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Comportamento

Epistaxe: sangramento nasal e o tempo

A variação sazonal, com predominância nos meses de inverno, foi encontrada na maioria dos estudos relacionados ao sangramento nasal (também conhecido como epistaxe).

Fatores principais

Entre os principais fatores que influenciam a sua ocorrência estão: aumento do número de casos de infecções das vias áreas superiores, rinite alérgica e alterações na mucosa associados às flutuações de temperatura e umidade.

Baixo teor de umidade no ar ambiente pode resultar em secura e irritação das mucosas. Esse fator é comum nos meses de inverno e nos locais com aquecimento central, sem umidificadores.

A vermelhidão da mucosa do nariz, que acompanha a rinite alérgica ou viral, pode propiciar pequenos traumas, levando ao sangramento.

O que fazer na hora do sangramento?

Sangramentos nasais são comuns, mas nem sempre graves. As principais causas são exposição ao ar seco e manipular o interior do nariz.

Se o nariz começar a sangrar, o principal é saber como proceder. A maioria dos casos cessa espontaneamente. E como saber se é sério ou não? Quando procurar o hospital?

Você deve procurar um médico se o sangramento:

  • ocorrer em grande quantidade, causando dificuldade de respirar
  • lhe deixar muito pálido, cansado ou com confusão mental
  • não cessar, mesmo com as medidas realizadas em casa
  • acontecer logo após uma cirurgia do nariz,
  • acontecer se você tem, sabidamente, alguma lesão intranasal
  • vier acompanhado de outros sintomas, como dor no peito
  • acontecer após algum trauma, como ser atingido na face
  • não parar e você fizer uso de algum anticoagulante ou antiagregante plaquetário.

Como evitar?

  • use um umidificador no quarto
  • deixe sempre a mucosa nasal úmida, através de sprays nasais/soro fisiológico
  • tome cuidado ao manipular seu nariz, para evitar pequenos traumas, que podem levar a um sangramento.

Qual o tratamento?

Algumas medidas podem ser realizadas em casa, no momento do sangramento:

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  1. Assoe o nariz. Isso pode aumentar o sangramento num primeiro momento, não se assuste!
  2. Fique sentado ou em pé com a cabeça inclinada para frente. NÃO deite ou coloque a cabeça para trás!
  3. Aperte suas narinas por alguns segundos (na ponta do nariz)
  4. Fique pressionando seu nariz, com papel descartável, por alguns minutos (respire pela boca)
  5. Se o sangramento persistir, repita os passos. Se mesmo assim não parar de sangrar, procure o pronto atendimento.

Fonte:  Fernanda D. Giglio Petreche e Juliana A. Soares, disponível em https://www.einstein.br/noticias/noticia/qual-a-relacao-do-sangramento-nasal-com-o-tempo-seco

Saiba mais:

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Epistaxe: diagnóstico e tratamento
Eduardo Macoto Kosugi
Leonardo HigaNakao
José Arruda Mendes Neto
Bruno Borges C. Barros
Luiz Carlos Gregório
Trabalho realizado no Setor de Rinologia do Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo.
RESUMO

A epistaxe é a principal urgência otorrinolaringológica, com grande incidência e impacto social, porém a grande maioria dos episódios é autolimitada. A característica principal da vascularização nasal é a presença de anastomoses entre os sistemas carotídeos externo e interno, que determinam correlação clínico-anatômica, que devem ser consideradas na investigação diagnóstica e conduta terapêutica da epistaxe. O objetivo deste artigo é revisar os principais pontos do diagnóstico e do tratamento da epistaxe.

INTRODUÇÃO

Epistaxe (do grego, epi = sobre e stag = gotejar) é uma alteração da hemostasia nasal. Trata-se da mais frequente urgência otorrinolaringológica apresentando prevalência entre 10% e 12%(1).

Estima-se que cerca de 60% das pessoas no mundo apresentaram ou apresentarão epistaxe ao menos uma vez na vida, sendo que a grande maioria dos episódios é autolimitada, não necessitando intervenção médica.

Apenas 6% dos episódios de epistaxe necessitam auxílio médico para conter o sangramento e, destes, somente 1% necessita internação hospitalar(1-3). Mesmo assim, cerca de 4% dos casos atendidos em serviços de alta complexidade de urgência e emergência são epistaxes, representando a principal causa de sangramento e um dos dez diagnósticos mais comuns em urgência e emergência otorrinolaringológica(4).

Ocorre variação sazonal e etária. Há maior incidência em meses frios e secos(2-5).

Mesmo em uma cidade sem estações do ano bem definidas, como São Paulo, percebe-se que há sazonalidade na epistaxe, com predomínio no outono e inverno, tanto dos casos leves, de fácil tratamento, como os graves, com necessidade de tratamento mais agressivo( 4,7).

Além disso, existem dois picos de prevalência de idade para a epistaxe: um antes dos 10 anos e outro após 35 anos(3). Porém, existem diferenças clínico- -anatômicas entre estes picos, já que os episódios na infância costumam ser mais brandos e os raros casos graves são bem mais comuns em idosos(2,7).

CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS

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A vascularização nasal tem como principais características o suprimento de dois sistemas vasculares (carotídeo externo e interno) e as múltiplas anastomoses existentes entre estes sistemas na mucosa nasal (2,5,6).

O sistema da artéria carótida externa é o principal responsável pelo fluxo sanguíneo no nariz, via artéria maxilar, que entra na fossa pterigopalatina e termina como artéria esfenopalatina, e da artéria facial, que dá o ramo labial superior que penetra na cavidade nasal e se distribui na parte anterior do nariz (2).

A artéria esfenopalatina, tipicamente, divide-se em dois ramos após passar para a cavidade nasal via forame esfenopalatino, mas pode dividir-se em três ou mais(2,8). Além disso, a divisão da artéria esfenopalatina pode ocorrer antes do forame esfenopalatino, ainda na fossa pterigopalatina(2,8).

Os dois ramos mais comuns da artéria esfenopalatina são: a artéria septal, que irriga o septo posteriormente, e a artéria nasal lateral posterior, que irriga a concha média e inferior posteriormente(2).

O sistema da carótida interna origina a artéria oftálmica, que entra na órbita com o nervo óptico, cujos ramos terminais são as artérias etmoidais anteriores e posteriores. A artéria etmoidal anterior é mais calibrosa que a posterior e é responsável pela irrigação do terço anterior da parede lateral e superior do nariz. Já a artéria etmoidal posterior irriga a área da concha superior e zona correspondente no septo(2).

Um dos principais pontos de anastomose do sistema carotídeo interno e externo se faz na região anterior do septo ou área de Little, e é chamada de Plexo de Kiesselbach (8,9).

O plexo de Kiesselbach não forma uma rede vascular randômica, e sim um triângulo anastomótico arterial consistente com suprimento vascular constante(2). O vértice superior do triângulo recebe suprimento da artéria etmoidal anterior; o vértice anterior, da artéria labial superior e o vértice posterior, da artéria septal(9).

CORRELAÇÃO CLÍNICO-ANATÔMICA

Do ponto de vista anatômico, a epistaxe pode ser classificada em anterior e posterior, de acordo com a origem do sangramento na cavidade nasal (1,6).

Entre 90% e 95% dos sangramentos são classificados como anteriores, principalmente da área de Little (3,6).

Além de mais frequentes, os sangramentos anteriores costumam ser autolimitados, menos graves e ainda facilmente conduzidos pelo médico.

As epistaxes posteriores são clinicamente distintas das anteriores, pois são mais raras, costumam ter prognóstico mais grave e apresentam pico de prevalência em idosos (3,7).

A região mais acometida é a parte posterior da parede nasal lateral, relacionada com os vasos do forame esfenopalatino, que são os mais calibrosos da cavidade nasal(3). Devido às diferenças clínicas apresentadas entre os sangramentos anteriores e posteriores, é correto afirmar que há correlação clínico-anatômica na epistaxe(2-6).

ETIOLOGIA

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Fatores locais

Traumatismos: o trauma digital, isto é, o hábito de colocar o dedo no nariz, é o maior responsável pelos sangramentos nasais, principalmente em crianças.

A rinite alérgica tem papel importante neste quadro, pois atua como fator desencadeante da manipulação digital devido ao prurido nasal que ela provoca.

Em pacientes hospitalizados, o uso de sondas nasogástricas ou nasoenterais é causa comum de epistaxe pelo trauma durante a introdução.

A fratura de face mais frequente ocorre no nariz (50% dos traumas), pela sua localização e projeção, constituindo importante causa de epistaxe.

Uma situação grave, porém rara, é o sangramento decorrente de aneurismas ou pseudoaneurismas da artéria carótida interna em pacientes com história de traumatismo cranioencefálico (2,3,5).

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Alterações anatômicas: o desvio septal é uma variação anatômica comum, porém seu papel na etiologia da epistaxe é incerta.

Provavelmente,o desvio septal causa turbulência do fluxo aéreo, que leva ao ressecamento da mucosa, que facilita o sangramento(2,5).

As perfurações septais podem promover o mesmo mecanismo de turbulência e ressecamento de mucosa, levando à epistaxe também(3).

Inflamação: a epistaxe pode ocorrer devido à inflamação da mucosa nasal, seja por causas alérgicas ou infecciosas, agudas ou crônicas (alergia, resfriado comum, vestibulite, rinossinusites).

Outras doenças de características específicas como a granulomatose de Wegener e o granuloma letal de linha média também são causas de epistaxe (5).

Corpos estranhos: ocorre geralmente em crianças ou indivíduos com distúrbios mentais. O corpo estranho nasal pode causar rinorreia purulenta fétida unilateral com epistaxe(5). Remoção simples e lavagem com solução isotônica são as medidas mais indicadas.

Cirurgias nasais: a hemorragia nasal é a mais frequente complicação das cirurgias de nariz, geralmente ocorrendo na primeira semana de pós-operatório (com ocorrência em até 30 dias após o procedimento). Os procedimentos mais associados a sangramentos no pós- -operatório são as turbinectomias (0,9% a 8,9%)(5).

Tumores: tumores nasais, dos seios paranasais e da rinofaringe, podem apresentar sangramentos exteriorizados pela cavidade nasal.

O angiofibroma nasofaríngeo juvenil se destaca por acometer adolescentes e adultos jovens, do sexo masculino, com queixas de obstrução nasal e epistaxes recorrentes.

Os tumores malignos mais frequentes na cavidade nasal são os carcinomas espinocelulares que habitualmente se manifestam com sangramento nasal e obstrução nasal unilateral (5).

Fatores sistêmicos

Drogas: os anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) e o ácido acetilsalicílico (AAS) são as medicações mais associadas à epistaxe, por inibir a agregação plaquetária.

Já os anticoagulantes (warfarina, enoxaparina, heparina) podem induzir ao sangramento pela inibição da síntese de fatores de coagulação ligados a vitamina K.

Outras substâncias também podem inibir a agregação plaquetária, como alho, ginkgo biloba e ginseng (os 3 Gs, em inglês) (2).

Hipertensão: o papel da hipertensão arterial sistêmica (HAS) é discutível e nenhuma associação clara foi estabelecida como fator isolado na epistaxe (2).

Um estudo transversal populacional não mostrou associação entre HAS e epistaxe, enquanto num estudo prospectivo em pacientes hipertensos que apresentaram epistaxe a incidência da epistaxe não esteve relacionada com a gravidade da HAS.

Em contraste, outros estudos mostraram pressões arteriais elevadas nos pacientes com epistaxe (3).

No momento da epistaxe, a pressão arterial mais elevada pode não ser a causa, mas consequência da epistaxe, já que o quadro costuma gerar grande ansiedade nos pacientes (5).

Apesar de não haver certeza absoluta da HAS como causa de epistaxe, é sabido que níveis pressóricos elevados dificultam o controle do sangramento(2).

Coagulopatias: pacientes com doenças hereditárias como as hemofilias, von Willebrand e trombocitopenias frequentemente apresentam epistaxes. Doença renal crônica com necessidade de hemodiálise é fator de risco para epistaxe, devido à menor agregação plaquetária induzida pela doença, além do uso de heparina para a diálise(5).

Coagulopatias decorrentes de insuficiência hepática e síndromes paraneoplásicas também podem cursar com epistaxe(5).

Vasculopatias: a telangectasia hemorrágica hereditária (doença de Rendu-Osler- Weber) é uma doença autossômica dominante que cursa com epistaxes(2-5). Nesta doença, as paredes dos vasos são anormais com degenerações focais do endotélio, resultando em telangectasias e malformações arteriovenosas, que promovem episódios recorrentes de epistaxe(2,5).

DIAGNÓSTICO

Por tratar-se de um quadro de urgência ou até emergência, o atendimento ao paciente com epistaxe acaba sobrepondo diagnóstico e tratamento.

A preocupação inicial na avaliação da epistaxe é verificar a via aérea e a estabilidade hemodinâmica (2,3).

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A anamnese deve ser sucinta, com especial atenção para lateralidade, duração, frequência e gravidade do sangramento. A quantidade do sangramento é muito difícil de ser quantificada.

Devemos ater-nos, neste caso, à repercussão hemodinâmica provocada pela epistaxe.

É importante tentar identificar a etiologia, questionando o uso de AAS, AINE ou anticoagulantes, histórico de trauma, presença de doenças nasais, hepatopatias, coagulopatias, vasculopatias e HAS.

Obstrução nasal ipsilateral ao sangramento pode sugerir neoplasia nasal. Se o sangramento for pós-trauma, investigar outras lesões associadas(2,3). No exame físico devemos verificar, inicialmente, o estado geral do paciente, com especial preocupação com a permeabilidade de via aérea e estabilidade hemodinâmica.

Então, devemos tentar identificar o ponto do sangramento, o que nem sempre é de fácil realização.

Topodiagnóstico é a palavra-chave no manejo das epistaxes, devido à grande quantidade de vasos dos dois sistemas carotídeos e intensa anastomose entre eles. Iluminação adequada, com utilização de uma boa fonte de luz frontal, é fundamental.

Devemos efetuar sucção cuidadosa dos coágulos da cavidade nasal, assim como efetuar vasoconstrição da mucosa com cotonoides embebidos em solução de adrenalina ou outro vasoconstritor, associado ou não a algum anestésico (lidocaína ou neotutocaína).

A rinoscopia anterior pode identificar epistaxes anteriores (área de Little), que são as mais frequentes (80% a 90% dos casos). Porém, o uso do endoscópio nasal é muito importante para as epistaxes posteriores (parede nasal lateral, região superior e posterior do nariz), além de identificar alterações anatômicas, tumores nasais, corpos estranhos e telangectasias(2,3).

Os quadros leves, facilmente controlados, não necessitam investigação adicional de urgência. Pacientes com episódios mais graves necessitam avaliação hematimétrica com tipagem sanguínea para possível necessidade de transfusão e coagulograma completo. Dependendo da suspeita clínica, avaliação renal ou hepática pode ser solicitada. Em suspeita de neoplasia nasal, a tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética são de grande valia.

CONDUTA

Medidas iniciais

O tratamento pode variar de acordo com a gravidade e localização do sangramento. Mas a experiência do médico é fundamental na tomada de conduta, principalmente nos casos mais graves(2).

O ABC básico é sempre a avaliação inicial. Garantir a via aérea com intubação orotraqueal ou traqueostomia pode ser necessário nos casos de choque hemorrágico. Oxigenação é importante principalmente nos cardiopatas.

Acesso venoso calibroso é fundamental nos pacientes com sangramento ativo intenso. Ao puncionar a veia, colhe-se sangue para hemograma, coagulograma e tipagem sanguínea e se inicia hidratação vigorosa quando há repercussão hemodinâmica( 5).

Sempre que possível, manter o paciente sentado, para evitar deglutição de coágulos(3).

Aspiração nasal cuidadosa dos coágulos melhora bastante a visualização da cavidade nasal, mas é fundamental a utilização de cotonoides embebidos em soluções tópicas vasoconstritoras (adrenalina 1:100.000, fenilefrina 1% ou oximetazolina 0,05%) associadas a anestésicos (lidocaína 2% ou neotutocaína 2%)(2).

O paciente com epistaxe costuma estar extremamente ansioso, com hipertensão arterial secundária à ansiedade, o que piora o sangramento.

Manter a calma e tentar acalmar o paciente são ações necessárias.

Compressas geladas sobre o dorso nasal auxiliam, pois têm efeito vasoconstritor(5).

