylococcus aureus from fomites. Am J Infect Control 2011;39:219-25. [ Links]
  9. Weber DJ, Rutala WA. Understanding and preventing transmission of healthcare-associated pathogens due to the contaminated hospital environment. Infect Control Hosp Epidemiol 2011;32:687-99. [ Links]
  10. Kelesidis T, Tsiodras S. Staphylococcus intermedius is not only a zoonotic pathogen, but may also cause skin abscesses in humans after exposure to saliva. Int J Infect Dis 2010;e838-41. [ Links]
  11. Loeffler A, Lloyd DH. Companion animals: a reservoir for methicillin-resistant Staphylococcus aureus in the community? Epidemiol Infect 2010;138:595-605. [ Links]
  12. Randle J, Metcalfe J, Webb H, Luckett JC, Nerlich B, Vaughan N et al. Impact of an educational intervention upon the hand hygiene compliance of children. J Hosp Infect 2013;85:220-5. [ Links]

*Autor para correspondência. E-mailsonia.ramos@hc.fm.usp.br (S.R.T.S. Ramos).

Revista Paulista de Pediatria

versão impressa ISSN 0103-0582

Rev. paul. pediatr. vol.32 no.3 São Paulo set. 2014

http://dx.doi.org/10.1590/0103-0582201432321

BORETTI, Vanessa Stolf et al. Perfil de sensibilidade de Staphylococcus spp. e Streptococcus spp. isolados de brinquedos de brinquedoteca de um hospital de ensino. Rev. paul. pediatr. [online]. 2014, vol.32, n.3, pp. 151-156. ISSN 0103-0582.

Alimentos contaminados: risco de morte

Comida que mata
Organização lança, na próxima semana, campanha para melhorar a segurança da cadeia produtiva

Estima-se que mais de 2 milhões de pessoas, a maioria crianças, morram anualmente em decorrência dessas enfermidades, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Doenças provocadas por alimentos e água contaminados têm consequências devastadoras para a saúde e a economia de um país, independentemente do grau de desenvolvimento da nação.

A OMS alerta sobre a necessidade de promover ações internacionais que englobem toda cadeia de abastecimento de comida.

Embora as doenças de origem alimentar recebam pouca atenção, são um grave problema de saúde pública. Em conjunto, somam pelo menos 200 problemas, desencadeados por bactérias, parasitas, vírus e substâncias químicas.

No melhor dos casos, o paciente sofre apenas com náuseas e diarreia leve. Porém, podem surgir quadros mais graves, como insuficiência renal e hepática, distúrbios neurais, artrite reativa, câncer e até levar à morte.

A campanha da OMS chama-se “Do campo ao prato, torne os alimentos seguros”. Desde 2010, foram registrados pelo menos 582 milhões casos de 22 doenças entéricas transmitidas por produtos alimentícios — pouco mais de 40% eram crianças com menos de 5 anos.

No total, foram 351 mil mortes, a maior parte causada por Salmonella typhi (52 mil óbitos), Coli enteropatogênica (37 mil) e Norovírus (35 mil). E esses números ainda podem subir quando a análise for concluída — os resultados finais devem sair em outubro.

Sem fronteiras

Historicamente, doenças ligadas à alimentação são mais comuns no interior, onde a comida, por exemplo a carne, é produzida e consumida em casa.

Como nem sempre os animais são criados em condições ideais, acabam portando e transmitindo toxinas e vermes, sendo a Taenia solium, causadora da enfermidade conhecida como “solitária”, um deles. Porém, segundo a OMS, essa não é mais a regra.

Nas últimas décadas, os sistemas de produção e transporte de alimentos foram adaptados para funcionar em uma rede global. O lado ruim do processo é que os agentes causadores de doenças podem entrar na cadeia de abastecimento. Para a entidade de saúde, a globalização da distribuição aumenta a probabilidade de as doenças atravessarem fronteiras nacionais.

Um exemplo disso ocorreu em São Paulo, em 2005, quando o município registrou um surto de difilobotríase, enfermidade transmitida por um parasita de peixes. Os casos foram registrados em 20 pessoas que comeram sushi e sashimi em restaurantes da cidade.

