Saiba como tratar lesões provocadas por águas-vivas e outros seres marinhos
Além dos tradicionais conselhos sobre uso de protetor solar, ingestão de líquidos e cuidados com a correnteza, quem passa as férias na praia deve tomar cuidado para não esbarrar em criaturas venenosas.
Frequentadores do litoral vêm sendo surpreendidos por relatos de “queimaduras” provocadas por águas-vivas.
Mas esses não são os únicos seres que podem tirar a paz dos banhistas. Caravelas, moreias e ouriços-do-mar são outros possíveis causadores de lesões na pele e até problemas mais graves.
No caso da água-viva, cujo veneno costuma causar vergões na pele, a recomendação é resfriar o local com bolsas de gelo ou água do mar gelada para aliviar a dor e, depois, fazer uma compressa com vinagre, que ajuda a neutralizar as toxinas. ”
É importante não usar água doce, que pode agravar os sintomas”, alerta o dermatologista Vidal Haddad Jr., professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e colaborador do Instituto Butantan.
O dermatologista afirma que, em 90% dos casos, o contato com a água-viva provoca apenas dor temporária. Em algumas pessoas, no entanto, as proteínas presentes no veneno podem causar reações alérgicas, gerando sintomas como falta de ar. Crianças pequenas também podem ter problemas respiratórios graves.
Cnidários
Águas-vivas são invertebrados marinhos do grupo dos cnidários (parentes das anêmonas-do-mar e dos corais). A característica que diferencia esses animais de todos os outros é a presença de pequenas estruturas em suas células (chamadas de cnidas ou nematocistos). Estas estruturas funcionam como pequenas agulhas que podem injetar toxinas.
O veneno serve para paralisar as presas e, em alguns casos, como mecanismo de defesa. No Brasil, há diversas espécies de águas-vivas – aproximadamente 155, mas felizmente poucas delas causam acidentes graves, como explica o professor de zoologia André Morandini, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para ele, as ocorrências registradas no litoral de São Paulo são resultado da grande concentração de banhistas e, também, do aumento do número de certas espécies de águas-vivas. Os motivos do fenômeno ainda não são claros, mas acredita-se que estejam relacionados ao aquecimento global e à pesca excessiva em determinadas áreas. ”
O homem está causando grandes alterações na vida marinha e esses acontecimentos são apenas uma das consequências”, diz.
Além disso, Morandini explica que este é o período de reprodução desses seres, o que provoca um aumento natural do número de indivíduos: uma praia de um quilômetro pode ter, em média, 10 águas-vivas.
O professor também afirma que os ventos fortes no litoral vindos do mar aberto podem trazer caravelas às praias, tipos de água-viva que causam “queimaduras” bastante graves.
Conheça os seres marinhos que podem causar problemas aos banhistas ou a mergulhadores, especialmente no litoral de São Paulo:
Esponjas-do-mar – possuem estruturas semelhantes a agulhas minúsculas que penetram a pele com facilidade. O contato pode provocar irritação, vermelhidão, inchaço, coceira e dor. Em casos de reação alérgica, é preciso procurar o médico.
Caravelas – têm o corpo gelatinoso, de cor roxo-azulada, com uma parte semelhante a uma bexiga, visível acima da linha da água. Os tentáculos podem ter até 30 metros e são muito urticantes. Nos casos mais graves, provocam câimbras, náuseas, vômitos, desmaios, convulsões, arritmias cardíacas e problemas respiratórios. Em caso de contato, remova os tentáculos com luvas, pinças ou lâminas; não esfregue o ferimento; aplique compressas de água do mar gelada ou bolsas de gelo; utilize compressas de vinagre; não lave com água doce, nem use álcool ou urina; procure auxílio médico
Águas-vivas – são gelatinosas, com aspecto de guarda-chuva ou prato. Possuem tentáculos urticantes. Nadam na água, geralmente em grupo. A maioria é pequena e inofensiva. Podem causar desde dermatites discretas até lesões intensamente dolorosas e necrose da pele. Em geral, causam os mesmos problemas provocados por caravelas e o procedimento, em caso de lesão, é aplicar bolsas de gelo, vinagre e procurar auxílio médico. Assim como no caso da “queimadura” por caravela, a água doce pode agravar os sintomas.
Ouriços-do-mar – são animais de corpo mais ou menos esférico. Possuem espinhos abundantes, rígidos e quebradiços. São comuns sobre rochas, entre pedras ou em fundo arenoso e são responsáveis por cerca de 50% dos acidentes no litoral de SP. Os espinhos podem causar dor intensa, quando o espinho penetra fundo (geralmente no pé). Algumas espécies são venenosas e podem causar vermelhidão, inchaço e infecções secundárias. É importante procurar auxílio de profissionais de saúde para evitar infecções secundárias. Para aliviar a dor, faça banhos de água quente.
Moreias – embora pareçam cobras, são peixes pacíficos. Vivem em água rasas, em tocas e frestas nas rochas. Têm visão ruim e, por isso, podem confundir nossos dedos com comida. Em caso de mordida, lave com água e sabão. Comprima a região de sangramento com uma compressa e faça banhos de água quente no local por 30-90 minutos. Não use torniquete e procure auxílio médico.
Arraias – são peixes achatados, com nadadeiras largas e uma cauda comprida. Ficam enterrados em fundos arenosos ou lodosos. Costumam se aproximar da praia no verão. Algumas espécies possuem um ou mais ferrões na base da cauda, que podem ser introduzidos na vítima se ela se aproximar muito ou pisá-las. Mergulhe o ferimento em água quente por 30-90 minutos e procure imediatamente um médico.
Bagres – são peixes muito comuns em águas rasas, em fundos arenosos ou lodosos. Possuem dois pares de barbilhões ao redor da boca e 3 espinhos serrilhados nas nadadeiras dorsal e peitorais. A maioria dos acidentes ocorre em banhistas que pisam nos bagres pescados e devolvidos ao mar. O ferimento pode causar dor forte por cerca de seis horas e, em alguns casos, necrose da pele, febre e vômitos. Mergulhe o ferimento em água quente por 30-90 minutos e procure imediatamente um médico .
Mangangás ou peixes-escorpião – vivem em águas rasas, em fundos rochosos. Movimentam-se pouco e se camuflam, ficando parecidos com o local onde se encontram. Possuem espinhos nas nadadeiras com glândulas de veneno. Ao serem tocados podem causar ferimentos dolorosos. Mergulhe o ferimento em água quente por 30-90 minutos e procure imediatamente um médico.
Polvos – são moluscos muito ativos e inteligentes. Vivem em tocas entre as rochas e pedras. Possuem tentáculos com ventosas e um bico associado a glândulas salivares que contêm veneno. São raros os casos de bicada. Nesse caso, lave a região com água e sabão. Caso haja dor intensa, mergulhe o local em água quente por 30-90 minutos e procure um médico.
http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2008/01/08/ult4477u267.jhtm
Fonte: Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (CEBIMar). Elaborado por Álvaro Esteves Migotto (CEBIMar/USP), Vidal Haddad Junior (Unesp) e Shirley Pacheco de Souza (Instituto Terra & Mar)