Compressão digital com o polegar e o indicador se constitui na primeira medida a ser tomada, enquanto outras medidas são preparadas. Ao menos cinco minutos de compressão devem ser efetuadas para tentativa de hemostasia(2,5).

Cauterização nasal

A cauterização nasal pode ser usada para tratamento de sangramentos anteriores quando o ponto de sangramento é visível pela rinoscopia anterior.

Porém, com o uso do endoscópio nasal, sangramentos posteriores também podem ser abordados com a cauterização. A cauterização pode ser química, com ácido tricloroacético ou nitrato de prata, ou elétrica, com eletrocautério mono ou bipolar. E sempre se faz necessário o uso das soluções anestésicas-vasoconstritoras(2,5).

A cauterização química costuma ser realizada com ácido tricloroacético a 80%. Após anestesia e vasoconstrição local com cotonoides embebidos em solução apropriada, identifica-se o ponto sangrante, geralmente pela rinoscopia anterior, e se aplica algodão embebido no ácido.

A cauterização química deve ser utilizada para sangramentos de pequena intensidade, já que nos sangramentos mais graves o fluxo do sangue acaba por “lavar” o ácido aplicado, antes de sua ação efetiva. Costuma-se cauterizar uma pequena área ao redor do ponto sangrante inicialmente, caminhando-se em direção centrípeta.

Devemos resistir à tentação de cauterizar grandes áreas do septo ou cauterizar seguidas vezes um mesmo ponto ou, ainda, cauterizar uma mesma região dos dois lados do septo, sob risco de perfuração septal(2,5).

A cauterização elétrica pode ser feita via rinoscopia anterior ou endoscopia nasal, portanto pode ser utilizada em sangramentos posteriores. Além disso, ela é eficaz em sangramentos mais graves, diferentemente da cauterização química.

Nesses casos, devemos injetar anestésicos locais na mucosa nasal bilateralmente, devido à corrente elétrica ser transmitida pelo septo para o outro lado. A cauterização pode ser realizada com eletrocautério mono ou bipolar ou, ainda, com aspiradores-coaguladores. Estes últimos facilitam a identificação do ponto sangrante e controle de hemostasia. Novamente, evitar cauterização excessiva bilateral na mesma região do septo, sob risco de perfuração(2,5).

Tamponamento nasal anterior

Tamponamento nasal se faz necessário quando as medidas locais não obtêm sucesso em controlar o sangramento, porém o tamponamento é um procedimento desconfortável e pode ter complicações graves, principalmente os posteriores.

Realizamos o tamponamento anterior quando conseguimos visualizar o sangramento em região anterior do nariz. Na prática, pode-se tentar o tamponamento anterior mesmo nos casos em que não se visualiza o ponto de sangramento.

O tamponamento anterior clássico é realizado com gaze embebida em vaselina, posicionada na cavidade nasal até realizar pressão suficiente para tamponar o sangramento. As gazes devem ser posicionadas da região posterior e superior do nariz até chegar à região anterior, de maneira ordenada de modo a preencher completamente a fossa nasal.

É uma técnica que exige treinamento do médico e pode ser traumático para o paciente. Uma alternativa mais simples em casos de sangramento restrito à região anterior é a utilização do tampão “dedo de luva”.

Um dedo de luva cortado é preenchido com 1,5 a 2 gazes, ancorado com um fio, lubrificado com vaselina e inserido na fossa nasal(5,6). Vários tipos de tampões nasais industrializados foram desenvolvidos: absorvíveis, não absorvíveis, anteriores, posteriores.

Dentre os absorvíveis, temos a celulose oxidada (Surgicel®) e a espuma de gelatina (Gelfoam®), que estimulam a agregração plaquetária e estimulam a cicatrização.

Dentre os não absorvíveis, temos uma infinidade de balões infláveis, esponjas de carboximetilcelulose, dentre outros(2). Estudos comparando os tampões tradicionais com os industrializados não mostraram diferença na eficácia e desconforto ao paciente, exceção feita aos balões, que são desinsuflados para remoção, possibilitando uma retirada relativamente atraumática(6).

Tamponamento ântero-posterior

As epistaxes posteriores são mais raras, porém mais graves do que as anteriores. O alto fluxo de sangramento combinado à localização posterior faz com que a identificação do ponto de sangramento seja muito difícil na sala de emergência.

Nas epistaxes sabidamente posteriores, ou na falha do tamponamento anterior, devemos utilizar o tamponamento posterior (ou também chamado de ântero-posterior). O tamponamento posterior clássico é ainda mais difícil de ser realizado. Após passar uma sonda em cada narina e recuperá-la pela boca, ancoramos um chumaço de gaze com três fios grossos e amarramos os dois fios dos cantos nas sondas.

Puxamos a sonda de volta pelas narinas, puxando assim os fios e, consequentemente, o chumaço de gaze, até ancorá-lo na rinofaringe. O terceiro fio é exteriorizado pela boca e servirá para retirar o tampão. Ancoramos os dois fios que passaram pelas narinas na parte anterior do nariz, e preenchemos as fossas nasais com gaze (tampão anterior).

Como alternativa mais rápida e menos traumática, podemos passar uma sonda Foley® na fossa nasal sangrante até a rinofaringe, encher o balão com água destilada até ancorá-la nas coanas e/ou rinofaringe. Tracionamos e fixamos a sonda anteriormente e preenchemos a cavidade nasal com gaze. Em ambas as técnicas é necessário cuidado com a columela e asa nasal, pois a pressão exercida pelo tampão anteroposterior tracionado causa isquemia e necrosa esta região.

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Assim como no tamponamento anterior, diversos balões industrializados foram desenvolvidos para realizar o tamponamento posterior, a maioria apresenta dois balões, um anterior para preencher a cavidade nasal e outro posterior para preencher a rinofaringe, que podem ser utilizados com eficácia semelhante aos tradicionais, porém com custo maior(5,6).

Mesmo assim, vale a pena ressaltar que os tamponamentos nasais posteriores não são muito eficazes, além da necessidade de manter 48 a 72 horas de tamponamento.

Sua taxa de insucesso pode chegar até 52%(10). Um dos motivos pode ser a localização destes sangramentos posteriores.

Thornton identificou 81% dos sangramentos posterior com endoscopia e anestesia geral: 80% destes se localizavam na parede lateral e apenas 20% no septo nasal. E dos 80% da parede lateral, os pontos sangrantes estavam ou na parede lateral da concha ou na parede lateral do meato, tanto médio como inferior.

Ou seja, na grande maioria das vezes, o ponto sangrante está em locais em que o tampão não consegue exercer pressão direta(11). Além disso, o tamponamento nasal pode gerar uma série de complicações: dor, disfagia, ulcerações, necrose alar, columelar ou palatal, perfurações septais, infecções, sinéquias, hipóxia/hipoxemia, apneia, arritmias, infarto agudo do miocárdio e até morte.

A síndrome do choque tóxico é uma das possíveis complicações e se apresenta com febre, vômitos, diarreia, hipotensão e rash cutâneo secundário à produção de toxina TSST-1 pelo Staphylococcus aureus. Devido às possíveis complicações, os pacientes submetidos ao tamponamento ântero-posterior devem ser hospitalizados com um mínimo de monitorização (oxímetro de pulso) e possível suplementação de oxigênio(2,5,10).

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Ligaduras arteriais

Historicamente, as ligaduras arteriais têm indicação nas epistaxes graves (posteriores) que falham ao tratamento clínico (tamponamento ântero-posterior).

Diversas técnicas foram descritas, desde a ligadura da artéria carótida externa por Hyde, em 1925, passando pela ligadura da artéria maxilar e chegando à artéria esfenopalatina, com a abordagem microscópica via antrostomia média de Prades, em 1977, a transnasal microscópica de Stamm, em 1985, até a transnasal endoscópica de Budrovich e Saetti, em 1992(12).
Figura 3 – Fluxograma de condutas UNIFESP-EPM na epistaxe.

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Atualmente, já é consenso que a ligadura endoscópica é o melhor método cirúrgico para epistaxe posterior, pois a oclusão é feita no ponto mais distal possível da vascularização nasal, evitando-se ressangramentos pela circulação colateral.

Além disso, o uso do endoscópio nasal rígido permite mínima dissecção com melhor visualização, gerando menor morbidade. Complementando, a técnica apresenta inúmeras séries descritas com taxas de sucesso acima de 90% e ausência de complicações graves(1-8,10-12).

Além dos critérios médicos, a ligadura endoscópica leva vantagem inclusive quando consideramos os custos associados à internação.

Os pacientes com epistaxe grave manejados clinicamente custam mais caro devido ao maior tempo de internação. Nos casos de falha do tamponamento ântero-posterior, adicionam- se aos custos do manejo clínico os custos cirúrgicos.

O paciente com epistaxe grave tratado cirurgicamente custa menos, pois a eficácia é maior e o tempo de internação bem menor(10).

Considerando que o tamponamento ântero-posterior apresenta baixa eficácia, risco de complicações graves necessidade de monitorização hospitalar e internações prolongadas com maiores custos hospitalares e considerando que a ligadura endoscópica é mais segura e mais eficaz que as outras técnicas, inclusive o tamponamento ântero-posterior, diversos autores advogam o uso da ligadura endoscópica da artéria esfenopalatina como a primeira opção no tratamento da epistaxe grave(1-3,5-8,10-13), inclusive em coagulopatias(14).

Na prática, quando o paciente apresenta sangramento posterior, realizamos o tamponamento ântero–posterior com sonda Foley® apenas para estancar a hemorragia e levamos o paciente à sala cirúrgica para ser anestesiado e submetido à ligadura arterial. Esta conduta só não é adotada quando o paciente apresenta más condições clínicas, em que a anestesia geral seja contraindicada(7).

A ligadura arterial pode envolver a artéria esfenopalatina e/ou a artéria etmoidal anterior(7,12). Basicamente, pacientes com sangramentos posteriores são beneficiados com a ligadura da artéria esfenopalatina.

A ligadura da artéria etmoidal anterior tem papel importante nos traumas faciais. Seu sucesso quando associada a ligadura da artéria esfenopalatina é alta, portanto recomendamos a ligadura da artéria etmoidal anterior sempre associada a da artéria esfenopalatina.

As possíveis indicações para ligadura das artérias esfenopalatina e etmoidal anterior combinadas são: sangramento de origem superior, sangramento de origem indefinida e pacientes em mau estado geral(12).

A ligadura da artéria etmoidal posterior não deve ser realizada, pela proximidade com o nervo óptico e ausência em alguns pacientes, o que aumenta o risco de amaurose.

A ligadura da artéria esfenopalatina é feita sob anestesia geral, com uso do endoscópio nasal rígido, em decúbito dorsal horizontal, com cabeceira levemente elevada.

Realiza-se vasoconstricção com cotonoides embebidos em adrenalina 1:1.000 e infiltração da mucosa do meato médio com solução de adrenalina 1:100.000. Palpa-se a fontanela posterior até identificação do osso palatino, em que será feita uma incisão vertical para dissecção do flap mucoperiosteal.

A dissecção é feita posteriormente até encontrar a crista etmoidal e o forame esfenopalatino. Então, devemos tomar um cuidado especial em identificar todos os possíveis ramos oriundos do forame esfenopalatino.

As artérias devem ser coaguladas e seccionadas, para evitar recanalização. Pode-se utilizar clips vasculares, mas não se recomenda a utilização apenas dos clips, sem a eletrocauterização, já que o uso isolado dos clips está associado a maior índice de falhas e menor proporção de tempo livre de reintervenção quando comparado ao uso da eletrocauterização(12,13).

A ligadura da artéria etmoidal anterior deve ser realizada por via externa, já que a ligadura endoscópica da artéria etmoidal anterior é tecnicamente viável em apenas 20% dos casos(15). A abordagem via externa requer incisão de Lynch de cerca de 2 a 3 cm no canto medial do olho.

Esse acesso pode diminuir ao mínimo utilizando-se o endoscópio pela incisão para localização da artéria etmoidal anterior. Após incisão na pele e periósteo é feito o descolamento subperiosteal até a sutura frontonasal. Introduz-se endoscópio nasal rígido de 0 grau e continua-se o descolamento subperiosteal sobre a crista lacrimal. A artéria etmoidal anterior situa-se 24 mm posterior à crista lacrimal. Depois de identificada a artéria, realiza-se eletrocoagulação com cautério bipolar(16).

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Embolização

A embolização para epistaxe grave foi descrita pela primeira vez em 1974. Durante este procedimento a artéria maxilar é canulada e constrastada para demonstrar o ponto sangrante, para posterior embolização(6).

Seu sucesso pode chegar até a 96%, mas suas complicações são potencialmente mais graves e atingem de 17% a 27% dos casos. As complicações podem ser transitórias, como: dor facial, cefaleia, edema facial, confusão mental e parestesias.

Ou maiores, como: necrose, amaurose, paralisia facial periférica, hemiplegia, acidente vascular cerebral e morte(5,12). Dos pacientes, 13% podem ressangrar em até seis semanas, enquanto que outros 14% ressangram após longo acompanhamento(6). É uma alternativa interessante para pacientes com epistaxe grave e contraindicação para anestesia geral.

Bibliografia
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http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=5933

Cólicas do lactente

Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria

A cólica do bebê é transitória e aparece geralmente na segunda semana de vida, acabando em torno do quarto mês, em uma criança saudável.

A cólica pode durar até três horas por dia e normalmente acontece no final da tarde ou à noite. Além do choro, o bebê fica irritado e agitado.

Como diferenciar o choro por cólica do choro de fome

O bebê chora por diversas razões: fome, frio, sono, calor, dor, incômodos por fralda molhada ou apertada ou até porque quer aconchego e carinho.

Com o tempo, a mãe vai aprendendo a identificar o motivo de choro do seu bebê. No entanto, a criança que chora por fome se acalma assim que mama. Isso não acontece quando o choro é por cólica.

Como evitar as cólicas

Tente manter a calma e lembre-se de que as cólicas acontecem em um bebê saudável e que vão passar em poucos meses.

A ansiedade da mãe não ajuda a acabar com a cólica, mas algumas ações podem amenizar a dor:

  1.  um ambiente tranquilo e uma música suave ajudam a relaxar mãe e filho;
  2.  um banho morno também ajuda a descontrair;
  3.  movimentos nas pernas do bebê, como “pedalar no ar” podem auxiliar a eliminar o excesso de gases;
  4.  massagem na barriguinha do bebê, sempre no sentido horário, mobiliza os gases;
  5.  compressas mornas na barriguinha com toalhas felpudas passadas a ferro têm efeito analgésico (teste antes o calor da toalha em sua própria face).

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Muita calma nessa hora

Porém, o mais importante é ter paciência para acalmar o bebê, aconchegando-o no colo, barriga com barriga, ou apoiado de bruços na extensão do antebraço dos pais.

Nada de chás

Oferecer chá ao bebê não acaba com a cólica e pode prejudicar a amamentação. Remédios têm pouca eficácia.

A cólica é um dos principais motivos do oferecimento de chás para lactentes.

Sabe-se que a introdução dessa prática é fator de risco importante para o desmame precoce, e para que essa conduta seja efetiva, é necessária a ingestão de grandes volumes, o que pode comprometer seriamente a nutrição da criança.

A introdução de chás está também associada com quadros diarreicos. Esses fatores aumentam o risco de morbimortalidade nessa faixa etária.

Relação entre cólica e dieta materna

As causas das cólicas do primeiro trimestre não são bem conhecidas, mas parecem ter relação com uma relativa imaturidade do bebê; e vão melhorar com seu crescimento, sem deixar sequelas.

A alimentação materna como possível causa da cólica ainda é controversa.

A cólica pode ocorrer tanto em bebês amamentados no seio quanto naqueles amamentados com leite de vaca (fórmulas).

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Entretanto, existe a possibilidade de alguns alimentos (leite de vaca, soja, trigo, nozes) passarem para o leite materno e provocarem cólicas.

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No entanto, esses alimentos só devem ser retirados da dieta da mamãe caso as cólicas estiverem associadas com outros sintomas gastrintestinais que indiquem alergia alimentar, como a presença de rajas de sangue nas fezes do bebê.

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Ao primeiro sinal de sangue nas fezes do bebê, seu pediatra deve ser consultado.