A suspeita incidiu sobre o salmão, que, com o robalo, é o principal hospedeiro do verme causador da doença, o Diphyllobothrium spp. Hoje, assim como há 10 anos, praticamente todo salmão consumido no Brasil é importado do Chile. Outro caso foi um surto de febre aftosa na Inglaterra que chegou à França e, depois, se espalhou pela Europa em 2000.

“Um problema de segurança alimentar local pode rapidamente se tornar uma emergência internacional”, diz Margaret Chan, diretora-geral da OMS, acrescentando que a investigação de surtos de doenças transmitidas por alimentos é muito mais complicada quando um pacote de comida contém ingredientes de vários países. “Muitas vezes, é preciso uma crise para que a consciência coletiva seja agitada, e uma medida séria seja tomada”, completa Kazuaki Miyagishima, diretor do Departamento de Segurança dos Alimentos e Zoonoses da OMS.

Salmonela

Embora os alimentos industrializados sejam submetidos a criteriosos processos de fabricação, eles continuam suscetíveis à contaminação, especialmente por bactérias. A salmonela é uma das mais recorrentes. Em 2013, nos Estados Unidos, cerca de 250 pessoas de 18 estados adoeceram após consumirem frango infestado pelo micro-organismo. O mesmo ocorreu na Holanda, no ano anterior, com 950 doentes e três mortos. No Brasil, 18% dos casos de doenças provocados por comidas registrados entre 2000 e 2014 foram devidos à salmonela.
Henrique Marconi Sampaio Pinhati, infectologista da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, explica que essa bactéria está presente em produtos mal processados, especialmente o ovo. “O caipira pode vir sujo com as fezes da galinha, por isso é importante limpá-lo antes de colocar na geladeira. A bactéria também pode vir dentro do próprio ovo, que deve passar por uma boa cocção (cozimento) antes de ser consumido”, explica Pinhati, também presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, regional do Distrito Federal.

Ele explica que, além das bactérias, há o perigo imposto pelos vírus. Os norovírus são mais comuns entre adultos, causando febre alta durante dois ou três dias. “A grande questão é que o médico confunde isso com infecção bacteriana. É a tal virose com que as crianças sofrem tanto”, diz, notando que, entre os pequenos, o adenovírus é o grande causador das doenças de diagnóstico confuso.

Prejuízos

 Os alimentos não seguros também representam grandes riscos econômicos. Em 2011, um surto de E. coli na Alemanha causou perdas de US$ 1,3 bilhão para os agricultores e indústrias e exigiu mais US$ 236 milhões para ajuda humanitária, pagos por 22 países da União Europeia.

Na campanha que está lançando, a OMS ressalta que situações de emergência como essa podem ser evitadas com o desenvolvimento de sistemas que auxiliem os governos a arquitetarem ações públicas para conter as contaminações químicas ou microbiológicas.

A organização também ressalta que o consumidor, parte final da cadeia de abastecimento, desempenha um papel importante na promoção da segurança alimentar, adotando hábitos higiênicos, especialmente na hora de cozinhar certos alimentos, como carnes.

http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2015/04/07/noticia_saudeplena,152858/alimentos-contaminados-ja-mataram-351-mil-pessoas-nesta-decada-aponta.shtml

Manter a limpeza

Lavar bem as mãos antes de cozinhar é essencial. Além disso, para garantir a limpeza dos vegetais, como verduras, frutas e legumes, é preciso lavá-los para retirar as sujeiras e deixá-los de molho por 30 minutos em uma solução com hipoclorito de sódio.

“Muita gente acha que o vinagre faz a desinfecção e isso é um erro. O vinagre só ajuda as partículas maiores a sedimentarem na água, mas não mata os micro-organismos mais nocivos à saúde”, diz Nídia Pucci, nutricionista do Hospital 9 de Julho.

Não misturar alimentos crus e cozidos

Carnes cruas ou vegetais crus ainda não lavados não devem ser misturados com alimentos cozidos, prontos para consumo. De acordo com Nídia, todo alimento tem bactérias, mas enquanto os cozidos têm uma quantidade de bactérias não patogênicas, os crus podem ter bactérias que provocam doenças.

A nutricionista explica que recorrer aos mesmos utensílios para preparar carnes cruas e outros alimentos pode gerar uma contaminação cruzada. “As bactérias que são do frango cru, por exemplo, podem passar para uma verdura. Por isso deve-se preparar um de cada vez e lavar a tábua e a faca antes de preparar o próximo alimento.”

Outra dica é evitar a tábua de madeira, já que ela torna mais difícil a limpeza e eliminação de possíveis bactérias. A tábua de acrílico é uma opção mais segura.

Cozinhar bem para matar micro-organismos

O cozimento em temperaturas acima de 100ºC é capaz de matar bactérias patogênicas. Para evitar contaminações, o ideal é evitar o consumo de carnes cruas ou mal passadas ou ovos com gema mole. Nídia lembra que a recomendação vale especialmente para gestantes e idosos, mais vulneráveis a esse tipo de infecção.

De acordo com a OMS, os microorganismos presentes em comidas que mais provocaram mortes em 2010 foram as bactérias Salmonella typhi, que levou a 52 mil mortes e a E. coli, responsável por 37 mil mortes, além do norovírus, causador de 35 mil mortes.

Manter temperaturas seguras

Para prevenir o crescimento de micro-organismos, é importante observar a temperatura de armazenamento dos alimentos. O ideal é mantê-los em uma temperatura menor do que 5ºC ou maior do que 60ºC. A nutricionista observa que é importante ficar atento à regulação da geladeira em casa: no verão, ela deve ser ajustada para trabalhar com uma potência maior.

Usar água e alimentos crus seguros

Na hora de comprar os produtos, é preciso ter cuidados especiais, segundo Nídia. No caso de carnes, frios e laticínios, o consumidor deve observar a temperatura da geladeira do mercado. No caso de alimentos congelados, a presença de pedras de gelo soltas dentro da embalagem pode indicar que o alimento descongelou e voltou a ser congelado, o que não é seguro.

“Carnes com coloração marrom ou acinzentada e frios com coloração esbranquiçada podem indicar que, mesmo estando dentro de prazo de validade, o resfriamento pode não ter sido adequado”, diz a especialista.

http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/04/comida-contaminada-levou-351-mil-mortes-em-2010-diz-relatorio-da-oms.html

Praia ou piscina?

QUALIDADE DA ÁGUA DAS PRAIAS E SAÚDE PÚBLICA

Grande parte da população mundial vive em cidades próximas à costa e muitas das maiores cidades cresceram ao longo de estuários, baías e áreas costeiras. Essa proximidade do homem com o mar gerou interações antigas e importantes.

Os oceanos fornecem muitos benefícios aos seres humanos que vão desde a obtenção de alimentos e novas drogas para o tratamento de doenças, até as atividades de recreação.

À medida que o mar tornou-se cada vez mais importante do ponto de vista da obtenção de alimento e de lazer, a preocupação com a qualidade da água das praias também aumentou, tendo em vista que a urbanização e o consequente aumento populacional nas regiões costeiras geraram também um aumento na quantidade de esgoto e lixo doméstico produzidos.

Águas do mar que recebem esgotos domésticos sem tratamento carregam consigo uma variedade de micro-organismos causadores de doenças chamadas de doenças de veiculação hídrica. Estas podem ser transmitidas pela água e causadas por vírus (hepatite A e E, rotavirose, poliomielite, conjuntivite), bactérias (gastroenterite, cólera, febres tifóide e paratifoide), fungos (micoses superficiais) e protozoários (giardiase e criptosporidiose).

As doenças infecciosas veiculadas por águas marinhas contaminadas poderão se iniciar após o contato com o agente patogênico, através das vias de penetração: oral (boca), nasal (nariz), cutânea (pele) e ocular (olhos).

O uso de águas costeiras para várias atividades recreacionais, tais como: a natação, o mergulho, os esportes náuticos e a pesca atrai milhares de pessoas.  No Rio, na Baixada Santista e na Região dos Lagos (RJ), por exemplo, a população flutuante representa, em determinados períodos do ano mais que o dobro da população residente. Este aumento populacional resulta em um aumento na carga de esgotos domésticos que, mesmo servida pela rede coletora de esgotos, gera um remanescente significativo, que acaba sendo lançado em cursos de água e ao mar, alterando a qualidade da água das praias.

É cada vez maior a preocupação com a qualidade das águas das praias. Embora o lançamento de esgotos no mar seja o principal fator de contaminação das águas das praias, outros fatores como a existência de rios e córregos que recebem esgotos domésticos e deságuam nas praias, ligações clandestinas ou erradas à rede de esgotos, ligação do sistema de esgotos à rede de drenagem pluvial ou ligação do sistema coletor de águas pluviais à rede de esgotos também contribuem para poluição das praias.