Lembre-se, o ideal é prolongar ao máximo o aleitamento materno porque o leite de vaca tem alto poder de causar alergia.

Choro primário excessivo

A denominação cólica do lactente tem caído em desuso, propondo-se o termo choro primário excessivo. Pesquisas confirmam que a cólica costuma iniciar após a segunda semana de vida e se caracteriza por choro de forte intensidade, repentino, que se repete todos os dias em determinados horários, principalmente ao entardecer.

Definição 

Do ponto de vista fisiológico, a cólica possui definição clínica consagrada pela literatura, que a descreve como paroxismos de irritabilidade, agitação ou choro, durante pelo menos três horas por dia, em crianças saudáveis.

Emocional ou incoordenação do SNA?

Durante um episódio de cólica é reconhecido como característica comum nos lactentes um choro profundo e intenso, de longa duração e que não cede apesar de todos os esforços de consolo. Pode ocorrer devido à incoordenação do sistema nervoso autônomo. Porém a origem emocional é mais frequente do que a gastrintestinal.

Outras possíveis causas

Outras teorias aplicadas como causa da cólica do lactente são: por imaturidade do sistema digestivo, já que o alimento acelera o funcionamento intestinal provocando espasmos; pelo sistema nervoso imaturo e sensível; por espasmos do cólon; por alergia a proteína do leite materno ou à fórmula infantil; por alimentos ingeridos pela própria mãe ou adicionados à mamadeira (ricos em Fe+3, proteínas do leite, leite em pó, chocolates, laticínios, pepino, pimentão, condimentados, etc.), que podem fermentar no intestino do recém-nascido (RN) e provocar a formação de gases; pela ansiedade dos pais e tensão no domicílio; e pela deglutição de ar causada pelo mau posicionamento do RN durante a alimentação.

Dor muscular e aerofagia

Uma das investigações que defende a cólica do lactente como uma síndrome de dor devido ao sugar a mamadeira ou o mamilo, afirma ainda que a alimentação é, para o lactente, pesada carga de trabalho para os músculos mastigatórios.

A hipótese explica o choro como sendo causado pela dor muscular e consequente aerofagia que, porém, com o desenvolvimento da criança e o aumento da força muscular a dor se desvanece.

A cólica acontece quando o alimento ingerido não consegue atingir o seu destino como produto final da digestão, devido à retenção em algum ponto do intestino.

Quando isto ocorre, as bactérias da flora intestinal normal agem sobre a lactose, gerando os gases. As partículas desses gases gerados fazem pressão nas alças intestinais provocando a dor e alterando o peristaltismo.

Normalmente, os movimentos peristálticos promovem a digestão. Porém, como estão alterados, impedem o fluxo normal do bolo alimentar.

A formação de gases continuará ocorrendo até que outro evento, como administração de fármacos, interrompa o ciclo, recupere a harmonia dos movimentos peristálticos e elimine os gases, permitindo o progresso da digestão.

Sem motivo aparente

Na prática, a cólica é frequentemente caracterizada apenas pelo choro sem motivo aparente. Acontece que o choro é uma ferramenta normal de comunicação usada pelo lactente nos seus primeiros meses de vida.

O choro é uma das primeiras formas do recém-nascido comunicar-se e solicitar ajuda. Ele pode chorar pelos mais variados motivos e muitas, vezes os pais principalmente quando é o primeiro filho ficam tensos e preocupados.

Com isso, é importante salientar a importância da paciência, calma e muito carinho dos pais nesse momento para que eles possam reconhecer quando um choro é sinal de dor ou apenas um pedido de atenção.

Desajuste

Do ponto de vista psicológico é referido que a cólica seja indicadora do desajuste no relacionamento mãe-bebê, sendo o corpo utilizado como meio de expressão desse desconforto. O problema chega a um ponto crucial quando a cólica induz a sensação de incompetência dos pais e discórdia entre o casal.

Escolaridade materna X Cólica do lactente

Um estudo para a identificação dos determinantes da cólica do lactente analisou as características de nascimento, tipo de alimentação, atividades enzimáticas fecais da criança, tabagismo nutrição e estado psicológico materno, vínculo mãe-filho, estrutura familiar e apoio social para a mãe. Obtiveram como resultados o fato de que os lactentes com cólica apresentaram maiores proporções de mães com baixa escolaridade, fumantes e a presença de violência doméstica em seus contextos.

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É descrito que a cólica do lactente se apresenta como um problema recorrente nos primeiros meses de vida e que causa considerável sofrimento para os pais e membros da equipe de saúde. Apesar do vasto tempo de pesquisa, a patogênese desse estímulo doloroso ainda não é completamente compreendida e os tratamentos existentes permanecem uma questão em aberto.

Aerofagia (deglutição de ar ao beber ou comer)

A aerofagia devido à avidez da criança em sugar o seio materno ou o orifício maior no bico da mamadeira ou ainda o uso intenso de chupeta pode desencadear a cólica no lactente.

Alguns estudos descrevem que alimentos ingeridos pela mãe como o leite de vaca, café, chocolate, mamão, queijo ou condimentos podem ser motivos de cólica.

A mãe que amamenta deve ter uma alimentação saudável e ingerir líquidos com frequência, a fim de promover a saúde e fomentar a autonomia das famílias.

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O leite materno possui níveis substanciais de melatonina, associada à redução da irritabilidade e diminuição da cólica. A criança tende a dormir mais no período noturno em comparação com os lactentes alimentados com fórmula.

Referências maternas

No que diz respeito à identificação da cólica do lactente, as mães reconhecem a dor conforme as reações de seu filho: choro, face vermelha, agitação, contorção do corpo, movimentos de pernas, careta, sudorese.

Intervenções comportamentais

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As intervenções comportamentais têm se mostrado eficazes no tratamento da cólica infantil através do movimento de embalar, utilização de som para acalmar o lactente e a redução de estímulos; as terapias complementares têm sua utilização justificadas pela experiência anterior positiva, insatisfação com o tratamento convencional, por dificuldades financeiras para a compra de medicamentos e receio de efeitos colaterais.

http://www.conversandocomopediatra.com.br/website/paginas/materias_gerais/materias_gerais.php?id=170&content=detalhe

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Cuidados especiais com os olhos

COMO DEVE SER A POSTURA DA PESSOA NA FRENTE DO COMPUTADOR?

O ideal é a tela do computador ficar na altura da linha dos olhos ou um pouco abaixo, nunca acima!

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A cadeira ideal é aquela que proporciona maior conforto, mas seu corpo não deve ficar encurvado para a frente, pois isso pode causar pressão na nuca e dor de cabeça após horas de permanência nessa posição.

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POR QUE MEUS OLHOS ARDEM QUANDO FICO NA FRENTE DO COMPUTADOR DURANTE ALGUMAS HORAS?

Quando você está prestando muita atenção em alguma atividade, ocorre uma diminuição da frequência de piscar e isso acarreta ardor e desconforto visual.

Por isso, nunca se esqueça de piscar mais quando estiver usando o computador, ou no cinema ou assistindo a um vídeo na TV.

LER COM POUCA LUZ PODE ENFRAQUECER A VISÃO?

Não, pode cansar ou dificultar a leitura, mas não enfraquece a visão.

USAR ÓCULOS VICIA?

O uso dos óculos não vicia.

Quando a criança enxerga pouco para longe ou força os olhos para ver de perto, os óculos possibilitam que veja bem e estude sem desconforto ou dor de cabeça.

Quem enxerga pouco o que está longe pode ter miopia; quem tem desconforto ao forçar os olhos para ver de perto provavelmente tem hipermetropia; o astigmatismo é a dificuldade para ver de perto e de longe.

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ACIDENTES COM OS OLHOS

O melhor remédio é a prevenção, pois algumas lesões podem causar desde a perda da qualidade da visão até a cegueira irreversível.

O descuido com objetos pontiagudos, a falta do uso de equipamentos de proteção em ambientes de trabalho e o desconhecimento do perigo que alguns produtos químicos representam causam diversos acidentes com os olhos.

Quando esses acidentes ocorrem, é importante saber que medidas devem ser tomadas e procurar com urgência por atendimento oftalmológico, pois apenas uma avaliação médica pode dimensionar a lesão e evitar complicações no futuro.

COMO EVITAR ACIDENTES COM OS OLHOS

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Cozinhando

Quando estiver cozinhando, deixe sempre o cabo da panela virado para dentro do fogão para evitar que ela vire em função de algum esbarrão.

Mantenha a penela sempre tampada, pois o líquido quente pode respingar e causar queimaduras nos olhos.

Produtos de limpeza

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Mantenha produtos de limpeza longe do alcance das crianças. Evite guardá-los nas prateleiras mais baixas de armários ou sob a pia. Eles podem causar queimaduras químicas se acidentalmente entrarem em contato com os olhos.

O mesmo se aplica a medicamentos, que não podem ser aplicados nos olhos sem prescrição médica ou em doses diferentes do que foi recomendado.

Objetos e crianças

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Não permita que crianças brinquem com objetos pontiagudos, como facas, garfos e tesouras com pontas, pois eles representam risco de perfuração ocular.

Plantas

Cuidado com as plantas pontiagudas e espinhosas, que podem ferir os olhos. As que soltam líquido leitoso podem causar irritação se atingirem os olhos.

Cigarro

Não fume próximo a crianças pequenas. Ao pegá-las no colo ou ao movimentar o braço elas podem sofrer queimadura ocular.

 Animais

Oriente as crianças sobre o cuidado em suas brincadeiras com animais (eles podem bicar, arranhar ou morder a região os olhos) e ainda a lavar bem as mãos após suas brincadeiras.

As fezes de alguns animais (principalmente gatos e aves) podem transmitir toxoplasmose, doença que provoca inflamação nos olhos.

Esportes aquáticos

Ao praticar esportes aquáticos, use óculos de proteção: os germes e os produtos químicos presentes na água podem causar irritações e inflamações nos olhos.

Coçar os olhos

O hábito de coçar os olhos pode facilitar o aparecimento de infecções e desencadear doenças nos olhos, por isso evite coçá-los repetidamente e oriente as crianças sobre isso.

No carro

Crianças de até 10 anos devem ser conduzidas sempre no banco traseiro.

Pessoas de qualquer idade devem usar sempre o cinto de segurança: ele é capaz de evitar perfurações nos olhos, em caso de acidente.

No trabalho

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Os acidentes com os olhos nos locais de trabalho são basicamente ocasionados por falta de proteção eficiente, iluminação ou ventilação inadequadas e imprudência no manuseio de equipamentos ou materiais com potencial de risco para os olhos.

Alguns ambientes de trabalho (como linhas de produção industriais e construção civil) representam um risco de ocorrência de trauma ocular.

Previna-se de acidentes usando equipamento de proteção adequado à sua atividade e não expondo seus olhos às ameaças encontradas em seu ambiente de trabalho.

Doping esportivo. Conheça a lista (medicamentos utilizados com frequência)

O que é?

O doping esportivo é a utilização, por um atleta, de substâncias não naturais ao corpo para melhorar seu desempenho de forma artificial.

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Atualmente, durante competições esportivas internacionais, os jornais publicam escândalos envolvendo técnicos e atletas pegos no exame antidoping.

História

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O uso ilícito de substâncias – medicamentos,  hormônios, entre outras – como artifício para ganhar competições esportivas é muito antigo.

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Já nos Jogos Olímpicos da Grécia, cerca de três séculos antes de Cristo, havia uma regulamentação para evitar que os competidores tivessem o baço arrancado.

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Acreditava-se que com o esforço físico dos maratonistas, este órgão poderia endurecer e prejudicar o resultado.

Sofisticação

Ao longo dos anos, esse tipo de artimanha tem se sofisticado. Ao mesmo tempo em que as substâncias e os fármacos são aprimorados para passarem despercebidos nos exames de urina e de sangue feitos nos atletas, os próprios métodos de detecção também se sofisticam.

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Hormônios

Assim, é difícil haver dúvida nos resultados, conforme explica Jair Rodrigues Garcia Junior, professor universitário de Educação Física, ainda que algumas substâncias sejam parecidas com as produzidas pelo corpo humano.

“As mulheres, por exemplo, também produzem hormônios masculinos, porém, em pequenas quantidades. Quando elas usam esteroides para aumentar a força muscular, os exames detectam a quantidade de hormônio artificial no corpo, porque a excreção na urina é diferente da natural”, afirma o professor.

Troca de urina

O que complica para determinar se um atleta usou ou não doping, é que muitos trocam a urina a ser examinada por a de outra pessoa, sem resquícios dos medicamentos ou drogas. Por isso, os comitês esportivos internacionais agora também pedem DNA da urina, quando necessário.

Teste nos treinamentos

Para o doping não deixar traços, muitos atletas deixam de usar as drogas no período de competição, mas já foram “beneficiados” por seus efeitos. “Agora alguns campeonatos começam a realizar os testes ainda no período de treinamento para evitar isso”, diz o professor Jair.

Atletas sabem

Como o doping é mais comum em competições importantes, geralmente internacionais, os envolvidos são esportistas de muita experiência. “Dificilmente um atleta desse nível profissional não sabe que as substâncias são ilícitas, especialmente porque a maioria delas é injetável e é preciso a concordância dele para a aplicação. Por isso, não se pode culpar somente os treinadores”, afirma.

Substâncias de uso medicinal

A dificuldade em combater o doping se dá também porque praticamente todas as substâncias utilizadas são de uso médico, vendidas com receitas controladas. “Um paciente com câncer, por exemplo, usa hormônios para recuperar a força muscular”, explica Jair.

Isso significa que por trás do doping, há sempre alguém que está descumprindo a lei e vendendo esses medicamentos sem o controle médico devido.

http://novaescola.org.br/formacao/doping-esportivo-atleta-campeonato-492977.shtml

Regras usadas para todo atleta

1 – Exames antidoping a qualquer momento, isto é, qualquer dia do ano e em qualquer lugar que ele esteja;

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2 – O atleta recebe orientação verbal e uma cartilha com todas as instruções necessárias, como a de nunca utilizar medicamentos ou simples suplementos sem orientação do médico do esporte da sua equipe. O cuidado é tanto, que nem sequer água sem origem, pomadas ou alimentos, ou seja, nada deve ser consumido por conta própria.

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Atletas, em geral, seguem alertas e recomendações, mas vez ou outra ainda ocorrem casos de doping.

Como explicar?

Anos para se alcançar o nível de elite são jogados fora com explicações no mínimo bizarras. Os atletas do atletismo pegos no doping em 2009 – dizendo que nem sabiam o que era! – tiveram como agente da ilegalidade um não-médico, que por conta própria aplicou injeções de EPA.

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Internet

Uma famosa nadadora foi pega no exame antidoping em junho de 2011 porque comprou pela internet para experimentar, o estimulante “1MR”, composto de 300 mg de cafeína, 30% de guaraná, 25% de chá mate e o proibido DMAA.

Nadadores brasileiros tomaram cápsulas de cafeína (liberada), contaminadas por anoréxico na sua preparação.

http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/2012/06/doping-conheca-substancias-proibidas-mais-comuns.html

Veja a lista de substâncias:

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Saiba mais:

O esporte sofreu inúmeras transformações desde as competições esportivas da antiguidade. O desenvolvimento do esporte foi amplamente influenciado pelas transformações ocorridas na sociedade, trazendo novos valores e objetivos para o esporte.

A influência da mídia, assim como os altos investimentos, transformaram a busca pela vitória. O que antes era visto no esporte como uma forma de superação, de comparação de habilidades passou a ser visto como uma mercadoria.

O esporte envolve, hoje, relações interdisciplinares complexas e as formas, de aumentar drasticamente o desempenho têm chamado a atenção de diversas áreas.

As competições esportivas deveriam ser pautadas pela igualdade de oportunidades, onde vence o melhor, o que mais trabalhou para alcançar resultado.

Ao contrario, as competições entre atletas de alto-rendimento são pautadas pelo resultado, pela busca da vitória a qualquer custo, reforçando o uso de recursos que viabilizem a obtenção da vitória. Dessa forma, atletas utilizam a melhora da performance como uma justificativa para o uso do doping.

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O doping

Por definição é considerado doping o uso de substâncias ou métodos capazes de aumentar artificialmente o desempenho esportivo e que estejam listados pela WADA-AMA/IOC (World Anti-Doping Agency/International Olympic Committee) sejam eles potencialmente prejudiciais á saúde do atleta ou a de seus adversários, ou contrário ao espírito do jogo.