As chuvas, de forma semelhante, influenciam muito a qualidade da água do mar uma vez que, o lixo, as fezes de animais e todos os detritos são levados com as águas da chuva, para córregos, galerias e canais de drenagem que atingem o mar.

A contaminação das praias pelos frequentadores e por animais também é fator importante nas condições sanitárias das praias, principalmente no que diz respeito às areias. A qualidade da água utilizada para atividades de recreação, nas quais as pessoas têm contato direto e prolongado com a água (contato primário), tais como mergulho e natação, é denominada balneabilidade.

As águas recreacionais podem ser doces (rios, represas, lagos), salobras (estuários) e salinas (mar). A avaliação da qualidade das águas recreacionais marinhas é realizada através da análise e monitoramento da presença de um ou mais microorganismos que, quando presentes no meio aquático, indicam a existência de contaminação fecal e a possível presença de patógenos – chamados, portanto indicadores.

Até pouco tempo, os micro-organismos indicadores de contaminação fecal mais utilizados para monitorar a qualidade de águas recreacionais marinhas eram os coliformes fecais (atualmente denominados termotolerantes).

No início da década de 80, a bactéria Escherichia coli passou a ser utilizada para esta finalidade. Esta bactéria é encontrada exclusivamente nas fezes de humanos e de animais homeotérmicos (mamíferos e aves), portanto sua presença na água do mar indica um elevado nível de contaminação fecal e a possibilidade da presença de micro-organismos patogênicos, colocando em risco a saúde dos banhistas.

Autora: Dra. Ana Julia Fernandes Cardoso de Oliveira, doutora em Oceanografia e docente e pesquisadora em Ecologia de micro-organismos em ambientes marinhos da Unesp.

Clique para acessar o %C3%81GUA%20E%20SA%C3%9ADE%20P%C3%9ABLICA_1.pdf

Saiba mais (trecho do parecer do Conselho Federal de Medicina, em 2015)

As chamadas doenças das águas recreacionais são causadas por germes disseminados pela deglutição, aspiração de névoas ou aerossóis ou pelo contato com águas contaminadas em piscinas, banheiras, parques aquáticos, áreas de desportos aquáticos, fontes interativas, spas, águas termais, lagos, rios e oceanos.

Essas doenças também podem ser provocadas por substâncias químicas presentes na água, ou por sua evaporação da água, que causam problemas na qualidade do ar em ambientes fechados. As doenças de águas recreacionais podem estar relacionadas a uma gama de infecções: gastrointestinais, cutâneas, otológicas, respiratórias, oculares, neurológicas e por traumatismos.

A mais comumente relatada é a diarreia. Doenças diarreicas passíveis de transmissão por essa via podem ser causadas por germes como Cryptosporidium, Giardia, Shiguella, Norovirus e E.Coli O157:H7.

Doenças cutâneas infecciosas de natureza bacteriana, viral ou fúngica são passíveis de serem devidamente diagnosticadas através de exame dermatológico e devem constituir impedimento à utilização de piscinas e outros locais de águas recreacionais.

A frequência do exame médico para indivíduos saudáveis deve ser trimestral. Os usuários devem ser orientados a se apresentarem em trajes de banho, sem esmalte; e com a recomendação de que mantenham atitude de bom senso, evitando o comparecimento a esse tipo de ambiente quando apresentarem doenças que possam comprometer a saúde dos demais usuários.

Os médicos responsáveis pelos exames dos usuários, em conjunto com os representantes dos clubes, associações e estabelecimentos privados e as autoridades sanitárias, deverão conscientizar as pessoas doentes, sobretudo aquelas com doenças diarreicas, para que evitem frequentar os banhos coletivos.

É conveniente ressaltar que o banho de chuveiro antes de entrar no local do banho coletivo, a existência dos chamados tanques lava-pés destinados à desinfecção dos pés dos banhistas, o tratamento adequado – com saneantes – das áreas destinadas aos chuveiros construídos – segundo as normas estabelecidas pela NBR 9818, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – são importantes medidas que devem também ser observadas pelo profissional médico, visando a prevenção das doenças já mencionadas.

http://www.portalmedico.org.br/pareceres/CFM/2015/2_2015.pdf (acesso em 08 ago. 2015).
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