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O controle de doping é regulamentado pelo Comitê Olímpico Internacional, pelas Federações Internacionais e mais recentemente pela WADA-AMA.

Anualmente a WADA divulga uma lista em que são oferecidas explicações a respeito das substâncias e métodos proibidos. A ideia básica é a de que os esportistas em geral conheçam a lista das drogas e dos métodos a serem evitados, assumindo a co-responsabilidade pelo processo de controle de uso na prática esportiva.

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Fazem parte da lista: substâncias como agentes anabólicos, hormônios peptídicos, fatores de crescimento e substâncias afins, beta-2 agonistas, antagonistas de hormônios e moduladores, diuréticos e outros agentes mascarantes.

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Além de estimulantes, narcóticos, canabioides e glicocorticoides; entre os métodos proibidos constam o aumento da transferência de oxigênio (aumento artificial da captação de oxigênio, manipulação do sangue para aumentar a taxa de transporte de oxigênio), manipulação química e física e doping genético; algumas substâncias são específicas para alguns esportes como, por exemplo, álcool e beta-bloqueadores.

Histórico do doping

O uso de substâncias que aumentem o rendimento físico é quase tão antigo quanto o desenvolvimento das atividades físicas organizadas, seja no oriente, ocidente, nas sociedades simples ou complexas, esteve presente à utilização de alguns artifícios (físico, químico, psicológico) destinados a aumentar as capacidades físicas humanas.

Desde os primórdios da humanidade o homem usa de suas capacidades físicas para sobreviver e desde então há registro do uso de substâncias para o aumento do rendimento no trabalho, na caça, entre outras atividades.

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O uso de drogas e métodos entre os atletas para melhorar o desempenho físico é tão antiga quanto à história do esporte em si e tem sido uma característica da competição humana desde então. O conhecimento em desenvolvimento e uso de diferentes drogas e substâncias foram descritas em várias culturas durante a história, como entre os antigos egípcios, atletas gregos e gladiadores romanos que utilizavam chás de ervas e cogumelos, assim como os chineses que já conheciam os efeitos da efedrina.

A “profissionalização” do esporte ocorreu a partir de 400 a.C., com prêmios elevados para os vencedores, resultando numa “casta” de desportistas muito bem pagos e prestigiados, os quais recebiam premiação em dinheiro, moradia, alimentação, isenção de impostos e do serviço militar. Tal valorização levou à profissionalização do esporte, resultando em sua comercialização e uma conseqüente corrupção do sistema.

Nas primeiras edições modernas dos Jogos Olímpicos, o doping era raro, mas não ilegal. Uma das misturas dopantes mais usadas consistia em um coquetel com cocaína, cafeína e estricnina.

O primeiro caso fatal de doping que se tem notícia ocorreu em 1886 com um ciclista francês. No ciclismo usavam-se intensivamente as speed balls, mistura de cocaína com heroína. O fato chamou a atenção do meio esportivo, foi iniciada então, a luta moderna pelo controle do doping.

Na virada do século XXI, o controle de dopagem no esporte adquiriu uma maior sofisticação, englobando também, drogas sociais, banindo em várias modalidades desportivas a cocaína e alucinógenos derivados de anfetaminas e, de modo inovador, o consumo de maconha.

A sofisticação da dopagem acompanha a evolução da farmacologia. Novas drogas com finalidade terapêutica, cada vez mais passam a ser usadas pelos seus efeitos terapêuticos e colaterais.

Assim, atletas abusam do uso de beta-agonistas conhecidos como antiasmáticos (clembuterol, salbutamol, terbutalina) pelo seu efeito colateral anabolizante. Da mesma forma, são empregados insulina e seus análogos, hormônios de crescimento e gonadotrofina coriônica humana.

O combate ao doping no esporte na sua forma moderna teve início na década de 60. Segundo relatos, cerca de 30% dos participantes dos eventos desportivos internacionais faziam uso de algum tipo de estimulante químico.

Em 1967, o COI condenou a prática do doping, apresentando uma lista de substâncias consideradas proibidas e iniciou o controle antidoping. O ano de 1968 com os Jogos Olímpicos de Inverno na França, e os Jogos Olímpicos de Verão na cidade do México pode ser considerado o marco do controle de doping no esporte.

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A luta contra a dopagem compreende, idealmente, não só a programação de controles antidoping durante e fora de competições esportivas, mas especialmente uma conscientização e orientação dos atletas a respeito desta importante temática, bem como de um processo de julgamento no tempo e na forma adequada dos atletas quando ocorre um resultado analítico adverso no laboratório.

O fenômeno esportivo

Desde o surgimento de atividades físicas com a finalidade de competição até aos grandes espetáculos dos dias atuais, o esporte passou por inúmeras transformações. Os valores do esporte, a própria prática da modalidade, as técnicas, os equipamentos as regras, tem sido alteradas, acompanhando assim, as transformações que ocorrem na sociedade, refletindo em seu ambiente os avanços científicos, tecnológicos e os valores criados e desenvolvidos pelos indivíduos.

Atualmente, o esporte de alto-rendimento pode ser caracterizado pela competição, pela superação de marcas ou índices e pela obtenção de títulos.

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Os eventos promovidos pelo Comitê Olímpico Internacional e pelas Federações Internacionais, nas últimas décadas transformaram-se em megaeventos, movimentando grandes somas e mobilizando um universo que transcende os atletas e seus treinadores. Os exemplos mais típicos são os Jogos Olímpicos e as Copas do Mundo de Futebol, eventos capazes de gerar as maiores verbas do planeta em relação a sua organização e realização.

O crescimento da importância do esporte, em decorrência dos grandes investimentos e do lucro gerado pelo fenômeno esportivo, gerou modificações em relação ao papel do atleta. Além disso, a influência da mídia acelerou a entrada de valores financeiros elevados e crescentes nas estruturas esportivas internacionais e tem direcionado os rumos do esporte no planeta, influenciando as metas e modificando os objetivos originais do fenômeno esportivo.

A participação nos Jogos Olímpicos ganhou novos significados e passou a representar muito mais do que uma comparação de habilidades ou técnicas, mas a venda de idéias ou produtos.

Os atletas, antes amadores, passaram a viver do esporte. A busca pela vitória tornou-se uma espécie de mercadoria. Os meios utilizados para obter êxito e a crescente evolução nas áreas do treinamento e da tecnologia, obrigaram os organizadores do esporte a estabelecerem certos limites.

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Motivos para a utilização do doping

Na Antiguidade, quando gregos competiam, a busca pela vitória era fundamentada no superar-se, no romper barreiras individuais, para então alcançar o seu máximo na competição em que participava e assim aproximar-se de uma condição divina.

A vitória sobre o adversário era uma decorrência desse processo. Então, os vitoriosos seriam todos aqueles que superassem seus limites físicos e morais.

O recorde, com a ideia de valorização social, através dos dados numéricos, nasceu com o esporte moderno e se fortalece, cada vez mais, no esporte contemporâneo.

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Mais fortemente, no século XIX, a valorização das marcas se fez presente no mundo esportivo e o recorde adquiriu uma importância excepcional. Assim, a prática esportiva, com o objetivo de atingir os melhores resultados dentro da competição, continua a firmar-se como um espaço de realização e de confirmação de competências pessoais e sociais.

A razão física para o uso de drogas no esporte e mais recentemente, pela remodelação genética é melhorar o desempenho, dando-lhe um maior poder competitivo. A razão psicológica de dopar-se reflete em sua raiz um alto grau de exigência (intrínseca e extrínseca) e de responsabilidade.

As pressões familiares, sociais e econômicas, além da influência da mídia, transformam o atleta em um instrumento da vontade alheia, retirando sua capacidade de discernir onde se situam os limites éticos, morais e de segurança de seu comportamento. Muitas vezes o doping é diretamente incentivado por dirigentes, empresários, treinadores, médicos, “amigos” e familiares.

O atleta que utiliza estimulação artificial opta por esta conduta porque se sente inseguro, acreditando não ser capaz de corresponder às suas expectativas e de muitas outras pessoas, ainda mais quando a sociedade atual tem como parâmetro produtivo a realização de resultados, e no esporte essa lógica é imediata e evidente.

Além disso, quando um atleta faz uso de substâncias dopantes ele busca não somente a vitória e o prazer que esta lhe proporciona, mas os desdobramentos como retribuição financeira e prestígio social.

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Numa perspectiva histórica fica demonstrado que atletas são influenciados pelo aspecto socioeconômico levando-os a exceder seus próprios limites, em muitos casos o esporte representa, a chance de ascensão social e econômica para os menos favorecidos.

Os atletas de alto nível permanecem em uma luta constante por sua posição, assim os atletas dependem de seu rendimento, o qual tem de maximizar em curtos períodos de tempo, pois geralmente, suas carreiras são bastante curtas, esse pode ser um dos argumentos utilizados para justificar a ideia de ganhar “a qualquer custo”.

Não acreditam em si próprios e em sua capacidade e vêem em seu corpo um obstáculo para realizar o sonho de ser campeão, e assim recorrem à dopagem para compensar o que julgam ser defeito da natureza. Assim, avaliações negativas e conceitos pessimistas de si próprio, empurram o atleta para o doping.

Doping e ética

A competitividade e a busca constante por rendimentos superiores são padrões de comportamento entre atletas e a população em geral. Os campeões são vistos como importantes referências de identificação para a sociedade e quando utilizam substâncias ilícitas para vencer, teme-se que, não só estejam prejudicando a si mesmos, mas também a imagem do esporte.

A questão do doping no esporte envolve sérias questões éticas. Usualmente, assume-se como certo que o uso de drogas proibidas é antiético, especialmente pelo fato de que se busca recurso não natural para aumentar a performance, atentando-se contra a honestidade na competição, inclusive com riscos para a própria saúde.

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O doping no esporte tem sido tratado de maneira consensual, como um ato antiético. Burlar a lei das substâncias e dos métodos proibidos para vencer a qualquer preço parece caracterizar um comportamento injusto com os outros, contrário à comunidade em que se está inserido e, por isso mesmo, eticamente condenável.

O doping constitui-se num grande problema do esporte contemporâneo. Apesar do discurso quase hegemônico de condenação desta prática, a eliminação doping do cenário esportivo parece ainda distante.

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O uso de doping configura uma manipulação e alteração da natureza. Com a intervenção de substâncias químicas torna-se possível alcançar resultados inatingíveis por meios naturais. O recurso do doping rouba o otimismo, o entusiasmo, e a crença do atleta nas suas possibilidades de superação e aprimoramento; destrói o sentido do trabalho, do esforço, da persistência, substituindo esses valores pela triste mentalidade da esperteza, da farsa.

Considerações finais

A vitória, o resultado, se mostram como uma condição básica do esporte atual, com isso atletas e envolvidos com o meio esportivo buscam cada vez mais recursos que viabilizem o alcance de seus objetivos.

Com a profissionalização do esporte, atletas passaram a se dedicar integralmente ao alcance de suas metas. Muitos atletas são vistos como heróis servindo de referência de identificação para a sociedade. Assim o espetáculo esportivo promovido por esses atletas passou a ser vendido como mercadoria, atraindo grandes investimentos e também a atenção da mídia.

Atletas são pressionados constantemente à conquista de resultados cada vez melhores, muitas vezes em um curto período, com isso atletas se sentem inseguros, sentindo-se incapazes de corresponder suas próprias expectativas e as de outras pessoas. Assim visando o resultado, esses atletas acabam recorrendo ao uso do doping.

Ao utilizar substâncias dopantes e recursos ilegais com o intuito de melhorar o desempenho, os atletas não buscam apenas superar os adversários em busca da vitória, há também a busca pelo status, pelo prestígio social e principalmente pela retribuição financeira.

Apesar dos avanços tecnológicos para a detecção do uso substâncias dopantes por atletas de alto-rendimento, o controle anti-dopagem ainda não é totalmente seguro, favorecendo aos atletas desonestos que utilizam meios ilegais para se sobrepor a outros competidores.

http://www.efdeportes.com/efd180/o-uso-do-doping-no-esporte.htm

Nutrição e câncer (informações do INCA)

O que é câncer?

O câncer é uma enfermidade que se caracteriza pelo crescimento desordenado de células que podem invadir tecidos e órgãos adjacentes e/ou espalhar-se para outras regiões do corpo.

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Muitos fatores influenciam o seu desenvolvimento: externos, como o meio ambiente, hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural, ou internos, resultantes de eventos que geram mutações sucessivas no material genético das células, processo que pode ocorrer ao longo de décadas, em múltiplos estágios.

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Segundo estimativas de novos casos de câncer no Brasil, ficou reforçado o cenário da grandiosidade da doença e a importância de estratégias para tratamento e prevenção.

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Sem considerar os casos de câncer de pele “não melanoma”, estimam-se 395 mil casos novos de, 204 mil para o sexo masculino e 190 mil para sexo feminino.

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Nos homens, os tipos mais incidentes são os cânceres de próstata, pulmão, cólon e reto, estômago e cavidade oral. Nas mulheres, os de mama, cólon e reto, colo do útero, pulmão e glândula tireoide.

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As atividades físicas previnem o câncer independentemente da perda de peso.

Além de auxiliar no controle do peso corporal, a atividade física regular promove o equilíbrio dos níveis de hormônios (reduz a resistência à insulina e os níveis de estrogênio circulantes), reduz o tempo de trânsito gastrintestinal (com isso diminui o período de contato dos tecidos locais com substâncias que promovem o câncer) e fortalece a defesa do nosso organismo.

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Por isso, devemos praticar pelo menos 30 minutos de atividade física todos os dias e limitar hábitos sedentários.

Caminhar ou ir de bicicleta para o trabalho, subir escadas em vez de andar de  elevador, descer do ônibus um ou dois pontos antes de chegar em casa são algumas opções para aumentar a atividade física no dia a dia.

É possível evitar o câncer a partir da alimentação.

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As escolhas alimentares são muito importantes. Enquanto alguns alimentos podem ajudar a proteger o corpo contra a doença, outros podem aumentar o risco de desenvolver câncer.

Uma dieta rica em alimentos in natura ou minimamente processados, como frutas, legumes, verduras, cereais integrais, feijões e outras leguminosas, e pobre em alimentos ultraprocessados, como aqueles prontos para consumir ou aquecer e bebidas açucaradas, é capaz de prevenir o surgimento da doença.

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A recomendação é consumir, no mínimo, cinco porções, ou seja, 400g por dia de vegetais, sendo duas porções de frutas e três de verduras e legumes sem amido, como cenoura, couve-flor, berinjela e tomate.

Cada porção equivale a uma quantidade aproximada que caiba na palma da mão (80 g), do produto picado ou inteiro.

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O excesso de gordura corporal aumenta o risco de ter câncer

O excesso de gordura corporal provoca alterações hormonais e um estado inflamatório crônico que estimulam a proliferação celular e inibem a apoptose (morte programada das células).

Dessa forma, a gordura contribui para a formação e a progressão de diversos tipos de câncer, como o de esôfago, estômago, pâncreas, vesícula biliar, fígado, intestino (cólon e reto), rins, mama (na pós-menopausa), ovário, endométrio e próstata (avançado).

Grande parte dos refrigerantes possui uma substância que possivelmente favorece a formação do câncer.

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Os refrigerantes contêm a substância 4-MI (4-metil-imidazol), classificada como possivelmente cancerígena pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse composto é um subproduto do corante caramelo IV presente nessas bebidas.

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O Centro de Pesquisa CSPI (na sigla em inglês Center for Science in the Public Interest), em Washington D.C, em parceria com instituições governamentais e de pesquisa de diversos países, testaram a quantidade de 4-MI em latas de uma marca de refrigerante a base de cola (na versão original) vendidas no Brasil, Canadá, China, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos da América (Washington D.C. e Califórnia), México e Reino Unido.

De acordo com o estudo, a bebida comercializada no Brasil continha 267 microgramas (mcg) de 4-MI em uma lata de 355 ml. Essa concentração foi a maior identificada dentre todos os países pesquisados.

Os benefícios da ingestão de frutas, legumes e verduras na prevenção de câncer superam os malefícios do consumo desses alimentos com resíduos de agrotóxicos.

Existem evidências de que os benefícios da ingestão de frutas, legumes e verduras na prevenção do câncer superam os malefícios do consumo desses alimentos com resíduos de agrotóxicos.

Nos vegetais são encontradas vitaminas, minerais, fibras e fitoquímicos que previnem contra diversos tipos de câncer.

Optar por alimentos de base agroecológica ou orgânicos é sempre o ideal, pois além de contribuir para a preservação do meio ambiente e para a agricultura familiar, são mais saudáveis.

Entretanto, se não for possível adquiri-los, não podemos abrir mão desses alimentos protetores, pois estudos indicam que a redução no seu consumo pode aumentar consideravelmente o número de casos de câncer.

Vale lembrar que os resíduos de agrotóxicos podem também estar presentes nos alimentos ultraprocessados, como biscoitos, salgadinhos, pães, cereais matinais, lasanhas, pizza e outros, que têm como ingredientes o trigo, o milho, a cana-de-açúcar e a soja, por exemplo.

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Aquecer alimentos ou adicioná-los quentes a recipientes plásticos aumenta o risco de câncer.

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O aquecimento de recipientes plásticos contendo alimentos pode liberar substâncias nocivas com potencial de causar câncer, como a dioxina, o bisfenol A (BPA) e os ftalatos.

Visto que não há como ter segurança quanto à presença ou não dessas substâncias nos recipientes utilizados, o recomendável é nunca aquecer alimentos em recipientes plásticos, inclusive mamadeiras.

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O melhor é transferir a comida para vasilhas de vidro temperado ou de porcelana que suportem o calor. Essa cautela se aplica também para as bandejas de espuma em que são acondicionadas lasanhas e outras massas, por exemplo.

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O filme plástico utilizado para proteger e cobrir alimentos também deve ser evitado, pois o vapor condensado pode respingar substâncias perigosas no alimento. É mais seguro usar papel toalha, pano de prato ou saco de papel. Tais cuidados são simples e podem evitar danos à saúde.

Fonte:

downloadhttp://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/cancer/site/prevencao-fatores-de-risco/alimentacao/mitos-verdades

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Finalmente, um lembrete sobre nutrição para os especialistas e profissionais de saúde que cuidam de pacientes com câncer.

Orientações nutricionais para pacientes com sinais e sintomas causados pela terapia antineoplásica

As alterações metabólicas que a neoplasia maligna provoca no paciente já fazem com que ele seja classificado como estado de risco nutricional.

A desnutrição no paciente oncológico pediátrico varia de 6% a 50%, independente do tipo de sua neoplasia, e está diretamente associada com a piora na qualidade de vida, em razão da menor resposta ao tratamento específico.

As funções orgânicas desses pacientes também podem estar afetadas, diminuindo a tolerância ao tratamento antineoplásico.

Esse pode provocar sinais e sintomas que levam à diminuição da ingestão diária, o que, consequentemente, pode comprometer o estado nutricional.

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A alimentação nesses pacientes é influenciada tanto por fatores psicológicos e emocionais, quanto por fatores relacionados ao tratamento e à doença. Nos casos de desnutrição, modificações no apetite e na ingestão alimentar são fatores presentes.

Esse consumo desordenado pode resultar em diversas complicações metabólicas e outras manifestações graves que podem tanto aumentar a morbidade e a mortalidade dos pacientes quanto resultar numa piora da resposta ao tratamento, desfavorecendo o prognóstico, quando sua ingestão alimentar for 70% abaixo das suas necessidades nutricionais.

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Alguns estudos investigam a prevalência da desnutrição e sua correlação com a presença de efeitos colaterais em pacientes oncológicos durante tratamento adjuvante e neoadjuvante.

Em relação aos efeitos colaterais, observa-se que a enterite é frequente, de 25% a 75%, em tratamento radioterápico de câncer pélvico ou abdominal.

Diarreia, tenesmo e sangramento retal geralmente acontecem quando a radioterapia está associada à quimioterapia. Trismo, xerostomia e mucosite são outras complicações que podem estar presentes.

Da mesma forma, a neutropenia está associada ao aumento de infecções oportunistas, incluindo as causadas por alimentos, podendo ocorrer no período em que os pacientes estão imunodeprimidos.

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As orientações adequadas quanto aos cuidados com a dieta e com os alimentos são imprescindíveis nessa fase de imunodepressão.

A quimioterapia e a radioterapia resultam em toxicidade para o TGI, com surgimento de efeitos colaterais, tais como: anorexia, náuseas, vômitos, disgeusia, mucosite, diarreia, xerostomia, entre outros.

Pequenas e constantes modificações devem ser encorajadas para aumentar a ingestão alimentar. Vários estudos mostraram que o aconselhamento nutricional melhora a ingestão e a qualidade de vida dos pacientes com câncer.

Fonte:

Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação Geral de Gestão Assistencial. Hospital do Câncer I. Serviço de Nutrição e Dietética. Consenso nacional de nutrição oncológica / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação Geral de Gestão Assistencial, Hospital do Câncer I, Serviço de Nutrição e Dietética; organização Nivaldo Barroso de Pinho. – 2. ed. rev. ampl. atual. – Rio de Janeiro: INCA, 2015. 182p.

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Síndrome de Down e inclusão social

A síndrome de Down (SD) é causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células de um indivíduo. Isso ocorre na hora da concepção de uma criança.

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As pessoas com síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21, têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da população.

As crianças, os jovens e os adultos com síndrome de Down podem ter algumas características semelhantes e estar sujeitos a uma maior incidência de doenças, mas apresentam personalidades e características diferentes e únicas.

Ninguém é culpado

É importante esclarecer que o comportamento dos pais não causa a síndrome de Down. Não há nada que eles poderiam ter feito de diferente para evitá-la. Não é culpa de ninguém.

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Uma condição (e não uma “doença”)

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A síndrome de Down não é uma doença, mas uma condição da pessoa associada a algumas questões para as quais os pais devem estar atentos desde o nascimento da criança.

As pessoas com síndrome de Down têm muito mais em comum com o resto da população do que diferenças.

Se você é pai ou mãe de uma pessoa com síndrome de Down, o mais importante é descobrir que seu filho pode alcançar um bom desenvolvimento de suas capacidades pessoais e avançará com crescentes níveis de realização e autonomia.

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Ele é capaz de sentir, amar, aprender, se divertir e trabalhar. Poderá ler e escrever, deverá ir à escola como qualquer outra criança e levar uma vida autônoma. Em resumo, ele poderá ocupar um lugar próprio e digno na sociedade.

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A primeira descrição clínica da SD foi feita em 1866 pelo médico pediatra inglês John Langdon Down, que trabalhava com deficiência intelectual em Londres.

slide_2 1Após observar que havia semelhanças fisionômicas entre certas crianças com atraso mental, ele publicou um estudo descritivo classificando seus pacientes de acordo com o fenótipo. Descreveu como “idiotia mongólica” aqueles com: fissura palpebral oblíqua, nariz plano, baixa estatura e déficit intelectual.

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Tendo sido a primeira descrição completa num grupo de pacientes, esse conjunto de sinais e sintomas passou a ser chamado de síndrome de Down.

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Em 95% dos casos, as alterações resultam da presença de um cromossomo extra, o de número 21.

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Os 5% restantes referem-se aos casos de translocação e mosaicismo, sendo que essa cromossomopatia provoca mais deficiência mental (DM) do que qualquer outra patologia.

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Quadro clínico

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Os indivíduos com SD podem apresentar diversos sinais como: diminuição de tônus muscular, baixa estatura, hiperflexibilidade das articulações, mãos pequenas e largas com prega palmar única,

face larga e achatada, olhos distantes um do outro, nariz pequeno com base nasal achatada, baixa implantação das orelhas, língua projetada para fora da boca, palato ogival, cardiopatia congênita, genitais pouco desenvolvidos, excesso de pele na nuca e cabelo liso e ralo.

Deficiência mental

Entretanto, nem todos os portadores desta síndrome apresentam esses fenótipos. A deficiência mental costuma ser característica presente em todos os casos e que exige especial atenção, como as cardiopatias congênitas, alterações oftalmológicas, auditivas, do sistema digestório, endocrinológica, do aparelho locomotor, neurológicas, e hematológicas.

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Estatísticas

No Brasil, nasce uma criança com SD a cada 600 e 800 nascimentos, independente de etnia, gênero ou classe social, sendo a SD a alteração cromossômica mais comum em humanos e a principal causa de deficiência intelectual na população mundial.

Segundo a Organização National Down Syndrome Society (2012), a taxa de nascimentos nos Estados Unidos é de um bebê com SD para cada 691 bebês, o que equivale a uma população de cerca de 400 mil pessoas.

Diretrizes (importantes)

Segundo as diretrizes de atenção à pessoa com Síndrome de Down, nasce no Brasil uma criança com SD a cada 600 e 800 nascimentos, independente de etnia, gênero ou classe social, sendo a SD a alteração cromossômica mais comum em humanos e a principal causa de deficiência intelectual na população mundial.

IBGE, 2010

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda referentes ao Censo 2010, revelam também que 25 brasileiros com SD estão matriculadas em curso superior ou já concluíram sendo que todo ano, entre 50 e 60 pessoas com a Síndrome iniciam um curso profissionalizante.

Melhor qualidade de vida

A qualidade de vida das pessoas com SD tem melhorado significativamente, o que pode ser constatado ao observar-se a inserção das mesmas em âmbito escolar e no mercado de trabalho.

Inclusão escolar

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O movimento pela inclusão no âmbito escolar vem tomando força nas últimas décadas. Sabe-se que mudanças ocorrem, para isso é necessária a efetivação das políticas públicas educacionais inclusivas, que implicam numa reforma na gestão e no projeto pedagógico escolar.

Políticas Educacionais Inclusivas

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As políticas públicas que garantem o acesso à educação formal aos indivíduos com necessidades educativas especiais, assim como diversas outras ações governamentais de atendimento à população, têm a intenção de garantir a segurança da população através das ações e programas governamentais que colocam em funcionamento.

Um pouco da história

INCLUSÃO

Alguns fatos históricos mundiais demarcaram as discussões referentes ao direito à educação. Ressalta-se que a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), a Declaração de Salamanca (1994), a Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (1999), também conhecida como Convenção de Guatemala, e a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), são alguns dos marcos importantes no percurso de discussões e conquistas pela educação como um direito de todas as pessoas,

Legislação brasileira

As Políticas Públicas Educacionais Inclusivas no país surgiram após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9.394/96, no ano de 1996, configurando um marco para a educação do país.

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A Lei dispõe sobre a Educação Especial, sendo que, no capítulo V, artigo 58 da referida Lei, cita-se que a educação especial é “a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. Este foi o passo inicial para a divulgação de uma a série de outros documentos pelo Governo Federal no intuito de normatizar a Educação Inclusiva no Brasil.

A Constituição  de 1988

No Brasil, a educação inclusiva fundamenta-se na Constituição Federal de 1988, a qual garante a todos o direito à igualdade (artigo 5º). No artigo 205, trata do direito de todos à educação, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, a seu preparo para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho.

Posteriormente, o Congresso Nacional aprovou nova lei baseada no disposto da Convenção de Guatemala que trataria da eliminação de todas as formas de discriminação contra a pessoa com deficiência, deixando clara a impossibilidade de tratamento desigual aos deficientes.

Decreto nº 7.611/11

A partir de então, outras normatizações foram oficializadas no Brasil, como a Resolução CNE/CEB nº 2/01 que institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica; entre outras, com destaque para o Decreto nº 7.611/11, mais recente, o qual dispõe sobre a educação especial e o atendimento educacional especializado.

Nova visão

Houve na educação inclusiva a introdução de uma nova maneira de ver os outros e de ver a educação, uma visão mais positiva e centrada na pessoa, não destacando a deficiência.

Estar no mundo

Habitar um corpo com impedimentos físicos, intelectuais ou sensoriais é uma das muitas formas de estar no mundo.

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Essa mudança de paradigmas em relação à deficiência, que inclui a passagem do corpo com impedimentos como um problema médico para a deficiência como o resultado da opressão, até hoje designa um fator inquietante para a formulação de políticas públicas e sociais.

Inclusão, mudança social

Inclusão significa a modificação da sociedade como pré-requisito para a busca do desenvolvimento e exercício da cidadania.

Há que se preparar a escola para incluir nela o aluno com deficiência, a fim de que os benefícios sejam múltiplos para todos os envolvidos com a educação: os alunos, os professores e a sociedade. É nesse contexto que as políticas públicas de educação estão inseridas.

Profissionais despreparados

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Evidencia-se na literatura, o despreparo de muitos professores, que declaram que, mesmo não se sentindo seguros para o trabalho de inclusão, com carência de orientações, recursos e estrutura física necessária, trabalham em prol da efetivação do aprendizado em sala de aula.

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Se houver preparação e competência do profissional para lidar de forma eficaz na preparação do projeto educativo, de realizar adaptações curriculares e de adequar nova metodologia, o processo de ensino e aprendizagem chegará amplamente a todos os alunos com deficiência – sem maiores dificuldades -, no que tange à assimilação e aplicabilidade do mesmo.

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Além da formação para atuação plena em inclusão, também é fundamental a reflexão sobre o que pode ser efetivamente concretizado pelo professor e o que está ao alcance do mesmo, neste tempo fugaz e de fragilidades, na tentativa de frear o ritmo que conduz à indiferença.

Familiares: atenção e acompanhamento

Comprova-se a necessidade de acompanhamento das famílias antes, durante e após a inclusão propriamente dita do aluno com SD, por uma equipe multidisciplinar, de modo a oferecer assistência, informação e amparo às dúvidas dos pais de crianças com SD, em processo de inclusão escolar.

Fatores de inclusão

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Além disso, fatores como função cognitiva e habilidades particulares da criança, nível de escolaridade e esforço participativo dos pais, para com os estudos da criança em casa, também são fatores que parecem influenciar os resultados da inclusão educativa em ensino regular da criança com SD.

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É evidente, contudo, a dificuldade da sociedade em conviver com o projeto universal dos direitos humanos, visto que a educação é um direto de todos, mas nem sempre é vista como tal. Assim, atitudes negativas podem criar barreiras para integração em diversas áreas do indivíduo com deficiência, visto que afeta diretamente o sucesso e a qualidade de vida do mesmo.

Conclusão

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A maioria dos estudos desenvolvidos atualmente tem a intenção de tornar o processo de inclusão da criança com Síndrome de Down, na rede regular de ensino, de tal forma que esta seja uma etapa a ser vivida da melhor forma possível por ela e sua família, e que se sintam preparadas e acolhidas nesse período.

Nesse sentido, destaca-se que a simples presença física do aluno com necessidades especiais em uma sala de aula regular não garante a sua permanência e bem estar, assim como o estabelecimento de relações positivas entre ele, seus colegas e os professores.

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Material educativo

Há a necessidade de desenvolvimento de material educativo à população em geral sobre a SD, a promoção de práticas inclusivas que estimulem a aceitação social dos alunos com deficiência, assim como a formação especializada dos professores e demais profissionais atuantes na inclusão, a adequação – não apenas física -, das escolas para receber os alunos com deficiências, assim como a orientação de políticas de inclusão educacionais e ocupacionais.

Como território institucional expressivo da cultura em que se insere, a escola sofre pressões para acompanhar os novos tempos e lidar melhor com a diversidade do público, o que se apresenta atualmente como uma tarefa árdua e complexa, mas não impossível. Assim, todos são responsáveis pela inclusão, tanto a escola como a sociedade de um modo geral.

Fontes: KOCH, Maureen; SILVA, Denise Regina Quaresma da. Políticas educacionais inclusivas e a síndrome de Down: Diferentes interações no contexto educacional inclusivo. Diálogo, Canoas, n.31, p. 89-103, abr. 2016. / ISSN 2238-9024.

http://www.movimentodown.org.br/sindrome-de-down/o-que-e/

http://www.fsdown.org.br/sobre-a-sindrome-de-down/o-que-e-sindrome-de-down/

Interações medicamentosas

Riscos de se medicar sem orientação

Se um médico lhe perguntar se você está fazendo uso de algum medicamento, não se esqueça de relatar o uso de chás, pomadas ou até mesmo um comprimido habitual para dor de cabeça, com o objetivo de prevenir um evento ao qual geralmente não se dá muita atenção: a interação medicamentosa.

Informar se utiliza remédios naturais

Ela acontece quando os efeitos de um remédio são alterados pela presença de outro, bem como pela mistura com fitoterápicos (os chamados remédios naturais), alimentos, bebidas ou algum agente ambiental.

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30 mil intoxicações por ano

O Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas (Sinitox/Fiocruz) registrou cerca de 30 mil casos de intoxicação por uso de medicamentos em apenas um ano.

Embora não seja possível afirmar quais deles ocorreram por interação medicamentosa, em três circunstâncias específicas a possibilidade é maior: pelo uso terapêutico errado, pela prescrição médica incorreta e por automedicação.

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“Às vezes a pessoa está fazendo uso de determinado medicamento e não informa isso ao médico, durante a consulta. Em outras, o próprio médico desconhece o potencial de interação dos remédios.

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E há ainda os casos em que o paciente usa medicamentos que tem em casa, seguindo palpites de amigos ou parentes, sem ter noção se eles podem realmente ser misturados”, descreve a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner.

Embora nem toda interação medicamentosa seja ruim, é preciso estar atento aos riscos de reunir, sem intenção prévia, dois ou mais efeitos terapêuticos.

Consequências

As consequências variam de dores pelo corpo, sangramentos e até problemas cardíacos, podendo ser fatal. No artigo Interações medicamentosas: uma contribuição para o uso racional de imunossupressores sintéticos e biológicos, disponível na base Scielo, os autores apontam duas questões que reforçam a necessidade de atenção ao assunto.

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Desconhecimento

A primeira delas é que a incidência de reações adversas causadas por interações medicamentosas não é totalmente conhecida, especialmente devido à dificuldade de sistematizar, num amplo banco de dados, os números e os tipos de pacientes aos quais foram e são prescritas as combinações com potencial para problemas.

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E a segunda é que “não é possível distinguir claramente quem irá ou não experimentar uma interação medicamentosa adversa”. Alguns cuidados, contudo, reduzem sensivelmente as surpresas indesejáveis. O primeiro deles é optar pela informação.

 Ler a bula?

Seja pelo tamanho ou pela linguagem, ninguém nega: ler a bula é uma tarefa difícil. Mas ela contém informações úteis a respeito do medicamento a ser administrado, inclusive se ele pode (ou não) ser consumido junto a outros remédios, com água ou outros líquidos, em jejum ou alimentado etc.

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Desde 2009 a Anvisa determinou que devem existir três tipos de bula: a do profissional de saúde, a do usuário (de linguagem mais simples e no formato de perguntas e respostas) e a bula em formato especial (destinada aos portadores de deficiência visual, e que deve ser solicitada no estabelecimento, caso a caso).

Quando a dispensação se dá em farmácias comerciais, a bula que vem dentro da caixa do medicamento já é a do paciente. E, quando o medicamento é disponibilizado na rede pública de saúde, podendo vir fracionado, o cidadão pode solicitar a bula impressa. É obrigação do serviço de saúde fornecê-la.

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Bulário eletrônico

No site da Anvisa existe o Bulário Eletrônico, onde uma busca simples — até pelo nome comercial do medicamento — já aponta as bulas disponíveis. Uma impressora que funcione e um profissional consciente podem estimular a maior busca por informação.

É o que defende o farmacêutico do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) José Liporage: “Em muitas unidades assistenciais os profissionais não entregam as bulas.

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Em alguns casos, porque acreditam que, assim, estão evitando que o cidadão comercialize o medicamento que recebeu no Sistema Único de Saúde. Em outros, porque fazem questão de controlar a informação sobre o remédio, de manter o seu poder como profissional.”

Saber o que pode acontecer

Além de informar, a bula é importante porque pode ser um mecanismo de proteção do cidadão. “Ela é extensa justamente porque precisa orientar sobre todas as possibilidades de ocorrência daquele medicamento, além das interações.

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Ela precisa dizer o que pode acontecer ao paciente. Se alguém ingere um remédio que causa determinado efeito que não foi previsto nem na bula, o paciente pode recorrer judicialmente, exigindo reparação”, diz Liporage.

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Mas nem sempre vai estar escrito neste documento a expressão “interação medicamentosa”. Na maioria das vezes a informação será algo do tipo “este medicamento não pode ser usado em tais situações”, lembra o farmacêutico.

Automedicação

Profissionais de diferentes unidades da Fiocruz têm um relato em comum: um dos maiores geradores de interação medicamentosa é a prática da automedicação.

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O Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para Farmacêuticos (ICTQ) realizou uma pesquisa que revela este cenário: 76,4% da população brasileira faz uso de medicamentos a partir da indicação de familiares, amigos, colegas e vizinhos.

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São pessoas que consomem qualquer tipo de remédio quando necessitam e dispõem, inclusive aumentando suas dosagens a fim de obter um efeito mais acelerado.

Um estudo foi realizado em 12 capitais brasileiras e a cidade do Rio de Janeiro ficou acima da média nacional, com 91% de sua população se automedicando.

Medicamentos: usar racionalmente

“Sempre alertamos para a necessidade do uso racional de medicamentos.

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As pessoas não fazem ideia dos riscos que estão correndo ao tomar esses fármacos aleatoriamente, por conta própria”.38519488-92f7-4f3f-9813-b61a2604fee2_ZoomCultura popular

Em nossa cultura um medicamento se tornou tão usual quando uma blusa, uma calça ou qualquer coisa já naturalizada no cotidiano. As famílias estocam medicamentos, não têm muito cuidado com o prazo de validade, fazem combinações baseadas em efeitos ocorridos com terceiros, enfim, agem de forma muito arriscada. E sequer têm noção desse risco”, alerta Rosany.

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Para discutir a prática da automedicação é preciso, contudo, discutir também o acesso aos medicamentos e aos serviços de saúde, lembra Liporage. “Mesmo com todo o avanço do SUS, ainda temos uma grande dificuldade de garantir o direito à saúde.

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Temos uma parcela muito significativa da população que se automedica especialmente porque a farmácia comercial é sua porta de entrada ao acesso.

E esse processo não vem com o suporte de informação necessário para garantir a segurança do uso do medicamento.”

Na farmácia comercial o profissional que pode assegurar todas as informações com relação à interação medicamentosa é o farmacêutico.

No SUS, a luta é para que esse profissional seja parte de uma equipe multiprofissional, trabalhando desde a Atenção Básica, onde a orientação farmacêutica será parte fundamental do atendimento ao paciente. “Evitar a interação medicamentosa começa no atendimento, que deveria ser multiprofissional em todos os serviços.

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Cuidado com o cuidador

No primeiro contato do paciente com o medicamento, ele deveria receber uma atenção especial sobre como administrá-lo. Quando a pessoa é adulta e a consulta é para si, já há essa necessidade. Mas, quando é uma cuidadora, sua responsabilidade duplica. Quando se trata de um medicamento que deve ser manipulado, o processo se torna ainda mais complexo”, aponta Liporage.

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http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/interacao-medicamentosa-entenda-os-riscos-de-medicar-se-sem-orientacao

http://www.cff.org.br/pagina.php?id=530&titulo=Intera%C3%A7%C3%A3o+Medicamentosa

Saiba mais:

A maioria dos medicamentos tem a capacidade de interagir entre si quando associados, com ou sem repercussão clínica de relevância, e esse aspecto deve ser levado em consideração no momento da prescrição.

Monoterapia (apenas um medicamento)

Por isso, sempre que possível, deve-se preconizar a monoterapia. Contudo, existem tratamentos que necessitam da associação medicamentosa para: potencializar os efeitos terapêuticos, diminuir efeitos colaterais, diminuir doses terapêuticas, prevenir resistência, obter ações múltiplas e amplas, e proporcionar maior comodidade para o paciente. Porém, muitas associações ocorrem inadvertidamente.

Interações

As interações medicamentosas são consideradas como um evento clínico detectável, mensurável, quantitativo ou qualitativo, em que há alteração dos efeitos de um fármaco, pela presença de outro fármaco, alimento, bebida ou algum agente químico do ambiente, sendo consideradas interações que ocorrem in vivo.

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Mudança de rumo

Este fato se traduz modificando o rumo esperado da terapêutica. Ainda, interações que ocorrem antes da administração dos fármacos no organismo, quando se misturam dois ou mais destes numa mesma seringa, recipiente ou equipo, também são consideradas interações medicamentosas, conhecidas como interações farmacêuticas, ou incompatibilidades de medicamentos, ou interações in vitro.

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 Eventos adversos

Os eventos adversos são definidos como sendo qualquer ocorrência médica desfavorável, que pode ocorrer durante o tratamento com um medicamento, mas que não possui, necessariamente, relação causal com esse tratamento e compreendem situações que podem ser evitadas ou não.

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IMP

A interação medicamentosa potencial (IMP) define a possibilidade de ocorrência da interação entre dois fármacos ou entre um fármaco e um nutriente. Quando a interação ocorre, esta passa a ser definida como interação medicamentosa real (IMR).

As IMP são um grave problema de saúde pública, pois podem estar relacionadas com o aumento dos gastos médicos e do tempo de hospitalização. Estima-se que 68 a 70% das IMP identificadas demandam cuidados médicos, e aproximadamente 2% delas colocam em risco a vida do paciente.

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Uso restrito e reserva terapêutica

Várias medidas têm sido propostas com a finalidade de diminuir o uso irracional de antimicrobianos, entre as quais as justificativas de prescrição de medicamentos considerados de reserva terapêutica ou de uso restrito.

A justificativa por escrito para o uso de agentes antimicrobianos considerados de uso restrito, normalmente os mais novos, mais onerosos, de maior espectro de ação e potencial de indução de resistência é um método efetivo para melhorar o uso destas drogas. A requisição exige que o prescritor explique ou justifique racionalmente sua conduta.

Histórico de cardiopatia ou diabetes: mais atenção.

Os antecedentes pessoais mais frequentes encontrados por alguns autores são: cardiovasculares (66%) e diabetes mellitus (25%).

As medicações mais prescritas relacionadas às interações moderadas e leves em uma Emergência foram: fenitoína, omeprazol, captopril, heparina sódica, claritromicina e dipirona sódica.

Essas interações podem causar deterioração clínica do paciente, exigir tratamento adicional, aumentar o período de internação ou trazer algum desconforto para o paciente.

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Tramadol X Metoclopramida

A interação entre tramadol e metoclopramida foi a mais frequente (30%) dentre as interações graves. A análise realizada pelo banco de dados Drugs.com revela essa combinação como altamente letal, podendo levar o paciente ao óbito, dependendo de sua dosagem.

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Crises convulsivas

O risco de convulsões aumenta durante a administração concomitante de tramadol e outras medicações, como inibidores seletivos da recaptação da serotonina, inibidores da monoamina oxidase, neurolépticos centrais estimulantes do sistema nervoso e opiodes, entre outros.

Esses agentes são frequentemente epileptogênicos individualmente e podem ter efeitos aditivos quando combinados.

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Outras interações importantes

Além da interação com metoclopramida, o tramadol apresentou potencial de interação com outros medicamentos, como antibacterianos e medicamentos que agem no sistema nervoso central, como amitriptilina, fluoxetina e morfina.

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Omeprazol X Fenitoína

No caso das interações moderadas, o uso de omeprazol com fenitoína foi o mais encontrado (10,6%) e, apesar de indicações distintas, essas medicações possuem efeitos antagonistas. Dados semelhantes foram encontrados em estudo que evidenciou essa interação em 29,3% dos achados.

O omeprazol pode aumentar as concentrações séricas de fenitoína e seu risco de toxicidade, inibindo a ação do metabolismo hepático e a excreção dessa medicação. Além disso, ele pode interagir de modo semelhante com outras hidantoínas, sendo que doses >40mg/dia desse medicamento são mais suscetíveis a causar interação potencial.

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A utilização concomitante desses medicamentos requer acompanhamento laboratorial para efeitos colaterais da fenitoína, além da necessidade de se observar sinais e sintomas de possível toxicidade da mesma, como sonolência, distúrbios visuais, alteração do estado mental, convulsões, náuseas e ataxia.

A coadministração de omeprazol pode resultar, também, em aumento da concentração da claritromicina plasmática. Esse aumento pode ser devido ao efeito do omeprazol no pH gástrico.

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É preocupante, ainda, a presença de mais de uma interação medicamentosa na mesma prescrição, sendo preciso investigação, mesmo que não ocorra manifestação clínica imediata, uma vez que a suspeita inicial permite que a equipe de saúde esteja preparada para a ocorrência de reações farmacodinâmicas e farmacocinéticas indesejáveis.

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  • OKUNO, Meiry Fernanda Pinto; CINTRA, Raíssa Silveira; VANCINI-CAMPANHARO, Cássia Regina  and  BATISTA, Ruth Ester Assayag. Interação medicamentosa no serviço de emergência. Einstein (São Paulo) [online]. 2013, vol.11, n.4 [cited  2016-07-09], pp.462-466. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082013000400010&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1679-4508.  http://dx.doi.org/10.1590/S1679-45082013000400010.

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Sobre o cuidado da casa comum (Papa Francisco)

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Formado em Química, o Papa Francisco lembra que a destruição da natureza e a miséria têm a mesma raiz, um ano após a sua Encíclica “LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor», canto de São Francisco de Assis.

A seguir, os parágrafos finais: 243-245.

 Para além do sol

No fim, encontrar-nos-emos face a face com a beleza infinita de Deus (cf.1 Cor13, 12) e poderemos ler, com jubilosa admiração, o mistério do universo, o qual terá parte conosco na plenitude sem fim.

Estamos caminhando para o sábado da eternidade, para a nova Jerusalém, para a casa comum do Céu. Diz-nos Jesus: «Eu renovo todas as coisas» (Ap 21, 5).

A vida eterna será uma maravilha compartilhada, onde cada criatura, esplendorosamente transformada, ocupará o seu lugar e terá algo para oferecer aos pobres definitivamente libertados.

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Na expectativa da vida eterna, unimo-nos para tomar a nosso cargo esta casa que nos foi confiada, sabendo que aquilo de bom que há nela será assumido na festa do Céu.

Juntamente com todas as criaturas, caminhamos nesta terra à procura de Deus, porque, se o mundo tem um princípio e foi criado, procura quem o criou, procura quem lhe deu início, aquele que é o seu Criador.

Caminhemos cantando; que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da esperança.

Deus, que nos chama a uma generosa entrega e a oferecer-Lhe tudo, também nos dá as forças e a luz de que necessitamos para prosseguir.

No coração deste mundo, permanece presente o Senhor da vida que tanto nos ama.

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Não nos abandona, não nos deixa sozinhos, porque Se uniu definitivamente à nossa terra e o seu amor sempre nos leva a encontrar novos caminhos.

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Que Ele seja louvado!

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Leia mais:

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Apresenta-se, em primeiro lugar, uma visão geral da encíclica «Laudato si’» e, em seguida, o objetivo de cada um dos seis capítulos e alguns de seus parágrafos chave. Os números entre parênteses remetem aos parágrafos da encíclica

Um olhar por inteiro

«Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a
crescer?» (160). Este interrogativo é o âmago da Laudato si’, a esperada Encíclica do Papa Francisco sobre o cuidado da casa comum.

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Que prossegue: «Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentária», e isso conduz a interrogar-se sobre o sentido da existência e sobre os valores que estão na base da vida social: « Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra?»: « Se não pulsa nelas esta pergunta de fundo,– diz o Pontífice – não creio que as nossas preocupações ecológicas possam surtir efeitos importantes».

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O nome da Encíclica foi inspirado na invocação de São Francisco «Louvado sejas, meu Senhor», que no Cântico das criaturas recorda que a terra, a nossa casa comum, « se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços» (1). Nós mesmos «somos terra (cfr Gen 2,7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar e a sua água vivifica-nos e restaura-nos» (2).

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Agora, esta terra maltratada e saqueada se lamenta e os seus gemidos se unem aos de todos os abandonados do mundo. O Papa Francisco convida a ouvi-los, exortando todos e cada um – indivíduos, famílias, coletividades locais, nações e comunidade internacional – a uma «conversão ecológica», segundo a expressão de São João Paulo II, isto é, a «mudar de rumo», assumindo a beleza e a responsabilidade de um compromisso para o «cuidado da casa comum».

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Ao mesmo tempo, o Papa Francisco reconhece que se nota « uma crescente sensibilidade relativamente ao meio ambiente e ao cuidado da natureza, e cresce uma sincera e sentida preocupação pelo que está a acontecer ao nosso planeta. » (19), legitimando um olhar de esperança que permeia toda a Encíclica e envia a todos uma mensagem clara e repleta de esperança:

« A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. » (13); «o ser humano ainda é capaz de intervir de forma positiva » (58); «nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se » (205).

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O Papa Francisco se dirige certamente aos fiéis católicos, retomando as palavras de São João Paulo II: « os cristãos, em particular, advertem que a sua tarefa no seio da criação e os seus deveres em relação à natureza e ao Criador fazem parte da sua fé » (64), mas se propõe « especialmente entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum » (3): o diálogo percorre todo o texto, e no cap. 5 se torna o instrumento para enfrentar e resolver os problemas. Desde o início, o Papa Francisco recorda que também «outras Igrejas e Comunidades cristãs – bem como noutras religiões – se tem desenvolvido uma profunda preocupação e uma reflexão valiosa» sobre o tema da ecologia (7).

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Ou melhor, assume explicitamente sua contribuição a partir do que foi dito pelo «amado Patriarca Ecumênico Bartolomeu» (7), amplamente citado nos nn. 8‐9. Em vários trechos, o Pontífice agradece aos protagonistas deste esforço – seja indivíduos, seja associações ou instituições –, reconhecendo que «a reflexão de inúmeros cientistas, filósofos, teólogos e organizações sociais que enriqueceram o pensamento da Igreja sobre estas questões» (7) e convida todos a reconhecer «a riqueza que as religiões possam oferecer para uma ecologia integral e o pleno desenvolvimento do gênero humano» (62).

O itinerário da Encíclica é traçado no n. 15 e se desenvolve em seis capítulos. Passa-se de uma análise da situação a partir das melhores aquisições científicas hoje disponíveis (cap. 1), ao confronto com a Bíblia e a tradição judaico-cristã (cap. 2), identificando a raiz dos problemas (cap. 3) na tecnocracia e num excessivo fechamento autorreferencial do ser humano.

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A proposta da Encíclica (cap. 4) é a de uma «ecologia integral, que inclua claramente as dimensões humanas e sociais» (137), indissoluvelmente ligadas com a questão ambiental. Nesta perspectiva, o Papa Francisco propõe (cap. 5) empreender em todos os níveis da vida social, econômica e política um diálogo honesto, que estruture processos de decisão transparentes, e recorda (cap. 6) que nenhum projeto pode ser eficaz se não for animado por uma consciência formada e responsável, sugerindo ideias para crescer nesta direção em nível educativo, espiritual, eclesial, político e teológico.

O texto se conclui com duas orações, uma oferecida à partilha com todos os que acreditam num «Deus Criador Omnipotente» (246), e outra proposta aos que professam a fé em Jesus Cristo, ritmada pelo refrão «Laudato si’», com o qual a Encíclica se abre e se conclui.

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O texto é atravessado por alguns eixos temáticos, analisados por uma variedade de perspectivas diferentes, que lhe conferem uma forte unidade: «a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local, a cultura do descarte e a proposta dum novo estilo de vida » (16).

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Primeiro Capítulo – O que está acontecendo com a nossa casa

O capítulo apresenta as mais recentes aquisições científicas em matéria ambiental como modo de ouvir o grito da criação, « transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo e, assim, reconhecer a contribuição que cada um lhe pode dar » (19). Enfrentam-se assim «vários aspectos da atual crise ecológica» (15).

As mudanças climáticas: « As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade» (25).

Se « o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos » (23), o impacto mais pesado da sua alteração recai sobre os mais pobres, mas muitos «daqueles que detêm mais recursos e poder económico ou político parecem concentrar-se sobretudo em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas » (26): «a falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a sociedade civil » (25).

A questão da água: O Pontífice afirma claramente que « o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos ». Privar os pobres do acesso à água significa « negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável » (30).

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A preservação da biodiversidade: « Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais que já não poderemos conhecer mais, que os nossos filhos não poderão ver, perdidas para sempre» (33). Não são somente eventuais “recursos” exploráveis, mas têm um valor em si mesmos. Nesta perspectiva, « são louváveis e, às vezes, admiráveis os esforços de cientistas e técnicos que procuram dar solução aos problemas criados pelo ser humano », mas a intervenção humana, quando se coloca a serviço da finança e do consumismo, « faz com que esta terra onde
vivemos se torne realmente menos rica e bela, cada vez mais limitada e cinzenta » (34).

A dívida ecológica: no âmbito de uma ética das relações internacionais, a Encíclica indica que existe «uma verdadeira “dívida ecológica”» (51), sobretudo do Norte em relação ao Sul do mundo. Diante das mudanças climáticas, existem «responsabilidades diversificadas» (52), e as dos países desenvolvidos são maiores.

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Consciente das profundas divergências quanto a essas problemáticas, o Papa Francisco se mostra profundamente impressionado com a «fraqueza das reações» diante dos dramas de tantas pessoas e populações. Embora não faltem exemplos positivos (58), sinaliza «um certo torpor e uma alegre irresponsabilidade » (59). Faltam uma cultura adequada (53) e a disponibilidade em mudar estilos de vida, produção e consumo (59), enquanto é urgente «criar um sistema normativo […] que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas » (53).

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Segundo capítulo – O Evangelho da criação

Para enfrentar as problemáticas ilustradas no capítulo precedente, o Papa Francisco relê as narrações da Bíblia, oferece uma visão global oriunda da tradição judaico-cristã e articula a «tremenda responsabilidade» (90) do ser humano diante da criação, o elo íntimo entre todas as criaturas e o fato de que «o meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos» (95).

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Na Bíblia, «o Deus que liberta e salva é o mesmo que criou o universo. […] n’Ele se conjugam o carinho e a força » (73). A narração da criação é central para refletir sobre a relação entre o ser humano e as outras criaturas e sobre como o pecado rompe o equilíbrio de toda a criação no seu conjunto: «Essas narrações sugerem que a existência humana se baseia sobre três relações fundamentais intimamente ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a terra. Segundo a Bíblia, essas três relações vitais romperam-se não só exteriormente, mas também dentro de nós. Esta ruptura é o pecado» (66).

Por isso, mesmo que nós « cristãos, algumas vezes interpretamos de forma incorreta as Escrituras, hoje devemos decididamente rejeitar que, do fato de ser criados à imagem de Deus e do mandato de dominar a terra, se deduza um domínio absoluto sobre as outras criaturas» (67). Ao ser humano cabe a responsabilidade de «“cultivar e guardar” o jardim do mundo (cfr Gen 2,15)» (67), sabendo que «o fim último das restantes criaturas não somos nós. Mas todas avançam, juntamente connosco e através de nós, para a meta comum, que é Deus » (83).

Que o ser humano não seja o dono do universo, «não significa igualar todos os seres vivos e tirar ao ser humano aquele seu valor peculiar » que o caracteriza; « também não requer uma divinização da terra, que nos privaria da nossa vocação de colaborar com ela e proteger a sua fragilidade » (90).

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Nesta perspectiva, « todo o encarniçamento contra qualquer criatura «é contrário à dignidade humana» » (92), mas « não pode ser autêntico um sentimento de união íntima com os outros seres da natureza, se ao mesmo tempo não houver no coração ternura, compaixão e preocupação pelos seres humanos » (91). Necessita-se da consciência de uma comunhão universal: « criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, […]que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde » (89).

O coração da revelação cristã conclui o Capítulo: «Jesus terreno» com a «sua relação tão concreta e amorosa com o mundo» «ressuscitado e glorioso», está «presente em toda a criação com o seu domínio universal » (100).

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Terceiro capítulo – A raiz humana da crise ecológica

Este capítulo apresenta uma análise da situação atual, «de modo a individuar não apenas os seus sintomas, mas também as causas mais profundas» (15), em um diálogo com a filosofia e as ciências humanas.

Um primeiro fulcro do capítulo são as reflexões sobre a tecnologia: é reconhecida, com gratidão, a sua contribuição para o melhoramento das condições de vida (102-103); todavia ela oferece «àqueles que detêm o conhecimento e sobretudo o poder econômico para o desfrutar, um domínio impressionante sobre o conjunto do gênero humano e do mundo inteiro» (104).

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São precisamente as lógicas de domínio tecnocrático que levam a destruir a natureza e explorar as pessoas e as populações mais vulneráveis.

«O paradigma tecnocrático tende a exercer o seu domínio também sobre a economia e a política» (109), impedindo reconhecer que «o mercado, por si mesmo[…] não garante o desenvolvimento humano integral nem a inclusão social» (109).

Na raiz se diagnostica na época moderna um excesso de antropocentrismo (116): o ser humano não reconhece mais sua correta posição em relação ao mundo e assume uma posição autorreferencial, centrada exclusivamente em si mesmo e no próprio poder. Deriva então uma lógica do «descartável» que justifica todo tipo de descarte, ambiental ou humano que seja, que trata o outro e a natureza como um simples objeto e conduz a uma miríade de formas de dominação.

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É a lógica que leva a explorar as crianças, a abandonar os idosos, a reduzir os outros à escravidão, a superestimar a capacidade do mercado de se autorregular, a praticar o tráfico de seres humanos, o comércio de peles de animais em risco de extinção e de “diamantes ensanguentados”. É a mesma lógica de muitas máfias, dos traficantes de órgãos, do tráfico de drogas e do descarte de crianças porque não correspondem ao desejo de seus pais. (123)

Nesta luz, a encíclica aborda duas questões cruciais para o mundo de hoje. Antes de tudo, o trabalho: «Em qualquer abordagem de ecologia integral que não exclua o ser humano, é indispensável incluir o valor do trabalho» (124), bem como «renunciar a investir nas pessoas para se obter maior receita imediata é um péssimo negócio para a sociedade» (128).

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A segunda diz respeito aos limites do progresso científico, com clara referência aos OGM (132-136), que são «uma questão de carácter complexo» (135). Embora «nalgumas regiões, a sua utilização ter produzido um crescimento económico que contribuiu para resolver determinados problemas, há dificuldades importantes que não devem ser minimizadas» (134), a partir da «concentração de terras produtivas nas mãos de poucos» (134).

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O Papa Francisco pensa em particular nos pequenos produtores e trabalhadores rurais, na biodiversidade, na rede de ecossistemas. É, portanto, preciso assegurar «um debate científico e social que seja responsável e amplo, capaz de considerar toda a informação disponível e chamar as coisas pelo seu nome» a partir de «linhas de pesquisa autónomas e interdisciplinares que possam trazer nova luz» (135).

Quarto capítulo – Uma ecologia integral

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O coração da proposta da Encíclica é a ecologia integral como novo paradigma de justiça; uma ecologia «que integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o circunda» (15). De fato, «isto impede-nos de considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida» (139). Isto vale, por mais que vivemos em diferentes campos: na economia e na política, nas diversas culturas, em particular modo nas mais ameaçadas, e até mesmo em cada momento da nossa vida cotidiana.

A perspectiva integral põe em jogo também uma ecologia das instituições: « Se tudo está relacionado, também o estado de saúde das instituições de uma sociedade tem consequências no ambiente e na qualidade de vida humana: “toda a lesão da solidariedade e da amizade cívica provoca danos ambientais” » (142). Com muitos exemplos concretos, o Papa Francisco reafirma o seu pensamento: há uma ligação entre questões ambientais e questões sociais e humanas que nunca pode ser rompida. Assim, « a análise dos problemas ambientais é inseparável da análise dos contextos humanos, familiares, laborais, urbanos, e da relação de cada pessoa consigo mesma » (141), enquanto «Não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise sócio-ambiental» (139).

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Esta ecologia integral «é inseparável da noção de bem comum» (156), a ser entendida, no entanto, de modo concreto: no contexto de hoje, no qual «há tantas desigualdades e são cada vez mais numerosas as pessoas descartadas, privadas dos direitos humanos fundamentais» comprometer-se pelo bem comum significa fazer escolhas solidárias com base em «uma opção preferencial pelos mais pobres» (158). Esta é também a melhor maneira para deixar um mundo sustentável às gerações futuras, não com proclamas, mas através de um compromisso de cuidado dos pobres de hoje, como já havia sublinhado Bento XVI: «para além da leal solidariedade entre as gerações, há que reafirmar a urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade entre os indivíduos da mesma geração» (162).

A ecologia integral envolve também a vida diária, para a qual a Encíclica reserva uma atenção específica em particular em ambiente urbano. O ser humano tem uma grande capacidade de adaptação e «admirável é a criatividade e generosidade de pessoas e grupos que são capazes de dar a volta às limitações do ambiente, […] aprendendo a orientar a sua existência no meio da desordem e precariedade» (148).

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No entanto, um desenvolvimento autêntico pressupõe um melhoramento integral na qualidade da vida humana: espaços públicos, moradias, transportes, etc. (150-154).
Também «o nosso corpo nos coloca em uma relação direta com o meio ambiente e com os outros seres vivos. A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar o mundo inteiro como dom do Pai e casa comum; pelo contrário, uma lógica de domínio sobre o próprio corpo transforma-se numa lógica, por vezes subtil, de domínio sobre a criação» (155).

Quinto capítulo – Algumas linhas de orientação e ação

Este capítulo aborda a pergunta sobre o que podemos e devemos fazer. As análises não podem ser suficientes: são necessárias propostas «de diálogo e de ação que envolvam seja cada um de nós seja a política internacional» (15), e « que nos ajudem a sair da espiral de autodestruição onde estamos a afundar» (163).

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Para o Papa Francisco é imprescindível que a construção de caminhos concretos não seja enfrentada de modo ideológico, superficial ou reducionista. Por isso, é indispensável o diálogo, termo presente no título de cada seção deste capítulo: «Há discussões sobre questões relativas ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso. […] a Igreja não pretende definir as questões científicas, nem substituir-se à política, mas [eu] convido a um debate honesto e transparente para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum» (188).

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Com esta base o Papa Francisco não tem medo de fazer um julgamento severo sobre as dinâmicas internacionais recentes: «as cimeiras mundiais sobre o meio ambiente dos últimos anos não corresponderam às expectativas, porque não alcançaram, por falta de decisão política, acordos ambientais globais realmente significativos e eficazes» (166). E se pergunta: «Para que se quer preservar hoje um poder que será recordado pela sua incapacidade de intervir quando era urgente e necessário fazê-lo?» (57). Servem, em vez disso, como os Pontífices repetiram várias vezes, a partir da Pacem in Terris, formas e instrumentos eficazes de governança global (175): «precisamos de um acordo sobre os regimes de governança para toda a gama dos chamados bens comuns globais» (174), já que «”a proteção ambiental não pode ser assegurada apenas com base no cálculo financeiro de custos e benefícios. O ambiente é um dos bens que os mecanismos de mercado não estão aptos a defender ou a promover adequadamente”» (190), que retoma as palavras do Compêndio da Doutrina Social da Igreja).

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Sempre neste capítulo, o Papa Francisco insiste sobre o desenvolvimento de processos de decisão honestos e transparentes, para poder «discernir» quais políticas e iniciativas empresariais poderão levar «a um desenvolvimento verdadeiramente integral» (185). Em particular, o estudo do impacto ambiental de um novo projeto «requer processos políticos transparentes e sujeitos a diálogo, enquanto a corrupção, que esconde o verdadeiro impacto ambiental dum projeto em troca de favores, frequentemente leva a acordos ambíguos que fogem ao dever de informar e a um debate profundo» (182).

Particularmente significativo é o apelo dirigido àqueles que detêm cargos políticos, para que se distanciem da lógica «eficientista e imediatista» (181) hoje dominante: «se ele tiver a coragem de o fazer, poderá novamente reconhecer a dignidade que Deus lhe deu como pessoa e deixará, depois da sua passagem por esta história, um testemunho de generosa responsabilidade» (181).

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Sexto capítulo – Educação e espiritualidade ecológicas

O último capítulo vai ao cerne da conversão ecológica à qual a Encíclica convida. As raízes da crise cultural agem em profundidade e não é fácil reformular hábitos e comportamentos. A educação e a formação continuam sendo desafios centrais: «toda mudança tem necessidade de motivações e dum caminho educativo» (15); estão envolvidos todos os ambientes educacionais, por primeiro « a escola, a família, os meios de comunicação, a catequese» (213).

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O início é apostar «em uma mudança nos estilos de vida» (203-208), que também abre à possibilidade de “exercer uma pressão salutar sobre quantos detêm o poder político, económico e social» (206). Isso é o que acontece quando as escolhas dos consumidores conseguem «a mudança do comportamento das empresas, forçando-as a reconsiderar o impacto ambiental e os modelos de produção» (206).

Não se pode subestimar a importância de percursos de educação ambiental capazes de incidir sobre gestos e hábitos cotidianos, da redução do consumo de água, à diferenciação do lixo até «apagar as luzes desnecessárias» (211): «Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo» (230). Tudo isto será mais fácil a partir de um olhar contemplativo que vem da fé: «O crente contempla o mundo, não como alguém que está fora dele, mas dentro, reconhecendo os laços com que o Pai nos uniu a todos os seres. Além disso a conversão ecológica, fazendo crescer as peculiares capacidades que Deus deu a cada crente, leva-o a desenvolver a sua criatividade e entusiasmo» (220).

Retorna à linha proposta na Evangelii Gaudium: « A sobriedade, vivida livre e conscientemente, é libertadora» (223), bem como «A felicidade exige saber limitar algumas necessidades que nos entorpecem, permanecendo assim disponíveis para as muitas possibilidades que a vida oferece» (223); desta forma torna-se possível « voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos» (229).
Os santos acompanham-nos neste caminho. São Francisco, muitas vezes mencionado, é «o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria» (10), modelo de como «são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior (10). Mas a encíclica recorda também São Bento, Santa Teresa de Lisieux e o Beato Charles de Foucauld.

Após a Laudato si, o exame de consciência, o instrumento que a Igreja sempre recomendou para orientar a própria vida à luz da relação com o Senhor, deverá incluir uma nova dimensão, considerando não apenas como se vive a comunhão com Deus, com os outros, consigo mesmo, mas também com todas as criaturas e a natureza.

http://opusdei.org.br/pt-br/article/laudato-si-a-enciclica-do-papa-sobre-o-cuidado-da-casa-comum/

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Apraxia de fala na infância

O desenvolvimento da fala da criança ocorre de forma gradual, respeitando as etapas de maturação e por isso ocupando grande parte da infância.

Sabe-se que as crianças não nascem com os movimentos de fala já desenvolvidos e, portanto, não apresentam a praxia desenvolvida.

Desenvolvimento e transformações

Os movimentos de lábios, língua e mandíbula sofrem modificações, e os movimentos indiferenciados no início da infância passam a ser refinados e diferenciados conforme o desenvolvimento.

Essas transformações também são fundamentais para alcançar níveis mais elevados de precisão e coordenação articulatória, importantes para a efetividade da comunicação oral.Lobos-cerebrais

Os gestos articulatórios de lábios superior, inferior e mandíbula apresentam mudanças significativas durante os primeiros anos de vida e continuam o seu refinamento até depois dos seis anos.

Controle motor

O desenvolvimento do controle motor desses articuladores segue um curso não uniforme, com mandíbula precedendo o lábio. Este processo de desenvolvimento e refinamento do controle motor oral influencia significativamente na aquisição de sons da fala.

Comprometimento da fala

Quando este refinamento não ocorre, a produção da fala torna-se comprometida, podendo surgir a suspeita de uma desordem práxica na infância.

Essa desordem na infância é definida como uma suposta categoria diagnóstica atribuída às crianças, cujos erros de fala diferem dos erros de crianças com atraso no desenvolvimento de fala e se assemelham aos erros de adultos com apraxia adquirida.

Quadro

Os pacientes com apraxia da fala adquirida demonstram, geralmente, comprometimento primariamente na articulação, com alterações na sequência dos movimentos musculares para a produção voluntária dos fonemas e, secundariamente, por alterações prosódicas, caracterizadas por uma fala mais lenta que o normal e com escassez de padrões de entonação, ritmo e melodia.

As anormalidades prosódicas (*) são usualmente percebidas como sendo secundárias às dificuldades articulatórias.

A falta da fluência na fala é causada por pausas e hesitações que ocorrem na tentativa de produzir corretamente as palavras, surgindo como uma forma de compensação da contínua dificuldade na articulação.banner2-695x700

No levantamento feito pela American Speech and Hearing Association (ASHA), em um grupo de mil crianças na faixa de 1 a 5 anos de idade, 10 delas apresentaram algum distúrbio de comunicação. De 3 a 5% foram diagnosticadas com apraxia.

O que é?

A apraxia (ou “dispraxia”) é um distúrbio de origem neurológica que consiste no envio incorreto de informações para o cérebro planejar e executar determinados movimentos.

Classificação

Ela pode ser classificada como global (quando acontece em várias partes do corpo), oral (envolvendo a boca e seus movimentos) e/ou verbal (ou da fala, na qual a dificuldade é específica para a produção dos sons de fala).

Causas

Os fatores que causam a apraxia não são totalmente conhecidos e esse distúrbio pode acontecer em paralelo com outros – por exemplo, “transtorno sensorial” ou “do espectro autista.

Como acontece

A modelagem de cada som é dada por diferenças milimétricas e dos movimentos de língua, lábios, céu da boca e dentes. Por isso, qualquer falha nas etapas de processamento, planejamento e execução pode causar alguma alteração.

Por isso, muitas vezes a criança fala uma coisa querendo dizer outra. Exemplo: em vez de “casa”, ela diz “caca”. Essa é uma fala bem aquém do esperado, mas é notório perceber que ela sabe o que queria dizer.

Segundo a ASHA, o diagnóstico diferencial de apraxia só deve ser conclusivo aos 3 anos de idade. Entretanto, se houver uma desconfiança antes dessa época, o paciente deve ser acompanhado.

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Os principais sinais de apraxia de fala na infância (AFI) são:

Até os 12 meses:

Os bebês são muitos calados e/ou têm um repertório limitado de balbucios, apesar de interagirem bem com os adultos;

Entre 12 e 18 meses:

Quando se espera que as crianças aumentem o vocabulário, as crianças com AFI podem ter perda de palavras já faladas anteriormente;

Por volta dos 2 anos de idade:

É diagnosticado um atraso no desenvolvimento de linguagem oral;

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Aos 3 anos:

Nessa fase, as crianças já são bem compreendidas, apesar de um erro ou outro de pronúncia, mas as que têm Apraxia de Fala podem ainda nem estar falando ou podem ter a fala bastante ininteligível, com erros de pronúncia que mudam muito e que são incomuns (por ex: trocas de vogais), dificuldade de falar as palavras com mais sílabas, omissão da primeira sílaba.

Desde a primeira infância:

Dificuldade de imitação (ex: mostrar a língua, fazer careta, se houver Apraxia Oral associada à AFI), alterações de produção e articulação dos sons da fala e na melodia (prosódia) da fala e acentuação das sílabas.

Elas podem falar um determinado som (por ex: “p”) em algumas palavras (por ex: “pá”, “papai”) e omissão deste mesmo som na repetição de outras palavras mais difíceis  (“pedido”, “parque”, “capa”) ou em momentos de fala espontânea.

Sinais variáveis

Vale ressaltar que, como em qualquer distúrbio, os sinais da Apraxia de Fala podem variar em menor ou maior grau e em presença/ausência, o que torna o diagnóstico bem complexo.

Quando buscar o tratamento fonoaudiológico.

O que os pais, familiares, educadores e profissionais de saúde precisam observar antes de encaminhar a um fonoaudiólogo:

•  Se a ausência ou alteração da fala não é justificada por alterações na estrutura muscular da região da boca, auditivos ou psicossociais.
•  Se o ambiente é rico em estimulação, os pais ficam horas brincando com ela, está bem adaptada à escola, e a inteligência está preservada e mesmo assim há algumas falhas. Se a criança não está acompanhando as etapas do desenvolvimento de linguagem.  Nem sempre é “normal demorar para falar”.
•  Se a criança está em um longo processo terapêutico fonoaudiológico (há mais de um ano), mas não há avanços visíveis no quadro apresentado pela criança.

As pesquisas no Brasil nesta área ainda estão caminhando, bem como a formação de profissionais especializados. Por isso, nem sempre é possível fazer um diagnóstico rápido e eficaz.

Então, a sugestão é: lute por uma intervenção adequada e precoce que vise o treinamento intensivo de fonoterapia.

http://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Lilian-Kuhn/noticia/2016/05/apraxia-da-fala-na-infancia-afi-o-que-e-isso.html

  • Souza, Thaís Nobre Uchôa, Payão, Miscow da Cruz, & Costa, Ranilde Cristiane Cavalcante. (2009). Apraxia da fala na infância em foco: perspectivas teóricas e tendências atuais. Pró-Fono Revista de Atualização Científica21(1), 75-80.https://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872009000100013

(*)  Prosódia (do grego προσῳδία, transl. prosodía, composto de προσ, pros-, “verso”, e ᾠδή, odé, “canto”) é a parte da linguística que estuda a entonação, o ritmo, o acento (intensidade, altura, duração) da linguagem falada e demais atributos correlatos na fala.

Criança tem pesadelo?

Pesadelo X Terror noturno

A maioria dos pais confunde pesadelo e terror noturno, mas vale ressaltar que eles são diferentes.

Os pesadelos são caracterizados por um sonho amedrontador, que faz a criança acordar assustada, ficar com medo e, muitas vezes, querer dormir na cama dos pais. No dia seguinte, lembra-se do sonho.

Já no terror noturno, o menino fica aterrorizado, pode até se mexer, abrir os olhos, mas não desperta. Ele senta, grita, chora e, após alguns minutos, volta a dormir, como se nada tivesse acontecido e depois não se recorda do ocorrido.

A crise passa

Geralmente, os pais ficam mais apavorados do que os filhos. Apesar do susto, alguns especialistas dizem que se deve simplesmente colocar as mãos sobre a criança e esperar que a crise passe, observando-a para que não se machuque, caso esteja muito agitada.

Se esse distúrbio se repetir várias vezes, para tentar diminuir os riscos de outros episódios, você pode acordar seu filho calmamente de 15 a 30 minutos antes da hora em que o terror noturno tem acontecido. Verifique também se ele está dormindo o suficiente; acalmá-lo próximo ao horário de dormir e fixar uma rotina do sono também pode ajudar.

Quando persiste

Quando o terror noturno acontece esporadicamente, não costuma oferecer risco aos pequenos. Porém, se for recorrente, é aconselhável escutar o parecer de um neuropediatra, para que ele possa investigar as possíveis causas e definir o melhor tratamento. Esse distúrbio costuma desaparecer naturalmente entre os seis e oito anos de idade.

Fonte :Texto original extraído do Blog Vida de Mãe – www.nestle.com.br/vidademae

Distúrbios do sono

Não é tão simples caracterizar os distúrbios do sono em crianças de baixa idade e para homogeneização dos estudos científicos e, consequentemente, de instituição de terapêutica individualizada.

Sabe-se que os distúrbios do sono podem ser divididos em dissonias, parassonias e alterações do sono secundárias a outras condições1

Dissonia

Dissonia, termo empregado para a dificuldade de iniciar ou manter o sono, segundo a classificação DSM-IV da Associação Americana de Psiquiatria, não seria corretamente aplicável a crianças pequenas, segundo os critérios desta classificação.

Assim, na faixa etária de lactentes e pré-escolares, o termo adequado seria protodissonia, baseado no contexto da criança enquanto ser em desenvolvimento.

Da mesma forma, uma protodissonia não pode ser diagnosticada antes de um ano, porque os padrões de sono-vigília, as atitudes dos pais, da criança e os fatores ambientais ainda estão em instalação2.

Parassonias

As parassonias são comportamentos anormais que ocorrem durante o sono, como os despertares confusionais, os terrores noturnos e os pesadelos1. Todas essas questões podem ser trazidas com a queixa “meu filho não dorme”.

Dos problemas com o sono, as protodissonias são os mais comuns nas crianças, predominando entre um e três anos de idade2. Em crianças pequenas, a prevalência varia entre 14 e 50%3-4, mas também não é desprezível em crianças maiores1,4-5.

Problemas na família?

Os distúrbios do sono são pistas para problemas subjacentes no seio familiar, quer sejam emocionais ou interacionais6, sendo inclusive utilizados como exemplo de demonstração do espectro de patologias do relacionamento7.

Tratamento imediato

A prevenção e o tratamento destes transtornos devem ser precoces. Quando esta intervenção não ocorre, o problema pode persistir por alguns anos2,6, embora, na maioria dos casos, sejam transitórios e autolimitados4.

Não existem muitos relatos na literatura que estabeleçam objetivamente os limites entre a perturbação do sono, entendida como parte normal do desenvolvimento, e o verdadeiro transtorno do sono na infância. Gaylor e colaboradores2 propõem critérios que definem estes transtornos e, além disto, os estratificam por graus de gravidade.

“Sono difícil”

O distúrbio da dificuldade em adormecer já seria diagnosticado, se uma criança com mais de 12 meses leva mais de 30 minutos para dormir, ou se é necessária a presença dos pais até que adormeça, sendo que o sintoma deve estar presente uma vez por semana por mais de um mês.

Despertar noturno

O distúrbio do despertar noturno seria diagnosticado se uma criança com mais de 12 meses acorda durante a noite pelo menos duas vezes e necessita sempre da presença dos pais e/ou que os pais a levem para a cama deles, sendo que o sintoma deve estar presente pelo menos uma vez por semana nos últimos três meses; para as crianças com mais de 24 meses, apenas um episódio por noite já define o distúrbio.

Tratamento

O tratamento medicamentoso para insônia tem sido muito estudado nos últimos anos, mas é reservado para casos de exceção. O uso da melatonina em crianças com transtornos do desenvolvimento neurológico tem demonstrado bons resultados, mas pode ocorrer como efeito colateral a piora de crises convulsivas já existentes6,8.

TDAH

Crianças com transtorno do déficit de atenção/hiperatividade podem apresentar insônia, e os medicamentos que são usados em seu tratamento também podem interferir no sono.

No terror noturno, quando os despertares são muito violentos e a criança corre o risco de se machucar, podem ser empregados benzodiazepínicos ou antidepressivos tricíclicos. Estes medicamentos são administrados na hora de dormir e, segundo alguns autores, três a seis semanas de tratamento costumam evitar recidivas4.

Desmame

Na experiência de outros autores, os paroxismos retornam após o desmame, sendo também comum os fenômenos de tolerância6 e de rebote5, o que limita o valor de tal abordagem. Os mesmos medicamentos podem ser empregados no sonambulismo, com as mesmas ressalvas.

Medicamento apenas com especialista capacitado

A terapêutica medicamentosa na insônia infantil não relacionada a parassonias, distúrbios do comportamento ou neurológicos é mais restritiva ainda, e deve vir sempre depois de técnicas comportamentais, que devem ser mantidas. Os medicamentos de escolha são os anti-histamínicos e, em casos graves, benzodiazepínicos e hidrato de cloral. Seu uso deve ser a curto prazo, sempre por menos de três semanas e acompanhados pelo neurologista assistente. Existem poucos estudos sobre o emprego da melatonina como alternativa4.

Referências bibliográficas:

Blum NJ, Carey WB. Sleep problems among infants and young children. Pediatr Ver 1996;17:87-93. 2. Gaylor EE, Goodlin-Jones BL, Anders TF. Classification of young children’s sleep problems: a pilot study. J Am Acad Child Adolesc Psychiatr 2001;40:61-70. 3. Hammer LD. The development of eating behavior in childhood. Pediatr Clin North Am 1992;39:379-94. [ Medline ] 4. Rona RJ, Li L, Gulliford MC, Chinn S. Disturbed Sleep: effects of sociocultural factors and illness. Arch Dis Child 1998;78:20-5. 5. Archbold KH, Pituch KJ, Panahi P, Chervin RD. Symptoms of sleep disturbances among children at two general pediatric clinics. J Pediatr 2002;140:97-102. [ Medline ] 6. Howard BJ, Wong J. Sleep disorders. Pediatr Ver 2001;22:1-17. 7. Goodlin-Jones BL, Anders TF. Relationship disturbances and parent- child therapy. Sleep problems. Child Adolesc Psychiatr Clin N Am 2001;10:487-99. [ Medline ] 8. Ross C, Davies P, Whitehouse W. Melatonin treatment for sleep disorder in children with neurodevelopmental disorders: an observational study. Dev Med Child Neurol 2002;44:339-44.

Fonte: http://www.smp.org.br/perguntas-e-resposta-publico?cd=31&especialidade=Neurologia%20Pedi%C3%A1trica&grp=